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A religião e o gênero nas representações e práticas organizacionais

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2. Capítulo

3.4. A religião e o gênero nas representações e práticas organizacionais

Como já observado anteriormente, não obstante o processo de secularização, as idéias e valores religiosos e acerca das religiões não permanecem circunscritas ao universo religioso, das instituições e/ou da prática religiosa, mas impregnam a cultura de uma sociedade. Assim é que BELLAH (1986) se refere à religião civil americana – a ética outrora protestante, embora despojada de seu caráter religioso, teria permanecido operante em face da sua incorporação como valores das classes dominantes. Semelhantemente BERCOVITCH entende que o „American Way of Life‟ foi formulado com base na retórica puritana que promoveu a fusão da linguagem bíblica com os ideais políticos do País, de modo que “os americanos retornam recorrentemente a essa retórica, especialmente em épocas de crise, como uma fonte de coesão e continuidade. Isto se refere a apenas um

aspecto da cultura, mas a um aspecto muito significativo, com implicações de longo alcance” (In: Viola SACHS et alli, 1988:142). WILLAIME, ao buscar estabelecer as suas características na França, define a religião civil, como sendo

“os fenômenos de piedade coletiva, as múltiplas maneiras pelas quais se sacraliza o estar em sociedade de uma dada coletividade. Trata-se de uma forma não religiosa de sagrado, ainda que tradições religiosas possam nutrir esse sagrado político, que exprime um sentimento coletivo de unidade” (1993:571).

Ainda que tal conceito de religião civil possa ser contestado por alguns autores, dentre os quais WATERLOT que, ao remetê-lo àquele elaborado por Rousseau, destaca que este seria “inseparável da afirmação de um Deus universal” (In: LAGRÉ e PORTIER, 2010:76), nos interessa aqui reter da sua formulação sobretudo aqueles elementos da piedade coletiva francesa, o “quadro sagrado” da sua vida coletiva (WILLAIME, 1993). A República na França não apenas foi constituída em confronto com a religião católica ou a Igreja-instituição, mas também contra a religião, tendo se erigido em “contra sistema de ação”, em alternativa ética, “opondo à herança cristã as afirmações reformuladas de religiões cívicas, substituindo às verdades transcendentes o culto da Pátria e os novos valores proclamados, Liberdade ou Razão” (WILLAIME, 2004:296). Assim, se por um lado o imaginário católico continua sendo uma dimensão importante da cultura francesa, a utopia racionalizadora republicana, que imagina uma sociedade a ser liberta da influência religiosa – expressa num laicismo militante - teria penetrado a consciência social e constituiria um outro aspecto da religião civil francesa. De fato Dounia e Lylia BOUZAR constatam que a maioria de suas entrevistadas se referem à laicidade “como se se tratasse de uma ideologia oposta à crença: seria laico aquele que pensa, age, se comporta sem se reportar a um além (livre-pensador, agnóstico, ateu etc.)” (2009:80).

Embora tal oposição perdure ainda hoje alguns fatores teriam concorrido, na perspectiva de WILLAIME (1993,2004), para amenizá-la. Por um lado o próprio fato da República ter que reconhecer a relevância do imaginário de uma França católica e mobilizá-la sempre que assim se faz necessário (como, por exemplo, nas situações de luto nacional) e, por outro lado, a laicização da própria Igreja católica- que passa a reconhecer os “valores positivos da República”- e, principalmente, dos “católicos do sufrágio universal”, sem os quais o predomínio da laicidade na estruturação do espaço público francês não poderia ter se

concretizado (WILLAIME, 2004). Portanto, após um passado conflituoso, no qual “os imaginários concorrentes procuraram magnificar a unidade da nação” (WILLAIME, 2004:295), teria se operado um sincretismo laico-cristão ou, mais precisamente, laico- católico. Por outro lado, apesar da secularização e não obstante o esforço de erradicação da religião e da penetração social de uma ideologia laicista, nota-se que a sociedade francesa não ficou isenta do processo de pluralização religiosa, manifesta tanto pela presença de novas práticas e expressões religiosas emergentes no contexto contracultural quanto, sobretudo, pela presença e visibilidade de cultos muçulmanos.

