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A Shari’ah Al Islamia e os partidos políticos

PRIMEIRA PARTE

3.2 A Shari’ah Al Islamia e os partidos políticos

Seguramente, os partidos políticos islâmicos alimentam, em suas hostes, aspirações que buscam na Shari’ah Al Islamia o apoio à aplicação da justiça e dos esforços em prol da liberdade. Primeiramente, a moral Ash’shiat afirma que Ali Ibn Abi Taleb foi o primeiro imam (chefe religioso) e seus companheiros acreditavam que ele ocuparia posição de comando após a morte do Profeta.

Mas não era bem assim. Abu Bakr Assiddik assumiu o comando político e religioso do Estado Islâmico, contrariando os amigos do imam Ali, provocando divisão que ainda hoje persiste nas bases muçulmanas. Opondo-se à maneira da escolha eletiva, os Ash’shiat insistem na sucessão profética pela descendência e criticam a escolha dos califas: Abu Bakr Assiddik, eleito pela maioria dos sahabah (companheiros), Omar Ibn Al Khattab, escolhido pelo primeiro califa e Otman Ben Affan, eleito pelos membros da Axxurra.

A questão aumenta de responsabilidade e multiplica-se infinitamente, porque alguns escritores, como Mohammad Abu Zahar, justificam a influência da hereditariedade no Ash’shiat ter sido adquirida através do sistema monárquico reinante na Pérsia (antiga Fares), cujos costumes, mesmo com a adesão ao Islamismo, não desapareceram: “na verdade, a Pérsia caminhou com a hereditariedade do rei. Por isso, o sistema xiita é igual ao sistema da monarquia persa”(129).

Ibn Abi Zayd Al Qayrawãni entende que: “La sia no es en su origen una cuestión de ortodoxia ni de heterodoxia, sino simplemente un problema sucesorio. La mayor parte de los musulmanes, o por lo menos los más poderosos politicamente, entre los que se encontraba la rica família de los Banu Umayya, los Omeya, que después habian de reinar en España, consideraban que los profetas, y en especial Muhammad, no dejaban ni podiam dejar sucessor y que incluso su caudal relicto no pertenecia a nadie en con-

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(128) Abdur-Rahman Ibrahim Doi: Sunismo (nota 58), p. 106.

(129) Mohammad Abu Zahar: Tarir al mazerebo al islamia. Cairo: Dar al Feqh al arabe. Volume I. 1960, p. 38.

creto, sino a la comunidad de los fieles”(130).

O ash’shiat, de modo geral, não só desaprova tais conclusões, como nega a representação do grupo ter nascido de Abdullar Ben Sabat, que postulava estar inserido na Torá, ter cada Profeta um uasei, isto é, o direito de escolher um substituto. Para Abdullah Ben Sabat, Ali Ibn Abi Taleb, era uasei de Mohammad (S.A.A.W.S.).

Para o ash’shiat, Abdullah Ben Sabat não era muçulmano. Portanto, a pretensão Ash’shiat reside na valorização da herança de Ali e seus descendentes: Hassan, Al Hussyn, Ali Zaini Aabedin (filho de Al Hussyn), Mohammad Al Backer, Já’afar As Sadia, Musa Al Kaz, Ali Areda, Mohammad Al Jaued, Ali Al Hed, Al Hassan Al Asqueri e Mohammad Al Mahdi – “Al Mutarza” (o esperado – que passou para a ocultação em 940 d.C.),

corretamente, espelhada no artigo 5º, da Constituição da República Islâmica do Irã:

“Durante o tempo em que o 12º imam (que Alá acelere a sua reaparição) estiver oculto, a

direção dos negócios e a chefia do povo na República Islâmica do Irã será da responsabilidade de um jurisprudente justo e piedoso, conhecedor da sua época, corajoso, eficaz e hábil a quem a maioria do povo conhece e aceita ser o seu líder. Caso o jurisprudente não tenha tal maioria, um Conselho Dirigente, ou Conselho de Direção consistindo de jurisprudentes que reúnam as qualificações acima, assumirá a mesma responsabilidade”(131).

Na verdade, esta concepção não é aceita no âmbito sunita, o que significa a desvinculação partidária, seguindo outra estruturação e funcionando com o preceito eletivo, ainda hoje, observado. Nessa dimensão, veda a expressão ou registro de interesse governamental vitalício. Diante dessas duas conclusões, as pretensões partidárias, quanto ao exercício executivo, traduzem as exigências para obtenção da autenticidade representativa.

Na realidade, a cultura oriental apresenta uma forma tradicional e as pretensões de cada partido vão estar interligadas às condições do meio, atendendo aos requisitos que melhor sirvam ao povo. Claro que os muçulmanos de diferentes regiões diferem uns dos outros; os povos do mundo todo comungam desta lógica. Mostram-se ligados às orientações sociais que aprenderam desde a infância. Isto não é um elemento perturbador. Pelo contrário, é peça doutrinária que importa na composição do partido.

Nessa configuração, o Al Khawarij presta um bom exemplo. Formado de beduínos, não se condicionou a uma vida mais confortável. O deserto estimulou hábitos duros que respondem às exigências do local, trazendo a vantagem de amar a independência, usar a força e contemplar a fidelidade.

Assim, concentra na pretensão política de todos os seus ramos a escolha de um dirigente (Khalifa), combatendo qualquer manifestação de abandono às regras islâmicas, repelindo a infidelidade com a morte.

É certo que, nas demais correntes políticas, esse controle de governo não adere a essa forma. Eles trazem um caráter inspirado na legislação clássica islâmica, que adota providências para corrigir os erros ou coibir os abusos. O certo é que a política islâmica

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(130) Ibn Abi Zayd Al Qayrawãni: Compendio del Derecho Islamico (Risala Fi-l-Fiqh). Argentina. Edi- ção de Jesús Riosalito – Editorial Trotta. 1993, p. 32.

(131) Constituição da República Islâmica do Irã. Lisboa. Embaixada da República Islâmica do Irã em Brasília. 1986, p. 23.

foi enriquecida de facções que tinham visão filosófica e passaram a ser instrumento governamental, sendo considerados partidos em razão do valor exato com que apreciavam os problemas e os solucionavam.

O entendimento é de que estas pretensões tragam um ideal político, até certo ponto compatível com o sentido da representação, pois cada qual justifica como mais viável a visão que possui sobre o Presidencialismo.