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PRIMEIRA PARTE

5.2 Al Jebriat e o Determinismo

Al Jebriat (não há arbítrio) sustentava que o homem não podia fazer como ele quer, mas como Alá determina. Sem certo sentido da realidade, mas com fidelidade aos seus princípios, esta escola propagava que Alá escolhe as ações. Logo, qualquer coisa que aparecesse como sendo do homem, era vontade divina.

Entendemos que o determinismo adotado por Al Jebriat negava o livre arbítrio ao afirmar que todos os atos do homem estavam submetidos à influência superior. Portanto, é uma forma especial de determinismo conhecido por fatalismo, que se funda nos argumentos da natureza divina. Alá, que é a inteligência suprema, prevê todos os nossos atos futuros, acontecendo da maneira como os prevê.

Concluímos que esta corrente negava a importância do ser humano até o ponto de prescindir da lógica. Na verdade, rebaixa-o e degrada-o. Tira a sua originalidade, Ora, não sendo o homem dotado de livre arbítrio, condição esta da responsabilidade, um empobrecendo-o até mesmo de emoção. Nesse ponto, o conhecimento humano é uma coisa

incerta, não existindo qualquer postulado racional, sendo um imperativo o homem obedecer à vontade divina, não reconhecendo a razão expressa na consciência humana.

Ora, não sendo o homem dotado de livre arbítrio, condição esta da responsabilidade, pois, “só é responsável por atos que são verdadeiramente seus e dos quais é plenamente causa, isto é, dos atos que podia praticar ou não, nisto consiste o caráter essencial do ato livre”(150).

Tomado neste sentido, exerce o determinismo de Al Jebriat a confiança de que os fatos estão subordinados à precisão de Alá e que nenhum homem está isento de suas causas ou efeitos, não podendo contradizê-los ou resistir a eles. Concluímos que, desse entendimento, o homem também não precisa de lei, porque não tinha domínio do seu próprio raciocínio.

Ao nosso ver, Al Jebriat chegou a este conceito filosófico por entender, de maneira esdrúxula, o hadit do Profeta Mohammad (S.A.A.W.S.), relatado por Abu Abdur-Rahman e Abdullah Ibn Mas’ud e transmitido por Al Buhari e Muslim em que se diz: quando o

homem está no ventre materno, a partir do 120º dia (quarto mês), Alá envia um anjo que

sopra o espírito no feto e o recomenda com quatro coisas: o seu sustento, prazo de sua vida, suas obras e se será feliz ou infeliz. Passando o ser humano a ter uma vida completa – física e espiritual. Acreditamos que este preceito fez com que Al Jebriat aprofundasse a questão, a ponto de classificar o homem como isento de escolha, deixando tudo para as mãos de Alá.

Devemos acrescentar que o determinismo de Al Jebriat não deve ser confundido com a doutrina de Al Kadaao eu’lkadaro. Originalmente, este termo exprime que Alá conhece o bem e o mal e cria sem matéria preexistente. Rigorosamente, o muçulmano deve acreditar neste dogma, já que representa a infinidade divina e sua relação com o mundo finito.

Al Kadaao (Alá cria) – eu’lkadaro (Alá conhece), lêem-se as duas palavras juntas, mas significando coisas diferentes que exprimem a palavra Maktub. Sabemos que só Alá pode criar e conhecer todas as substâncias em um só momento. Todavia, as duas palavras são qualificadas como Maktub, indicando, na linguagem popular, que um determinado fato tinha de acontecer. Estava escrito.

O primeiro a se rebelar contra a “inconsciência humana” da Escola Al Jebriat foi Jahmo Ben Safuan, quando afirmou a existência e domínio do livre arbítrio e imputabilidade nas conseqüências das ações praticadas pelo homem, ao declarar: “nem há inferno, porque o homem não é responsável pelo que faz”(151).

Com esta expressão completa, Jahmo Ben Safuan liberta a mente árabe, adotando o racional como uma conduta especificamente do homem, criticando a postura dos adeptos de Al Jebriat.

