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Estrutura da tese

QUADRO 31 HIPÓTESE 2 DOCUMENTOS REFERENTES AO HOSPÍCIO DO CARMO ERIGIDO PRÓXIMO À IGREJA MATRIZ, COM CAPELA E CONVENTO SEPARADOS

1.3.5 A Província e o controle da Coroa na segunda metade do século X

Na segunda metade do século XVIII, a Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco continuou atuando nas mesmas propriedades já citadas na Capitania da Bahia de Todos os Santos e na Capitania de Pernambuco. Pelo que constatamos nos documentos daquela Província, principalmente, no “Livro Primeiro de Actas [...]” (1720-1780) e “Livro Segundo de Actas [...]” (1780-1799), todas as propriedades foram mantidas exceto, a partir de 1759, quando extinguiram as missões de Siri (próxima da Vila de Goiana) e Serinhaem (próxima da Vila de

Serinhaém). Dessa forma, a atuação daqueles religiosos se realizava desde o Convento de Cachoeira (ao Sul) até a Vila de Goiana (ao Norte).

Contudo, a segunda metade do século XVIII foi um momento de grande controle da Coroa Portuguesa em relação, principalmente, às ordens religiosas detentoras de bens de raiz, tendo uma influência iluminista de caráter laico182. Algumas restrições mais severas

aconteceram no governo do Primeiro Ministro português Marquês de Pombal (Reinado de Dom José I) na década de 1750 e continuaram no governo de Dona Maria I, perpassando o século XIX, todavia, nossos estudos se restringem até 1800.

A partir da década de 1750, a Coroa controlou mais ainda as ordens religiosas, sendo uma das medidas mais severas a expulsão dos jesuítas de todo o domínio português em 1759, incluindo os jesuítas do Brasil. Além desses, os alvos de críticas e de medidas restritivas, pela Coroa e os funcionários dela no Brasil (ouvidores, governadores, arcebispos, entre outros), foram os carmelitas calçados e os beneditinos, principalmente, porque eram detentores de bens de raiz. Nessa época, essas duas ordens religiosas detinham um vasto patrimônio religioso e latifundiário, o que incomodou as autoridades reais, que exigiram pelo menos três medidas aos regulares: que os religiosos começassem a listar e a enviar para Portugal todos os bens e número de frades de cada Província religiosa; que não deveriam aprovar atas e nem realizar reuniões, assim, a Coroa passou a nomear os superiores de hospícios e conventos de cada Província religiosa; que não deveria mais entrar noviços nas ordens religiosas sem a aprovação da Coroa, afetando, assim, o número de religiosos atuantes em cada província religiosa.

Na Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco, além das listas de bens e religiosos, por exemplo:

[...] ordena S. Majestade Fidelíssima, que se não deem a execução nesta Província os Breves, ou Bulas, ou quaisquer Graças de Roma sem que antes se apresentem na sua Secretaria de Estado [...], [...] evitando-se qualquer relaxação que possa perturbar a boa observância, e disciplina Regular, que sua Majestade deseja ver tão bem estabelecida nessa Província, como em todas as Religiões.183

Esse exemplo confirmou que a Coroa estava tentando retomar o controle sobre as ordens religiosas, principalmente, com o intuito de reformar, espiritual e administrativamente, aqueles religiosos, sem a intromissão do Papa ou de outros setores da Igreja.

A partir de meados do século XVIII, houve uma série de queixas contra os carmelitas calçados, que culminaram em visitações em hospícios e conventos e em uma reforma

182 Entretanto, sabemos que o controle da Coroa perante as ordens religiosas já era feito bem antes de 1750. 183 “Livro Primeiro de Actas [...]” (1720-1780, p. 542).

religiosa na Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco, em nome da Coroa, por parte dos Arcebispos da Bahia e de Pernambuco184. Consequentemente, a Coroa exigiu que fossem

produzidas listagens dos religiosos e dos bens da Província da Bahia e Pernambuco, bem como determinou que as autoridades locais mandassem demarcar e tombar as terras e propriedades daquela Província. Reiteramos que esse controle não foi exercido somente sobre aquele grupo de carmelitas calçados, mas sobre a maioria das ordens religiosas, masculinas e femininas, principalmente, as detentoras de bens de raiz.

No final do século XVIII, para a Coroa e os representantes dela, a Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco estava reformada, ou seja, controlada no sentido espiritual e econômico. Contudo, para os carmelitas calçados, a Província estava enfraquecida, pois tal controle ocasionou uma redução considerável no número de religiosos e, consequentemente, os carmelitas calçados restantes passaram a ter dificuldades com a manutenção dos bens da Província.

Além da descrição do severo controle da Coroa perante as ordens religiosas no Brasil, interessa-nos as listas e demarcações de terras feitas pela Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco e pelos funcionários reais sob exigência da Coroa, que nos possibilita visualizar, entre outras questões, a extensão das propriedades daqueles carmelitas, principalmente, dos hospícios e conventos e os territórios deles, que, pelo que constatamos, passou a ter uma maior extensão na segunda metade do século XVIII: desde o Convento de Cachoeira no Recôncavo até os sítios na Ribeira do Jaguaribe na Capitania do Ceará. Além do mais, podemos estimar a quantidade média de religiosos que atuavam em cada região.

