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PRIMEIRA PARTE

9.1 A verdade islâmica

“Nós éramos o mais inglório de todos os povos, o menos importante, o menos numeroso de todos. Alá, então, nos honrou com o Islã, e por mais que procurarmos honra fora dele, Alá nos humilhará”(253). Estas palavras ditas pelo califa Omar Ibn Al Khattab revelam que os árabes muçulmanos devem possuir uma fé inabalável na sua religião que os distinguem com caráter, traços naturais e ética.

Recordemos, que a Shari’ah Al Islamia é imperativa e categórica. Logo, o Al Qu’ran e a Sunna não podem ser contestados em seus princípios, mas podem ser interpretados. Daqui, provem o entendimento de que a palavra de Alá obriga a vontade humana sem constranger o indivíduo. Na expressão de Rudolf Stammler: “Neste sentido, é um Direito inviolável”(254).

Concluímos, que a Shari’ah Al Islamia abraça todas as manifestações da vontade divina, na mensagem alcorânica. Existindo, deste modo, uma ordem progressista em relação as revelações anteriores, onde presentes estão instituições políticas, econômicas, jurídicas, etc.. No sentido mais puro, nada é mais transformador e provocador de novos sistemas; reformador dos atos humanos e do social do que o conteúdo da última mensagem da Alá. Nela, estão presentes as garantias da natureza humana dentro da sociedade, regidas pelas relações mútuas entre os indivíduos. É de grande complexidade, porque, compreende diferentes aspectos da vida humana como um processo de evolução permitido por Alá, para o homem alcançar a perfeição.

Assim, ela ordena ao homem que devote todas as suas energias na construção da vida sobre fundações morais saudáveis. Ensina-o que os poderes materiais e morais devem ser conservados conjuntamente, e que a salvação pode ser obtida através da utilização de recursos materiais para o bem do homem e de finalidades justas, e não através de uma vida de ascetismo ou de fuga dos desafios impostos pela vida. Por outro lado, ideologias materialistas ignoram totalmente o lado espiritual e moral da existência.

Por tudo isso, para Abu Hassan Annadwy: “é inaceitável que os muçulmanos se espelhem na civilização ocidental materialista e sigam seus passos, quando sabemos que os próprios especialistas na história desta civilização afirmam que a mesma se desenvolveu sob a injustiça, a agressão e o apego às aparências e ao superficial; o contentamento com o palpável e a negação de tudo o que está além do alcance dos sentidos, a adoração da matéria e dos prazeres”(255).

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(253) Redatores: Fundamentos da Shari’ah. Voz do Islam: Brasília. CIB. Volume II, número 4, agosto, 1982, p. 54.

(254) Rudolf Stammler (et Allii): Introduçción al Derecho. Buenos Aires: Labor, 1990, p. 277. (255) Abul Hassan Annadwy: Auto crítica. Alvorada. São Paulo: Makka. Ano III, número 32, setembro. 1995, p. 17.

Portanto, o Islã é “Dean wa Dawlat”, o que significa um Estado e uma Religião, sem separação entre as atividades religiosas e seculares, ambas esferas de uma unidade sob a autoridade global da Shari’ah Al Islamia. Analisando seus preceitos jurídicos, observamos, que as relações entre a Shari’ah Al Islamia e Alá não se limitam à criação.

Para a lei islâmica, depois de ter criado o mundo, Alá conserva-o e governa-o por meio de leis sapientíssimas. Por outras palavras Alá não é somente criador, mas também providência. Podemos definir , como a ação constante que Alá exerce sobre as criaturas para conservar e dirigir por meio da sua sabedoria e bondade a ordem que estabeleceu pela criação.

Vejamos, que a interpretação da lei islâmica assinala, que: “se o mundo uma vez criado pudesse continuar a existir sem o concurso positivo de Alá, sob este respeito seria independente. Logo, a doutrina jurídica islâmica, inseparável do divino, continua renovada, identificando-se com o decreto revelado ao profeta Mohammad (S.A.A.W.S.).

É interessante notar, que a persistência desta lei e sua religião até os dias atuais, exige, uma conservação inalterada. Muitas culturas antigas desapareceram e outras sofreram modificações, foram desvirtuadas e esquecidas, a única que sobreviveu aos tempos e permaneceu intacta foi a islâmica. “El Império Romano, considerado como entidad política, sobrevivió vários siglos al apogeo de su cultura. Habia transcurrido mucho tiempo de esta época floriciente, cuando sobrevino el derrumbamiento”(256).

Neste panorama, quem entrar no Islã tem de aceitar primeiro seus fundamentos racionais e crer neles totalmente. O fato é que, analisando a situação dos muçulmanos ao longo das últimas décadas, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, verificamos que o árabe muçulmano tornou-se alvo das atenções, configurando sempre um beduíno sem grande capacidade, em razão do credo que professa. A partir de 1973, com a valorização (e a guerra) do petróleo, a “transferência do ânimo popular anti-semita de um alvo judeu para outro árabe foi feita suavemente, posto que a figura era essencialmente a mesma. Assim, se o árabe ocupa bastante atenção, é como um valor negativo. Qualquer história que esse árabe tenha é parte da história que lhe é dada (ou retirada: a diferença é pequena) pela tradição orientalista”(257).

