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2 OS CARMELITAS CALÇADOS E A CIDADE: A PROVÍNCIA DA BAHIA E PERNAMBUCO

QUADRO 35 AS IGREJAS CONVENTUAIS DOS CARMELITAS CALÇADOS DA BAHIA E PERNAMBUCO COM RELAÇÃO AOS PONTOS CARDEAIS

1 Igreja do Carmo do Convento de Salvador da Bahia Leste 2 Igreja do Carmo do Convento de Olinda Sul.

2.5 As estruturas de apoio das instalações carmelitas e o entorno

De acordo com Marado (2010, p. 110):

Os conventos, interpretados na sua dimensão arquitetônica, são construções constituídas por três elementos: igreja, dependências e cerca. Destes, a igreja é aquele que detém maior destaque em termos artísticos e que comunica, diretamente, com o mundo exterior. As dependências são compostas por uma série de espaços, ordenados e hierarquizados, simbólica e funcionalmente, sendo o claustro aquele que organiza e articula todos os outros. Por último, a cerca (também designada por horta) constitui o espaço não construído do convento composto por áreas de arvoredo, cultivo de cereais, hortas, jardins, fontes, sistemas de irrigação e de armazenamento de água, que garantem a subsistência da comunidade. Estas áreas são delimitadas por um muro que se articula com o edifício dando unidade ao conjunto. Em termos urbanísticos, os espaços conventuais são elementos primários na composição da cidade. A sua relação

com o espaço urbano fez-se, como vimos, a vários níveis: efetuando a ligação entre a cidade e o território envolvente, orientando ou condicionando a expansão urbana, e participando no desenho da cidade. Nesta dinâmica, cada um dos seus três elementos desempenha um papel distinto. A igreja, sendo o elemento mais significativo do conjunto, é aquela que se relaciona mais, diretamente, com a cidade, não só em termos físicos, mas, também, em termos visuais, dado que é o seu volume e desenho arquitetônico que mais se destacam no perfil da cidade. As dependências encontram- se, normalmente, situadas dentro dos muros da cerca, mas, em muitos dos casos, constituem, também, elas, frentes urbanas. Finalmente, as hortas definem, através dos seus muros, os novos limites ou novas orientações para o crescimento.

Nas Constituições da Ordem do Carmo calçado de 1625-1626208 (cap. 2, parágrafo

14), podemos inferir algumas informações a respeito dos bens que os carmelitas calçados poderiam ter para os conventos deles, através de uma recomendação sobre proibição das posses individuais de bens:

Nenhum dos irmãos da Ordem de qualquer classe ou condição que sejam, secretamente ou abertamente, deve fazer uso especial para si mesmo e tomar a posse de objetos, ou por meio de outra pessoa, as casas, os jardins, campos, vinhas, ou qualquer posse dos imóveis, nem vacas, ovelhas ou outros animais.

Com base nas informações citadas das Constituições de 1625-1626, deduzimos que um dos elementos de apoio do convento seria a horta que poderia ser: o jardim, os campos e as vinhas, isto é, locais de vegetação e de cultivo que ficariam no entorno da casa conventual.

Através da documentação dos Livros de Tombo do Convento do Carmo de Salvador, percebemos que esse edifício não era formado apenas pela igreja conventual e convento, mas que havia toda uma estrutura de apoio no entorno, que estendia os domínios territoriais no núcleo intraurbano.

Em primeiro lugar, sabemos que essa estrutura de apoio era formada pelo Conjunto da Ordem Terceira (com igreja, sacristia, consistório e claustro), que se agregou a partir de 1644 ao lado Sul da Igreja Conventual (figura 55).

Figura 55: O Convento do Carmo de Salvador e a relação dele com a Ordem Terceira. Fontes: Site Fortalezas. Site Google Mapas (à direita). Mapas modificados pela autora.

Em segundo lugar, havia uma extensa horta nos fundos do convento, para sustento dos religiosos, que descia o morro em direção à região irrigada do Rio do Brejo. Podemos ver a representação da provável horta dos carmelitas calçados e do Convento do Carmo de Salvador no detalhe da gravura “Tomada da Cidade de São Salvador século XVIII”209, uma vez que a

imagem simula a parte posterior da Cidade de Salvador (figura 56).

Figura 56: A suposta horta do Convento do Carmo no detalhe da gravura “Tomada da Cidade de São Salvador século XVIII”.

Fonte: FBN Digital, disponível em: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_ iconografia/icon325889.jpg>, acesso em: 4 nov. 2013; desenho modificado pela autora.