Encontramos documentos que serviram como prestação de contas à Coroa Portuguesa. Entretanto, lembramos que isso já era feito pelas ordens religiosas com o intuito de controlar e registrar os bens deles desde o início do período colonial, mas, na segunda metade do século XVIII, tiveram que ser muito mais rigorosos e precisos nos levantamentos

184 Essa reforma religiosa não deve ser confundida com nenhuma reforma realizada em séculos anteriores na

Ordem do Carmo, como a Reforma Teresiana (século XVI) e a Reforma Turonense (século XVII). A reforma realizada na segunda metade do século XVIII pela Coroa Portuguesa no Brasil, com a ajuda dos Arcebispos e outros funcionários reais, em todas as Províncias de religiosos de diversas ordens religiosas, principalmente, dos carmelitas calçados da Bahia e Pernambuco, teve o intuito de controlar as atividades daqueles religiosos, exigindo que eles retomassem as exigências primárias da profissão regular, isto é, com restrições no voto de pobreza, obediência e castidade. Tal reforma da Coroa no Brasil começou a provocar um processo de secularização (ou laicização) nos religiosos, impulsionando-os a abandonar a vida religiosa e assumir uma vida laica. Encontramos exemplos disso no “Livro Segundo de Actas [...]” (1780-1799), quando diversos carmelitas calçados pediram à rainha D. Maria I para serem secularizados, sendo que a maioria alegou que era jovem e havia sido obrigado pelo pai quando entraram para a ordem religiosa e não tinha noção de todas as obrigações que a vida regular exigia, portanto, ao se tornar secular, isto é, pessoa vivendo uma vida comum, queria tirar a culpa de não ter cumprido com rigor todas as obrigações que lhe cabia como religioso.

deles por exigência da Coroa. Segue lista de documentos que analisamos da segunda metade do século XVIII: 1) AHU-SE de 1757, onde há uma lista detalhada dos conventos, igrejas e demais propriedades dos carmelitas calçados em Sergipe d’El Rei e a nova posse de terra do Engenho e Capela Comandaroba (no Rio Cotinguiba), havendo as propriedades que já mencionamos anteriormente e outras (que não havíamos tido acesso aos documentos de fundação ou posse dos séculos anteriores)185; 2) AHU-BA de 1764, onde há a “Relação dos

Mosteiros, Hospícios e Residências da Província de N. S. do Carmo da Bahia e Pernambuco, do número dos seus Religiosos e das rendas de cada um deles, segundo a conta, que deram os seus respectivos Priores e Vigários Priores”186; 3) “Lista dos religiosos da Província do Carmo

Observante da Bahia e Pernambuco”, posterior a 1780, que informa os bens dos principais hospícios e conventos da Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco187; 4) demarcação de

terras do Convento de Olinda, anterior a 10 de janeiro de 1783188; 5) demarcação e tombo do

Engenho de Magdalena Furtada dos carmelitas em Pernambuco de 30 de agosto de 1787189; 6)

Correspondência do Ouvidor da Comarca de Sergipe d’El Rei, Antônio Pereira de Magalhães Paços, ao Capitão General e Governador da Bahia, Dom Fernando José Portugal, de 1800, que relata os bens dos carmelitas calçados em Bahia e Sergipe190.

Além desses documentos, alguns inventários também foram produzidos na mesma época pela própria Província do Carmo da Bahia e Pernambuco, influenciados pela Coroa, para que aqueles carmelitas controlassem os bens e os religiosos da jurisdição deles, a saber: 1) “Inventário do Hospício das Alagoas” (1754-1786); 2) “Livro de Inventários dos Bens deste Convento [...]” (1796-1935), no qual consta o último inventário colonial, do ano de 1796, do Convento de Salvador e do seu Engenho Terra Nova.

Finalmente, com base em toda essa documentação e em informações contidas anteriormente, produzimos uma tabela geral das propriedades e da estimativa de religiosos (frades e donatos, neste caso, leigos ajudantes dos religiosos, que moravam nos hospícios e conventos) da Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco entre os anos de 1757-1800 (quadro 32):

185 AHU-SE, Papéis Avulsos, Inventário n. 394, cx. 7, doc. 41. 186 AHU-BA-CA, Papéis Avulsos, cx. 36, docs. 6697-6698. 187 AHU-BA-CA, Papéis Avulsos, cx. 180, doc. 13442. 188 AHU-PE, Papéis Avulsos, cx. 146, doc. 10682. 189 AHU-PE, Papéis Avulsos, cx. 160, doc. 11529. 190 Nunes (1996, p. 234-235).

QUADRO 32. QUANTIDADE DE RELIGIOSOS E LISTA DE PROPRIEDADES

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