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DOS PRIMEIROS PASSOS AOS DIAS ATUAIS EM ALAGOAS

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 82-84)

início no mês de abril de 2002, em uma audiência com o então governador do estado, Ronaldo Lessa. A audiência encerrou a Marcha Estadual, que saiu do Acampamento Dandara, em Arapiraca, para a capital do estado, Maceió, percorrendo mais de 130 quilômetros.

O tema sobre a Itinerante ganha destaque em 2004, quando, a partir do mês de julho, um grupo de educadores, vinculados ao Pronera, foi inscrito no Programa de Formação de Educadores do MEC (Proformação). Aqui, já se dava o processo de consolidação do Setor de Educação no Movimento Sem Terra em Alagoas.

Neste mesmo período, foi criado, o Fórum Estadual Permanente da Educação do Campo, em que as lideranças do MST começaram a pautar novamente a necessidade de se criar a Escola Itinerante para os acampamentos. Mas é no mês de outubro, segundo Gilberto Barden4, “que o sonho começa a se

concretizar”, quando é realizado o 5º Encontro Estadual dos Sem Terrinha.

No último dia do encontro dos Sem Terrinha, em 10 de outubro de 2004, as crianças marcharam rumo ao Palácio do Governo Marechal Floriano Peixoto5 (atual República dos Palmares), com uma lista de

reivindicações. Um dos pontos de pauta era a criação da Escola Itinerante para os acampamentos, de forma que atendesse as especificidades da realidade vivenciada pelas crianças acampadas. Na oportunidade, foi assumido o compromisso de iniciar a construção de um projeto para atender tal reivindicação, por meio da Secretaria Estadual de Educação e Esporte – SEEE/AL.

Assim, o Setor de Educação do MST intensifica os estudos e debates para a construção e apresentação do projeto da Escola Itinerante, com base na história e nas experiências de outros estados. Em abril de 2005, é instituída a Comissão Intersetorial para implementação do projeto de Criação da Escola Itinerante na rede pública de ensino do Estado de Alagoas, composta por diversos departamentos da SEEE/ AL, Coordenadorias Regionais de Educação (CRE´s), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT6), Movimento Terra e Liberdade (MTL), Movimento de Libertação

dos Sem Terra (MLST) e o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC).

Foi com a instituição da Comissão Intersetorial que o debate da Escola Itinerante deixou de ser uma reivindicação apenas do MST, e assumida pelos outros movimentos e pela própria Secretaria de Educação, que passa a se debruçar sobre a temática, além de dialogar com outros setores, como o Fórum Estadual de Educação, o Conselho Estadual de Educação e a Universidade Federal de Alagoas, no intuito de percorrer os caminhos necessários para a efetivação das Escolas Itinerantes nos âmbitos da compreensão da Proposta Política Pedagógica e na esfera legal do estado.

Antes mesmo de instituída, a Comissão já realizava reuniões para debater o projeto pedagógico da Escola Itinerante, que começou a criar corpo a cada reunião realizada. Em maio de 2005, nos dias 18 e 19, Isabela Camini7 ajudou no debate sobre o que já havia sido construído no Projeto de Escola Itinerante

de Alagoas. Assim, foi realizado um seminário para iniciar a interlocução, trazendo as experiências das Escolas Itinerantes do Rio Grande do Sul e Paraná. O evento forneceu subsídios para a reunião com o

4 Pedagogo, formado na primeira turma de Pedagogia da Terra.

5 O prédio do palácio Marechal Floriano Peixoto foi transformado em museu, tendo a inauguração do atual palácio Republica dos Palmares em março de 2006, pelo governador Ronaldo Lessa.

6 O Setor de Educação do MST foi representado por Gilberto Barden e a CPT pela Irmã Ligia. 7 Membro do Coletivo Nacional de Educação do MST.

governo, que ocorreu na SEEE/AL, com a presença dos diretores das escolas base, Comissão intersetorial, coordenadores pedagógicos, educadores das Escolas Itinerantes e representantes dos movimentos sociais envolvidos.

Na oportunidade, houve uma reunião, com um grupo de educadores do MST, no local definido para o funcionamento da primeira Escola Itinerante de Alagoas: o Acampamento Dandara8. Ali fora feito

uma conversa com a comunidade sobre as expectativas da mesma sobre a Escola Itinerante. No momento, firmou-se o compromisso de que, em um curto espaço de tempo, três educadoras e o coordenador pedagógico iriam se deslocar para aquele acampamento para dar início à organização da Escola Itinerante.

No mês seguinte, junho de 2005, este grupo de educadores se desloca para o acampamento Dandara, dando início à implementação da Escola Itinerante, que começou com o cadastramento de todas as crianças do acampamento e um debate sobre o nome da escola. A comunidade definiu que aquela era a Escola Itinerante Paulo Freire. Em julho, deste mesmo ano, iniciam-se as aulas. Esta foi a única escola que funcionou independente de qualquer convênio firmado com o Estado, que passa a ser acordado somente no segundo trimestre de 2006, após a publicação no Diário Oficial do Estado, da autorização do Conselho Estadual de Educação, que aconteceu em 16 de março de 2006.

Após muitas reuniões e debates, a escola foi aprovada, em setembro de 2005, na forma de um projeto piloto, envolvendo quatro movimentos de luta pela terra, por meio do parecer 142/2005. Eram três turmas do MST, duas da CPT, duas do MTL e uma do MLST, atendendo crianças da primeira etapa do Ensino Fundamental, e mais outras duas turmas de jovens e adultos.

O governo disponibilizou material didático, alguns materiais permanentes e o pagamento dos educadores e coordenadores, por meio de um Termo técnico de cooperação entre a SEEE/AL e uma entidade parceira da Reforma Agrária. Mesmo assim, as crianças ficaram sem merenda neste primeiro ano, já que a merenda é ofertada pela Escola-Base, após a inserção no censo escolar. Foi necessária, então, uma discussão com a brigada e com o acampamento para a contribuição na merenda. Alguns alimentos da cesta foram repassados e os pais e acampados contribuíam. Atualmente, continuam no projeto o MST e a CPT, ambos com três turmas multisseriadas.

AS EXPERIÊNCIAS DAS ESCOLAS ITINERANTES

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 82-84)