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Movimentos mentais que delineiam interessantes quadros psicológicos

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Cumprindo com o propósito de publicar os estudos que a Logosofia apresenta sobre a psicologia humana em seus diversos aspectos e com- plexidades, vamos dar a conhecer, nesta exposição, uma das tantas ob- servações realizadas no seu vasto campo experimental, e que se acha compreendida entre os numerosos pontos tratados por esta nova ciên- cia do saber, ao enfocar e captar os mais curiosos e variados estados de ânimo que ocorrem no curso da vida do ser.

Para o observador comum, e mesmo para o logósofo não muito experiente, é difícil penetrar e compreender, em seus efetivos al-

cances, todos os movimentos mentais(1) que aparecem configuran-

do um determinado estado de ânimo, dos tantos que caracterizam a psicologia humana. Daí que surpreendam, naturalmente, as mu- danças – em relação à sua conduta anterior – de atitude, de posi- ção e até de inteligência, de um ser qualquer com quem se mante- ve uma estreita amizade.

Pouco menos que inexplicáveis são sempre os desentendimentos que se produzem inesperadamente entre as pessoas animadas por um afeto sincero e pela melhor disposição de cordialidade. É que, além das pa- lavras pronunciadas e das atitudes adotadas sob a sugestão daquilo que possa provocar esses estados de desentendimento, existem certos mo-

(1)A Logosofia chama de movimentos mentais aqueles gestos imperceptíveis que expressam, com

visível eloqüência, o pensamento que se oculta para evitar que o semelhante se inteire do que realmente se pensa e das verdadeiras intenções.

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vimentos mentais que só é capaz de surpreender e interpretar, sem temor a equivocar-se, quem conhece a fundo o complicado sistema mental ou se acha intimamente familiarizado com os conhecimentos básicos a seu respeito. Assim, por exemplo, acontece com duas ou mais pessoas que mantêm a melhor das amizades; uma amizade que bem pode ser tida, no caso que estamos tratando, como originada de vínculos de família, co- munhão de ideais, idêntica vocação, ou de afinidades de índole mental, espiritual ou artística. Por uma ou mais circunstâncias surgidas por mo- tivos alheios à vontade de tais pessoas, uma delas, levemente a princípio e com maior intensidade depois, vai experimentando uma espécie de reação íntima, motivada por um estado de suscetibilidade já aprofunda- do, que se manifesta em imperceptíveis expressões de contrariedade. (Estamos considerando um episódio da vida psicológica humana em que as atitudes do ser em estudo, ainda que pretenda aparentar o contrário, em nada se justificam; muito pelo contrário, afastam-se a uma grande distância do campo franco e sincero da sensatez.)

A partir desse momento, a amizade, antes estreita e cordial, sofre os primeiros agravos pelas restrições afetivas; a cordialidade e a lealdade pouco a pouco são desalojadas, aparecendo em seu lugar a hostilidade, encoberta sob as prerrogativas que a amizade lhe havia concedido. É o rubor do aborrecimento, que o ser cuida muito de manter oculto, para que não incendeie o rosto com as labaredas da ira.

As situações costumam às vezes combinar-se tão extraordinariamente que chegam a tirar, da mente de quem foi colhido pelas malhas sutis da susceti- bilidade, até o menor pensamento de dúvida acerca das conclusões a que foi chegando a respeito de seus amigos, e assim se vai cimentando, mais pro- priamente, uma marcada aversão que o leva à convicção sobre os movimen- tos mentais e as atitudes que manifesta. É que, enquanto tudo isso ocorre sem explicação para eles, na mente do dissidente, como conseqüência das mudanças de atitude a que a princípio nos referimos, vão surgindo inquie- tações e prevenções que, mesmo que cedam ante os protestos de amizade que em certas ocasiões possam mutuamente se fazer, voltam a recrudescer tão logo são suscitadas por qualquer circunstância em que a intervenção de um ou de outro acentue, em aparência, o já delicado estado de coisas.

Há palavras que ocultam determinados movimentos mentais. As brincadeiras são dessa espécie quando nelas não se percebe o anelo puro de uma expansão espiritual, de uma alegria comum a que têm direito tanto quem as faz como quem delas é alvo. Também há mo- vimentos mentais que não aparecem manifestados pela palavra, mas nem por isso deixam de evidenciar a predisposição e o estado daque- le que é surpreendido pela penetração de quem aprofundou o co- nhecimento logosófico a respeito.

É fácil para o ser negar os pensamentos que o animam ou animaram em determinadas circunstâncias, pelo fato de não tê-los manifestado na palavra ou na ação; mas esse não é o caso, pois costuma ocorrer uma infinidade de alternativas que fazem variar as apreciações formuladas pela razão sobre tal ou qual coisa, não impedindo, entretanto, que tais movimentos mentais tenham existido.

Muitos, pela própria ignorância destes conhecimentos, esquecem to- talmente o processo seguido em qualquer fato que por um tempo os te- nha afetado diretamente, e tratam de colocar-se sempre na melhor si- tuação, como se em todo momento tivessem agido cavalheirescamen- te, com justiça e eqüidade.

Os movimentos mentais são, na maioria dos casos, os sintomas ca- racterísticos de uma reação interna que pode ser de aprovação ou de- saprovação, de alegria ou desgosto, de conformidade ou violência, as- sim como os sintomas precursores de uma enfermidade ou os que anunciam seu desaparecimento.

Para o logósofo habituado aos estudos práticos da psicologia huma- na, vem a ser sumamente valioso e interessante observar essas varia- ções sintomáticas do temperamento, reproduzidas com tanta freqüên- cia no curso da vida corrente, pois confirmam de uma maneira inequí- voca o que esta ciência do saber humano ensina a respeito da comple- xidade do sistema mental.

CARACTERES PECULIARES