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QUADRO 12 TERMOS DE NATUREZA FÍSICO-ESPACIAL NECESSÁRIOS À COMPREENSÃO DA TESE

Procedimentos metodológicos

QUADRO 12 TERMOS DE NATUREZA FÍSICO-ESPACIAL NECESSÁRIOS À COMPREENSÃO DA TESE

Grupos Termo Conceito

3 - ESPAÇO RELIGIOSO- ADMINISTRATIVO

Diocese De acordo com o “Diccionario [...]” (1798, Tomo I, p. 437), o verbete “Diocese” é o mesmo que “Diecese”, que, por sua vez, refere-se a “distrito de jurisdição espiritual do Bispo, Arcebispo, e outros prelados”. A administração da Diocese comandava um conjunto de Freguesias ou Paróquias.

Freguesia No “Diccionario [...]” (1798, Tomo I, p. 636), o verbete “Freguesia” refere-se à “Igreja Paroquial” e o verbete “Parochia” [ou Paróquia] (1798, Tomo Segundo, p. 161) refere- se à “Igreja Matriz, em que há pároco”. Portanto, no período colonial, a freguesia referia-se a uma região paroquial formada por um conjunto de igrejas e moradores (fiéis ou fregueses), comandados por uma Igreja Matriz e um padre. A Paróquia é o termo atual da antiga Freguesia.

Província No “Diccionario [...]” (1798, Tomo II, p. 260), o verbete “Província” significa: “parte de um Reino, ou Estado”. Além disso, o verbete “Provincial” diz respeito a: “Padre, o que governa os Religiosos de uma Província [...]” (“DICCIONARIO [...]”, 1798, Tomo II, p. 260). Dessa forma, relacionamos o termo “Província” a uma organização religiosa. No caso dos carmelitas calçados, havia divisões administrativo-religiosas dentro da Ordem do Carmo no Brasil dividida por Províncias e Vigararias que comandavam certas regiões em Portugal e no Brasil ao longo do período colonial. Vigararia Com base no “Diccionario [...]” (1798, Tomo II, p. 525), o verbete “Vigararia”

significa: “O ofício de vigário. Paróquia”. No caso de nosso trabalho, a Vigararia que sempre mencionamos estava inserida na Ordem do Carmo, sendo, portanto, uma Vice- Província carmelita no Brasil, isto é, a Vigararia era inferior à Província e submetida a esta.

Quadro 12: Espaços religiosos-administrativos.

Análise comparativa

A produção textual da pesquisa dividiu-se em pelo menos três etapas, expressas em termos de capítulos. Cada capítulo foi analisado a partir de uma escala territorial: 1) território ou espaço interurbano; 2) cidade ou espaço intraurbano; 3) arquitetura ou edifício.

Primeiramente, refletimos sobre como estudar duas escalas referentes ao espaço urbano: interurbana e intraurbana. De acordo Andrade (2010, p. 67), recomenda-se que: “os estudos de dinâmicas urbanas vividas no passado sejam feitos em dois níveis escalares, o do núcleo urbano e o da região, visto que é neste que a rede urbana pode se realizar e a partir da sua análise, será possível apreender a dinâmica que, eventualmente, integra as cidades e vilas coloniais”.

1) No primeiro capítulo, utilizamos a escala territorial. Segundo Moraes (2000, p.

21), o estudo do território só é possível da seguinte forma:

Nesse sentido, o território é antes de tudo uma escala de análise da sociedade e da relação sociedade/espaço, isto é, um recorte analítico que objetiva uma visão angular específica da história. Em tal entendimento, o território emerge como uma totalidade para a geografia, um espaço dotado de uma historicidade própria, que corresponderia à espacialidade de uma dada ‘formação econômica e social’. Em outras palavras, todo território tem uma história, que explica sua conformação e sua estrutura atual.