Nessa trajetória de idéias grosseiras a respeito do Oriente Médio e da religião que ocupa todos os seus países, a maioria dos árabes muçulmanos procura se proteger da propaganda veementemente levada aos meios de comunicação de massa “que assinalam falsas informações a respeito do Islã, e utilizam vários subterfúgios para despertar a vaidade humana, o instinto sexual, o prazer e o conforto, a redefinição da fe-licidade em termos materialistas, egoísticos e subjetivos”(258). O Ocidente tenta, sob vários ângulos, corromper e destruir o mundo islâmico, apagando a tendência religiosa dominante e seu ímpeto nacionalista.

De maneira geral, os muçulmanos incomodam a estrutura social e econômica montada pelo Ocidente, cujo próprio povo já demonstra cansaço da massificação diária em todos os setores da vida, invadindo lares, escolas, campos de futebol, empresas, faci-

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(256).Max Weber: La decadencia de la cultura antiga. Revista de Ciências Jurídicas. Universidade de Costa Rica – Facultad de Derecho. San Jose – Costa Rica: Colegio de Abogados. Número 26, mayo- agosto, 1975, p. 73.

(257) Edward W. Said: Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Editora Schwarz

Ltda. 1990, p. 282

(258) Redatores: Princípios de produção na Shari’ah. Alvorada. São Paulo: Makka. Ano II, números 17-

litando, através dos meios de comunicação, a propagação da violência.

Ao impor a pressão da mídia, o Ocidente protege seus cidadãos da influência espiritual do Islã que, através do ângulo ideológico baseado na religião, pode promover mudanças e coibir o endeusamento do próprio homem e combater dentro dos territórios os movimentos antiislâmicos.

Os muçulmanos reagem à força das expressões contrárias, que lhes impõe responsabilidades no mundo inteiro. Sob o aspecto estritamente moral, o fundamento da moralidade muçulmana é continuar lutando, porque a verdade sempre tende a aparecer. Assim, não podem usar a triste estratégia de impor ao seu povo a negação da autoconservação, como os polinésios das Ilhas Marquesas, que se submeteram ao serem dominados e convertidos ao Cristianismo pelos franceses em 1842 – “adaptaron el único medio de resistencia, dejaron de procrear”(259). Eles não possuíam um elo forte para os unir como a religião islâmica, nem contribuíram culturalmente para o mundo com a importância com que os muçulmanos alimentaram a Idade Média, culturalmente, e fizeram as bases científicas da moderna sociedade.

É imperioso ao muçulmano manter a sua espécie e terminantemente proibido expor- se à morte sem justo motivo, sendo-lhe negado afrouxar as energias diante dos vícios. As acusações pretendem levá-lo à paralisia religiosa, corrompê-lo e destruí-lo. Para se protegerem, milhares de famílias muçulmanas diminuíram em seus lares a influência internacional, condenando as antenas parabólicas e internet, para não serem atingidas pelas falsas informações, a exemplo do Irã e Arábia Saudita, entre outros.

A sobriedade e a pureza dos costumes são, pois, obrigações que têm de sustentar

o cumprimento do dever religioso, único recurso aplicável para isolar, de maneira ideal e profunda, as formas de exclusão constantemente empregadas contra eles.

O fato de o muçulmano ter medo da degenerescência vem a propósito do uso excessivo do álcool, da droga, do fumo, da prostituição e da corrupção (da vida moderna), que exercem perniciosa influência nos costumes dos povos, com efeitos negativos à saúde física e à moral. Logo, não querem se expor a graves perturbações, dificultando o relacionamento familiar e empobrecendo o lado espiritual. Utilizam as mesmas razões, quanto às imoralidades que desvirtuam o comportamento salutar, transmitindo às novas gerações vício e seduções. Segundo acreditam, não querem diminuir a capacidade produtiva, “porque acreditam que o homem é para serviço de um propósito mais alto: o de estabelecimento de uma moral e uma ordem justas, que cumprirão a vontade de Alá”(260).

De maneira que a maioria dos muçulmanos se reprime de qualquer coisa que comprometa a saúde do seu corpo e abale o espírito, moderando as inclinações sexuais, subordinando-se à harmonia religiosa que desenvolve o bem e a justiça. Daí justificarem o controle diante das más influências como condição essencial para evitar a perda da dignidade humana. Os muçulmanos sauditas, egípcios, paquistaneses, iranianos, líbios etc., deixam claro que não acolhem o sistema puramente materialista, pois acreditam que o grupo muçulmano está corretamente orientado. Este será o próximo assunto a ser desenvolvido.

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(259) Abram Kardiner (nota 31), p. 96.

(260) Abdul Karrim Murad: Fim do embargo. Alvorada. São Paulo: Makka, número 46, novembro, 1998, p. 4.