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Estrutura da tese

1 OS CARMELITAS CALÇADOS E O TERRITÓRIO: DAS ORIGENS À REDE RELIGIOSA-CONVENTUAL NO BRASIL

1.2 A Vigararia do Carmo do Estado do Brasil (1580-1684)

1.2.1 As primeiras fundações religiosas

A história da Ordem do Carmo no Brasil iniciou-se na Província do Carmo de Portugal, pois foi dessa instituição portuguesa que os primeiros religiosos vieram para fundar convento e exercer o ofício espiritual no Brasil em 1580.

Com base em Wermers (1963) e Velasco Bayón (2001), sabemos que os carmelitas já administravam fundações conventuais na região de Portugal desde o século XIII com a fundação do Convento de Moura entre 1251 a 1271 (ou 1281). Mais de um século depois, por volta de 1387, os carmelitas, com a ajuda de um patrono - Nuno Álvares Pereira (1360-1431), fundaram o Convento de Lisboa, que passou a ser a Sede da Província do Carmo de Portugal34.

No século XV, os carmelitas fundaram mais dois conventos em Portugal: Colares (1450) e Vidigueira (1496). No século seguinte, fundaram os conventos de Beja (1526), Évora (1531), Coimbra (1536) - como um colégio de noviços (mais tarde, em 1571, sendo agregado à

34 “[...] o convento foi fundado pelo grande Condestável, em fins do século XIV. O primeiro documento oficial

sobre a fundação encontra-se numa Bula de Urbano VI, de 8 de dezembro de 1386, na qual se acolhe o desejo do nobre varão, Nuno, de fundar um convento em Lisboa, pensando na sua própria salvação e desejando trocar o terreno pelo eterno. O convento fundar-se-ia nos seus próprios solares e confiar-se-ia a uma das ordens religiosas aprovadas pela Santa Sé. Outra Bula, esta de Bonifácio IX [203º Papa – período de seu pontificado de 1389 a 1404], de 9 de setembro de 1395, dirigida ao Arcebispo de Lisboa, alude à anterior e, como em virtude da mesma já se tinha fundado o convento, tendo em conta que o próprio Nuno Álvares Pereira pedia a confirmação apostólica, o Papa assim o fez”. (VELASCO BAYÓN, 2001, p. 37-38).

Universidade de Coimbra, tornando-se centro carmelitano de estudos), Lagoa (1550), Torres Novas (1558), Setúbal (1598) e Alverca35 (1600). E, no século XVII, o Convento de Camarate.

A Sede da Província Carmelitana de Portugal manteve-se em Lisboa (Cidade-Sede da Coroa Portuguesa) até 1755, quando houve um terremoto naquela cidade e o convento de arquitetura medieval ficou em ruínas.

Para o Brasil, o Rei Dom João III (1502-1557) usou de uma estratégia de ocupação do território desde 1534, com o sistema de capitanias hereditárias, através do qual, as terras eram concedidas pela Coroa e isentas de foro. Sendo assim, as capitanias deveriam prosperar e serem mantidas por colonos portugueses e esses criariam as primeiras povoações. Desse sistema, somente as Capitanias de Pernambuco, com Sede na Vila de Olinda36, e de São

Vicente37, com Sede na Vila de São Vicente38, prosperaram no comércio, na exploração do pau-

brasil, posteriormente, no plantio da cana-de-açúcar e, consequentemente, na fixação de moradores no território delas39.

Em 1549, o rei implantou mais uma estratégia ao enviar um governador-geral com o propósito de assumir uma capitania nova, que estava localizada no centro do território do Brasil, na Bahia, que seria, diretamente, administrada pela Coroa. Esse território compreendia a antiga capitania hereditária de Francisco Pereira Coutinho (-1547), cuja família foi recompensada pelo seguinte ato do rei: “Considerando-se prejudicados, os herdeiros de Pereira Coutinho questionaram a Coroa, afinal, desistindo de suas pretensões em 1576, quando o rei

35 Atual Cidade de Alverca do Ribatejo.

36 A localidade recebeu o título de vila a partir de 1537 e manteve-se assim até o ano de 1676, quando recebeu o

título de cidade e houve a criação de um Arcebispado independente do Arcebispado da Bahia. Atualmente, aquele território mantém-se com o mesmo nome: Olinda-PE.

