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Simpatia. – Conformidade, inclinação ou analogia numa pessoa a respeito dos afetos e sentimentos de outra. Inclinação instintiva para pessoas ou coisas. Psi- col.: forma da vida afetiva, que tem extraordinária importância do ponto de vis- ta moral, até o extremo de que alguns tenham baseado nela as relações éticas e sociais. Adam Smith foi o primeiro a reconhecer esta importância em sua "Theory of moral sentiments". A origem de nossa sensibilidade para com o so- frimento dos demais está na faculdade que temos de nos pôr, imaginariamente, em seu lugar, faculdade que nos capacita para conhecer o que eles sentem e sen- tir a mesma emoção que eles. Se etimologicamente a simpatia significa piedade ou compaixão, pode esta palavra empregar-se, sem cometer impropriedade al- guma, como faculdade de partilhar os estados afetivos dos demais homens, quaisquer que sejam eles. Existem diversas teorias para explicar psicologica- mente a origem das tendências simpáticas. Os positivistas pretendem explicar a simpatia por sua base fisiológica, base que, mesmo sendo real, é insuficiente para justificar racionalmente o fato da simpatia desinteressada. O espiritualis- mo, por outro lado, vê na simpatia uma manifestação da consciência social so- lidária e humana, que encontra na comunicação de prazeres e dores a expressão natural da unidade específica dos homens e de um dever imposto pela lei natu- ral. No surgimento e desenvolvimento da simpatia atuam as mesmas causas e leis que nas demais formas da vida afetiva humana. A herança e a educação, de um lado; a idade, o sexo, a profissão, o gênero de vida, etc., tudo influi na qua- lidade ou intensidade do sentimento da simpatia. O desenvolvimento do conhe- cimento, disse Höffding, é uma condição necessária ao desenvolvimento supe- rior da simpatia. A extensão da simpatia está, portanto, determinada pelas ex- periências de cada indivíduo, de cada nação, de cada época. A simpatia pode ser interpretada como uma tendência geral que assume diferentes formas, segundo o objeto, finalidade e momento da vida. Em seus graus ínfimos, é a atração pes- soal, a amizade, e nos graus superiores, o amor, o carinho e a paixão. Tanto pode se manifestar como uma inclinação sossegada e tranqüila, que busca esponta- neamente nos demais uma comunidade afetiva, como romper os diques da vida normal e se transformar num fator preponderante da consciência. A simpatia varia, sem dúvida, conforme a natureza da relação humana que a motiva, porém a causa última é sempre a mesma: a natural propensão a compartir com os de- mais as nossas penas e alegrias e a acercar-nos reciprocamente das suas. (Dic- cionario Enciclopédico Espasa-Calpe.)

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A simpatia, como tudo o que pertence ao terreno espiritual e psicológi- co, é invisível e intangível; porém, o que se vê e se palpa na realidade físi- ca é o que move a simpatia como agente de uma força que, por sua vez, obedece a uma lei.

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Todos os seres humanos possuem um atributo que se chama simpatia e, na mesma proporção, um desatributo – chamemos assim – que se denomi- na antipatia. De cada um depende forjar sua vida alcançando a plenitude do atributo e a total eliminação do desatributo.

O culto da graça, ou seja, do conjunto das virtudes e qualidades boas que o homem possua, é o que constitui a melhor fonte de simpatia, pois nada embeleza tanto a alma como os traços característicos da nobreza de berço. Aqui devemos manifestar, por ser isto uma verdade inquestionável, e para satisfação de todos, que quem não procede dessa origem pode e deve criá- la para si, já que sempre há tempo de alcançar e obter pelo esforço, pela decisão e pela capacidade de estudo as mesmas vantagens dos que se vi- ram favorecidos na infância.

A ninguém está vedado o conhecimento e, muito menos, a liberdade de obtê-lo. Assim, cada um pode construir seu edifício moral, onde são gera- dos os grandes vínculos em virtude da simpatia que impregna todos os seus espaços, simpatia que atrai o semelhante e ao mesmo tempo lhe con- cede sua solicitude.

