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O TERCEIRO SEMINÁRIO NACIONAL

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 131-133)

Este Seminário, realizado em Faxinal do Céu, Paraná, entre os dias 05 e 09 de maio de 2008, trouxe como lema os “12 anos de Escola Itinerante no MST”. Teve aparticipação de 400 educadores de 13 estados da federação, havendo representantes de AL, BA, DF, GO, MA, MS, PA, PE, PI, PR, RS, SC e SP, e outras autoridades convidadas.

Diferente dos encontros anteriores, houve neste seminário um salto de qualidade no que diz respeito a participação de educadores itinerantes e de representantes de várias entidades. Isto se deve ao momento histórico em que se encontra a EI, sendo reconhecida e valorizada pelas instâncias públicas como uma escola que atua em diferentes espaços e tempos, ou seja, uma escola que não se fixa em lugar nenhum, dada sua função social de acompanhar aqueles que estão na luta pela Reforma Agrária.

Num clima de verdadeiro encontro e reencontro de pessoas que comungam do mesmo projeto social, o seminário teve como objetivos socializar e refletir sobre as práticas pedagógicas e os estudos realizados sobre as Escolas Itinerantes dos acampamentos do MST no período de 1996 a 2008; fortalecer os vínculos desta Escola com o Movimento; compreender a atual conjuntura de luta pela Reforma Agrária; fortalecer o vínculo e a pertença dos educadores itinerantes ao projeto de educação do MST e comemorar os 12 anos de existência desta Escola.

Também foi espaço de fortalecer a importância do registro das práticas vividas no Movimento e da produção literária para as crianças Sem Terra. Na oportunidade, houve o lançamento do primeiro caderno da Coleção de Cadernos da Escola Itinerante do MST, com o título: Escola Itinerante do MST: História, Projeto e Experiências (2008), e o livro Semente de letra (2009), da Expressão Popular. Momentos de estudo, reflexão, debate e comemorações perpassaram todos os dias do encontro e contribuíram para indicar as possíveis projeções referentes à organização da Escola Itinerante, colada à luta pela terra e à emancipação da classe trabalhadora.

Dentre os estudos realizados no decorrer do seminário, destaca-se a preocupação com o institucional, tendo em vista que a Escola Itinerante, mesmo estando num espaço de disputa, vem adquirindo um maior reconhecimento legal. Todavia, quando se torna uma escola de assentamento, distancia-se da Pedagogia do Movimento, o que expressa uma contradição. Portanto, precisamos garantir sim o seu reconhecimento pelo Estado, no entanto, ainda é preciso aprender a mexer com a “coisa pública” sem perder a autonomia que nos afirma enquanto movimento social de luta pela terra e pela Reforma Agrária.

Foi um momento forte, também por enfatizar o contexto de luta de cada estado onde há Itinerantes legalizadas, e a forma como as ações de enfrentamento do MST mexem com a Itinerante, por estar diretamente vinculada aos acampamentos, espaços encharcados de práticas sociais que perpassam o cotidiano da escola. Mesmo diante de uma conjuntura complexa, os educadores demonstraram a alegria de juntos poderem afirmar mais uma vez a escola como parte da trajetória do Movimento, sendo eles, em especial, sujeitos dessa conquista.

Podemos dizer que o III seminário avançou significativamente em relação aos anteriores, principalmente pela qualidade dos debates e reflexões que ajudam a construir a escola que queremos. Neste sentido, destacamos a palestra do professor Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, com o tema “A construção histórica da escola capitalista e a perspectiva da escola socialista”.

Convencido de que precisamos estudar profundamente a história da escola capitalista, se queremos interrogá-la e contrariá-la no dia a dia da Escola Itinerante.

Quando se ensina em espaços de acampamentos, a possibilidade de mudanças é maior do que quando se tem todos os recursos disponíveis, o que não nega a importância de exigir os direitos que temos. A escola de lona representa a liberdade, livre das amarras da escola capitalista. É um espaço, momento privilegiado para construir a escola que queremos.

Desta forma, ajudou-nos a refletir sobre importância de darmos passos para frente, com segurança, negando a forma escolar capitalista à medida que vamos construindo outra e nova escola, na perspectiva da educação socialista. Precisamos ter coragem de interrogar o sistema de avaliação classificatório e excludente, o planejamento de cima para baixo, o poder excessivo do professor em da sala de aula, a relação estabelecida entre educador e educando e a matriz formadora conteudista que desconsidera as diversas dimensões do ser humano, a realidade e as contradições que cercam a escola. Enfim, estas são questões que demandam mais estudos e continuidade na reflexão desde a prática concreta das itinerantes.

Estimulou-nos ainda, a avançarmos na compreensão de duas categorias fundamentais da educação socialista: a atualidade – relação da escola com a prática social –, e a auto-organização dos educandos. Desafios que, embora já estejam sendo enfrentados pela Escola Itinerante, são questões que devem nos acompanhar sempre, pois são princípios que embasam a Pedagogia do Movimento e perpassam todo o seu projeto educativo.

No que diz respeito à Auto-organização, entendemos que a escola é um espaço fértil para estimular as crianças para uma nova vida, ou seja, abrir espaços para que elas aprendam a conviver de forma coletiva, sem que haja opressão de umas sobre as outras. Neste exercício cotidiano, elas entenderão a importância de, às vezes dirigir processos e, às vezes serem dirigidas.

Quando nos referimos à atualidade, entendemos que, na Rússia, a atualidade visava a necessidade de se construir o socialismo. E para nós, trabalhadores Sem Terra, qual a nossa atualidade? Quais as práticas, as contradições sociais, próximas e mais distantes, que não podemos deixar passar longe da escola?

Na escola capitalista, afastar-se da vida implica em não questionar a realidade vivida. Na escola socialista, trazer a vida para a escola implica em questionar a vida para atuar sobre ela. A atualidade na escola implica em uma análise crítica da realidade social para atuar sobre ela.

Algo novo, trazido para este seminário, foi o debate em torno das pesquisas - dissertações e tese - construídas sobre Escola Itinerante do MST, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ao longo dos 12 anos. Abordagens feitas sob vários aspectos desta forma escolar são pesquisas que levam

reflexões importantes sobre Escola Itinerante para o interior da academia, apresentando-a como um germe de uma escola contra-hegemônica, conforme podemos verificar no Caderno nº 3, - Pesquisas sobre a Escola Itinerante: refletindo o movimento da escola, 2009.

Pela leitura e pelo debate em torno das pesquisas apresentadas, entendemos que o Movimento Sem Terra e as universidades têm dado passos importantes na compreensão da necessidade de haver pesquisas e pesquisadores intimamente ligados com as práticas sociais pesquisadas. Juntos, podem contribuir com a análise, a reflexão, e, sobretudo, com a disseminação destas experiências. Além de abrirem caminhos para novas investigações e pesquisas que venham contribuir na construção de uma nova escola e de um projeto educativo articulado a transformação social.

Como exemplo do Manifesto dos Educadores, construído e aprovado pelos participantes do II Seminário em 2006, nesse encontro, foi construída uma Carta pelos Educadores Itinerantes. Ela foi lida e aprovada em plenária pelos próprios educadores, e consta em anexo neste material.

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 131-133)