37 A capitania corresponde hoje ao atual Estado de São Paulo.

38 Essa vila foi fundada em 22 de janeiro de 1532. É a atual Cidade de São Vicente-SP.

39 Segundo Boxer (2002, p. 100-101): “O sistema que o rei adotou em 1534 foi o da divisão do litoral entre o rio

Amazonas e São Vicente em doze capitanias hereditárias de extensão limitada, no sentido da latitude, variando entre trinta e cem léguas [respectivamente, cerca de 198 km e 660 km], mas de extensão indefinida para o interior. As quatro capitanias setentrionais, situadas entre a Paraíba do Norte e o Amazonas, não foram ocupadas durante o século XVI, ainda que os donatários, a quem haviam sido distribuídas, tivessem tentado, em vão, fazê-lo. Das oito restantes, apenas Pernambuco, no Nordeste, e São Vicente, na extremidade setentrional, conseguiram vencer os ‘problemas de dentição’ dos primeiros tempos, e tornaram-se centros de crescimento populacional e econômico, relativamente, importantes. As demais, ou foram abandonadas em consequência de ataques indígenas ou vegetaram numa obscuridade total, com pequeno número de colonos que mantinham uma posição precária em locais isolados da faixa litorânea [...]. Os donatários que obtiveram as primeiras concessões em 1534, e seus sucessores, não pertenciam à alta nobreza nem eram ricos comerciantes; eram, sim, oriundos de famílias educadas e da pequena nobreza. Não possuíam, em sua maioria, capital ou outros recursos que lhes permitisse fazer progredir as terras, apesar dos enormes privilégios jurídicos e fiscais que a Coroa lhes concedera”. Em relação à medida aqui apresentada em “légua”, esta equivalia a cerca de 6,6 quilômetros (km).

decidiu compensá-los com a mercê de quatrocentos mil réis por ano da dízima em ouro de tudo quanto ela rendesse”40.

Portanto, a Sede do Governo-Geral do Estado do Brasil chamou-se Cidade de São Salvador, situada na Capitania da Bahia de Todos os Santos41. A construção da cidade murada

foi logo iniciada em 1549; os prédios foram, prontamente, construídos, como a Casa do Governador e a Igreja Matriz; as ruas principais foram traçadas e houve a construção de casas de moradores ao longo dessas vias42.

Em relação à Igreja no Brasil, o rei de Portugal tinha poder sobre todos os direitos e interesses eclesiásticos, sendo representante do Papa a partir da criação do Bispado do Brasil em 1551 na Cidade de Salvador. Nesse contexto, a Coroa Portuguesa exerceu o Padroado Régio dela, pelo qual competia ao monarca inserir e incentivar a fé cristã no Brasil. Os interesses de colonização e administração confundiam-se com os interesses de cristianização Contrarreformista. A Coroa Portuguesa considerava a organização eclesiástica como um departamento de Estado, orientado pela Mesa da Consciência e Ordens43, ao mesmo tempo em

que subjugava e incorporava os nativos indígenas à cultura portuguesa e à religião cristã e cobrava os dízimos dos colonos44.

Para concretizar os interesses da Coroa, vieram os religiosos jesuítas em 1549, conhecidos pela filosofia missionária de combate à heresia, típica da Contrarreforma da Igreja.

40 Tavares (2001, p. 91).

41 Nos documentos do período colonial, foi chamada somente de Cidade de Salvador da Bahia ou Cidade da Bahia. 42 “O centro primitivo da cidade começou a existir em algum dia do mês de abril de 1549. É o que está dito em

Francisco de Andrade (Crônica de D. João III): ‘... ao derradeiro dia de abril estava já acabada a fortaleza’, entendendo-se por fortaleza a estacada, posteriormente, substituída pelo muro de taipa guarnecido de baluartes” (TAVARES, 2001, p. 118-119).