Evidentemente, a frase aniquila o suporte formalizado com o objetivo direto de concretizar uma obediência transcendental e legitimamente divina, à qual o homem devia se sujeitar, apagando o poder do livre arbítrio estabelecido por Alá aos humanos.

Jahmo Ben Safuan era natural de Houraçan (perto do Afeganistão) e morreu em

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(150) C.Lahr (nota 148), pp 497-498. (151) Ahmad Amin (nota 143), p.284.

Kufa, no Iraque. Portanto, não era árabe, como muitos escritores pensam, mas iraniano. Sua mente geniosa e suas opiniões fortes foram bastante apreciadas e trouxeram uma nova visão filosófica. Tanto assim que, em Termisi (Pérsia antiga, hoje, parte da União Soviética independente, na Ásia Oriental), apareceu um grupo seguindo seu raciocínio, designando-se Al Jehemia, isto é, que segue Jahmo.

Dado o caráter da formulação filosófica, o grupo Al Jebriat foi muito combatido e muitos estudiosos da época desvalorizaram sua tendência exagerada, evitando uma maior propagação. Os ulemas temiam que a população seguisse seus princípios, distanciando-se do modelo de vida que o Islã preconiza num conjunto consistente de deveres e direitos e conduta orientada de acordo com as regras.

A Shari’ah Al Islamia encaminha o homem a utilizar a inteligência em seu próprio beneficio, traduzindo a necessidade do livre arbítrio. A Surata Almulk , versículo 15, diz: Quem vos fez a terra manejável. Percorreia-a, pois, por todos os seus quadrantes e desfrutai das suas mercês”(152).

Fazendo um paralelo entre a tendência da escola Al Jebriat e a Shari’ah Al Islamia, apreciamos dois conceitos diferentes. Al Jebriat trazia conotações de servilismo total e irreversível, percebendo-se a possibilidade de uma situação passiva de sujeição, sem que o homem apresentasse inteligência capaz de raciocínio ou que pudesse ajudar a si próprio, sendo esta realidade unicamente advinda de Alá.

Daí os adversários de Al Jebriat dizerem que ele encaminhava o povo à inércia, trazendo um caráter distinto da lei islâmica, que implica na relação de submissão quanto à unicidade de Alá e aos seus preceitos, emitidos no Al Qu’ran e na Sunna, mas atribuiu ao ser humano o livre arbítrio para que possa cultivar as qualidades de suas boas ou más ações.

Foi pela pressão dos ulemas que alguns membros de Al Jebriat desprezaram as próprias idéias, perdendo o grupo força e seguidores, até dissolver-se completamente. Não aceitando as noções filosóficas de Al Jebriat, surgiu o grupo que se designou Al Muatezile. 5.3 Al Muatezile

O aparecimento dessa escola é explicado sob três condições distintas. Primeiramente, a denominação do grupo por Al Muatezile, significando: “ficar isolado”, provém do desencontro filosófico entre Uaassel Ben Ataa e Amr Ben Obaid, com o mestre Al Hassan Al Bassri, que ministrava aulas na mesquita de Basr, como já foi dito.

Eles discordam de Al Hassan Al Bassri, por defender que: “Aquele que ganha pecado grande e morre sem pedir perdão a Alá, é hipócrita”. Enquanto Uaassel Ben Ataa acreditava que : “Não era crente nem descrente, mas intermediário”. Todavia o que se pode conhecer sobre o pecado, no Islã, ao exame da natureza do homem, é de que ele faz parte da criatura, que é débil e até certo ponto irresistente ao desvio.

O pecado é uma condição natural, profundamente enraizado na essência dos seres, de forma que, mesmo sabendo o alcance real das palavras, das ações e pensamentos, podem-se inclinar ao bem ou ao mal, cuja intensidade é precisamente maior ou menor

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em cada pessoa em particular. Entretanto, o Islã considera o pecado: “como parte da natureza humana, o homem está predisposto igualmente ao bem e ao mal. E o pecado não é hereditário. Os filhos não respondem pela culpa dos pais. O homem não pode fugir do mal, somente os profetas são isentos de pecados...”(153). Eles foram escolhidos por Alá, educados por Ele, a não cometerem erros grandes ou pequenos. Como seres humanos podem pensar, mas não realizar. No Islã, pensar não é pecado.