De fato, se por um lado é possível identificar a persistência de elementos da cultura católica assim como o avanço do secularismo no contexto das empresas analisadas, verifica-se também a penetração de práticas ligadas aos cultos muçulmanos impondo a necessidade de gestão das mesmas. As ocasiões festivas ou que se oferecem a práticas extraprofissionais no ambiente organizacional nos fornecem indícios nesse sentido, até porque elas não são uma simples atividade lúdica, mas são parte da “cultura da empresa, no sentido de que jogam um papel não negligenciável no processo de socialização do empregado e na construção da sua identidade no trabalho” (Anne MONJARET, 2001:98). Na Textile França, afora o vale de compras do Natal, a principal ocasião festiva lembrada/citada pelos entrevistados ocorre no quadro da cultura católica de celebração do dia de Reis – com a galette des Rois35 e a festa organizada pelos próprios funcionários:

“A única coisa que eles faz (sic) é... Dia dos Reis, tem a tal galette des Rois, que às vezes um cara lá, leva o docinho, a gente come e nem fala dos Deuses, né ( risos), não fala de Deus, nem fala dos Reis e não fala nada, só come a ga... a galette des Rois, lá.”

E, mais adiante:

“... se... os operários talvez façam, mas o que eu fui convidado foi o pessoal de supervisores de fábrica, né, me convidaram pra comer lá, a tortinha dos Reis.” (Lemos, líder de excelência operacional, expatriado Textile França)

No Hypermarché França as ocasiões festivas oficiais da empresa compreendem tanto aquelas ligadas a uma data religiosa como o Natal quando, além de vale de compras é oferecido aos/às funcionários/as com filhos/as a possibilidade de escolher um presente para

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Embora de origem pagã a tradição católica incorporou-a como ocasião comemorativa da visita dos Reis magos ao menino Jesus. Na França a festa de Reis é celebrada com um bolo, chamado de galette des Rois.

estes/as, quanto outras duas festas de caráter totalmente secular. Uma é relativa ao dia das mães, dos pais e dos/as celibatários/as, comemorado num mesmo dia do mês de maio36, e no qual todos/as os/as funcionários recebem um vale de compras. A outra é um jantar dançante que ocorre numa data estabelecida, eventualmente no final do ano. A cada ano ela tem como tema um país diferente e cada funcionário/a pode adquirir convite para si e para os seus familiares (esposos/as e filhos/as):

“C‟est en général le comité d‟entreprise qui choisit un thème. Donc là, dernièrement, c‟était sur l‟Afrique et donc ça veut dire que le repas sera typiquement africain. Voilà, l‟année d‟avant c‟était je crois sur Tahiti, ils changent de thème tous les ans. Ce n‟est pas forcément à Noël, mais c‟est plutôt des fêtes qui rassemblent le personnel, la famille du personnel, autour d‟un thème, un grand dîner, une soirée dançante. » (Noemi, caixa Hypermarché França)

É evidente que as festas ou celebrações ligadas ao calendário católico possuem, elas também, um caráter mais secular do que efetivamente religioso, o que indica a sua absorção como fato da cultura, mas mais especificamente, da cultura dominante. Evidência disso é que, embora bem presente e visível hoje na França, o estatuto das práticas e/ou festividades ligadas aos cultos muçulmanos no contexto organizacional difere daquele das festividades ligadas à religiosidade católica. Por um lado a prática bastante difundida do jejum no período do Ramadan - ao ponto de já fazer parte dos costumes - impõe às empresas, tanto à Textile quanto ao Hypermarché, a necessidade de gestão das pausas para refeições durante a sua ocorrência:

« Ça s‟organise plutôt bien parce qu‟en fait... bon les repas, on se les... donc à l‟intérieur d‟un poste, pour un opérateur, donc sur huit heures de travail, ils ont une demi heure de pause, ce qu‟on appelle la pause casse-croûte, donc c‟est la pause où ils peuvent se reposer et manger. Et donc, pour ces personnes-là qui font le Ramadan, et bien cette pause se décale. C‟est-à-dire qu‟on va nous s‟organiser à l‟intérieur de l‟équipe pour faire en sorte qu‟ils puissent manger aux heures où ils peuvent le faire. Voilà. Et jusqu‟à présent ça se passe très très bien. » (Marcel, diretor de produção Textile França)