Em alguns mapas do século XVII, percebemos a presença de uma muralha no entorno do Convento de Salvador, feita para a defesa na época da invasão holandesa em 1624, mas pensamos que esse muro não era algo rígido, pois sabemos que os limites do Convento do Carmo se estenderam bastante no século XVII. No detalhe da “Planta de Restituição da Bahia” (1631), acreditamos que a horta dos carmelitas se estendia para muito além da muralha dela, sendo extramuros (figura 57), já que sabemos que iniciava nos fundos do convento, descia o morro e chegava ao Rio do Brejo. Todavia, no detalhe do mapa “Sinus Omnium Sanctoru[m]” (1664-1665), que tem elementos mais simplificados, a cerca ou muro do Carmo de Salvador chega até o Rio do Brejo por trás do convento (figura 58), compreendendo, certamente, a região da horta dos carmelitas, nesse caso, intramuros.

Figura 57: O Convento do Carmo de Salvador e a suposta horta extramuros no detalhe da “Planta de Restituição da Bahia” (1631). Fonte: Site Fortalezas; mapa modificado pela autora.

Figura 58: O Convento do Carmo de Salvador e a suposta horta intramuros no detalhe do mapa “Sinus Omnium Sanctoru[m]” (1664-1665).

Aos visualizarmos um documento de 19 de janeiro de 1630, do “Livro Segundo de Tombo [...]” (1589-1796, p. 20-25), encontramos algumas informações sobre a horta dos carmelitas calçados de Salvador: 1) podia ser vista das janelas do fundo do convento; 2) nela, trabalhavam os escravos do convento; 3) era separada das demais hortas de leigos por meio de uma cerca; 4) a entrada da horta tinha um portão feito de pedra e cal, na parte de baixo, próximo ao caminho que ia para a Quinta dos Padres da Companhia de Jesus.

Em terceiro lugar, além da horta e da Ordem Terceira, que eram elementos, fisicamente, ligados ao Convento de Salvador, havia um guindaste dos carmelitas calçados desde 1626 (figura 59), que foi instalado no Monte Calvário e em frente ao Convento do Carmo para erguer as pedras da beira do mar e usá-las na reforma e construção conventual, após o Convento de Salvador ter sido danificado na guerra contra os holandeses em 1624210, ligando a

parte de cima do convento do Carmo com o Cais Dourado.

Figura 59: O Convento do Carmo de Salvador e a frente dele com o guindaste e o Cais Dourado, no detalhe do mapa “Desenho das forteficações [...]” (ca. 1638).

Fonte: Reis Filho (2001, p. 32-34); mapa modificado pela autora.

Em quarto lugar, na beira do mar e em frente ao convento, existia um cais chamado de Dourado, que foi feito pelos carmelitas na mesma época do guindaste a partir de 1626. A construção do Cais Dourado foi recomendada aos carmelitas calçados pela Coroa Portuguesa,

210 O guindaste não foi privilégio somente dos carmelitas calçados em Salvador, segundo Santos (2012, p. 122-

123): “Há dois elevadores verticais, o Lacerda e o Taboão, e dois em plano inclinado, o Gonçalves e o Pilar [antigo guindaste do Carmo]. Substituem os ascensores e guindastes construídos pelas ordens religiosas para estabelecer ligação com os portos pertencentes aos conventos e aquele ‘elevador engenhoso”, construído pelos jesuítas e observado pelo viajante francês Pirard em 1610”.

por isso, pensamos que deveria existir uma importância pública com o uso concomitante do Cais Dourado, onde aportava embarcações, e do guindaste, que poderia levar, além de pedras, mercadorias da parte baixa da cidade (cais) para a parte de cima (na frente do Convento do Carmo). No “Livro de Aforamentos” do século XVIII inserido no “Livro Segundo de Tombo [...]” (1589-1796) do Convento do Carmo de Salvador, os carmelitas registraram que, na região do Cais Dourado, havia algumas casas e armazéns de posse daquele convento que estavam arrendados a leigos. Mais uma vez, notamos a relação direta do Convento do Carmo com a região portuária. O Cais Dourado também foi representado na montagem da “Planta da Cidade Baixa da Bahia [...]”211 de Hugh Wilson (1871) (figura 60).

Figura 60: O Hospício do Pilar, o Cais Dourado e o Convento de Salvador sinalizados na montagem da “Planta da Cidade Baixa da Bahia[...]” (1871).

Fonte: Site Guia Geográfico da Cidade do Salvador; planta modificada pela autora.

