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PRIMEIRA PARTE

10.2 A maturidade dos jovens

A questão diz respeito aos direitos que têm as crianças e os jovens perante seus pais e governantes. Eles estão convencidos de que esses direitos são a expressão dos direitos individuais, como a afirmação da liberdade de expressão, de educação, de igualdade e de processo devido, aos 16 anos. Deste modo a criança, a partir de 12 anos, obrigatoriamente, professará todas as práticas religiosas. A Shari’ah Al Islamia refere-se diretamente à sua determinação no comportamento das crianças e dos jovens, adequando-as às suas condições de vida e sobrevivência.

Como a sociedade muçulmana, é uma entidade pública e religiosa (a sociedade ocidental é pública), e sendo o filho uma extensão do pai, é proibido negar a paternidade. Entretanto, se houver provas convincentes (pode haver teste de DNA) de não ser o pai da criança, a Shari’ah Al Islamia não pode forçá-lo a criar um filho que não é dele. A jurisprudência islâmica tem o instituto do Li’an, pelo qual, diante do juiz, o casal invocará a maldição de Alá, ficando o casal separado e a criança identificada pelo nome da mãe. A mãe adúltera receberá pena de morte após o nascimento da criança. Isto tudo, porque a paternidade deve ser estabelecida sem dúvida, prescrevendo a Shari’ah que um filho que nasce de um casamento não tem necessidade de reconhecimento público ou de uma reivindicação posterior da mãe. Por isso, há a proibição da adoção jurídica pela Shari’ah, que vê esse tipo de ato jurídico como uma falsificação da ordem natural por estabelecer uma filiação fictícia.

Este cuidado é para fortificar a formação do jovem que começa cedo. Nela são estabelecidos dois pontos fortes no sistema, inevitavelmente desenvolvidos em ocasiões distintas: a vida em tempo de paz e em tempo de guerra. Assim, o jovem é chamado a assumi-la como membro da congregação comunitária. Cada um, segundo a sua capacidade, será responsável por tarefas, de acordo com a necessidade do grupo.

De princípio, adotou o Profeta Mohammad (S.A.A.W.S.) que os pais ensinassem a seus filhos como usar arma, nadar e cavalgar. Isto significa preparar a criança para momentos de extremo perigo, colocando nas cabeças dos responsáveis uma educação de orientação prática e teórica ao mesmo tempo. Saber ler e escrever é tão importante quanto preservar a vida. Isso não quer dizer que as crianças fossem criadas sem boas maneiras, mas sim que se deve prepará-las para assumir legalmente a responsabilidade

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do futuro, podendo enfrentar problemas e condições difíceis. Os primeiros jovens que entenderam esse ensinamento foram Ali Ibn Abi Taleb, com oito anos de idade, Azuubari Ibn Alawan (8), Alarkam Ibn Abi Alarkam (11), Saad Ibn Abi Wakas (17), Jaafar Ibn Abi Talleb (18), Suraib Armui (19) e Zaid Ibn Harissa (20), entre outros.

Essa verdade histórica foi analisada pelo professor Ahmad Mohammad Gamal, ao afirmar: “A mais importante conclusão que tiramos da história dos primeiros muçulmanos é que o Islã, na sua base, foi um movimento de jovens”(284).

Tudo isso para que crescessem puros, distantes da prática do mal, sem acostumá-

los ao luxo e às relações desviadas, evitando a luxúria. A orientação profética não só estimulou como beneficiou a sobrevivência deles nas batalhas de que puderam participar.

Na batalha de Badr, a primeira entre os muçulmanos e os incrédulos, os jovens resistiram ao inimigo sem quaisquer baixas. Esse sentimento ideológico, segundo os analistas árabes, pode ser apreciado, hoje, nos jovens palestinos, chechenos, bósnios e libaneses que, após presenciarem vinte e dois anos de ocupação, expulsaram as tropas israelenses do Sul do Líbano, sem praticar, com seus atos, qualquer terrorismo.

