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Quem poderia duvidar de que toda a Criação foi plasmada origina- riamente na Grande Mente do Supremo Criador? Porém, se isso não fosse admitido, nada significaria para o princípio, eterno e inabalável, que rege o equilíbrio e a harmonia universal. Tudo existe, vive, move- se e atua dentro da grande órbita cósmica, ainda quando o homem, chamado a interpretar o pensamento de Deus, o ignore. Nem por isso muda a ordem estabelecida, nem se altera em nada o disposto pela Vontade do Todo-Poderoso.

A Logosofia quer levar o ser humano ao conhecimento dessas supre- mas verdades; quer arrancá-lo da obscuridade que o retém nos âmbi- tos da ignorância e mostrar-lhe, para sua felicidade e glória, os imen- sos tesouros que há milênios estão esperando para serem ofertados a quem alcance as máximas expressões de autoridade nos domínios do verdadeiro saber, dando comprovadas demonstrações de fidelidade e honra, como sinais inequívocos de uma probidade moral que o creden- cie a ser fiel depositário de semelhantes tesouros. É a garantia que des- de tempos imemoriais tem sido exigida pelos inexoráveis guardiães que custodiam os grandes arcanos do conhecimento; inexoráveis, por- que são as próprias leis assumindo o controle dos avanços humanos em direção aos irrevelados mistérios da Criação.

Não se trata, pois, de conhecimentos comuns, ainda que estes se- jam os mais valiosos na ordem corrente, mas de outra índole de in- vestigação e de saber; trata-se de superconhecimentos que transcen- dem a esfera do vulgar para se internarem nos grandes arcanos a que nos referimos.

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É lógico supor que a esse respeito deva existir uma estrita observân- cia dos sinais da inteligência, que faça possível o entendimento de tudo o que por um lado se ensina e, por outro, se aprende. Mas é necessário deixar aqui terminantemente especificado que a esses conhecimentos não se chega pela mera investigação superficial ou pelo estudo, ainda que se aprofunde o conteúdo e alcance dos mesmos. Chega-se pela rea- lização interna, que permite experimentar a maravilhosa realidade de um verdadeiro processo de evolução consciente. Cada conhecimento ingressa, então, diretamente no acervo individual, com propriedades de alto valor mental que beneficiam direta e rapidamente o ser.

Essa quinta-essência absorvida, que em princípio provém do pensa- mento original, ou seja, da fonte mental que o gerou, adquire força dentro da mente, depura-a dos pensamentos que corroem seus sutis dispositivos, aumenta as energias vitais e facilita, cada vez em maior grau, a absorção de uma quantidade maior dessa ultra-substância com seu inefável conteúdo de luz, de força e de verdade.

Pois bem; como é essência viva e ativa, é lógico que necessite de vida e atividade. Por essa causa é que, nas mentes em que não encontra o calor que necessita para cumprir seu labor de transfusão do que a Lo- gosofia chama de sangue imaterial, volta a ser absorvida pela fonte ge- radora, em virtude da lei de simpatia, que atrai os elementos afins, des- de a célula mais imperceptível, e distancia os opostos.

O ar seguirá sendo respirável para os seres vivos, enquanto não se viciar por falta de uma renovação constante. Quando as habitações permanecem fechadas à luz do sol e ao ar, tornam-se sombrias, úmidas e inabitáveis. As- sim também acontece com muitas almas que mantêm as janelas de sua mente fechadas à luz do saber: asfixiam-se gradualmente, envenenadas pe- los tóxicos que respiram no viciado ambiente de sua escuridão mental. Quando a mente se abre, deixando que o conhecimento penetre nela e tra- balhe com liberdade, expulsando os elementos que lhe são estranhos, o re- cinto mental se oxigena e o ambiente se torna respirável.