Em quinto lugar, ainda na parte baixa e próximo ao Cais Dourado, mais ao Norte, havia o Hospício e Colégio do Pilar (figuras 60 e 61), que entendemos fazer parte dos equipamentos de apoio do Convento do Carmo de Salvador e do entorno imediato dele.

Figura 61: O Hospício e Colégio do Pilar (à esquerda) próximo à Baia de Todos os Santos e ao Cais Dourado, e o Convento do Carmo de Salvador na parte superior (século XIX).

Fonte: Site Guia Geográfico Igrejas de Salvador; fotografia modificada pela autora.

Como já analisamos um exemplo de como poderiam ser os equipamentos de apoio de um convento da Bahia e Pernambuco, vejamos agora o exemplo desses equipamentos em um hospício. No documento de fundação e posse do Hospício e Missão do Rio Real (1592- 1593)212, localizamos alguns elementos de apoio, que foram doados pelo capitão e senhor de

engenho da região, que, certamente, tornava o hospício e missão autossuficiente no entorno deles, ao mesmo tempo em que ampliava os seus domínios intraurbanos: 1 ) um sítio de terras chamado Japão, para criação de gado dos carmelitas; 2) terras para os índios viverem próximas ao hospício, onde poderiam plantar e criar animais como galinhas e onde seriam as moradias dos índios; 3) terras para a horta dos carmelitas, junto à cerca do hospício e por trás do hospício, indo em direção ao rio para irrigação da horta213; 4) um armazém no porto do mar, na Barra do

Rio Real, “para recolhimento das suas coisas”. Notamos que o Hospício e Missão do Rio Real tinha uma relação direta com o porto, assim como vimos em outros conventos, e uma horta junto à sua cerca, assim como no caso do Convento de Salvador. É provável que não tenha existido edifício da Ordem Terceira do Carmo no entorno do Hospício e Missão do Rio Real, todavia, não descartamos a hipótese de ter existido Irmandade da Ordem Terceira funcionando dentro da igreja do hospício, como vimos em outros conventos do Carmo da Bahia e Pernambuco.

O Convento de Salvador e a Missão e Hospício do Rio Real eram diversificados em sua estrutura, nesse caso, sendo em nossa pesquisa os mais significativos, porque ambos têm

212 ARQUIVO DO CARMO DA PROVÍNCIA CARMELITANA DA SANTO ELIAS (AC-SANTOS ELIAS).

Rio Real: Escritura de Fundação (1692) e Termo de Posse (1693). Maço: Rio Real, doc. 1.

213 “Doa mais o dito Padroeiro para a cerca dos religiosos toda a terra que houver, até os congrãos e regos de água

do borocotó, para que, na baixa junto a água, possam fazer a sua horta e, até aí, chegar à cerca do hospício [...]” (AC-SANTO ELIAS, “Rio Real”, 1692-1693).

informações documentais. Na falta de documentação de outros hospícios e conventos, não temos pistas suficientes para entender como era o funcionamento dos equipamentos de apoio em outras casas conventuais carmelitas estudadas. Sendo assim, os únicos indícios que ainda hoje existem no entorno dos demais hospícios e conventos da Bahia e Pernambuco são a presença do edifício da Ordem Terceira e um grande espaço de vegetação, sugerindo que ali houve uma horta, ambos no entorno do convento.

Em relação à Ordem Terceira no entorno conventual carmelita, no geral, ela foi agregada aos edifícios que tinham patente de convento, como no caso das Ordens Terceiras de Salvador, Olinda, São Cristóvão e Cachoeira, que foram construídas na segunda metade do século XVII e início do século XVIII. Nesse caso, todas elas são recuadas e se fixam à lateral da igreja conventual.

Não localizamos normas do Carmo em relação à posição da Ordem Terceira do Carmo perante o Convento do Carmo. Entretanto, no documento de doação do terreno à Ordem Terceira do Carmo de Salvador de 1644, os carmelitas calçados fizeram uma exigência aos irmãos terceiros de que a Ordem Terceira não deveria impedir a passagem de luz que entrava pelas frestas da lateral da igreja conventual. Nesse sentido, acreditamos que os carmelitas calçados de Salvador, Olinda, São Cristóvão e Cachoeira fizeram a exigência do recuo da Ordem Terceira não somente para manter iluminada a igreja conventual deles, mas, principalmente, para destacá-la em primeiro plano, já que, com exceção de Salvador, a Ordem Terceira tem tamanho menor, e todas estão em segundo plano, isto é, recuadas, formando, assim, uma hierarquização através da disposição da arquitetura dos edifícios. (Figuras 62, 63, 64 e 65). Também, suspeitamos que a fachada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Salvador seja do século XIX, adquirindo notoriedade arquitetônica perante a Igreja Conventual do Carmo somente após o período colonial, pois, no detalhe de uma gravura setecentista (figura 56), a Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Salvador não se destaca ao lado da Igreja Conventual, tendo menor estrutura arquitetônica. Segundo Alves ([et. al.], 1967), houve um incêndio na Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Salvador e a reconstruíram no primeiro quartel do século XIX.

