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QUADRO 22 FONTES DOCUMENTAIS A FAVOR DA HIPÓTESE 2: CARMELITAS NA CAPELA DE SANTO ANTÔNIO NO NÚCLEO PRINCIPAL DE SÃO CRISTÓVÃO

Estrutura da tese

QUADRO 22 FONTES DOCUMENTAIS A FAVOR DA HIPÓTESE 2: CARMELITAS NA CAPELA DE SANTO ANTÔNIO NO NÚCLEO PRINCIPAL DE SÃO CRISTÓVÃO

N. Relato do autor Indício Fonte

1 Na “Relação dos bens [...]” de 1833 do Convento do Carmo de São Cristóvão, O

frei carmelita Ignácio de Santa Rita afirmou:

“Não achamos assento algum, nem memória da fundação deste convento; e apenas sabemos por tradição de pessoas antigas que, no lugar em que ele está situado, tinham os religiosos franciscanos uma Capela de Santo Antônio, que nos cederam com a obrigação de lhe darmos trezentos e vinte réis todos os meses, ônus que ainda hoje solvemos”.

Apes, FSS, doc. 41, 1833/1834.

2 Em uma carta de 27 de junho de 1938, o frei carmelita

Boerkans escreveu, fundamentado em Sá (1724):

“Um cronista da Província: (Manoel de Sá, ‘Memórias Históricas...” editado em 1724) diz desse convento apenas o seguinte: ‘Com esmolas dos devotos de nosso Santíssimo Hábito, na Cidade de Sergipe dos Reis, fundaram os religiosos convento em uma Ermida de Santo Antônio, que conserva o mesmo título’.

AIHGSE, Fundo José

Calasans (FJC), cx. 21, doc. 14, 1938.

3 Em um artigo sem data,

provavelmente, produzido no século XX, Sebrão Sobrinho

afirmou:

“A Igreja do Convento de Nossa Senhora do Monte Carmelo, em São Cristóvão de Sergipe, foi construída sobre os escombros da Capela do Outeiro [monte] de Santo Antônio, no Alto da Uma [...]”.

AIHGSE, FSS, doc. 18,

[s.d.], (p. 3).

Quadro 22: Carmelitas calçados na Cidade de São Cristóvão.

É improvável que a Capela de Santo Antônio tenha sido doação dos franciscanos para os carmelitas, uma vez que, no período colonial, as ordens religiosas não tinham essa prática, pelo contrário, até mesmo disputavam entre si privilégios de dízimos e terras. Principalmente, havia desavenças entre carmelitas e franciscanos, porque estes eram mendicantes e aqueles podiam adquirir bens. Sabemos que os franciscanos só chegaram a São Cristóvão somente na segunda metade do século XVII e construíram o convento deles por volta de 1693121. Por falta de referência documental, aquele frei carmelita no século XIX só pôde,

então, supor a história da fundação do Convento do Carmo de São Cristóvão com base na tradição oral, segundo a qual se relacionou o nome do edifício que era “Convento de Santo Antônio do Carmo” com uma possível doação franciscana, pois aquele santo é uma das principais devoções da Ordem de São Francisco.

121 “Princípios e progressos do convento da Cidade de Sergipe Del Rei [da Ordem de São Francisco] até o presente.

No sobredito ano de 1659, a cinco de novembro, fez-se Capítulo em separado de toda esta Província da de Portugal foi feito por Breve Apostólico Provincial primeiro Frei Antonio dos Mártires, e para Prelado também primeiro do recolhimento novo, Frei Sebastião dos Mártires, e assim se foram continuando os mais até o ano de 1693, em o qual a doze de setembro, sendo Provincial Frei Estevão de Santa Maria, lançou-se a primeira pedra para o convento novo, o qual, e sua igreja, não está ainda hoje de todo acabada pela indigência e pobreza da terra”. (JABOATÃO, 1858-1862, cap. 8, p. 585).

