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2 OS CARMELITAS CALÇADOS E A CIDADE: A PROVÍNCIA DA BAHIA E PERNAMBUCO

QUADRO 36 VIAS NO ENTORNO DOS HOSPÍCIO E CONVENTOS DO CARMO DA BAHIA E PERNAMBUCO

N. Edifícios carmelitas Vias que passavam pelo edifício do Carmo

9 Hospício de Alagoas do Sul Via secundária.

Quadro 36: Vias no entorno dos hospícios e conventos dos carmelitas calçados da Bahia e Pernambuco.

Em Salvador, inicialmente, no século XVI, o Convento do Carmo estava situado no arrabalde e sem rua ainda estruturada à frente do convento. Posteriormente, no século XVII, a rua diante do convento se estruturou e passou a se chamar Rua do Carmo e, no século XVIII, Rua Direita de Santo Antônio216 porque fazia referência à Freguesia de Santo Antônio Além do

Carmo, que era o bairro do Convento do Carmo. Tal Rua Direita era a principal de Salvador e tinha grande extensão, começando nas imediações do Convento dos beneditinos, passando pela Casa dos Governadores, Igreja Matriz e Convento dos jesuítas até chegar ao Convento do Carmo. Segundo Teixeira (2012) a Rua Direita de Salvador se adaptou à topografia da região, seguindo as linhas de cumeada dos montes do Norte, Centro e Sul da cidade. (Figura 70).

216 Constatamos o nome dessa rua em frente ao Convento do Carmo, que tinha sua extensão no Bairro de Santo

Antônio Além do Carmo por todo Monte Calvário, no “Livro de Aforamentos” do Convento do Carmo de Salvador registrado no “Livro Segundo de Tombo [...]” (1589-1796).

Figura 70: O Convento do Carmo de Salvador (em vermelho) e a relação dele com a Rua Direita (em amarelo) que era a via principal daquela cidade. Fonte: Teixeira (2012, p. 148); mapa modificado pela autora.

Na mesma cidade, na parte baixa da praia, o Hospício e Colégio do Pilar estava situado diante da via principal daquela região portuária (cidade baixa), que passava pelo porto principal da cidade ao Sul, depois, pela Freguesia do Pilar em frente ao Hospício e à Matriz do Pilar, e seguia em direção, por exemplo, à Água de Meninos. Em relação à Cidade de Salvador, a via da praia poderia ser considerada uma via secundária importante daquela cidade, tendo em vista que, na parte alta, a via principal era a Rua Direita. Como essa, a Rua da Praia foi planejada com base na topografia, mas, também, na hidrografia da região. Dessa forma, o Convento do Carmo passava pela primeira via principal e o Hospício do Pilar pela segunda via principal de Salvador. (Figura 71).

Figura 71: O Hospício do Carmo do Pilar e a relação dele com a Rua da Praia principal (em vermelho), que, por sua vez, era secundária em relação à Rua Direita da Cidade de Salvador.

Em Cachoeira, como um caso semelhante ao Convento de Salvador, a rua diante do Convento do Carmo era a principal da vila, pois, ao Sul, iniciava-se no Convento do Carmo e seguia ao Norte, passando pela praça principal e Casa de Câmara e Cadeia, depois, passando em frente à Igreja Matriz. Sabemos que a continuação dessa via ao Norte era o principal caminho da estrada que ligava a Vila de Cachoeira ao sertão do Brasil colonial (principalmente, às Minas), chamada de Caminho do Caquende. Em frente à Igreja Conventual do Carmo de Cachoeira, também, havia uma rua secundária que ligava o convento ao porto da vila. (Figura 72).

Figura 72: O Convento de Cachoeira e a relação dele com a via principal (em vermelho) e via secundária (em verde).

Fonte: Castro (1792); desenho modificado pela autora.

