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CAPÍTULO 2 – SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR

2. A saúde mental dos estudantes

2.5. Respostas das instituições – os serviços de apoio psicológico

2.5.1. Adaptação a novos desafios

Com um agravamento na saúde mental dos estudantes, acompanhado da crescente consciência de que o aconselhamento e psicoterapia podem ajudar, a procura dos serviços de apoio psicológico tem tendência para aumentar. Todavia, verifica-se que os recursos disponíveis são ainda limitados, gerando muitas vezes listas de espera morosas, pelo que deverão ser feitos alguns ajustamentos no funcionamento destes serviços (Archer & Cooper, 1998).

O aconselhamento psicológico tem um papel importante na promoção do desenvolvimento pessoal e da saúde mental, dando aos estudantes uma oportunidade para explorar os problemas que interferem com os estudos, o trabalho, as relações familiares e com os amigos, e apoiando os estudantes com sofrimento psicológico (Pereira, 2006). Assim, a intervenção psicológica deve dar ênfase aos aspectos preventivos e de promoção do desenvolvimento dos jovens, mas não pode descurar a intervenção dirigida àqueles indivíduos identificados como estando em risco particular de vir a desenvolver problemas de saúde (Roswell, 1997; RESAPES, 2002).

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Segundo Gonçalves e Cruz (1988), o apoio psicológico no ensino superior desdobra-se em três tipos de serviços prestados:

1) serviços remediativos - Consistem essencialmente na psicoterapia ou no apoio terapêutico dirigidos a estudantes com problemas significativos de ajustamento e que careçam de atenção profissional imediata. As intervenções devem ser rápidas para evitar situações de ruptura total, como a depressão, o abandono escolar ou o suicídio. Poderão incluir a oferta de unidades de emergência como, por exemplo, as linhas de crise.

2) serviços preventivos – Destiam-se à diminuição da incidência de determinados problemas, através da identificação e do controlo dos factores de risco. Nesse sentido, deverá investir-se na criação de programas para os momentos de transição, como a entrada na universidade ou a transição para o mundo do trabalho, através de: grupos de desenvolvimento pessoal; dinamização de actividades pessoais; constituição de uma rede de aconselhamento de colegas; programas de recepção e acolhimento aos novos alunos; programas de desenvolvimento de competências de procura de emprego; apoio à selecção de locais de estágio e estudos pós-graduados.

3) serviços de desenvolvimento pessoal - Pretendem ir para além da identificação dos factores de risco, orientando a intervenção para a promoção e optimização do desenvolvimento psicológico, de forma a auxiliar os estudantes a alcançarem o seu potencial máximo de desenvolvimento psicológico. A intervenção poderá incluir: programas de desenvolvimento de competências de estudo, de desenvolvimento de relações sociais, de treino de competências cognitivas e comportamentais e aconselhamento de tempos livres.

Os autores salientam ainda a necessidade de realizar actividades de investigação sobre serviços prestados, para aumentar a sua eficácia e também para contribuir para o avanço do conhecimento acerca dos mecanismos envolvidos nos processos de transformação e desenvolvimento humano. A investigação poderá tomar a forma de três tipos de estudos distintos: estudos epidemiológicos; estudos comparativos e de resultados; estudos de processo e de caso.

Também Kadison (2004) sugere alguns aspectos que as instituições deverão ter em conta para responder mais eficazmente aos problemas de saúde mental dos estudantes. Em primeiro lugar, deverão aproveitar as oportunidades que os estudantes lhes proporcionam, ou seja, as alturas em que estão com problemas e procuram ajuda.

81 Para isso, deverão oferecer rápido acesso ao apoio psicológico, evitando as listas de espera, que podem diminuir a probabilidade de comparência destes nos centros de aconselhamento.

Em segundo lugar, deverão apostar na prevenção. Em vez de se focarem apenas naqueles que já apresentam problemas, deverão promover programas de gestão do stress e de bem-estar e organizar workshops sobre reconhecimento de sinais de alarme de problemas mentais. Em terceiro lugar, é importante coordenar os serviços das instituições de ensino a nível interno, por exemplo quando a consulta de psicologia está separada dos demais serviços de saúde, e também coordená-las com outras entidades, como hospitais, ou as famílias dos estudantes.

Em quarto lugar, as instituições deverão envolver sempre os estudantes, através de actividades como o peer counselling, pois os estudantes vêem os seus colegas como mais credíveis e acessíveis. Em quinto lugar, tendo em conta que os estudantes são hoje em dia digital natives e passam muito tempo a navegar na internet, há todo o benefício em disponibilizar recursos na internet, nomeadamente testes sobre problemas de saúde mental comuns e informações acerca de serviços de aconselhamento. Em sexto lugar, seria positivo constituir comités que integrassem elementos das diferentes partes envolvidas neste tema, desde psicólogos a administradores, passando pelos estudantes, para discutir assuntos e preparar iniciativas. Por fim, dever-se-ia estabelecer políticas claras acerca do funcionamento dos serviços de apoio psicológico, esclarecendo aspectos como a confidencialidade, medicação e encaminhamento de casos.

Há autores que defendem a aposta em medidas de despistagem de problemas de saúde mental sérios, que seriam passadas a todos os alunos dentro de uma instituição. Essa medida deveria ser estandardizada, para que fosse possível estabelecer comparações entre diferentes períodos temporais e entre diferentes instituições no que concerne ao estado de saúde mental dos seus estudantes (Sharkin & Coulter, 2005). Esse levantamento permitiria não apenas conhecer mais profundamente a saúde mental dos estudantes como poderia ser ao mesmo tempo uma estratégia preventiva ou remediativa. Com efeito, a partir dos resultados, os serviços de aconselhamento poderiam abordar apenas os alunos que apresentassem resultados mais preocupantes, pedindo-lhes para realizaram mais testes ou entrevistas clínicas que poderiam resultar, se necessário, na prestação de apoio psicológico (Koltko-Rivera, 2007).

Não há dúvidas de que os serviços de apoio psicológico terão que se adaptar às novas necessidades. Embora não seja fácil colocar em prática muitas destas sugestões, nomeadamente por questões económicas, as instituições do ensino superior não deverão

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subestimar o facto de que o investimento na saúde mental dos estudantes é muito vantajoso na em termos de custos/benefícios, tanto para as instituições como para a sociedade em geral (Archer & Cooper, 1998).