Desse modo, o jovem muçulmano é sempre participativo. Conta-se que o califa Omar Ibn Al Khattab, ao encontrar problemas no seu governo, convocava os jovens e lhes pedia conselhos, aproveitando a transparência e a seriedade dos seus raciocínios. Isto é possível no Islã, porque os jovens são agregados como cidadãos e possuem direitos de ser protegidos pelo Estado. Inclui estabelecer que eles, não só podem reclamá-los, mas demonstrar, de maneira digna, sua consciência de dever diante de um conflito.

Mas só em última instância o Estado pode recrutar e designá-los para operações em defesa da manutenção da integridade territorial do país. Como argumentou Yasser Arafat: “As novas gerações já nasceram com a guerra. Não temos, nós, o povo palestino, um modo convencional de vida. Nós vivemos a revolução 24 horas por dia, porque vivemos apenas em função de uma esperança que é retornarmos ao nosso país...”(285). A idade média dos palestinos é de 17 anos.

Nessas condições, a maturidade do jovem muçulmano é rápida, e constituiu uma grande força contra a exploração do Oriente Médio. Essas inclinações sobrevivem no seio da família, podendo os jovens enfrentar controvérsias de vida em diferentes sociedades em que estejam.

Em verdade, alguns países muçulmanos, como a Líbia, procuram fornecer aos jovens de ambos os sexos, já nos primeiro e segundo graus, conhecimentos da prática de autodefesa. São elaborados programas que possam avaliar a responsabilidade cívica, também, por sua própria liberdade. Não obstante a participação juvenil ser grande, as estatísticas criminais islâmicas entre os jovens é pequena em relação aos ocidentais, em virtude da religiosidade implícita à lei.

Para os conservadores ocidentais, esta situação deve ser reavaliada, merecendo

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(284) Ahmad Mohammad Gamal: Pela causa dos jovens. Trad. Samir El Hayek. São Paulo: Movimento da Juventude Islâmica Abu Bakr Assiddik. 1990, p. 49.

(285) Fausto Wolff: Os palestinos: judeus da 3a guerra mundial. São Paulo: Editora Alfa-Omega. 2a edi-

saneamento por parte das autoridades do Oriente Médio, já que, para eles, os jovens não possuem experiências para que a sociedade os utilize ofensivamente, ou seja, em benefício do próprio Estado. Criticamente, não entendem o discurso islâmico no seu conceito de paz.

A esse respeito, opinamos que a comunidade não pode estar à margem do que é melhor para o seu jovem. Ele tem que sobreviver, de acordo com as alternativas do seu ambiente. Tanto que, se os rostos dos adolescentes demonstram que estão sem o conforto com que viveram seus antepassados, pelo menos, podem se orgulhar de que buscam um ideal.

Entendemos, também, que a maturidade não é adquirida quando o moço permanece incapaz de se identificar com as intenções patrióticas e o amor filial. Na verdade, não é suficiente apenas cumprir os deveres escolares, mas declarar suas inclinações e ter a coragem de tomar decisões. As horas vagas devem ser preenchidas com atividades benéficas. Dessa forma, a falta de gosto para desenvolver tarefas se desenvolve apenas naqueles que não tentam preencher devidamente o seu tempo livre.

Se permitirmos apreciar o fundamento islâmico e o comportamento ocidental, o primeiro consegue incrementar no jovem o respeito à lei e o segundo tenta impedir a violência, a droga e as ilicitudes penais, possibilitando a sociedade viver na inquietação.

Abu Al Abbas e Abdullah Ibn Abbas relataram esse hadit do Profeta, que foi coletado por At Tirmidhi: “Oh joven, te voy a enseñar unas palabras: guarda a Dios, y te guardará. Guarda a Dios y lo encontrarás ante ti. Si pides algo, pídelo a Dios, y si necesitas ayuda, acude a Dios, y conoce que si todo el pueblo se reúne para beneficiarte en algo, no te beneficiarán excepto en lo que Dios há escrito para ti, y si se reúne para perjudicarte en algo, no te perjudicarán salvo en algo que Dios haya escrito sobre ti. Las plumas se han levantado y las hojas se han secado”(286).