43 “Criada em 1532 e tendo incorporado, em 1551, a administração das ordens militares, a Mesa da Consciência e

Ordens regeu-se, principalmente, por um diploma de 1558. Posteriormente, um novo regimento foi estabelecido em 1608, que permaneceu em vigor daí em diante”. (NEVES, 1997, p. 43).

44 Hoornaert [et. al.] (2008, p. 163-164) explica essa questão: “De fato, por concessão da Santa Sé, o título de grão-

mestre conferia aos reis de Portugal também o regime espiritual. O padroado conferia aos monarcas lusitanos o direito de cobrança e administração dos dízimos eclesiásticos, ou seja, a taxa de contribuição dos fiéis da Igreja, vigente desde as mais remotas épocas. A partir do século XVI, e, portanto, da época da descoberta do Brasil, a coleta desses dízimos passa a ser feita pelo próprio Rei de Portugal, que, como grão-mestre da Ordem de Cristo, devia zelar pelo bem espiritual das colônias portuguesas. Além disso, cabia ao monarca a apresentação dos nomes dos escolhidos para ocupar o governo das dioceses, das paróquias e outros benefícios eclesiásticos, bem como a obrigação de zelar pela construção e conservação dos edifícios do culto, de remunerar o clero e de promover a expansão da fé cristã. Ao Papa, cabia apenas a confirmação das atividades religiosas do Rei de Portugal. Para melhor administração política e religiosa das colônias, o governo português instituiu a Mesa da Consciência e Ordens e o Conselho Ultramarino. A Mesa funcionava como uma espécie de departamento religioso do Estado, ou em outros termos, como uma espécie de ministério do culto. [...] O Conselho Ultramarino era encarregado dos pareceres sobre as questões coloniais, precedendo o arrazoado do procurador da Coroa, e, em seguida, dos desembargadores”.

Com eles, foi implementado, entre outras atividades, o sistema de missão indígena ao longo do litoral do Brasil45. Todavia, foi no início da União Ibérica (1580-1640) que houve o incentivo

da vinda de outras ordens religiosas e a ampliação de novos núcleos de povoação no Brasil. Em 1580, vieram os carmelitas, ao mesmo tempo em que os beneditinos e os franciscanos começaram a fundar os conventos deles, respectivamente, em 1582 e 1584.

Os primeiros carmelitas calçados a aportarem no Brasil vieram do Convento-Sede de Lisboa da Província do Carmo de Portugal. Segundo Velasco Bayón (2001, p. 177): “é possível que, por volta de 1580, o número de religiosos que vivia nos conventos portugueses ultrapassasse os duzentos”.

A preparação para enviar os primeiros frades calçados foi decidida pelo Rei-Cardeal Dom Henrique46 (1512-1580) e a expedição teve o comando do fidalgo47 Frutuoso Barbosa. A

carta de apresentação48 emitida pelo Vigário Provincial do Carmo de Portugal, Frei João

Cayado, indicava os quatro primeiros religiosos que seriam enviados, que, em 1580, deveriam acompanhar o capitão Frutuoso Barbosa na viagem para fundar a Cidade-Sede da Capitania da Paraíba49 e edificar um convento naquele local, como poderiam, posteriormente, fundar

conventos na Capitania de Pernambuco e em outros lugares que fossem oferecidos para os religiosos. Além disso, teriam que acudir, espiritualmente, os moradores daquelas regiões. Um dos frades seria o Vigário principal dos carmelitas no Brasil e todos deveriam ser obedientes à

45 Informação contida no verbete “Aldeamentos” (VAINFAS, 2001, p. 21-24): “Nóbrega [1517-1570], nomeado

primeiro Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, em 1553, percebeu os limites desta ação missionária, elaborando um autêntico plano de aldeamentos, por alguns, chamada de ‘plano de colonização’, amparado pela Coroa. [...] ao invés dos Padres, seriam os índios a se deslocarem no espaço, submetendo-se ao território colonial e cristão. No mais, eles ficariam obrigados a obedecer ao calendário cristão, a sedentarizar-se por meio do trabalho agrícola, a adotar os ‘costumes cristãos’, a terem sua vida diária pontuada, em resumo, pelas badaladas dos sinos. [...] no que toca aos aspectos socioeconômicos das aldeias, era o de ‘criar comunidades camponesas’ que se auto- sustentassem e provessem as necessidades de mantimentos da colônia, para o que era necessário assegurar terras em sesmarias para os tutelados”.

