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OS EDUCADORES E A SUA FORMAÇÃO

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 102-104)

A proposta de formação dos educadores na Escola Itinerante reflete sobre o significado, o papel e a importância da prática pedagógica emancipatória na vida dos camponeses, sobretudo o papel social que ela representa na alfabetização e escolarização do sujeito Sem Terra. Trabalhar a realidade de um currículo que une o conhecimento humano, político, social e cultural, é uma das tarefas primordiais dos educadores. Compreende-se que educação do campo pressupõe o jeito pelo qual o ser humano se enraíza, produz existência na terra e constrói, a partir dessa relação, conhecimentos necessários para intervir na realidade com mais qualidade. Na formação e escolarização da Escola Itinerante, os saberes empíricos (a roça, o manuseio das ferramentas de trabalho, a convivência com os animais e a natureza) são elementos necessários para a construção das aulas e das reais necessidades dos camponeses como protagonistas da história.

contínua e coletiva, voltada para realidade cotidiana da escola e comunidade. Nesse primeiro momento, dois desafios tornaram-se fundamentais. Primeiro, construir um processo de capacitação inicial com o objetivo de formar os educadores para atuar nas áreas de Educação Infantil, Ensino Fundamental (séries iniciais) e Educação de Jovens e Adultos; segundo, estudar e elaborar o Projeto Político Pedagógico das Escolas Itinerantes em cada acampamento.

Entre 24 e 27 de abril de 2008, realizou-se o I Encontro de Capacitação e Formação de Educadores das Escolas Itinerantes, no município de São João do Piauí, com a presença de vários segmentos envolvidos na experiência . O trabalho de formação foi realizado na perspectiva que a educação precisa emancipar o sujeito, formar educandos e educadores críticos e reflexivos, com uma visão dialética da realidade, tendo em vista que a educação reproduz ideologia. A capacitação se ateve ao compromisso de formar educadores com visão crítica, não tecnicista e mecânica. Formar pessoas realmente ativas na pedagogia social 9, para que cada educador assuma uma prática coerente e que aspire concepções coesas

com o ideário de classe que pertence. Ou seja, o Movimento compreende que não basta conquistar a escola, é preciso também, junto às instituições competentes, formar seus educadores 10.

Os educadores são filhos de famílias assentadas da Reforma Agrária, que assumem o compromisso com a Pedagogia do Movimento, além de se inserirem no acampamento e conquistar a educação como espaço de transformação social. Assim está sendo a construção da Escola Itinerante no estado. O educador assume uma tarefa fundamental na formação do conjunto da organização do acampamento e da escola:

Para além dos planos de aula, da secretaria e do planejamento, nós temos a função de ajudar na prática do dia a dia do acampamento, nas reuniões, assembleias, trabalho coletivo, nos mutirões, e em tudo que é possível ajudar. Como na escola, nós somos meio tudo, educador, pesquisador e estudante, ajudar a organizar o acampamento e a resolver os problemas da vida que vai surgindo. Como força tarefa, somos um educador/militante. (Samara Pereira de Oliveira, Educadora da Itinerante, 2008)

No entanto, os educadores sistematizam as próprias práticas pedagógicas e constroem conhecimento em respeito à dinâmica social de luta da comunidade acampada. Uma lição a extrair desse processo, é a responsabilidade que os educadores assumem no acampamento, de residirem junto às famílias acampadas, sendo filhos de pais assentados.

Constata-se que o pertencimento do educador como integrante da comunidade é essencial para o trabalho coletivo de ensino e aprendizagem dos educandos. Assim, ele assume a identidade e o compromisso social de modificar o que está estabelecido pelo sistema de ensino tradicional. Nesta perspectiva, os educadores envolvidos na construção de uma nova pedagogia para e pelos camponeses se sentem parte integrante no processo formativo.

A cada dois meses de atividades em sala de aula, os educadores se reúnem para dialogar e

9 Corpo docente da Escola-Base Paulo Freire; Supervisão de Educação do Campo da Seduc; dirigentes do Setor de Educação do MST; o responsável pela coordenação pedagógica da Escola Itinerante; 12 educadores da Escola Itinerante; Coordenação do Centro de Formação da Escola Agrotécnica Francisca Trindade.

Ver Pistrak, Fundamentos da Escola do Trabalho. Ed. Expressão Popular. São Paulo, 4ª ed. 2005.

planejar sobre todos os aspectos que envolvem a prática docente no acampamento. Antes de realizar o encontro, um dos responsáveis pelo Setor de Educação, a coordenação pedagógica da Escola-Base Paulo Freire e representantes da Instituição Estadual de Educação, realizam o diagnóstico das dificuldades, dos limites e desafios da escola, e elaboram intervenções por meio da capacitação. A convicção construída na proposta da Escola Itinerante é assumir o compromisso e realizar uma nova forma de educar, em que: “... a escola deve educar as crianças de acordo com as concepções, o espírito da realidade atual, adaptando-se a ela e reorganizando-a ativamente” (Pistrak, 2005 p. 33).

Os elementos elaborados na proposta de capacitação e formação propõem refletir a materialidade da metodologia de ensino na escola, em diálogo com os conhecimentos científicos sistematizados pela humanidade. A cada encontro são quarenta horas de capacitação (com interstício de dois meses), no qual todos se organizam para discutir a prática pedagógica realizada nas escolas. Essas atividades são construídas na Escola Agrotécnica Francisca Trindade - EAFT, ou na própria sede da Escola-Base Paulo Freire, junto com todos os responsáveis políticos da organização do projeto e da Supervisão de Educação do Campo.

Nesse espaço, é problematizado o fazer cotidiano de cada educador e, na discussão, todos ajudam a elaborar cada prática em sala de aula, área do conhecimento ou segmento escolar, seguida dos estudos de alguns textos de pensadores que compactuam com a proposta destacada11. Depois, é construído

um planejamento escolar, que tem como princípio a realidade e a metodologia de ensino, baseado nos temas geradores, conforme orientações da educação popular. Essa dinâmica de formação foi realizada em quatro tempos de cinco dias cada.

PLANEJAMENTO: UMA NOVA FORMA DE VER

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 102-104)