Uaassel Ben Ataa e Amr Ben Obaid não assimilaram a proposição de Al Hassan Al Bassri, por não acreditarem não ser propriamente verdadeira, indicando como sinal de contradição sentarem-se separados num canto da mesquita. Definindo o comportamento dos dois alunos, Al Hassan Al Bassri, falou: “Uaassel nos abandonou”. Denotando que o aluno ficou isolado.

Em segundo lugar, indica a controvérsia das posições quanto ao nome de Al Muatezile. A consideração daquele que ganhou pecado grande e morreu sem pedir perdão a Alá. Al Muatezile declara que a pessoa fica isolado. E, por fim, pode-se explicar que o nome Al Muatezile não era apreciado pela maioria dos seus seguidores, que se declaravam: “povo de justiça e unicidade”(154).

Notemos que a palavra Al Muatezile não tem um sentido vago. Na verdade, aplicou todas as operações do espírito ao seu caráter direto, trazendo impressões de verdade e de firmeza que produziram mudanças. Era um grupo forte de inúmeros adeptos e de alta filosofia. Diferenciava-se das outras escolas por ter preocupações apenas com o aprofundamento filosófico.

Tinham os muateziles a condição necessária do conhecimento religioso,

apresentando, nas questões, noções que eram ininteligíveis para os demais, que não sabiam como respondê-las.

Os primeiros filósofos muatezilitas foram: Uaassel Ben Ataa e Amr Ben Obaid. Para Ahmad Amin: “A escola Al Muatezile nasceu em Damasco, porque tinha religiosos de Bizâncio como Yaria Admaschqui, aluno de Tidor Abu Koura”(155). Mas, Uaassel Ben Ataa, líder dos muateziles era muçulmano e nasceu em Medina, no ano 80 da H. ou 749 d.C., sendo seus pais de Fares (Irã).

Durante o Estado Abass, foram instaladas duas grandes escolas Al Muateziles no Iraque. Uma em Basr, e outra em Bagdá. Com a finalidade de desenvolverem os estudos, buscaram na filosofia grega a influência indispensável e criaram a filosofia islâmica, que antes não existia.

Um traço característico dessa escola é que, freqüentemente, suas expressões mantêm uma atitude exclusivamente filosófica, que permitiu o aparecimento de vários filósofos. O famoso grupo de Abu Rouzail Al Alef, Anazama e Ajaresvo desempenhou papel importante na história da filosofia árabe. Dedicaram a maior parte de suas atenções ao estudo da filosofia grega, combinando-a com seus argumentos filosóficos.

Assim, para desenvolver inteligentemente argumentos e debater com sabedoria, Al Muatézile, buscou conhecimento de preferência em Aristóteles. “Su método empírico era más acorde con los saberes utilitários que buscaban los árabes; su lógica era el arma

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(153) A.S.Ayad: A civilização árabe. Bahia: Centro de Estudos Afro-Orientais. 1965, p. 51. (154) Ahmad Amin (nota 143) p. 296

dialética que necesitaban las sectas para sus discusiones”(156).

Os primeiros filósofos islâmicos tiveram inúmeros combates na esfera teológica, e os muateziles: “Levantaram a bandeira da razão por mais de um século que foi a era mais gloriosa da história árabe. O florescimento do império Abass, e a sua queda com o início da desintegração desse império”(157).

Assim, os muateziles usaram a filosofia como arma religiosa. No início do II século da AH., pessoas cristãs, judaicas, idólatras entre outras, islamizaram-se sem pureza de fé. Elas começaram a criar problemas entre os muçulmanos, criticavam os dogmas, colocando dúvidas teológicas na autenticidade religiosa.

Nesse momento, Al Muatezile desempenhou o mais belo trabalho em defesa do Islã, aparecendo para prestar colaboração, filósofos do Irã, Romênia, Síria, árabes dos lugares mais distantes, que rebateram com lógica todas as formas de agressões, acabando com os ideais dos adversários. Vencidos, foram considerados não muçulmanos. Em vista das querelas serem filosóficas e, por elas alguns califas omawiytas não demonstravam interesse, os derrotados não sofreram restrições.