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O dia das mães e dos pais na França são comemorados ambos no mês de maio, embora em dias diferentes. A inclusão de celibatários/as se deve ao reconhecimento de que nem todo mundo é pai ou mãe, conforme o depoimento da caixa Noemi: « ...Pour la fête des mères, des pères. Ici on appelle ça la fête des mères, la fête des pères et des célibataires, parce que tout le monde n‟est pas papa ou maman. Donc, à l‟occasion de cette période-là, en général c‟est au mois de mai, ils regroupent tout au même temps, au mois de mai chaque personne du personnel, je crois, reçoit un bon d‟achat (la somme est autour de 30 ou 40 Euros, quelque chose comme ça). Donc, tout le monde a un bon d‟achat. » (Noemi, Hypermarché França).

No caso do Hypermarché, é preciso geri-lo tanto a nível dos clientes quanto dos funcionários, como aponta Danièle, adjunta do chefe de caixas do Hypermarché França:

« Et bien, il faut gérer, alors on gère ! C‟est-à-dire, justement, c‟est ce qu‟on est en train de faire là. Parce qu‟on sait que normalement ça doit être entre le 10 et le 12 du mois d‟août, et donc on va gérer ça en fonction des gens. Parce que là les gens... on a remarqué que comme le ramadan c‟est au mois d‟août, la plupart des musulmans, ils ont pris leurs vacances au mois de juillet. Pourqu‟ils puissent faire le ramadan le mois d‟août. Donc nous, personnellement au niveau des clients, on sait que, par expérience bien entendu... que le mois d‟août ça va être calme, mais à partir de... vers 16 heures et 30, 17 heures on sait qu‟il va avoir un peu de monde, parce qu‟ils viendront acheter, acheter des fruits, des machins, etc. Et puis après, vers 18 heures, 18 heures 30, il ne va plus avoir personne. Parce que la majorité de nos clients ce sont quand même des musulmans sur Saint Denis. Donc voilà. Donc ça on le gère. Et chez les employés c‟est pareil. À un moment donné on va leur donner en sorte qu‟ils prennent leur pause. Parce que leur pause, il vont pas la prendre à 15 heures, ça sera à partir de 17 heures ou un truc comme ça. Donc, il faudra gérer ça et on le gère. Et bien oui, c‟est déjà calculé, pour qu‟elles puissent prendre leur pause. Parce qu‟elles ne pourront pas prendre leur pause, on ne va pas leur envoyer en pause (sic) à 15 heures ou à 14 heures. Elles auront des petits quarts-heure... non, [extrait inaudible], après... Non, elles ont droit à ce moment-là, parce qu‟on n‟a pas droit le droit de manger en caisse, on a droit juste à sa bouteille d‟eau, mais à ce moment-là on leur authorise d‟avoir des dattes sur elles. » (Danièle, Hypermarché França)

Por outro lado ela não é aceita de forma irrestrita ou sem qualquer questionamento, conforme indica, por exemplo, o depoimento da caixa Noemi:

« ... À Saint-Denis il y a une forte population arabe et quand c‟est le Ramadan on le sait. Et même ici on s‟organise parce que c‟est vrai que donc les musulmans qui font le Ramadan ne peuvent manger seulement que, si je ne me trompe pas, au coucher du soleil, et donc ils savent que... Et donc ici on s‟organise souvent pour les femmes qui font le Ramadan ici, qu‟elles aient la pause au moment où elles doivent manger. Donc, question religion ici je pense que c‟est vraiment entré dans les mœurs... » E, mais adiante :

« ...ça ne me pose pas spécialement de problèmes. Mais, enfin je parle pour moi, forcément. Peut-être que d‟autres le voient différemment. C‟est tout à fait possible. Peut-être qu‟il y a des gens aussi qui ne comprennent pas que quand le soleil se couche certaines femmes doivent aller manger, qu‟elles doivent aller en pause. Moi j‟ai déjà entendu certaines personnes d‟ici dire : „ Mais ce n‟est pas normal ! Elles n‟ont qu‟à s‟organiser autrement‟... » (Noemi, Hypermarché França)