No Cabo de Santo Agostinho, a partir do Convento do Carmo de Nazaré, desenvolveu-se a rua principal da povoação, pois a Igreja Conventual do Carmo também era a Matriz daquela Freguesia de Nazaré. Nessa rua principal, sabemos que há casas e pelo menos existia outra capela na região, chamada de Capela Velha, que tinha invocação de Nossa Senhora da Conceição e, atualmente, está arruinada. (Figura 73).

Figura 73: O Convento de Nazaré e a relação dele com a via principal (em vermelho). Fonte: Site Google Mapas; mapa modificado pela autora.

Em relação ao Hospício do Rio Real, apesar da falta de documentação e de indícios físicos, provavelmente, ele se situava diante de uma via principal que foi feita segundo a sua estrutura conventual e por onde se fixaram os demais moradores da região, tanto índios na própria missão quanto leigos em casas. Atualmente, o provável local do Hospício e Missão do Rio Real é um povoado onde existe uma única igreja na região e diante dela há uma via principal por onde correm casas de um lado e de outro. (Figura 74).

Figura 74: O suposto local do Hospício do Rio Real onde é a atual Igreja do Carmo e a via principal (em vermelho) do Povoado Convento.

Fonte: Fotografia: Roberta Bacellar Orazem, 2014; fotografia modificada pela autora.

Em Olinda, a partir do Convento do Carmo, formaram-se pelo menos duas vias secundárias, uma ao lado do convento e outra em frente ao convento, que subiam a ladeira e

davam acesso à principal via da cidade que passava em frente à Igreja Matriz e ao convento dos jesuítas. (Figura 75).

Figura 75: O Convento do Carmo de Olinda e a relação dele com as vias secundárias (em verde) diante do convento e com a via primária (em vermelho) da cidade.

Fonte: Site Wikimedia; mapa modificado pela autora.

Assim como em Olinda, no entorno do Convento do Carmo de São Cristóvão há algumas vias secundárias: 1) a partir da Igreja Conventual do Carmo de São Cristóvão, seguia uma rua secundária em sentido à Igreja Matriz, praça principal, cruzando com a rua principal da cidade, que estava diante da Matriz, Casa de Câmara e Cadeia e Santa Casa de Misericórdia; 2) a rua que passa diante do convento do Carmo, por um lado, desce a ladeira e segue para a parte baixa da cidade com destino ao porto da cidade, que era um local importante para a época; 3) a rua do lado da Ordem Terceira seguia em direção ao Leste e passava por algumas igrejas de irmandade da cidade, por isso, entendemos que essa era uma via secundária e a segunda mais importante para aquele núcleo urbano. (Figura 76).

Figura 76: O Convento do Carmo de São Cristóvão e a relação dele com as vias secundárias (em verde) diante do convento e com a via primária (em vermelho) da cidade.

Fonte: Arquivo do Iphan-Sergipe, 2007; mapa modificado pela autora.

Na Vila das Alagoas do Sul, a rua diante do Hospício e Ordem Terceira do Carmo era uma via secundária da região, uma vez que se situava no arrabalde dela. Entretanto, assim como em São Cristóvão, essa via se iniciava no Carmo e se ligava à rua que seguia em direção ao porto principal da região, e, por isso, a importância na vila. Essa rua também cortava o caminho principal da cidade, que era formado pela Igreja Matriz, no centro da via, depois, passando em frente à Casa de Câmara e Cadeia e seguia para o Convento de São Francisco. Ainda, segundo Ferrare (2005), o caminho para o Hospício do Carmo foi um dos mais importantes da Vila das Alagoas do Sul, pois, por ele, passavam as principais procissões daquela vila. (Figura 77).

Figura 77: O Hospício do Carmo de Alagoas do Sul e a via secundária dele (em verde) que seguia em direção ao porto e cortava a via primária (em vermelho) da Vila.

Fonte: Ferrare (2005); mapa modificado pela autora.

Em frente ao antigo Hospício de Santo Amaro, passava a principal via da vila, esse caminho principal segue em direção à Igreja Matriz, passando ao lado dela (figura 78).