Esses califas contribuíram, indiscutivelmente, para os problemas, porque permitiram a pessoas não muçulmanas exercerem cargos elevados nos governos, deles se aproveitando para divulgar a filosofia religiosa que professaram em detrimento do

Islamismo.

Dividido em várias orientações filosóficas religiosas, o Estado Islâmico Omawiyta

enfraqueceu, aparecendo o Estado Abass que encontrou apoio dos filósofos para se impor.

É importante marcar distintamente a linha que delimita a Escola de Filosofia Al Muatezile, levando-se em consideração que cada escola tem suas colunas fundamentais, seus sistemas e regras. Al Muatezile traz como princípios, que levaram a estender-se por todo o Iraque, estímulos e discussões que suscitaram e motivaram a investigação contínua da filosofia, contribuindo para a persuasão das massas e a preparação das formulações religiosas islâmicas.

O sistema filosófico Al Muatezile compreende cinco pilares. Ora, do ponto de vista islâmico, inicialmente, integra o escopo religioso, para depois se deter em expressões que contrariam a doutrina, interditando a religião em seus julgamentos racionais. Vejamos seus

pilares: 1º. A unicidade de Alá “É o atributo em virtude do qual não existe senão um Alá

único. Ele não faz parte das coisas como corpo, porque é o criador, nem depende de nenhum outro ser”(158).

Esse princípio era defendido por todos os muateziles. Nesta vida e na outra nenhuma coisa pode olhar, conhecer, de verdade, Alá. Ele não tem lugar fixo. Não tem tempo. Não tem início, nem fim. Não gerou nem foi gerado.

2º. A justiça. Significa que Alá não gosta de maldade. Abarca direitos e deveres que

todos devem conhecer. Alá agraciou o ser humano.com o livre arbítrio. Não ordenou senão o que Ele quer. Não impediu senão o que O desgosta. Mas dotou o homem de força para escolher seu próprio caminho. Se Alá tirar este poder do homem, todos fica-

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(156) Ibn Sina (nota 149) p. 107 (157) A. S. Ayad (nota 153), p. 107.

(158) Sheick Mabrouk El Sawy Said: Os pilares da fé na Religião Islâmica. Recife: Centro Islâmico do Recife. 1995, p. 9.

rão eqüitativamente iguais. Daí, para os muateziles, a justiça consiste no respeito aos direitos, para se conhecerem as obrigações impostas por Alá.

. O desvio. Para os muateziles, o homem, por ser imperfeito, freqüentemente

desencaminha-se, e Alá não perdoa quem comete pecado grande, se não voltar para pedir- lhe perdão.

. Os muateziles assimilam que aquele que ganha pecado grande e não voltar a Alá

para o perdão, não é crente nem descrente.

5º. Infere-se que os muçulmanos devem produzir com suas forças, sem armas ou

com armas. Isto, porque a mente humana tem condições de conhecer o bem e o mal. Se a Shari’ah Al Islamia não traz no texto proibição de uma determinada conduta, no seu ordenamento jurídico, mas as circunstâncias levam a acreditar que há gravidade nessa conduta, a mente humana pode conhecer se é boa ou má. A conclusão lógica é de que a mente fica acima da Shari’ah. Para Hassan Ibrahim Hassan: “Na idade média, a Escola Racionalista aparece exprimindo este princípio da Escola Al Muatezile”(159).

Para Ibn Sina (Avicena), os muateziles: “Toman de los qadarids la doctrina del livre albedrío; de los mu’atiies la negacion del antropomorfismo; de los murchi’ies la atenuacion de las penas eternas para los creyentes impenitentes. Dios, dicen, es uno e Indivisible, el hombre es libre en sus acciones y responsable de sus actos. Toda verdad necesaria para la salvación tiene que estar al alcance de la mente humana; el hombre, por simple razón, conoce todo lo necesario para salvarse. Asi, de aquella retirada a un rincón, nació la teologia escolástica de los musulmanes; sobre ella iba irisada la línea de las viejas concepciones preislámicas”(160).