46 17º Rei de Portugal, onde reinou de 1578 a 1580. Henrique foi chamado de Rei-Cardeal já que governou Portugal

ao mesmo tempo em que era religioso, porque havia sido Arcebispo de Braga, de Évora e de Lisboa.

47 “Durante os séculos XIV e XV, a palavra ‘fidalgo’ (literalmente, ‘filho d’algo’), que significava indivíduo de

sangue real ou, pretensamente, ilustre, tornou-se sinônimo de nobre, assim como fidalguia tornou-se sinônimo de nobreza. O ‘cavaleiro’, originariamente, um indivíduo que fora armado cavaleiro, também se tornou, nesse período, uma categoria social, meramente, honorífica, apesar de, ligeiramente, inferior à de fidalgo. O ‘fidalgo- cavaleiro’ era um indivíduo de sangue ilustre ou nobre, enquanto o ‘cavaleiro-fidalgo’ era um indivíduo de sangue plebeu armado cavaleiro por serviços prestados à Coroa”. (BOXER, 2002, p. 20).

48 Ver a Carta de apresentação dos primeiros carmelitas calçados no Brasil - de 26 de janeiro de 1580 e de autoria

do Frei João Cayado – na sessão Anexo B deste trabalho, retirada de Velasco Bayón (2001). A carta também foi transcrita, na íntegra, no livro de Sá (1724).

49 A Cidade da Paraíba, que era chamada, na época, de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, só vai ser fundada

Província do Carmo de Portugal bem como ao Arcebispo e aos demais Vigários Paroquiais, isto é, funcionários da Coroa no Brasil.

Os navios da expedição de Frutuoso Barbosa à Paraíba desviaram a rota devido a uma tempestade e desembarcaram no porto de Recife, que abastecia a Vila de Olinda na Capitania de Pernambuco. O capitão continuou em seus objetivos, mas os carmelitas calçados estabeleceram-se a partir de 1580 na Vila de Olinda.

Serra (1916a), Prat (1942) e Wermers (1963) relataram a chegada dos religiosos carmelitas calçados no Brasil. Contudo, apresentamos o texto de Sá (1724), que é o mais antigo sobre aquele episódio:

Resolveu o Sereníssimo Cardeal Rei Dom Henrique, que se fundasse a Paraíba, para o que mandou preparar uma poderosa armada: nomeando por cabo dela Fructuoso Barbosa, fidalgo da sua casa, [...] e como o principal intento dos monarcas portugueses foi sempre a extensão da fé de Cristo, e o bem das almas dos infiéis, mandou o Sereníssimo Cardeal Rei ao novo General levasse consigo naquela armada alguns religiosos de Nossa Senhora do Carmo, porque entendia seria muito do agrado de Deus pelo serviço que lhe fariam na conversão dos infiéis daquele Estado, e que falasse ao Prelado da sua parte, para lhe deputar Religiosos, porque ele lhe escreveria também para o mesmo efeito.

