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TERRA À REIVINDICAÇÃO POR EDUCAÇÃO

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 80-82)

Em janeiro de 2005, a Pastoral Rural participou do I Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), realizado no Paraná. Este momento é o marco na trajetória histórica do MST em Alagoas, em que se consolida a sua efetivação no estado, em meio à concentração de terra e de riquezas. Assim, em 26 de janeiro de 1987, ocorreu a primeira ocupação de terra no estado, no município de Delmiro Gouveia, alto sertão alagoano, na Fazenda Peba.

A partir desta ocupação, a luta pela Reforma Agrária tomou outro caráter em Alagoas. Foram organizadas ações para exigir providências do governo para a questão fundiária, como a desapropriação de terra, crédito e assistência técnica. Em abril do mesmo ano, a Secretaria de Agricultura do Estado, em Maceió, foi ocupada com o objetivo de garantir que o governo e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desapropriassem as fazendas Peba e Lameirão, fornecessem sementes para o plantio e cestas básicas para as famílias

Adiante, o Movimento ampliou seus espaços, foi para outras regiões do estado e contou com a presença de diversos militantes vindos do sul do país com a tarefa de formar e fortalecer o MST no Nordeste. Afinal, para que o MST se expandisse e se fortalecesse no âmbito nacional era necessário ocupar esta região. Em contrapartida, a força dos latifundiários, usineiros, do judiciário e da mídia, foi bastante

3 Das 26 Unidades da Federação pesquisadas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), enquanto o Distrito Federal apresentava o mais elevado IDH (0,806) do Brasil, Alagoas ocupava a segunda pior posição, com um IDH < 0,677, tendo à sua frente apenas o Estado do Maranhão, com 0,456.

intensa na tentativa de impedir essa consolidação.

O país, nesta época, se ressentia do autoritarismo e dos resquícios da ditadura militar. Logo, eram comuns as prisões e torturas dos militantes. As ameaças de grupos de extermínio e dos pistoleiros eram cotidianas e a luta para consolidar o MST no estado era estratégica para a fixação do Movimento na Região. Apesar da repressão, em 1987, o Movimento conquista alguns assentamentos: Lameirão, Peba e Vitória da Conquista.

A conquista dos assentamentos, devido às novas demandas, exigiu mudanças de concepção e reivindicativas do Movimento. É um novo momento da luta pela terra. À ela, somava-se as demandas das família assentadas. Uma vez que “mesmo com a conquista da terra, os problemas das famílias com relação à saúde, educação, infra-estrutura básica, não foram resolvidos, de forma que se fez necessário ocupar as prefeituras municipais para cobrar estas reivindicações do poder local dos municípios (...)” (SILVA, 2008:p.42).

E estas lutas foram se intensificando:

Ainda em 1991, em Delmiro Gouveia, no Assentamento Lameirão, acontece o 1º Encontro Regional do MST, para discutir os rumos dos assentamentos. E no mesmo ano, em junho, é feita a primeira ocupação na prefeitura, pelos assentados do Peba e do Lameirão. para reivindicar professores, merenda escolar, posto médico, água para beber, dentre outras reivindicações necessitadas pelas famílias. (SILVA, 2008:p.27).

Até meados da década de 90, as reivindicações vão se dando em nível das prefeituras, muitas vezes, sem se ter resultados concretos e conquistas, pela própria forma como os gestores conduziam a gestão pública, bem como pela forte violência com que tratavam quem reivindicava ou os questionava.

É nesse contexto que se inicia a luta por escola. Nos acampamentos, praticamente não existiam escolas assistidas pelos municípios, e nos assentamentos, quando havia, se encontrava em estado precário. Assim, os acampados e assentados tinham que estudar nos povoados, fazendas ou usinas vizinhas, que tivessem escolas, ou irem para as cidades. Porém, na maioria das vezes, não iam às escolas e passavam a serem contabilizados nos indicadores de analfabetismo ou evasão escolar nos municípios e no estado.

Esta era uma situação que incomodava o conjunto do Movimento, que já compreendia que a luta pela terra era insuficiente para se avançar e construir os grandes objetivos do MST: a luta pela terra, pela Reforma Agrária e por mudanças estruturais na sociedade. Em âmbito nacional, no ano de 1998, foi criado pelo Governo Federal, o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), acatando propostas e reivindicações de movimentos, entidades sociais e universidades brasileiras comprometidos com as lutas do campo.

Com a preocupação da necessidade de avançar na formação e escolarização dos trabalhadores, frente aos índices de analfabetismo alarmantes, no ano de 1998, o MST no estado, por meio de uma parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e o Incra, desenvolve o Projeto de Educação e Capacitação de Jovens e Adultos nas Áreas da Reforma Agrária em Alagoas (Projeral). O projeto teve como principais ações a alfabetização de jovens e adultos assentados e a complementação da escolarização, em nível fundamental, de outros jovens e adultos também trabalhadores rurais que assumiram a função de monitores.

O projeto foi executado entre agosto de 1998 e dezembro de 1999, em 20 assentamentos, oito municípios, envolvendo um total de 1.224 jovens e adultos, distribuídos em 55 salas de aula. Esse processo contou com uma série de entraves, desde as questões orçamentárias, com atraso na liberação de recursos para a realização das metas estabelecidas, até as precárias condições de infra-estrutura nos assentamentos, indo da estrada de acesso à falta de cadeiras em salas de aula.

Os rumos que o Programa tomava, colocava em risco seu propósito de constituir-se como uma política de educação para o campo. Conforme SÁ, 2002, Apud BARRETO (1983):

O papel das políticas sociais no Nordeste, e em particular na área rural em que se situam os programas de educação rural, tem mais o objetivo de diminuir as tensões sociais geradas pela pobreza no campo, do que propriamente de enfrentar e resolver de modo satisfatório a questão do analfabetismo e do baixo nível de escolarização da região, ou de serem instrumentos de um modelo alternativo de desenvolvimento, tal como propugnam as teses que fundamentam os textos básicos que delineiam a atual política de ensino no país.

Com o término do Projeral e frente aos problemas enfrentados em sua execução, abre-se um vácuo até a aprovação do segundo Projeto – o Projeral II, que teria como meta dar continuidade à escolarização dos trabalhadores jovens e adultos. Em 2002, o Pronera retoma suas atividades em Alagoas e é marcado pelo aprofundamento dos problemas tidos anteriormente, indo somente até o ano de 2004.

Nesse momento, já existia um grande número de famílias assentadas e se intensificava a luta por estruturas para os assentamentos, tendo grande força a reivindicação por escolas, inclusive como uma condição necessária para a permanência de toda a família morando nas comunidades. Nesse processo, algumas poucas escolas foram construídas em aglomerações de assentamentos e assistidas pelo município. Porém, sem nenhuma preocupação ou trato com a especificidade da Educação do Campo.

Já havia também, mais elementos na compreensão do Movimento quanto à necessidade e importância da educação para a Reforma Agrária, não apenas como uma pauta de reivindicação de direitos, mas com elemento importante para sua própria organicidade, o que possibilita também o fortalecimento do Setor de Educação.

Nesse momento, a partir dos acúmulos obtidos com as atividades relatadas, dá-se início a discussão da Escola Itinerante, a partir de experiências que o Movimento tinha em outros estados, principalmente no Rio Grande do Sul. Afinal, os despejos eram frequentes e as crianças acampadas estavam fora da escola. Então, a Escola Itinerante entra na agenda política e na pauta de reivindicações do MST em Alagoas.

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 80-82)