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Geralmente de boa-fé – e dizemos assim para excluir de vez os que o fazem com ostentação de sapiência e de intenções não muito boas –, tem-se entendido erroneamente, e até desfigurado, o justo sentido que a Logosofia deu à expressão campo experimental, cujo conceito, para os efeitos de sua aplicação prática, deve ser único e incontestável.

Muitos acreditaram que, ao se fazer referência ao campo experi- mental e às experiências que correspondem às exigências de um ver- dadeiro processo de evolução consciente, tais expressões diziam res- peito a coisas fenomênicas ou práticas de outro gênero, das quais tanto abusaram os fanáticos do espiritismo e os falsários do chama- do ocultismo. Nas mãos de gente sem escrúpulo, ignorante e preten- siosa, o fenomenismo se deforma, desnaturaliza e converte em viga- rice; nas mãos da ciência oficial, assume outro caráter e é estudado sob o rigoroso controle do procedimento lógico, para que não esca- pe à realidade que se queira investigar.

No campo experimental da Logosofia, eminentemente científico, não cabem as preocupações de ordem fenomênica aludidas; mais ainda, proíbe-se terminantemente ao discipulado, e a todos os que cultivam o ensinamento logosófico, alimentar o menor pensamento a respeito. Isto não quer dizer que os chamados fenômenos da natureza, como os biológicos, os psicológicos, etc., não tenham para o investigador-logó- sofo especial importância, com o objetivo de determinar logosofica- mente suas causas e o que haja de mérito para os fins da investigação. A Logosofia chama de campo experimental a própria vida e todo ambiente que cada um freqüente, já que não se deve desprezar ne- nhuma oportunidade para a própria observação e investigação. Tudo

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quanto existe e toma contato com a consciência tem que constituir motivo de estudo, sereno e discreto. As conclusões a que se chega por esse meio servem, depois, de base para outras observações mais im- portantes. Os conhecimentos são cultivados mediante a aplicação do entendimento, com intervenção direta da razão, nos processos de compreensão e assimilação do fruto mental que se quer incorporar ao acervo pessoal, mas, para isso, para que tal prática possa realizar-se como objetivo superior e sem os inconvenientes da inexperiência, a Logosofia institui, precisamente, como base inamovível de seus fun- damentos e princípios, a experiência pessoal, a fim de que se verifi- que na consciência a conclusão final: o conhecimento.

Esta ciência convida cada ser humano a realizar um estudo pleno de sua psicologia, mas entenda-se bem que dissemos um estudo pleno: caráter, tendências, pensamentos, qualidades e tudo quanto direta ou indiretamen- te entra no jogo de suas faculdades e contempla os estados de seu espírito. A experiência no campo pessoal começa no momento em que é cele- brado o primeiro encontro com a própria realidade. Geralmente se é muito generoso na auto-avaliação, a ponto de não ser difícil observar, no rosto daqueles que se excederam nessa avaliação, um assombro diante do pobre conceito que os demais costumam ter de sua pessoa.

A preparação logosófica sobre o conhecimento do mundo mental é imprescindível para os fins do aperfeiçoamento humano. Porém, não se creia que esse mundo mental a que fazemos referência seja uma abs- tração ou algo que corresponda ao terreno da metafísica. Nada disso; muito pelo contrário, está tão perto de nós e tão a nosso alcance, que atuamos e participamos de todo movimento inteligente que se promo- ve dentro dele. É o mundo das idéias, dos pensamentos, da razão, da inteligência e do juízo. Dele não pode estar excluída nem a alma que vive nem a vida que palpita em cada célula da Criação.

Quando o homem aprende a conhecer seus pensamentos, experimenta de imediato os primeiros sintomas do desenvolvimento psíquico, em fun- ção de estarem suas faculdades sob o domínio da consciência. E dizemos sob o domínio da consciência por ser tão-somente nesse instante que co- meça a ser verdadeiramente consciente do que é sua vida, ao individualizar

os pensamentos que exerceram maior influência no curso de sua exis- tência e examinar detidamente cada um deles, descobrindo com claro discernimento a participação que em particular eles tiveram nos acon- tecimentos e episódios, gratos ou ingratos, que lhe tocou viver. É ali que se comprova, pela primeira vez, que existe uma realidade à qual se havia permanecido alheio e se experimentam, por natural reação, os benefícios desse conhecimento.

Efetua-se, então, um rigoroso e sereno estudo dos pensamentos, clas- sificando uns entre os bons e úteis, e outros entre os maus e inúteis. Busca-se a colaboração dos que haverão de servir com maior eficácia, enquanto são eliminados os que podem prejudicar a própria conduta ou entorpecer o livre desenvolvimento das faculdades no esforço de superação, e se organiza a vida sobre bases diferentes, mais sólidas e mais bem dispostas.

É curioso observar a série de experiências que o ser vive, ao se dar conta de que foi durante muito tempo, pode-se dizer, joguete de seus pensamentos ou, melhor ainda, dos pensamentos que governavam sua mente e exerciam, como dissemos, uma influência decisiva sobre seu caráter. Não é que se queira ou se pretenda diminuir os valores da in- teligência, concebendo o homem como simples instrumento de entida- des mentais que influenciam sua vontade com prescindência absoluta de sua razão. Nada disso ocorre, declaramos, a quem possui domínio e autoridade sobre seus pensamentos. As pessoas de vasta cultura e ilus- tração sempre costumam ter um bom séquito de pensamentos e idéias a seu serviço, e geralmente usam seu próprio critério, sem deixar de es- cutar o conselho alheio como elemento de juízo muito estimável para os fins de seu comportamento pessoal.

O campo experimental para as investigações dessa índole é ilimitado. É tal a riqueza de elementos que afloram ao entendimento adestrado na disciplina logosófica, que é preciso ser cego para não vê-los. Entre- tanto, é indispensável vê-los e aproveitá-los numa constante seleção dos mesmos, a fim de entesourá-los no acervo íntimo e dispor deles a serviço da própria obra, aquela que representa a particular realização das aspirações do homem.

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Ainda não foi incorporado às investigações da ciência oficial esse gê- nero de experimentação a que nos referimos. Embora admitamos que a experimentação biológica, assim como a que concerne à psicologia comum, deva ser feita em corpos alheios, efetuando a primeira seus en- saios em animais, continuando-os depois nos enfermos que em grande quantidade freqüentam os hospitais, não acontece o mesmo, afirma- mos categoricamente, no campo fecundo da experiência interna, que responde, repetimos, às exigências de um verdadeiro processo de evo- lução consciente.

Neste caso, tem a palavra a inteligência do ato que promove a inter- venção direta da razão, para julgar a verdade que se experimenta pelo valor do conhecimento que a experiência representa, na qual o inves- tigador deve constituir-se em experimentador voluntário. Também na observação da experiência alheia podem ser colhidos abundantes co- nhecimentos de indiscutível mérito, pois tudo deve contribuir para um mesmo objetivo: que o homem se abasteça de conhecimentos para fa- zer possível e tornar realidade a transformação anelada, convertendo- se num dos mais puros intérpretes do grande pensamento que anima a razão de ser da existência universal.