Assim, valores religiosos podem se manifestar sob uma forma secularizada, em face da exposição cultural aos seus preceitos numa sociedade em que se apresenta como religião dominante, ou por outra circunstância, de modo a favorecer a sua assimilação no conjunto de valores internos das empresas. Enquanto ao grupo dominante a sua condição

privilegiada aparece como „natural‟, às minorias religiosas resta esperar ou reivindicar que elas também possam “respeitar alguns dos seus ritos” (Dounia e Lylia BOUZAR, 2009:71). Mas, como observa Anne MONJARET, se por um lado a festa constitui um meio de “desenvolver um discurso unitário” (2001:94) e o funcionário é coagido a se integrar, por outro lado ela também pode se oferecer como ocasião individual ou coletiva de demonstração de descontentamento e/ou de contestação por diversas formas, como a recusa individual ou coletiva de participar, a transgressão a normas estabelecidas no contexto de uma determinada festa ou a reivindicação de realização de festas paralelas ou não admitidas no quadro organizacional. Esse é o caso, por exemplo, de uma operadora de caixa do Hypermarché no Brasil que, como veremos mais adiante, se recusou a participar de uma festa junina promovida na loja em que trabalha.

Ou seja, no contexto brasileiro também é possível observar a promoção de festas que, embora sejam de cunho religioso, são compreendidas como parte da cultura nacional, uma vez que associadas à religião dominante. No Brasil, embora desde o início da República em 1889 o Estado tenha se declarado laico, a laicidade não se constituiu em oposição à religião, como no caso francês, e se ela foi construída também a partir de uma perspectiva liberal e positivista, a reivindicação de liberdade religiosa, particularmente por parte dos cultos protestantes, também contribuiu para a sua instituição e conformação. Tal perspectiva, ao contrário de limitar, favoreceu a expansão da religiosidade na sua pluralidade, não obstante o estatuto diferenciado de que gozavam e ainda gozam os diversos cultos presentes na sociedade brasileira. O pluralismo religioso não é novo no Brasil. Com efeito, expressões religiosas diversas estiveram presentes no país desde a época da colônia, não obstante a forte atuação da Igreja católica, que tanto pretendia „converter‟ os nativos da terra, quanto batizava à força os escravos africanos, suscitando por parte destes a utilização dos próprios referenciais católicos como meio de conservar as suas crenças. O mesmo pode-se dizer dos judeus que, diante da perspectiva de “serem perseguidos pelos inquisidores e perderem os seus bens ou mesmo suas vidas, preferiam tornar-se „cristãos novos‟” (NEGRÃO, 2010, 143).

Contudo, é a constituição da República que cria as condições para o estabelecimento de “uma sociedade pluralista e laica que se desenvolveria ao longo do século XX, com a separação do Estado Republicano da Igreja Católica e a instituição do princípio da liberdade religiosa” (NEGRÃO, 2010, 145). Isso não significou, no entanto, o fim da hegemonia católica. Mesmo que a sua influência na vida cultural e política brasileira tenha se reduzido, ela ainda se fazia visível na cooperação eventual com o Estado Republicano, “como no combate a heresias messiânicas, e [ao] impor seus princìpios religiosos às constituições, como a proibição do divórcio e do aborto legal” (NEGRÃO, 2010, 145), sendo que ainda hoje vem tentando impedir, juntamente com setores evangélicos mais conservadores, a aprovação da lei de descriminalização do aborto. Assim, apesar da “penetração recìproca e formação de cultos sincréticos” (Maria Isaura Pereira de QUEIROZ, 1988:61) e não obstante o forte crescimento das religiões ditas evangélicas nas últimas décadas, a dominância católica na cultura brasileira ainda se faz sentir, particularmente no que diz respeito ao calendário e às festas de caráter religioso, mas também no que concerne à legitimidade social que cada um desses diversos cultos encontra no contexto brasileiro.