Este capítulo 1 é, basicamente, uma análise da inserção, fixação e expansão dos carmelitas calçados no território do Brasil, de forma mais específica, na Capitania da Bahia de Todos os Santos e na Capitania de Pernambuco. Essa escala do território será discutida através da escala interurbana da atuação dos carmelitas.

A análise do espaço interurbano colonial foi realizada com o intuito de

averiguarmos em que medida os carmelitas calçados mantinham relações físico-espaciais e socioeconômicas entre as localidades estudadas, onde os conventos deles estavam presentes.

Santos (2008, p. 262-263) conceitua o que é “rede”:

Toda infraestrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território onde se caracteriza pela tipologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação. Mas a rede é também social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que a frequentam. Sem isso, a rede é, na verdade, uma mera abstração. [...] que o termo de rede seja limitado aos sistemas criados pelo homem, deixando aos sistemas naturais o nome de circuitos. A verdade, porém, é que uns e outros apenas são valorizados pela ação humana. [...] Mediante as redes, a aposta não é a ocupação de áreas, mas a preocupação de ativar pontos e linhas, ou de criar novos. [...] Em suas relações com o território, as redes podem ser examinadas segundo um enfoque genético e segundo um enfoque atual. No primeiro caso, são vistas como um processo e, no segundo, como um dado da realidade atual. O estudo genético de uma rede é, forçosamente, diacrônico. As redes são formadas por troços, instalados em diversos momentos, diferentemente, datados, muitos dos quais já não estão presentes na configuração atual e cuja substituição no território também se deu em momentos diversos. Mas essa ocupação não é aleatória. Cada movimento se opera na data adequada, isto é, quando o movimento social exige uma mudança morfológica e técnica. A reconstituição dessa história é, pois, complexa, mas, igualmente, ela é fundamental, se queremos entender como uma totalidade a evolução do lugar.

Entretanto, não basta somente estudar a inserção dos carmelitas calçados em pontos estratégicos da Bahia e Pernambuco. Baseando-se nos conceitos de rede urbana fundamentados em Milton Santos, Andrade (2010, p. 67) afirmou que o que devemos levar em consideração: “não é a criação da cidade ou vila que leva à rede urbana, mas sua conexão com outras nucleações e os fluxos dela derivados que dão dinâmica e existência à rede”.

Nesse sentido, em nossa análise interurbana, levamos em consideração não somente as cidades e as edificações religiosas nas quais os carmelitas calçados atuaram, mas, também, pensamos na dinâmica social, isto é, nos fluxos de religiosos, na diferenciação hierárquica realizada pelos carmelitas nas edificações religiosas (missão, hospício, convento, colégio) e nas propriedades lucrativas com capela deles (sítios, engenhos, fazendas), como, também, refletimos sobre as macro e microrregiões que se formaram a partir de toda a dinâmica espacial e social.

Contudo, este trabalho, no que diz respeito à escala interurbana, não aborda nem é sobre rede urbana, ainda que tenha a ver com ela. Preferimos enfocar a questão pelo viés da

noção de geografia monástico-conventual, aplicada por Catarina Marado (2007) na tese de doutorado dela, que trata da interpretação da distribuição territorial dos institutos religiosos. A autora procurou conhecer, com maior detalhe, o modo como o clero regular se distribuiu em terras portuguesas, realizando uma análise do processo de formação espacial de uma rede monástico-conventual, pensando não somente na dinâmica espacial apresentada pelos edifícios religiosos e as respectivas cidades deles, mas, também, na dinâmica social contida em cada ordem religiosa.

Em nossa tese, aplicamos aquela lógica para as povoações, vilas e cidades coloniais onde os carmelitas calçados atuaram. Em outras palavras, pretendemos descobrir se houve uma

Rede Religiosa-Conventual Setecentista da Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco, com base em uma síntese de toda estrutura econômico-administrativa, que se

revela: no conjunto formado pelos hospícios e conventos daqueles carmelitas situados nos locais dentro dos territórios das Capitanias da Bahia e Pernambuco; nos deslocamentos dos carmelitas calçados entre hospícios e conventos daquela Província; na hierarquização imposta com base na patente conventual (hospício, convento, colégio); nos hospícios e conventos e a relação deles com as propriedades lucrativas com capelas (fazendas, engenhos e missões).