Diante do exposto, refletimos que os carmelitas, primeiramente, vieram a São Cristóvão por volta de 1608-1618 e se instalaram, provisoriamente, no arrabalde dela em 1618- 1619 ao lado da Capela de São Gonçalo (hipótese 1, quadro 21), que foi doada por leigos, mas depois decidiram se instalar no núcleo principal da cidade, próximo à Igreja Matriz, fundando convento ao lado da Capela de Santo Antônio (hipótese 2, quadro 22), que foi doada por leigos, por serem a única ordem religiosa daquela região, mantendo ambas as propriedades. Nesse caso, os carmelitas não somente receberam uma capela no arrabalde como, também, outra capela no núcleo principal de São Cristóvão. Diferentemente do caso em Salvador e Olinda, os carmelitas em São Cristóvão se fixaram poucos anos após a fundação da cidade e eram a única ordem religiosa atuante no local, não precisando disputar espaços com outros regulares.

Não sabemos a data exata da fundação do Convento do Carmo da Cidade de São Cristóvão, contudo, no “Livro de Tombo [...]” do Convento do Carmo de Salvador (1592-1796, p. 41), há um testamento de Balthazar de Barbuda (que morreu pouco depois de 1627), onde vemos obrigação de sepultamento e doação de bens e terra aos carmelitas de Salvador, provando que esses já atuavam dentro da Cidade de São Cristóvão em 1627:

[...] corpo seja sepultado na Santa Casa [de Misericórdia] de São Cristóvão, acompanharão o corpo os irmãos da Santa Casa e os padres do Carmo, dando hábito da Ordem em que ele é irmão da Ordem Terceira, rezará 9 missas por sua alma os padres do Carmo [...]. Confiou aos religiosos do Carmo 14 mil réis de dívida [...]. Certas braças de chão entre o Mosteiro de Nossa Senhora do Carmo e Jerônimo Cordeiro, das quais larguei aos Reverendos Padres [carmelitas] dele sete braças [15,4 m] e as três [cerca de 6,6 m] que sobraram deixe para nela se fazerem para morar o sucessor ou herdeiro da fazenda dele.

O testamento de Balthazar de Barbuda é rico em informações, das quais podemos extrair algumas reflexões: 1) em 1627, tanto havia Convento do Carmo em São Cristóvão quanto havia Irmandade da Ordem Terceira do Carmo, esta, funcionando dentro da igreja conventual, assim como vimos em Olinda e em Salvador. Uma vez que o prédio da Ordem Terceira de Salvador só foi construído a partir de 1644, é provável que o prédio da Ordem Terceira de São Cristóvão, que hoje se encontra ao lado da igreja conventual, tenha sido construído após aquela data. Além disso, em São Cristóvão, já havia Santa Casa de Misericórdia; 2) foi doado um terreno para os carmelitas, entre o Convento do Carmo e a casa de Jerônimo Cordeiro, que serviu para ampliar o convento (no lado Oeste), ou ser o terreno que foi doado, posteriormente, para a Ordem Terceira construir a sede em São Cristóvão (no lado Leste). A última ideia é a mais provável, pois, como disse Balthazar Barbuda no testamento dele, ao lado do terreno doado ao convento, haveria uma propriedade onde morariam os descendentes dele. Sabemos que, até hoje, o lado Oeste do Convento do Carmo não é ocupado

por moradias, havendo um espaço vago após o muro do convento, enquanto que, no lado Leste da Ordem Terceira, existe uma rua com diversas casas. Evidentemente, isso é uma dedução, pois essa espacialidade que ora apresentamos pode ter se organizado de forma diferente no período colonial; 3) o citado testamento está inscrito no Livro de Tombo do Convento do Carmo de Salvador, por isso, entendemos que foram os carmelitas dessa região que ocuparam a Cidade de São Cristóvão. Da mesma forma, as terras doadas por Balthazar de Barbuda também pertenciam ao Convento de Salvador a partir de 1627, reforçando a possibilidade de que o Carmo de São Cristóvão tenha sido, inicialmente, submetido à administração daquele Convento-Sede.

