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2 OS CARMELITAS CALÇADOS E A CIDADE: A PROVÍNCIA DA BAHIA E PERNAMBUCO

2.2 A implantação em sítio elevado

Na cidade de origem portuguesa, a implantação dos edifícios nos núcleos urbanos, principalmente, daqueles mais notáveis no sentido administrativo (Casa de Câmara e Cadeia, por exemplo) ou religioso (conventos e Igreja Matriz, por exemplo), sempre teve algumas características em comum, que facilitaram a estruturação inicial e o crescimento dela.

Desde a época medieval em Portugal, era habitual se implantar edifícios religiosos ou administrativos em local de destaque:

São várias as características do mundo mediterrâneo que subsistem na tradição urbana portuguesa: a localização privilegiada dos núcleos urbanos na costa marítima, a escolha de lugares elevados para a implantação do núcleo defensivo, a estruturação da cidade em cidade alta – institucional, política e religiosa – e em cidade baixa – portuária e comercial -, a cuidadosa adaptação dos traçados à topografia e o papel estruturador dos edifícios notáveis na organização dos espaços urbanos.193

De acordo com o mesmo autor, essas estratégias tinham como base a geografia das regiões: “[...] adaptavam-se à topografia, hidrografia e ao ambiente físico de seus locais de implantação”194 e “[...] leva em consideração as particularidades do sítio e as explora,

nomeadamente, por meio da definição das principais vias estruturantes sobre as linhas naturais do território e da criteriosa localização dos edifícios notáveis em posições dominantes”195.

Ainda, com base no pensamento do mesmo autor:

A hierarquização dos espaços urbanos era uma condição essencial para a beleza da cidade [...]. Uma das formas mais diretas de estabelecimento dessa hierarquia fazia- se pela localização dos principais edifícios institucionais em pontos fulcrais da malha urbana [...]. Dadas as localizações privilegiadas desses edifícios singulares, sua importância funcional e o maior investimento arquitetônico que, habitualmente, lhes

193 Teixeira (2012, p. 22). 194 Teixeira (2012, p. 14). 195 Teixeira (2012, p. 18).

correspondia, eles passavam a constituir elementos de referência fundamentais no desenvolvimento da malha urbana.196

E conclui dizendo:

Em muitas cidades de origem portuguesa, as implantações urbanas iniciais eram construídas em lugares elevados, com melhores possibilidades de defesa e, a partir dos quais, era possível controlar o território em volta. Os principais edifícios da cidade - as estruturas religiosas, políticas e militares – implantavam-se em locais dominantes, pontuando as cotas mais altas, tornando-se polo de crescimento urbano.197

Além disso, nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia de 1707, lei aplicada no Brasil colonial198, há uma exigência quanto a reedificações das igrejas, que

deveriam estar em locais elevados e povoados:

Conforme o direito Canônico, as igrejas se devem fundar, e edificar em lugares decentes, e acomodados, pelo que mandamos, que se havendo de edificar de novo alguma igreja Paroquial em nosso Arcebispado, se edifique em sítio alto, e lugar decente, livre da umidade, [...] e se edifique em lugar povoado, onde estiver o maior número de fregueses.199

Diante do exposto, afirmamos que tanto as ideias relatadas por Teixeira (2012) quanto as normas das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia foram detectadas para o caso dos hospícios e conventos dos carmelitas calçados da Bahia e Pernambuco.

Apesar disso, identificamos pouca normatização da Ordem do Carmo a respeito da implantação conventual no sítio. Na Regra Albertina da Ordem do Carmo, uma das primeiras recomendações é a respeito da escolha do local do convento: “Podereis ter lugares em os ermos, ou onde quer que vos forem dados, pertencentes & proveitosos a observância de vossa religião, segundo ao Prior & frades for visto pertencer”200. Entendemos que a Regra Albertina deixava

livre a escolha do local: ou os carmelitas calçados poderiam ter conventos em lugares afastados

196 Teixeira (2012, p. 72). 197 Teixeira (2012, p. 72).

198 No Brasil colonial, os habitantes, leigos e religiosos deveriam seguir algumas normas que foram

regulamentadas pelos Arcebispados em Portugal, baseadas nas leis do Concílio de Trento e que também eram seguidas pelos moradores de Portugal, como as Constituições do Arcebispado de Lisboa. Todavia, a fiscalização e o cumprimento dessas normas não eram rígidos no Brasil. Sendo assim, em 1707, foram lançadas as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, produzidas pelo Arcebispo da Bahia, Dom Sebastião Monteiro da Vide (1643-1722), que foram as únicas normas eclesiásticas elaboradas no Brasil. Dom Sebastião Monteiro da Vide afirmou que as Constituições adaptaram aquelas normas antigas eclesiásticas aos costumes e peculiaridades da sociedade colonial no Brasil. Também, foram produzidas a partir de normas preexistentes, principalmente, baseadas nas Leis Tridentinas e nas Constituições dos Arcebispados de Portugal (Lisboa, Évora e Braga), além de se basearem em diversos decretos Papais que foram produzidos após o Concílio de Trento. (VIDE, 2007).

199 Vide (2007, p. 252).

(monastérios) ou conventos doados em locais mais convenientes para os religiosos201. A

primeira recomendação remete à origem da Ordem do Carmo, pois, de princípio, eram eremitas no Monte Carmelo, vivendo em um mosteiro isolado, e, quando foram à Europa, continuaram erigindo monastérios em locais rurais. Todavia, com a Regra Albertina acrescida de novas recomendações e com mudanças nas Constituições da Ordem do Carmo publicadas a partir do século XIII, de fato, os carmelitas puderam escolher o local que fosse mais conveniente para fundar dos conventos deles, principalmente, em locais urbanizados, a exemplo de outras ordens religiosas que ocupavam os principais núcleos urbanos europeus.

Os hospícios e conventos dos carmelitas calçados da Bahia e Pernambuco, desde 1580 até 1732, foram instalados no interior das principais povoações, vilas e cidades coloniais. Para a implantação nos sítios e consequente fundação dos hospícios e conventos (com suas igrejas), sabemos que a maioria se posicionou em locais com topografia elevada (quadro 33).

QUADRO 33. IMPLANTAÇÃO DOS HOSPÍCIOS E CONVENTOS DOS CARMELITAS

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