Em uma pesquisa histórica, é possível a aplicação de estudo comparativo quando o pesquisador tem uma série de elementos com características semelhantes ou provenientes de um mesmo sistema. Com base nas ideias do historiador March Bloch, os pesquisadores Theml e Bustamante (2007) afirmam que o método comparativo se destina a: “pesquisar e entender aspectos específicos e gerais de cada fenômeno e auxiliar a compreender as ‘causas’ e ‘origens’ dos fenômenos”. Em nosso estudo, trabalhamos, comparativamente, os aspectos arquitetônicos e urbanísticos dos diferentes hospícios e conventos dos carmelitas calçados, verificando semelhanças entre aqueles elementos e identificando um aspecto geral da arquitetura e do espaço urbano ocupado pelos carmelitas calçados.

2) No segundo capítulo, analisamos o espaço intraurbano ou a escala da cidade.

Nesse caso, relacionamos, principalmente, o edifício carmelita - conventos, hospícios e igrejas - com o entorno imediato dele. O edifício religioso carmelita era composto pelo convento e a

igreja conventual, entretanto, há também, em muitos casos, a presença do prédio da Ordem Terceira, que se une, fisicamente, ao complexo conventual. Na análise do entorno do convento carmelita, podemos considerar, por exemplo: se havia prédio da Ordem Terceira ao lado do

convento e em que posição se localizava e comparar o porte físico de ambos; se o convento se localizava em frente ou ao lado de uma praça principal; se o convento se encontrava próximo a importantes construções como o Pelourinho, a Casa de Câmara e Cadeia ou a Igreja Matriz; se

as ruas que passam em frente ao convento eram as ruas principais da aglomeração urbana. Esses elementos de comparação foram aplicados aos edifícios carmelitas das povoações, vilas e cidades estudadas, em busca de pontos, eventualmente, comuns entre eles.

3) O terceiro capítulo é dedicado à escala do edifício ou da arquitetura. Nele, realizamos a análise dos conventos e igrejas carmelitas, tentando verificar se há recorrência de determinadas características da arquitetura carmelita nas fachadas e nas plantas baixas de

todas as igrejas conventuais e conventos dos carmelitas calçados da Bahia e Pernambuco. Nesse

caso, também verificamos o que foi dito pelas normas seguidas pelos carmelitas calçados e ao longo da história desses religiosos no Brasil colonial, relacionando-as aos elementos arquitetônicos das fachadas (por exemplo, frontispício, torre sineira, entre outros) e com os das plantas baixas dos conventos (por exemplo, formato, dimensão, entre outros) na busca de uma aplicação das normas ao ambiente construído. Todavia, como o Hospício do Rio Real, do Pilar e de Santo Amaro foram demolidos, trabalharemos a partir dos documentos deles e de outros documentos dos carmelitas calçados, que os descrevem, ou, no caso do Hospício do Pilar, com as fotografias dele do século XIX.

A escolha da planta baixa e fachada como elemento de análise comparativa se deve ao fato de que eles se mantêm com a maioria das características formais do período colonial, exceto em alguns casos isolados de modificações e reformas. Entre eles, podemos citar: reformas oitocentistas em raros elementos da fachada, como a ampliação e mudança de uma torre sineira; reformas internas na planta baixa de um convento, como no caso da demolição de paredes no século XX e da reutilização dos espaços para outros fins não religiosos; reformas oitocentistas na parte interna de uma igreja conventual, como é o caso de mudar o estilo artístico do mobiliário (altares e púlpitos). Há outras modificações que não interferem na estrutura geral dos edifícios, que são, essencialmente, coloniais.

No geral, a pesquisa utiliza o método comparativo de análise. Resumidamente, os procedimentos metodológicos utilizados em toda a tese estão expostos no quadro 13 a seguir.

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