De acordo com Serra (1916a, p. 533-534), naquela época:

Governava então a Província Carmelitana de Portugal, com sede no Convento de Lisboa, o [...] Frei João Cayado como Vigário Provincial [...] escolheu para aquela expedição quatro religiosos sacerdotes professos [...]: Frei Alberto de Santa Maria, Frei Bernardo Pimentel, Frei Antonio Pinheiro e Frei Domingos Freire que, na mesma ocasião, foi nomeado superior de seus companheiros, conforme se acha declarado na patente que, ao partirem, foi-lhes entregue pelo mencionado Vigário Provincial, datada e assignada em Lisboa, 26 de janeiro de 1580. Premunidos, pois, desta patente que os acreditava, particularmente, perante o Bispo do Brasil, e seus Curas e Vigários, os quatro religiosos carmelitas supramencionados partiram de Lisboa para o Brasil no fim do mesmo mês de janeiro de 1580, formando parte da expedição chefiada pelo referido Fructuoso Barbosa e, chegando, felizmente, a Pernambuco, foram logo muito bem recebidos e aceitos, quer pelo clero quer pelo povo daquela capitania, sendo então Bispo de todo o Brasil, o ilustríssimo Dom Frei Antônio de Barreiros [-1600].50 Em 1586, outros frades carmelitas calçados de Portugal foram enviados para a Cidade de Salvador. Em seguida, outros carmelitas calçados portugueses, acompanhados de Frei Pedro Viana, procurador deles no Brasil, deslocaram-se para outro centro de prosperidade comercial e territorial mais ao Sul, fundando convento e missão na Vila de Santos51 (1589) na

50 “O terceiro bispo foi D. Antônio Barreiros. Chegou dia da Ascensão do Senhor de 1576. Pela ignorância do dia

da morte do segundo Bispo, não se sabe quanto tempo esteve a Sé da Bahia vaga: nem deste Bispo se nota o ano de sua morte. Mas consta, que governou 18 anos, e com o Governador D. Francisco de Souza fundaram o Convento de S. Francisco, segundo no Brasil por ter sido o primeiro em Olinda, dedicado a Nossa Senhora das Neves”. (VIDE, 2007, p. 12).

51 Atual Cidade de Santos-SP. Sobre aquela fundação conventual, Serra (1916b, p. 551) relatou que: “Entretanto,

Capitania de São Vicente, convento na Cidade de São Sebastião52 (1590) na capitania do Rio

de Janeiro, e a pretensão de um hospício e uma missão na Povoação de Ilha Grande53 (1593)

também na Capitania do Rio de Janeiro.

Em 1594, segundo consta no documento Regestum Chizzolae do Arquivo-Geral da Ordem Carmelitana de Roma, os carmelitas calçados receberam algumas recomendações que foram dadas pelo Prior-Geral da Ordem, Frei João Estevam Chizzola, em Roma:

Indica-se que não deviam abandonar-se os conventos do Brasil e que deviam ser regidos por um Vigário Provincial, dependente do Provincial de Portugal. Nos capítulos provinciais, [o Vigário Provincial] teria voz e lugar depois dos definidores. Por motivo de sua morte, devia reger a Vigararia o Prior de Pernambuco (refere-se a Olinda, na Capitania de Pernambuco), até que fosse nomeado um novo Vigário. Deram-se também outros decretos, como a possibilidade de absolvição em certos casos, por causa da distância.54

Na Província do Carmo de Portugal, realizou-se uma reunião provincial na Cidade de Lisboa em 15 de janeiro de 1595, sendo presidido pelo mesmo Prior-Geral da Ordem, Frei Chizzola. Nessa reunião, os religiosos confirmaram como seria a organização das casas conventuais no Brasil e aprovaram algumas medidas administrativas. A principal foi a criação da Vice-Província ou Vigararia de Nossa Senhora do Monte do Carmo do Estado do Brasil, dependente da Província de Portugal, com Convento-Sede na Vila de Olinda, por ser a primeira fundação. Naquela oportunidade, os religiosos consideraram quatro conventos como sendo parte da Vigararia do Brasil: Olinda, Salvador, São Sebastião do Rio de Janeiro e Santos. Não é mencionado, portanto, o Hospício de Ilha Grande (Angra dos Reis), talvez, por não adquirir, ainda, a patente de convento ou por ter pouco tempo de autorização para a fundação.

de Santos, no atual Estado de São Paulo e então Capitania de São Vicente, recebendo ali o terreno que, para fundar o convento ou casa de missão, doara-lhe o generoso Braz Cubas, por escritura de 31 de agosto de 1589 [...]”.