O entendimento filosófico Al Muatezile propõe a concepção de um ideal político, pois, tinha por missão apreciar o valor exato dos problemas, respondê-los e solucioná-los. Uma vez compreendendo o valor e a necessidade do aprofundamento da sociedade, no plano filosófico, Al Muatezile passou a ser um eficacíssimo instrumento governamental. Tanto que os califas passaram a considerá-lo como partido político deles, em razão do valor exato que colocava nas observações, fossem favoráveis ou contra a escola.

Por todas estas razões, alguns caifas omawiytas fizeram-se membros de Al Muatezile, aproximando deste modo a sociedade com a filosofia, a religião e a política prática, como: Iazid Ben Al Wakid e Mauraan Ben Mohammad. Terminando Al Muatezile por considerar a imprescindibilidade da escolha de um Al Khalifa (presidente). Tanto mais que Alá, através do Al Qu’ran, não escolheu ninguém em especial para o povo seguir, devendo este escolher o seu governante.

Al Muatezile conheceu a importância do progresso através da filosofia, ficando sua doutrina famosa no primeiro período do Estado Abass. Os califas Mamun, Muatacim e Al Uate III ajudaram conclamando o povo a segui-los na filosofia. Por muito tempo conservou seus fundamentos. Durante o final do primeiro Estado Abass, para o segundo, dividiu-se em vários grupos, procurando conhecer na intimidade a filosofia de Aristóteles, mudando seu posicionamento, abandonando os dogmas da religião, dedicando-se exclusivamente à filosofia racionalista.

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(159) Hassan Ibrahim Hassan ( nota 2), p. 224. (160) Ibn Sina (nota 149), p.23.

Assim, alguns muateziles dão um passo decisivo tornando-se independentes dos conceitos gerais, divergindo dos dogmas islâmicos e criando novos segmentos filosóficos. Como foi o caso de Ahmad Ben Haet que fundou o grupo Al Haitia – que segue a Haet.

Estes muateziles usam só a mente e seguem a filosofia e seus métodos peculiares. Essa corrente passa a acreditar na reencarnação e prega o convívio habitual do mundo com dois deuses. Um Alá invisível, e o outro, Jesus.

Ahmad Ben Haet foi muito criticado por se distanciar do credo e da conduta islâmica, não dando nenhum valor aos significados dos ritos religiosos. Portanto, sem dimensão ortodoxa. O erro de considerar a existência de dois absolutos confronta fortemente a linguagem filosófica na identificação da inteligência islâmica, cujo conteúdo traz o conhecimento da unicidade.

Evidentemente que Ahmad Ben Haet não encontrou seguidores capazes de repetir e sustentar seu entendimento, o que acentuou a desconfiança dos ulemãs, que definiram sua dimensão filosófica como imprópria aos muçulmanos. Entretanto, maioria dos muatéziles não deixou o Islã, mas usou em todas as operações intelectuais o racionalismo, mantendo tão somente os dogmas da unicidade de Alá e a missão profética de Mohammad (S.A.A.W.S.).

Nesta contradição reside a problemática da filosofia islâmica. Isto porque, com a diferença do ambiente intelectual, apareceram os novos muateziles, que passaram a perseguir os sunitas, por não admitirem seus princípios distanciados da religião. Os muateziles mais tradicionalistas desconsideraram a lógica de manter a filosofia acima da religião, como Abu Hassan Al Achaari que criou a Escola de Filosofia Achaaera, que segue a Achaari.

Ele deixou o grupo tradicional e colocou-se na defesa do Islamismo contra seus antigos companheiros, começando a diferença interna entre seus integrantes. Paulatinamente, a Escola Achaaera distancia-se da doutrina muatezilita, passando a apoiar os sunitas, reafirmando o preceito: “o que interessava era o Al Qu’ran, a Sunna e os seguidores do profeta”(161). Os muateziles ficam chocados ao se mencionar através da Escola Achaaera o renascimento espiritual. Os valores perdidos por eles haviam sido redescobertos.