• Nenhum resultado encontrado

A simpatia

%

Entre os múltiplos aspectos que configuram a psicologia do ser hu- mano, destaca-se com singular relevo o que diz respeito à sua maneira de ser; e dizemos à sua maneira de ser, porque, no relacionamento com os semelhantes, isso tem uma importância capital. Assim, por exem- plo, vemos que quando uma pessoa é culta, afável e compreensiva ins- pira simpatia por todas as partes; ao contrário, quando é tosca, intole- rante, irrefletida, impaciente ou áspera, produz no ânimo dos demais certa prevenção, que de imediato se torna antipatia.

A simpatia se conquista pela naturalidade no trato, pela agilidade e pela graça que se exterioriza, bem como pela boa disposição para tornar agradável o momento de sociabilidade. Quando isto ocorre, todos os que se vinculam àquele que é dotado de tal condição se sentem animados, cômodos e sensíveis a uma franca amizade. O pessimista, sem ir mais longe no exemplo, faz fugir de seu lado todos aqueles com quem trata, pois tudo para ele é fracasso e negação; vive amargurado e parece até sen- tir prazer em transmitir seu lamentável estado de ânimo aos demais.

Muitos pensam e costumam manifestar, ao perceberem que sua fisio- nomia desperta antipatia naqueles que com ele convivem, que Deus o fez assim. Isto, em realidade, não está certo, pois não é preciso muito para transformá-la e fazê-la atraente e simpática. Basta apenas iluminá- la com pensamentos de otimismo e com uma apreciável dose de boa vontade no exercício diário de suas exteriorizações. Acaso não se têm visto, muitas vezes, seres feios por natureza que, ao exaltarem suas qualidades a um grau máximo, chegaram até a inspirar profunda sim- patia, embelezando sua fisionomia com a graça de suas finas manifes-

188

tações e fazendo-se agradáveis por sua conversação amena e interes- sante? Por outro lado, temos visto seres de belos rostos se tornarem an- tipáticos, mal iniciamos com eles uma convivência, por estar ausente neles aquele dom da atração pessoal próprio das inteligências cultiva- das e das pessoas de boas maneiras.

Na vida corrente, os ambientes se formam por afinidade de idéias, de interesses, e pela semelhança das modalidades, mas acima de tudo pela atração simpática de uns e outros, que torna agradável o círculo social. Esta é uma verdade que, embora muitos permaneçam alheios a ela, não deixa de influir com bastante força na vida dos seres.

Seria o caso, portanto, de aconselhar aqui que cada um, ao se levan- tar pela manhã, tendo presente a importância de que se reveste esta realidade, adquirisse o costume de exercitar seu temperamento em di- versos movimentos tendentes a manifestar uma modalidade agradável aos semelhantes com quem haverá de conviver; desta forma, consegui- rá polir as asperezas, os atos intempestivos e os gestos chocantes, que sempre produzem reações adversas no próximo. Com isto, cada ser preparará sua conduta diária com verdadeiras vantagens para sua tran- qüilidade e felicidade.

A simpatia é algo que convém a todos cultivar; por seu intermédio, é costume que se chegue, na maioria das vezes, aonde não é possível chegar com qualquer forma de expressão que atente contra a cordiali- dade humana.

A LEALDADE

%

Entre as múltiplas e variadas condições que configuram a psicologia humana, achamos a que se define pela palavra lealdade. Aprofundar esta palavra, buscando em seu conteúdo os elementos com que sua raiz se nutre, é penetrar no profundo sentido e alcance da lei que rege a vida e a força dela.

As palavras são como as pedras preciosas: nas mãos das crianças, são simplesmente pedras vistosas, ou apenas pedras; nas mãos dos mais ve- lhos, têm elas um valor, são apreciadas, e até se anela possuí-las pelo que brilham e pelo que valem; nas mãos dos especialistas, adquirem valor ainda maior: eles as examinam e sabem de imediato quantos qui- lates têm e seu grau de pureza.

Como as pedras preciosas, as palavras possuem também seus quila- tes e seu grau de pureza. Na palavra lealdade, os quilates podem ser calculados proporcionalmente à confiança que consegue inspirar quando encarna no homem que faz dela um culto; sua pureza se mos- tra na bondade das intenções daquele em cuja vida ela se manifesta sem ser desvirtuada.

Tudo quanto se pode apreciar no homem em seu grau mais legíti- mo está encerrado nesta palavra. Pode-se dizer que ela é, em sínte- se, a expressão de todo o verdadeiro e sadio que existe na natureza moral e psicológica.

Sem lealdade não é possível conceber a amizade entre as pessoas, nem tampouco tornar viável uma convivência de caráter perma- nente e sincero.

Os sentimentos humanos existem como manifestação do sensível e puro que se aninha no íntimo de cada um. Ser leal aos próprios sentimentos é ser fiel à própria consciência. Quando se desvirtua o caráter daqueles, esta se desnaturaliza. Diríamos mais: se é certo que

190

pode morrer algo daquilo que forma o conjunto das condições hu- manas, a lealdade deveria ser a última a desaparecer como qualida- de que pertence ao ser.

Pode-se afirmar, sem que seja por demais ousado, que uma das cau- sas primordiais dos múltiplos infortúnios humanos foi sempre a falta de lealdade no trato mútuo. O engano e a falsidade são duas tendên- cias destrutivas que, em todos os tempos, atentaram contra as boas dis- posições do ser.

Naturalmente, para alcançar a posição de integridade que a lealdade exige, é necessário chegar a possuir uma grande confiança em si mes- mo. Porém, enquanto isso não possa ser alcançado em toda a sua ex- tensão, será de grande benefício recordar constantemente o grau de im- portância de que se reveste a lealdade no conceito geral, pois é o que mais se estima e o que pesa no juízo de todos.

A lealdade se caracteriza, em primeiro lugar, pela consciência do de- ver. É profissão de fé consciente que o ser faz ao sentimento que, nas- cido de uma amizade ou de um afeto sincero e puro, converte-se em parte de si mesmo. E, sendo assim, não poderia esse sentimento ser menosprezado sem ferir profundamente a própria vida.

As grandes almas sempre compreenderam isso; por tal motivo, foram leais a seus princípios, a suas convicções e a seus profundos afetos.

Onde a lealdade existe, reina a harmonia, a união e a ordem; o con- trário de tudo isso sucede ali onde ela deixa de se manifestar.

A própria vida do homem, pode-se afirmar, está também sustentada pelas leis que lhe deram existência. Elas nos mostram, com singular eloqüência, que a lealdade inalterável dos mandatos supremos se refle- te na vida humana como caridade universal, pois quantas vezes se tem visto que, mesmo quando o homem as desconhece, elas foram sempre leais no cumprimento de seus inexoráveis mandatos.