Figura 62: A Ordem Terceira e o Convento do Carmo de Salvador.

Fonte: Fotografias atuais (acima): Lucas Silva, 2014. Pintura antiga, provavelmente, do século XIX (abaixo à esquerda), Arquivo do Iphan da Bahia. Detalhe de Fotografia do ano de 1875 (abaixo à direita) do Site Guia Geográfico Salvador Antiga, disponível em: <http://www.salvador-antiga.com/baixa-sapateiros/aquidaba.htm>, acesso em 12 nov. 2015. Fotografias modificadas pela autora.

Figura 63: A Ordem Terceira e o Convento do Carmo de Olinda.

Fonte: Detalhe de fotografia de meados do século XIX (acima à esquerda: Arquivo Público Municipal de Olinda214. Fotografia entre 1895-1905 (acima à direita): Acervo da Fundaj.

Fotografias atuais (abaixo): Roberta Bacellar Orazem, 2014. Fotografias modificadas pela autora.

214 As cópias das fotografias antigas originais do acervo do Arquivo Público Municipal de Olinda referente ao

Convento do Carmo de Olinda no século XIX, que apresentaremos ao longo deste trabalho, estão organizadas com as identificações dos fotógrafos e das datações na sessão Anexo L.

Figura 64: A Ordem Terceira e o Convento do Carmo de São Cristóvão. Fonte: Fotografia: Roberta Bacellar Orazem, 2014; fotografia modificada pela autora.

Figura 65: A Ordem Terceira e o Convento do Carmo de Cachoeira.

Fonte: Fotografia: Roberta Bacellar Orazem, 2014; fotografia modificada pela autora.

Em Olinda e Cachoeira, além de recuadas, notamos ainda que a Ordem Terceira tem muro com portão feito de pedra e cal, que formava um pátio interno e reservado. Em Olinda, esse pátio também tinha ligação direta com a igreja conventual.

Outra questão que podemos analisar diz respeito à hierarquização simbólica imposta pela Ordem Terceira, Igreja Conventual e Convento dos edifícios do Carmo da Bahia e Pernambuco. Apesar de formarem um só conjunto, aparentemente, homogêneo em sua arquitetura, pelo fato de serem geminados, há uma hierarquia que se impõe através da disposição dos edifícios : 1) no primeiro nível, com a fachada destacada mais à frente, fica a Igreja Conventual, templo sagrado mais importante do conjunto arquitetônico e que serve de

intermediação entre Convento e Ordem Terceira; 2) no segundo nível, um pouco mais recuado, está o Convento do Carmo, local de moradia dos religiosos; 3) no terceiro nível, mais ainda recuada, está a Ordem Terceira, intermediada, espiritualmente, pelos carmelitas, mas dirigida por leigos abastados.

Em outros hospícios e conventos da Bahia e Pernambuco, havia duas exceções a respeito da Ordem Terceira: 1) o Convento de Nazaré não tem Ordem Terceira no entorno dele, isso porque, provavelmente, o Outeiro de Nazaré era somente uma povoação, não deveria ter muitos leigos abastados que pudessem construir uma Igreja da Ordem Terceira. Também, sabemos que o convento era, declaradamente, pobre e foi, por muitos anos, somente um hospício (de 1681 a 1744), mas não descartamos a possibilidade de ter funcionado Irmandade da Ordem Terceira do Carmo nas dependências da Igreja Conventual. Entretanto, a Igreja Conventual é mais recuada em relação ao Hospício. 2) O Hospício de Alagoas do Sul tem uma igreja da Ordem Terceira ao lado da Igreja Conventual, e isso parece ser exceção aos hospícios do Carmo da Bahia e Pernambuco, mas a estrutura dela não está completa, faltando, por exemplo, consistório, sacristia e claustro (na Igreja da Ordem Terceira, somente existe nave única e capela-mor), que estariam situados entre as duas igrejas. Nesse sentido, a Ordem Terceira não se liga, fisicamente, à Igreja Conventual, como nos casos dos conventos citados. Além disso, ambos os edifícios estão em mesmo nível hierárquico, isto é, um não está mais recuado do que o outro e, aparentemente, todos têm a mesma altura, com exceção da torre da Igreja Conventual, que a torna mais imponente, entretanto, acreditamos que essa torre foi imposta somente no século XIX. (Figura 66).

