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Estrutura da tese

QUADRO 23 TERRAS DOS CARMELITAS EM SERGIPE D’EL REI NO SÉCULO

1.3 A Vigararia e a Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco (1685 1800)

1.3.3 Expansão e consolidação na Capitania de Pernambuco

Desde o século XVII, a Coroa adotou algumas medidas para que o patrimônio dos religiosos não avançasse no intuito de controlá-los, principalmente, aqueles que detinham bens como os carmelitas. A Coroa proibiu a fundação de casas religiosas sem a sua autorização prévia: “foi servido resolver por ordem de 18 de dezembro de 1685 senão edificando [...] iniciar convento algum sem especial ordem de Vossa Majestade, e em 27 de abril de 1709 lhe repetiu nova ordem sobre essa mesma matéria”157. A necessidade do controle das fundações religiosas

153 Cerqueira e Silva (1937, p. 207-208). 154 AHU-PE, Papéis Avulsos, cx. 39, doc. 3538.

155 246º Papa - período de seu pontificado de 1730 a 1740. 156 “Livro Primeiro de Actas [...]” (1720-1780, p. 126-141). 157 AHU-AL, Papéis Avulsos, cx. 2, doc. 169.

existia porque, antes daquelas duas leis, alguns conventos podem ter sido fundados sem autorização régia.

Nesse contexto, percebemos que os franciscanos foram uma ordem religiosa, de certa forma, protegida pela Coroa, porque eram mendicantes e viviam sob regime de estrita pobreza, ou seja, na teoria, não conseguiam acumular tantos bens quanto as demais ordens. Em alguns casos, nos locais onde já existia convento franciscano, muitas vezes, a Coroa não permitiu a inserção de outras ordens religiosas, principalmente, dos carmelitas calçados.158

No final do século XVII e na primeira metade do século XVIII, a Coroa passou a autorizar novas casas religiosas, sendo que a exigência, pelo menos aos carmelitas, foi de se fazer um pequeno hospício, e nunca um convento, sendo que a maioria deles serviria como casa de apoio para os religiosos envolvidos nas missões indígenas das localidades. Na maioria dos casos, as missões indígenas, através das Junta das Missões159, por um lado, eram um interesse

da Coroa, pois se precisava da ajuda dos regulares, por outro lado, foi um subterfúgio encontrado pelos carmelitas calçados e pelos moradores abastados das localidades, respectivamente, para fundarem novos hospícios e para desenvolverem as regiões dos interesses deles.

Nesse contexto, surgiram algumas fundações dos carmelitas calçados da Vigararia e depois Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco nas Capitanias da Bahia de Todos os Santos e na Capitania de Pernambuco no final do século XVII e ao longo do século XVIII. A dinâmica de ocupação das novas localidades se fazia, no geral, da seguinte forma: os moradores

158 Quando mencionamos os interesses dos franciscanos no contexto do Brasil colonial comparados aos interesses

dos carmelitas calçados, tiramos a conclusão de que, historicamente, houve uma disputa de poder ou influência entre essas ordens religiosas. No caso de querelas entre franciscanos e carmelitas calçados, isso parece que ocorreu repetidas vezes ao longo do período colonial, não somente porque os primeiros eram mendicantes e os segundos poderiam acumular bens, também, porque ambos se expandiram, mais largamente, pelos principais núcleos coloniais e havia uma clara disputa de espaços e privilégios ou arrecadação de esmolas entre eles. Em alguns momentos de nossa fala neste trabalho, pode parecer que enaltecemos os carmelitas calçados e criticamos os franciscanos severamente, mas esta não é a intenção. Acabamos por direcionar a tese para os carmelitas calçados porque é sobre eles que esta tese trabalha e também porque a maioria dos documentos que consultamos foi feita por eles. Assim como os carmelitas calçados, entendemos que os franciscanos tinham estratégias para se manterem como uma elite religiosa e como uma das mais importantes ordens religiosas no Brasil colônia, sendo a principal delas o discurso da mendicância. Por sinal, esse discurso era utilizado, quando convinha, pelas principais ordens religiosas (jesuítas, beneditinos, carmelitas), já que o período era Contrarreformista e circulavam, na sociedade colonial Católica, as ideias da caridade e da benevolência, implícitas no conceito de mendicidade.

159 Silva (2010, p. 148): “A Junta das Missões [instituição da Coroa] foi criada na Bahia [segunda metade do século

XVIII], à semelhança da que existia no Estado do Maranhão, para atribuir as aldeias indígenas às várias ordens religiosas e controlar sua gestão. Ao que parece, essa deixava a desejar, pois chegou ao Conselho Ultramarino carta do governador, em 1686, sobre o ‘abuso’ dos administradores das aldeias. Perante tal situação, o Conselho seguiu o parecer do procurador da Coroa: ‘sendo dadas as aldeias aos administradores para erigirem nelas igrejas e terem sacerdotes que administrassem os sacramentos’, quando tal não ocorresse, tais aldeias deveriam ser consideradas vagas e atribuídas a outros administradores”. Também existiu Junta das Missões em Pernambuco.

locais, principalmente, os oficiais da Câmara e senhores de engenho, pediam a fundação de um convento carmelita para ser casa de apoio, geralmente, de uma missão; os mesmos moradores doavam terras e capelas aos carmelitas; a Coroa autorizava a fundação de um pequeno hospício ou somente de uma missão com moradia de religiosos, ambos comandados pelos carmelitas; passados alguns anos de fixação no território, em alguns casos, o Hospício do Carmo se elevava à patente de convento. Essa dinâmica é bastante diferente da que vimos para as primeiras fundações religiosas do Carmo, tais como: Salvador, Olinda e São Cristóvão, que, prontamente, se iniciaram como convento.

Sendo assim, na Capitania de Pernambuco, para suprir as perdas dos conventos de Goiana, Paraíba e Recife, a Vigararia da Bahia e Pernambuco, a partir de 1687, realizou novas fundações de hospícios e missões. A primeira fundação foi realizada em 1687, com a criação do hospício, que depois virou convento em 1734, do Carmo da Povoação de Nossa Senhora de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho, Capitania de Pernambuco.

Acreditamos que a criação do Hospício de Nazaré foi uma estratégia do Convento de Olinda, e, mais ainda, da Vigararia, para reforçar a presença desta naquele território e para que o Convento de Olinda não fosse cedido aos turônicos de Pernambuco. Nossa hipótese vai se confirmando à medida que visualizamos alguns documentos sobre o Hospício do Carmo de Nazaré, principalmente, quando, em 1744, o hospício passou à patente de convento e a Província Carmelitana da Bahia e Pernambuco assumiu que, dessa forma, se desmembrariam, definitivamente, dos turônicos, isso porque teriam, em toda a Capitania de Pernambuco, pelo menos dois conventos, em face dos três conventos dos turônicos. (Quadro 24).

QUADRO 24. DOCUMENTOS REFERENTES AO HOSPÍCIO E CONVENTO

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