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Relação com variáveis sociodemográficas

CAPÍTULO 3 – COMPORTAMENTOS DE RISCO LIGADOS AO ÁLCOOL NOS ESTUDANTES

2. Comportamentos de risco na universidade

2.3. Consumo de álcool

2.3.6. Relação com variáveis sociodemográficas

Os hábitos de consumo de álcool dos estudantes universitários são uma combinação de factores pessoais e ambientais. Entre os factores pessoais relevantes, podem incluir-se influências familiares, personalidade, expectativas acerca dos efeitos do álcool e susceptibilidade biológica ou genética ao abuso de álcool (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism [NIAAA], 2002; Sher, Grekin, & Williams, 2005). De seguida, analisa-se o consumo de álcool consoante algumas variáveis sociodemográficas (género, idade, ano de curso, área de curso, situação de residência e estatuto socioeconómico), o que poderá auxiliar a identificação de grupos de risco.

Género

Os padrões de consumo de álcool nos estudantes universitários parecem variar de acordo com o género do mesmo modo que na população geral (O’Malley & Johnston, 2002). Os jovens adultos do sexo masculino reportam maior consumo de álcool que as mulheres e isso é particularmente visível nos estudantes universitários (Engs & Hansen, 1990). Estas diferenças são notórias ao nível do número de abstémios, da frequência de consumo, dos episódios de consumo excessivo, problemas relacionados com o álcool, beber para ficar embriagado e beber para lidar com as situações (estratégia de coping) (Harrel & Karim, 2008). Estes resultados têm-se verificado um pouco por todo o mundo, desde os Estados Unidos da América, a diversos países da Europa (Wicki, Kuntsche, & Gmel, 2010), incluindo Portugal (Fernandes-Machado, Araújo-Soares, Sniehotta, & Soares, 2009; Ferreira, Pereira, & Albuquerque, 2008; Galhardo & Marques, 2004).

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Idade

Num estudo que analisou o consumo de álcool em alunos do 1º ano, dos 18 até mais de 30 anos, concluiu-se que, nos homens, eram os estudantes dos 24-25 anos que apresentavam maiores pontuações totais no AUDIT, bem como nos domínios de dependência e uso nocivo. O consumo teve o seu máximo na categoria 22-23 anos. Nas mulheres, tanto o total como as várias dimensões do AUDIT atingiram pontuações mais elevadas aos 20-21 anos (Andersson, Johnsson, Berglund, & Öjehagen, 2007). Noutro estudo que analisou o binge drinking nos anos de 1993, 1997 e 1999 e 2001, verificou-se que, ao longo do tempo, foi sempre na faixa etária dos 21-23 anos que a prevalência deste tipo de consumo foi mais elevada, por comparação com os alunos com menos de 21 anos e com 24 ou mais anos (Wechsler et al., 2002). Com base nestes dados, o maior consumo e o binge drinking parecem ocorrer entre os 21 e os 25 anos, embora possa haver nuances se os géneros forem considerados separadamente.

Ano

Até ao momento, são escassos os estudos que abordam o consumo de álcool ao longo do curso numa perspectiva longitudinal. Numa investigação que comparou estudantes de medicina com estudantes de medicina dentária, apenas os primeiros apresentaram mudanças na média do consumo de álcool, tendo aumentado do 2º para o 3º ano (Newbury-Birch, Lowry, & Kamali, 2002). Noutro estudo mais recente com alunos de diferentes áreas de curso, os resultados indicaram um decréscimo significativo no número de bebidas consumidas por semana, ao longo dos três anos de curso (Bewick et al., 2008). Num estudo com estudantes Brasileiros, não houve diferenças entre o 1º e 4º ano de curso, nem entre diferentes áreas de estudo, no que diz respeito aos episódios de ingestão excessiva (Amaral, Lourenço, & Ronzani, 2006). Concluindo, os dados acerca da evolução do consumo de álcool ao longo do curso são contraditórios.

Área de curso

Num estudo realizado com alunos de várias instituições portuguesas, incluindo a Universidade de Aveiro, constatou-se que os estudantes que apresentavam maior consumo de álcool eram, por ordem decrescente: os alunos de Engenharias, Humanidades e Ciências Sociais e por fim Saúde (Ferreira, 2008; Ferreira et al., 2008). Noutro estudo, concluiu-se que, no sexo masculino, eram os estudantes do curso de Engenharia Mecânica e de Enfermagem que mais consumiam álcool e, no sexo feminino, eram as estudantes de Enfermagem e de Educação de Infância as maiores

115 consumidoras (Cabral, 2007). Num estudo que comparou estudantes de Engenharia com estudantes de Pedagogia, no Brasil, verificou-se que, nos primeiros, a percentagem de indivíduos que consumia álcool semanalmente era muito maior do que no segundo (63.16% versus 19.56%). (Bevilaqua, Braga, Leonel, & Bem, 2006). Estes dados sugerem que são os estudantes de Engenharias aqueles que apresentam maior consumo, o que poderá ser explicado pela elevada percentagem de estudantes do sexo masculino nesta área.

Situação de residência

Os estudantes deslocados parecem ter maior probabilidade de consumir e de consumir excessivamente álcool, do que os pares que vivem na sua residência habitual, com os pais. Estes resultados foram verificados em vários estudos, mesmo depois de controlar outras variáveis como a idade, género ou raça (Ferreira et al., 2008; Gfroerer, Greenblatt, & Wright, 1997). A título exemplificativo, num estudo que analisou 21 países, incluindo Portugal, a probabilidade de ser ter episódios de ingestão excessiva foi 1.63 maior nos deslocados do que naqueles que se mantiveram na sua residência habitual (Dantzer et al., 2006).

Estatuto socioeconómico

O estatuto socioeconómico das famílias, avaliado subjectivamente, tem-se correlacionado com o consumo de álcool, sendo que os estudantes de estatuto mais elevado têm maior probabilidade de apresentar consumo mais elevado e ingestão excessiva de álcool (Guallar-Castillón et al., 2001; Oksus & Malham, 2005; Wicki, Kuntsche, & Gmel, 2010). Num estudo realizado com estudantes de Instituições do ensino superior de Aveiro, Coimbra e Leiria verificou-se que, no sexo feminino, quanto maior era o nível socioeconómico maiores eram as médias do AUDIT, ou seja, maiores as probabilidades de surgirem problemas por consumo de álcool (Agante et al., 2010).

Os dados aqui reunidos sugerem que são os homens, os estudantes deslocados, de Engenharia e os de estatuto socioeconómico elevado que estão em maior risco de consumir, e em quantidades mais elevadas, álcool.

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