Figura 66: A Igreja da Ordem Terceira e a Igreja do Hospício do Carmo de Alagoas do Sul.

Fonte: Fotografia: Roberta Bacellar Orazem, 2014; fotografia modificada pela autoria.

Nesse caso, sabemos que moravam pessoas abastadas na Vila das Alagoas do Sul, prova disso são os esforços dos moradores em usar os prestígios deles para convencer a Coroa a autorizar a fundação do hospício dos carmelitas calçados naquela vila nos setecentos. Além disso, na segunda metade do século XVIII, através dos Livros de Actas, vimos que a Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco tinha interesse em transformar o Hospício das Alagoas do Sul em convento, o que foi impedido pela Coroa com o incentivo dos franciscanos. Por esses dois motivos, justificamos a presença da Igreja da Ordem Terceira.

Com relação ao espaço das hortas dos hospícios e conventos da Bahia e Pernambuco, é fato que os conventos tinham um espaço para plantações no entorno, uma vez que, ao analisarmos fotografias atuais (figura 67), percebemos, em Alagoas do Sul, São Cristóvão, Cachoeira e Nazaré, a presença de grandes espaços de vegetação ao redor do edifício conventual principalmente, no fundo dos conventos, que têm, certamente, relação com o período colonial.

Em Alagoas do Sul e em Nazaré, além de espaço não edificado com vegetação, sugerindo uma horta, existe um cemitério no entorno do Hospício ou Convento do Carmo. Em São Cristóvão e Cachoeira, as prováveis hortas dos conventos do Carmo estão próximas ao rio, podendo ter sido de fácil irrigação, assim como no caso da horta do Convento do Carmo de Salvador. Em Olinda, a horta ficava próxima ao mar. Ainda em relação ao Convento de Nazaré, Pereira da Costa (1976, p. 161) afirmou, baseado nos documentos setecentistas daquele convento, que os bens do Convento do Carmo de Nazaré eram todo o sítio (cerca de meia légua ou 3,3 km) onde estava o convento e que era arrendado a pelo menos quarenta e três foreiros. É provável que uma parte dessas terras, mais próxima ao convento, deveria ser a horta particular dos frades carmelitas.

Figura 67: Os Conventos do Carmo de Alagoas do Sul, Nazaré, São Cristóvão e Cachoeira, e os prováveis terrenos com vegetação das antigas hortas coloniais no entorno dos conventos.

Fonte: Site Google Mapas; mapas modificados pela autora.

Em relação à análise da provável existência de uma horta para o Convento de Cachoeira, podemos visualizar uma pintura do final do século XVIII (ca. 1792) que representou aquela Vila da Cachoeira e a Povoação de São Félix (figura 68). No detalhe dessa imagem, identificamos o Convento do Carmo e um espaço com vegetação ao fundo, que acreditamos ser a horta e que, se comparada ao espaço de vegetação atual (figura 67), são quase idênticos.

Figura 68: O Convento do Carmo de Cachoeira e o provável terreno da horta nos fundos dele, representados no detalhe do desenho do século XVIII (ca. 1792).

Fonte: Castro (1792); desenho modificado pela autora.

Em Olinda, podemos visualizar a cerca dos carmelitas e a provável horta do convento no detalhe do mapa “Civitas Olinda” (1647) e em uma fotografia do século XIX-XX. Nas duas imagens, a horta se encontra nos fundos do convento e ao lado do convento e está delimitada por uma cerca ou muro (figura 69).

Figura 69: O Convento do Carmo de Olinda e a provável cerca e horta dele, todos representados no detalhe do mapa “Civitas Olinda” (1647) e em uma fotografia de 1895-1905.

Fonte: Site Wikimedia (à esquerda). Fotografia entre os séculos XIX-XX (à direita): Acervo da Fundaj. Mapa e fotografia modificados pela autora.

Sendo assim, atestamos que os equipamentos de apoio do entorno da maioria dos hospícios e conventos da Bahia e Pernambuco possibilitaram uma ampliação no núcleo urbano e um controle espacial dos carmelitas calçados do entorno imediato dos edifícios deles.

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