Verifica-se enfim uma hierarquização das expressões religiosas, relacionada tanto a fatores étnicos quanto de classe social. Os cultos de origens africanas e/ou indígenas que se desenvolvem no Brasil já em condição subordinada à religião dos colonizadores e senhores de escravos sofre contínuo processo de desqualificação, particularmente acirrado com a emergência do movimento abolicionista (Maria Isaura Pereira de QUEIROZ, 1988). De acordo com Maria Isaura Pereira de QUEIROZ, “iniciou-se todo um trabalho de desenraizamento dos traços culturais africanos, numa tentativa de „embranquecer‟ o paìs” (1988:74) que implicou também na perseguição aos cultos afro-brasileiros através da destruição de terreiros e da “difusão da noção de que se tratava de conjuntos de superstições nefastas e de práticas de feitiçaria que desembocavam em vìcios e crime” (1988:74). Mais recentemente grupos evangélicos, através do seu proselitismo junto a camadas populares, promovem também a demonização dos cultos afro-brasileiros. As hierarquias, contudo, não se estabelecem apenas entre os diferentes grupos de cultos mas também internamente, isto é, no interior de cada grupo. Assim, por exemplo, já no período

colonial, o catolicismo popular era tido pela hierarquia católica - associada aos grupos hegemônicos nacionais - como fruto da ignorância, do atraso e da superstição. Da mesma maneira entre os evangélicos estabelecem-se distinções entre as diversas correntes – protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais – tidas como mais ou menos legítimas. No espiritismo o kardecismo, ligado a classes sociais mais elevadas, goza de um estatuto diferenciado daquele da umbanda. A umbanda, por sua vez, tida como expressão da tríplice herança étnico-cultural brasileira e como mais „letrada‟ que o candomblé, distingue-se desta que seria “uma religião de transmissão oral” (Maria Isaura Pereira de QUEIROZ, 1988: 72).

De fato, é possível constatar a existência de certas hierarquias nas representações que as empresas e/ou seu corpo executivo identificam e/ou difundem acerca das diversas expressões religiosas. O relato do coordenador de RH Mário sobre casos que teriam ocorrido em outras empresas que não a que ele trabalha, de pessoas em busca de emprego e que teriam sido preteridas por razões religiosas, constitui um exemplo nesse sentido:

“Não aqui dentro, mas já vi casos que me contaram obviamente de pessoas que são hoje... são da, da, da umbanda e não foram contratados em emprego porque o chefe era adventista, o chefe era evangélico e não o contratou. A pessoa tinha a competência necessária pra produção mas não foi contratada por problema religioso.” (Mário, Hypermarché Brasil)

Mais adiante o entrevistado observa que “a religião tranqüila que, eu acho que a religião tranqüila de falar, todo mundo se sente muito confortável „ah, sou de origem católica‟, pronto, não se discute muita coisa” (Mário, Hypermarché Brasil).

O relato de Carlos, gerente de caixas de uma das lojas do Hypermarché no Brasil, dá indicação de que não só há um parâmetro de religião „normal‟, como toda uma escala de „normalidade‟:

“Exato, exato, algumas pessoas acabam por...por te taxar né, eu diria assim, é... de acordo com a sua religião, né. Isso acontece em alguns locais, como as pessoas eu diria até em algumas empresas, né... as pessoas tendem a imaginar por exemplo, é... uma pessoa católica seria uma pessoa normal. Uma pessoa evangélica dependendo de como a pessoa se porte... enfim na sociedade... é quem nunca ouviu falar: nossa, mas fulano fez isso? Ela é evangélica!- Né, porque tende-se a imaginar que é uma pessoa super hiper correta. Né . E já o espírita ele acaba sendo visto, por alguns claro, como feiticeiro, né, acho que seria bem isso na verdade...” (Carlos, Hypermarché Brasil) E, mais adiante:

“É... essa semana tem o quê, uns 3 dias, aconteceu até um fato na... no meu setor mesmo, a funcionária ela esqueceu um, esses colar de praia...conchas...que eles fazem muito tipo artesanal mesmo, né com conchas, com enfim, e aí ela esqueceu, a outra pegou, não sabia de quem era, enfim ela pendurou próximo ao cartão de ponto, né, ao relógio de ponto nosso. E aí uma turma tava entrando, uma turma por volta dez pessoas mais ou menos e quando viu aquilo nossa, ficou todo mundo horrorizado, foi

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