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Suas três fases na vida do ser: superior, média e inferior

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Quando se fala de cultura, não é comum que se estabeleçam dife- renças para determinar as condições das pessoas. Diz-se, por exem- plo, que existe uma cultura oriental e outra ocidental, que diferem entre si pelo gênero de costumes dos povos de onde provêm e pelo conjunto de modalidades e exteriorizações de seu pensar e sentir. É natural que exista tal diferença pela situação geográfica de uns e outros, pela influência do clima e pela carga hereditária que geral- mente opõe resistência às mudanças ou às inovações impostas pelo rigor dos tempos.

Fala-se de diferenças de classes, denominando-as alta socie- dade, classe média e classe proletária ou pobre. A primeira, que toma o nome de aristocracia, é formada, como se sabe, por um núcleo reduzido de famílias, cuja condição ilustre provém do fato de seus antepassados haverem intervindo nas façanhas his- tóricas, como também de se haverem identificado com as gran- des causas de seus povos ou se destacado no curso do tempo por seus vôos literários, seu prestígio político ou sua produção científica, filosófica ou artística. A elevada posição social pare- ce outorgar às pessoas que a integram um timbre de distinção e um nível cultural superior ao dos demais; porém, debaixo dessa capa social tudo se mescla e confunde numa cultura me- díocre, informe e variada. Tal é a sensação que se experimenta

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ao fazer uma diferenciação da cultura em seus verdadeiros va- lores e em sua realização efetiva.

Logosoficamente, três fases se distinguem na cultura do ser humano. A inferior, que abarca um conjunto dos mais respeitáveis por seu nú- mero, compreende aqueles que receberam apenas as mais elementares noções de educação e de instrução comum e que, absorvidos depois pelas necessidades da vida, devem ocupar seu tempo em trabalhos ru- des ou naqueles rotineiros que não exigem a menor preparação para se- rem desempenhados. O selvagem, ou o indígena que não conheceu ci- vilização alguma, não pode estar compreendido nessa espécie inferior de cultura, pois carece totalmente dela.

A cultura média está constituída por aquele conjunto que, de nú- mero também considerável, se situa em posição mediana quanto aos conhecimentos gerais e em cujo seio se agita o influxo de profundas esperanças e afãs de superação. Essa mesma cultura média pode ain- da subdividir-se em três níveis: o primeiro, que compreende todos os que conformam sua vida a estreitos objetivos, com descuido total de sua evolução, está integrado, em grande parte, pela massa operá- ria e empregados de diferentes categorias; o segundo se caracteriza pelas inquietudes espirituais dos que o constituem, pelas preocupa- ções de toda ordem que motivam os cuidados na educação e o esme- ro no aprendizado que se empreende, bem como pelos mil pensa- mentos que conduzem a uma maior elevação de aspirações que con- vergem para um futuro melhor. Neste grupo está compreendida uma boa parte de pessoas de condição social igual à das anteriores, como também universitários e homens dedicados à política, ciência, in- dústria, comércio, etc. Tendo em vista que este segundo nível é in- termediário, diríamos de transição para o terceiro, é lógico pensar e admitir, por ser isto a pura verdade, que os mesmos passem depois ao terceiro grau da cultura média, quando o ânimo já está prepara- do para ascender a estados superiores de consciência. É aí, nesse es- tado, que se produz o aquilatamento dos valores da cultura, assim como o balanço geral das condições próprias, a fim de comprovar até que ponto chega a capacitação individual e qual é a média das

realizações que, no sentido do aperfeiçoamento, foram cumpridas ao culminar esta etapa.

Pode-se apreciar, através deste panorama que apresenta os diferentes aspectos da cultura, o riquíssimo conjunto de matizes que embelezam a vida, sublimando, por assim dizer, aquela matéria tosca e não culti- vada que mostra os traços grosseiros da incultura.

No nível mais elevado da cultura média, o ser se acha nos pórticos da superior, a que transcende os conhecimentos comuns para penetrar nas regiões mais elevadas do entendimento humano. A mente que ul- trapassa a cultura média e se vitaliza com os conhecimentos superiores já mantém um perfeito controle sobre as atividades de seus pensamen- tos, sejam estes os que nascem por ela engendrados ou os que ela hos- peda dentro de si. Não podem caber em seu interior pensamentos ma- lignos que tenham por intenção causar danos ao semelhante; mentes cultivadas para o bem não podem engendrar pensamentos dessa natu- reza. O recato natural da alma o impede.

Nos seres de cultura mediana é comum observar, ao contrário, mani- festações de índole negativa. Neles, devido precisamente ao desconheci- mento das altas leis morais e das normas superiores de conduta, mani- festam-se com freqüência atitudes irrefletidas e até de caráter violento. Com freqüência se observa como surgem neles, sem dificuldade, os pen- samentos agressivos, encapsulados, por exemplo, em palavras ferinas, que levam o selo da má intenção, isso quando expressões grosseiras ou carregadas de uma ironia intolerável não ocupam o lugar delas. Estamos nos referindo, como se vê, a essas características que se manifestam com suma facilidade nos seres de cultura mediana. Isto não quer dizer, é cla- ro, que não existam muitas pessoas cujas condições naturais tornam im- possíveis semelhantes exteriorizações, pois é um fato evidente que se costuma frear e ainda eliminar o pensamento inconveniente antes que faça sua aparição de forma intempestiva, como dissemos, através de pa- lavras que, uma vez pronunciadas, custa muito desculpar.

E nem falemos do que ocorre nas mentes cuja cultura se acha num nível inferior... Ali a anarquia é quase total: os pensamentos mais baixos são donos e senhores da situação; governam a seu bel-

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prazer as atitudes do ser, e, como não há neles o menor cultivo su- perior, produzem-se reações de toda índole. Essas mentes se asse- melham a cercados onde nem as ervas daninhas crescem, por causa dos potros indomáveis que neles são soltos.

Pensamos que, com isto, ficam explicadas e definidas as três fases que a Logosofia define para a cultura; não obstante, é possível que vol- temos a este tema mais adiante.

DE COMO TODOS OS SERES