52 Atual Cidade do Rio de Janeiro-RJ. Wermers (1963, p. 216) expôs dados sobre aquela fundação conventual:

“No ano seguinte (1590), os carmelitas chegaram ao Rio de Janeiro. Após alguma hesitação entre o Morro de Santo Antônio (já chamado Morro do Carmo, quando correram notícias sobre uma possível fundação) e outra oferta, Frei Pedro Vianna resolveu aceitar esta, a ermida de Nossa Senhora do Ó, juntamente, com o terreno necessário para a construção, oferecido pelos oficiais da Câmara, por ser um sítio bem mais conveniente. Por escritura de 28 de abril de 1590, receberam os carmelitas mais uma légua de terras, de Jorge Ferreira, para ‘a casa de Nossa Senhora do Carmo que se há de fazer nesta cidade, para ajuda e sustentamento’”.

53 Atual Cidade de Angra dos Reis-RJ. Serra (1916b, p. 552) mencionou aquela fundação conventual: “[...] Angra

dos Reis [Ilha Grande], no Estado do Rio de Janeiro, que começada em 1593 com o caráter de hospício ou casa de missões, foi, rapidamente, elevando-se à categoria de convento [...]”.

54 Roma, Arquivo-Geral O. Carm., II, C. O. 1 (8), Regestum Chizzolae, f. 99 v. In: Velasco Bayón (2001, p. 183).

O termo “capítulo” refere-se à reunião geral realizada pelos carmelitas, na qual participavam os superiores (Priores ou Provinciais) dos conventos que compunham uma Província. Em todo capítulo, além dos religiosos superiores, fazia parte da reunião os padres do Definitório (uma espécie de colegiado ou senado de frades) e os padres Clavários (ou tesoureiros). O capítulo era feito em reuniões periódicas, geralmente, trienais, as quais envolviam os representantes de todos os conventos de uma província de carmelitas calçados, no caso mencionado acima, de toda a Província de Portugal, incluindo conventos no Brasil.

Wermers (1963, p. 217-218) afirmou que, em uma nova reunião provincial em Portugal em 1600, foram decididas mais diretrizes no intuito de se complementar aquelas decisões no Capítulo Provincial de 1595, uma delas foi: “[...] Todas essas disposições foram confirmadas pelo Geral que sucedeu, Frei Henrique Sílvio, em 1600, que estabeleceu mais o seguinte: o Vigário Provincial resida no convento da Bahia, por ser mais acessível”. Nessa decisão do ano de 1600, parece-nos que a Sede da Vigararia passou do Convento de Olinda para o de Salvador, e acreditamos que essa decisão foi mais conveniente, já que a Cidade de Salvador, além de localizada, geograficamente, entre os conventos do Carmo do Norte e do Sul do Brasil, era a Sede do Governo-Geral.

Após a criação da Vigararia do Carmo do Estado do Brasil, os carmelitas calçados fundaram mais templos: convento na Vila de São Paulo55 (1596) e hospício na Vila de Sant’Ana

de Mogi-Mirim56 (por volta de 1603), ambos em São Vicente; convento na Cidade de São

Cristóvão57 (a partir de 1608) em Sergipe d’El Rei58; convento na Cidade da Paraíba59 (antes

de 1606) na Paraíba.

Wermers (1963, p. 218), certamente, baseando-se em documento do Arquivo-Geral da Ordem Carmelitana de Roma60, afirmou que o Prior-Geral Frei Henrique Sílvio mencionou

a quantidade de religiosos e os respectivos conventos já instalados no Brasil em 1606: “Olinda - 30 religiosos; Bahia - 30; Rio de Janeiro - 14; Santos - 10; São Paulo - 8; Paraíba - 7, o que dá um total de 99 religiosos”61. É fato que a Vigararia tinha avançado, consideravelmente, em

número não somente de fundações religiosas, como de religiosos professos no Brasil ou em

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