Figura 78: O suposto local do Hospício de Santo Amaro e a relação dele com a via principal (em vermelho).

Portanto, a partir da análise feita, percebemos que, na maioria dos casos, os hospícios e conventos carmelitas se situavam nas principais vias do núcleo urbano onde estavam instalados. Nos casos em que os hospícios e conventos tinham vias secundárias diante dos complexos conventuais, essas se direcionavam às principais vias em direção à Igreja Matriz ou a locais de importância secundários como o porto, nesse sentido, para a parte baixa do espaço intraurbano.

2.7 A relação com os espaços abertos ou praças

Na cidade colonial, os espaços abertos eram conhecidos, genericamente, como praça. Segundo Teixeira (2009, p. 56-57) o termo “praça”:

[...] pode significar: 1) um grande espaço público de uso múltiplo em uma localidade. Trata-se, geralmente, de seu centro; 2) uma localidade compreendida enquanto centro de comércio, em que são exercidas atividades de compra e de venda; 3) um lugar fortificado, com muros e bastiões [...] nesses dois últimos casos, a palavra designa a própria aglomeração, isto é, a parte designa o todo.

No Brasil colonial, os espaços abertos tinham papéis importantes e centrais na estruturação dos núcleos urbanos. Segundo Teixeira (2012, p. 59):

A maior parte das cidades [no Brasil colonial] [...] tinha por base uma retícula regular e organizava-se em torno de uma praça localizada centralmente. A praça era concebida como o centro funcional, simbólico e geométrico do novo aglomerado, a partir da qual se definiam o traçado das ruas e a estrutura de quarteirões e se estruturava todo o plano da cidade.

De acordo com Teixeira (2012, p. 51), na cidade de origem portuguesa:

Desenvolvia-se um largo ou um terreiro, de início, formalmente, indefinido, que, progressivamente, se transformava em praça. Era nesse espaço que, ao longo do tempo, polarizavam-se funções urbanas centrais e implantavam-se edifícios institucionais, cívicos ou religiosos, em articulação com os quais a praça se organizava formalmente.

Entretanto, o mesmo autor afirmou que a construção do espaço aberto podia ser inversa, iniciando-se a partir do edifício religioso: “Cada uma das capelas pontuava um espaço aberto: um adro, um rossio ou um largo que, com o tempo, se estruturavam, formalmente, como praças”217.

Marx (2003, p. 110) comenta a respeito dos adros das igrejas:

Os lugares pios, como o próprio nome indica, eram espaços muito bem definidos pelas normas canônicas. Essa definição implicava em uma série de exigências e de

prerrogativas especiais que importaram não apenas à Igreja, a cujos ritos atendiam, como também ao Estado, que se respaldara na Religião Católica Romana. Não havendo, muitas vezes, determinações mais precisas quanto à organização espacial de núcleos urbanos por parte das autoridades civis, e acatadas por elas as das instituições eclesiásticas, estas, por sua usual clareza, se impuseram de forma decisiva e, por vezes, quase exclusiva. Condicionaram, assim, os locais sacros, espacialmente, a céu aberto, a implantação topográfica geral, a trama viária, a significação maior ou menor das parcelas de lote urbano. Os adros foram, por muito tempo, - eles, também, locais pios - os pontos altos de todo o conjunto urbano, de toda a rede de seus espaços internos comuns”.

Essa concepção da forma aberta e direcionadora para os edifícios religiosos conventuais está, inerentemente, ligada a uma questão ideológica da Igreja, pois está relacionada ao contexto da missionação do Concílio de Trento, que é o eixo motriz das andanças, deslocamentos e ocupações de territórios pelas ordens religiosas, como a carmelita.

De acordo com o interesse de análise em nosso trabalho, definimos algumas variações de praças na cidade colonial (quadro 37):

QUADRO 37. DEFINIÇÕES DE TIPOS DE PRAÇAS NA CIDADE COLONIAL

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