O conhecimento logosófico, que é a essência viva do pensamento cons- trutivo, só se transfunde dentro da mente humana quando esta tenha se es- merado em lhe preparar o campo propício para sua imediata eclosão inter-

na. Ninguém permaneceria muito tempo num lugar que o houvesse atraí- do por qualquer motivo, ainda que o clima fosse bom, se não encontrasse a hospitalidade que lhe fizesse feliz a estada. Sentirá ter de deixá-lo, mas por fim o fará, ao não encontrar, nas pessoas com quem deve ali tratar, a afini- dade e as expressões de cordialidade que tanto estimulam o espírito.

Pois exatamente a mesma coisa ocorre com os pensamentos do saber que se hospedam nas mentes para ilustrá-las: se encontram o ambiente propí- cio, instalam-se e de imediato começam uma atividade fecunda, pondo-se inteiramente a serviço da inteligência; porém, se dentro da mente onde fo- ram convidados a se hospedar não houver ordem, se tudo for negligência e abandono e seus protestos por um melhor tratamento não comoverem a ra- zão, que é a encarregada de pôr as coisas em seu lugar, o pensamento, sem mais delonga, se ausentará da mente em cujo ambiente não lhe foi possível viver. Daí que se possa ver mais de um estudante de Logosofia, após auspi- ciar dentro de si esse original conhecimento e obter benefícios e vantagens que o encheram de entusiasmo nos primeiros tempos de sua capacitação, experimentar uma espécie de perda e até um vazio que sua inteligência não lhe sabe explicar. Isso ocorreu, precisamente, porque se abandonou aos pri- meiros triunfos e, em vez de estimular o ritmo de suas atividades, se entre- gou nos braços da inércia mental, ou deu acolhida a pensamentos de natu- reza estranha, que fizeram insuportável a vida dos que estavam empenha- dos em iluminá-lo e tornar sua existência fecunda e valiosa.

Se o lavrador, depois de sua primeira colheita, se põe a dormir e não trabalha mais até gastar todas as suas reservas, verá que seus campos se enchem de mato, cuja extirpação lhe dará depois um bom traba- lho, sendo indubitável que a nova semeadura sofrerá os efeitos de seu abandono. Algo muito ao contrário sucede a quem mantém seu cam- po sempre em condições para excelentes semeaduras: colherá, sem discussão, os melhores frutos.

Podemos dizer que nada é mais suscetível de encher-se de mato e er- vas daninhas (preconceitos, crenças, ironias, confusão de idéias, etc.) do que o campo mental, já que, como ninguém cuida suficientemente dele, vão parar ali todas as sementes que voam pelo ar, sendo a má, que é lançada por todas as partes, a que se propaga com maior facilidade,

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provocando em muitas mentes as mais abomináveis pragas, enquanto a do bem se mostra tão difícil de difundir. É que aquela não necessita de cultivo algum nem de atenção, e nasce em qualquer terra, enquan- to a do bem requer cuidados especiais e seleção constante, a fim de que a linhagem não degenere e sua força germinativa não perca suas virtu- des. Aí está a diferença.

Temos observado casos em que alguns dos chamados lavradores do pensamento, logo após adquirirem sementes da boa semeadura, pre- tenderam, mudando-lhe o nome, obter um tipo próprio de semente; a realidade, porém, mostrou bem depressa que a qualidade é inconfun- dível, e que são necessárias muitas experimentações antes de obter uma nova linhagem e possuir o segredo que impede a degeneração do que foi conseguido para melhorar as colheitas próprias e obter maiores rendimentos.

Em síntese: a quinta-essência do pensamento original é sem mácula e pertence à sua fonte de origem, e, ainda que ela se dê em proprieda- de, sempre será sob condição de que o depositário não seja infiel. Sen- do ela a Sabedoria que se manifesta por um de seus meios de expres- são, qual seja o que torna possível sua conquista mediante uma disci- plina e um método, quem tentar caprichosamente atraí-la para si, uti- lizando procedimentos que ela mesma não prescreva, correrá o risco de extraviar-se na miragem que distorce as imagens, fazendo aparecer coi- sas que, ao se aproximarem, não existem.

CONCEPÇÃO LOGOSÓFICA

DAS PALAVRAS