Nunes (2006, p. 83) apontou um documento de antes de 1637, que atestou a presença dos carmelitas como a única ordem religiosa em São Cristóvão:

Havia em São Cristóvão 100 fogos, uma Igreja Matriz, um Convento dos carmelitas, e a receita da capitania era superior a 6$000 [6 mil réis]. Exercia o cargo de Capitão- Mor João Rodrigues Molenar [exerceu cargo de 1631 a 1636].122

Em 1637, os portugueses haviam obtido informações de que os holandeses invadiriam a Cidade de São Cristóvão. Antes que isso acontecesse, os portugueses foram para Sergipe d’El Rei, atearam fogo às plantações e mataram o gado, e os moradores de São Cristóvão fugiram para outras regiões123. Na época, Duarte de Albuquerque Coelho, donatário

da Capitania de Pernambuco, relatou, no diário dele, a presença portuguesa em São Cristóvão para defesa do território dela, apontando o Convento do Carmo e a Capela de São Gonçalo:

‘A 31 chegou Bagnuolo à Cidade de Sergipe de El-Rei, a 25 léguas [cerca de 165 km] do Rio de S. Francisco. Esta povoação, com o nome de Cidade de S. Cristóvão, dista do mar cinco léguas [em torno de 33 km] [...]. Está numa planície e tem tanto de circuito como uma praça não chega a 500 fogos. Uma Igreja Matriz e um Convento do Carmo com poucos religiosos e uma Casa de Misericórdia: num monte próximo, uma Ermida de S. Gonçalo’.124

No “Mappa Topographico da Provincia de Sergippe del-Rei, período imperial”125,

de Pinxit Gonnet (ca. 1825), recortamos dois detalhes: no primeiro, em vermelho, destacamos a Cidade de São Cristóvão e a Capela de São Gonçalo; no segundo, em vermelho, sinalizamos

122 Informação a respeito do ano de exercício desse capitão-mor de Sergipe d’El Rei retirada de Lima Junior (1985). 123 Em 1637, a Cidade de São Cristóvão foi invadida pelos holandeses, assim como havia acontecido, por exemplo,

com Salvador e Olinda, e, consequentemente, o convento dos carmelitas também foi danificado. Naquele mesmo ano, os holandeses retiraram-se da Cidade de São Cristóvão.

124 NUNES (2006, p. 101).

o Convento do Carmo, a Igreja Matriz, a Santa Casa de Misericórdia e a Capela de São Gonçalo (figuras 12 e 13).

Figura 12: Detalhe do “Mappa Topographico da Provincia de Sergippe Del-Rei, período imperial”, de Pinxit Gonnet (ca. 1825), com destaque para São Cristóvão e São Gonçalo (em vermelho).

Fonte: Apes, BR Seapes, MAP001 0037; mapa modificado pela autora.

Figura 13: Detalhe do “Mappa Topographico da Provincia de Sergipe Del-Rei [...]” (ca. 1825), com destaque para São Cristóvão: Convento do Carmo, Matriz e Santa Casa, e o arrabalde com a Capela de São Gonçalo (em vermelho).

Fonte: Apes, BR Seapes, MAP001 0037; mapa modificado pela autora.

Não encontramos mais indícios sobre o Convento do Carmo de São Cristóvão ou sobre a capela de São Gonçalo dos carmelitas no século XVII. Por outro lado, há informações sobre aquisição de fazendas e terrenos pelos carmelitas de Salvador em Sergipe d’El Rei no século XVII, pois os documentos foram inscritos no Livro de Tombo do Convento de Salvador. Tais transações estão relacionadas, diretamente, com as terras de sesmarias dos primeiros moradores da Capitania da Bahia em Sergipe d’El Rei (quadro 23).

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