Na terra se acham dispersas, talvez para observação do homem, muitas existências: umas que infundem simpatia, e outras, repulsa. As primeiras são agradáveis à sua visão ou ao seu sentir, e o curioso é que todas elas lhe são úteis, ou, melhor dizendo, apresentam uma imensurável utilidade para a sua espécie. Quantos animais há que lhe são gratos apenas por seu as- pecto, e quantos o são pelo único fato de lhe serem úteis, como as abelhas, por exemplo, que inspiram simpatia por serem laboriosas e fecundas. Te- mos, também, como dissemos, os que inspiram repulsa, tais como a hie- na, o gambá, o javali, o sapo, a víbora e outros mais.

A respeito do sapo, há os que o conceituam como um animalzinho útil e o deixam estar em seus parques e jardins, pois, segundo eles, come os bi- chos daninhos. Não obstante, podemos observar que este antipático ani- mal da família dos anfíbios, enquanto come um ou outro inseto, procria de tal forma que, no final, os que toleram sua companhia devem efetuar um verdadeiro massacre deles, para evitar danos maiores aos alicerces de suas casas, sob os quais costumam se alojar. O mesmo acontece com certos

pensamentos que o homem aloja em sua mente, crendo serem inofensivos, e que logo depois obrigam a praticar pouco menos que operações cirúrgi- cas para extirpar suas proles, que ameaçam absorver a vitalidade de todos os demais pensamentos que ali se hospedam.

Esta última observação nos permite fazer uma discriminação entre a

simpatia propriamente dita e as preferências que cada um possa ter por

determinada pessoa ou ser vivo. No primeiro caso, a simpatia estabe- lece um vínculo afetivo que aumenta ou diminui segundo o volume dessa vinculação; no segundo, a preferência é privativa do espírito in- dividual e pode ser prodigalizada à vontade, sem que seja necessário, para o caso, vinculação alguma.

Na Criação existem duas forças que oscilam alternadamente numa luta constante: a de atração e a de repulsão. No ser humano, a simpatia atrai e é, portanto, uma força ativa que atua nele como centro gerador do afeto, devendo estar regulada pela ação do critério, a fim de fazer possível a exis- tência de um equilíbrio estável, não alterado pelas relações com o seme- lhante. A simpatia que um ser inspira a outro cobre a distância que o faria permanecer estranho a ele. A amizade nasce do afeto que a simpatia cria, pois esta, como dissemos, é o centro gerador do afeto. Da amizade nasce a confiança mútua, e é esta a que cimenta e dá vida aos grandes vínculos a que nos referimos.

Já se disse que a simpatia é um dom; nós a chamamos de atributo e afir- mamos que pode ser adquirida. Porém, para que isso seja possível, neces- sariamente devem ser cumpridas as exigências que a simpatia impõe: pos- suir pensamentos benévolos e quantos propiciem as melhores qualidades. Na vida de relacionamento, é preciso buscar o entendimento de manei- ra simpática e afetiva. Nisso a mente há de desempenhar um papel muito importante, pois são os pensamentos os que devem ir ao encontro da afi- nidade ou criá-la, na medida do possível, conciliando inteligentemente as diferenças que existam no pensar e no sentir. A afabilidade, os bons mo- dos, o trato agradável, são disposições que promovem a consideração e a

simpatia dos demais, assim como a intolerância, a irascibilidade, os maus

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soa se encontre, deve fazer com que sua presença seja grata a todos, ou pelo menos à maioria, e isso sempre será conseguido por quem mais co- nheça a psicologia humana e tenha estudado a fundo suas reações e suas múltiplas variantes.

O errôneo conceito que geralmente existe acerca das atenções que o se- melhante nos deve prodigalizar, enquanto deixamos de tê-las para com ele, é causa das mil situações molestas e incômodas que teremos de sofrer de- pois, já que, sendo a simpatia a ponte de ouro que estendemos até seu co- ração e sua mente, e não sendo esta ponte nada impossível, devemos nos apressar para torná-la efetiva, a fim de que, por sua vez, a simpatia e o afe- to que buscamos nos possam ser oferecidos através dela. O ruim é quan- do fazemos isso mal, ou quando só construímos a metade, para que os ou- tros façam a sua parte; assim é como se truncam com freqüência os melho- res propósitos.

A simpatia é uma força que influi decididamente na vida humana; con- forme seja o cultivo que dela se faça, serão os frutos a recolher para a rea- lização dos esforços que tendem à perfeição.

A JUVENTUDE NO