• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – O ESTUDANTE DO ENSINO SUPERIOR

1. Perspectiva desenvolvimental

1.2. Modelos do Impacto

Os modelos do impacto chamam a atenção para a interacção das características dos estudantes com as características ambientais, num contexto organizacional, procurando avaliar de que modo os contextos do ensino superior afectam a qualidade do desenvolvimento experienciado pelos estudantes. As estruturas institucionais, as políticas educativas, os currículos e programas, os serviços, e também as atitudes, os valores e os comportamentos das pessoas que ocupam os ambientes institucionais, são percepcionados como fontes potenciais de influência nas mudanças cognitivas e afectivas dos estudantes (Ferreira & Ferreira, 2005).

1.2.1. Modelo do Envolvimento de Astin

Astin (1977, 1993) investigou a importância do envolvimento do estudante no ambiente do ensino superior e a forma como as ligações entre estudante e instituição o afectam. A teoria do envolvimento de Astin (1984) preocupa-se essencialmente com os factores que facilitam o desenvolvimento, incluindo o desenvolvimento da identidade. O envolvimento é definido como a quantidade de energia física e psicológica que o estudante dedica à experiência académica. Por conseguinte, um estudante altamente envolvido será aquele que dedica energia considerável a estudar, passa muito tempo no campus, participa activamente em organizações de estudantes e interage frequentemente com membros da instituição de ensino bem como com outros colegas. Esta teoria tem cinco postulados: 1) o envolvimento refere-se ao investimento de energia física e psicológica em vários objectos; 2) independentemente do objecto, o envolvimento ocorre num contínuo, ou seja, diferentes estudantes podem manifestar graus diferentes de envolvimento face a um objecto e o mesmo estudante pode apresentar diferentes graus de envolvimento face a diferentes objectos; 3) o envolvimento tem componentes quantitativas e qualitativas; 4) a quantidade de aprendizagem e desenvolvimento pessoal associada a qualquer programa educacional é directamente proporcional à qualidade e quantidade do envolvimento do estudante nesse programa; 5) a eficácia de qualquer prática ou política educacional relaciona-se directamente com a sua capacidade de aumentar o envolvimento do estudante.

Enquanto outras teorias se ocupam primeiramente com os resultados desenvolvimentais, ou seja, aquilo que o estudante desenvolve, a teoria do envolvimento do estudante preocupa-se mais com os mecanismos ou processos comportamentais que facilitam o desenvolvimento do estudante, ou seja, como é que o desenvolvimento ocorre.

22

1.2.2. Modelo do Abandono Académico de Tinto

O modelo de Tinto tenta explicar o abandono académico, encarando-o como um processo longitudinal que envolve uma série de interacções sociopsicológicas complexas entre o estudante e o ambiente institucional. De acordo com Tinto (1975, 1987) existiam cinco factores específicos que contribuíam para a permanência do estudante: 1) atributos do estudante pré-entrada no ensino superior (passado académico e família); 2) objectivos e compromisso (aspirações individuais do estudante na instituição); 3) experiência na instituição (interacções com docentes, funcionários e pares); 4) compromissos externos na instituição; 5) integração quer a nível académico como social. Note-se que este conceito de integração utilizado por Tinto tem algumas semelhanças com o conceito de envolvimento de Astin.

Mais tarde, Tinto (1993) reviu o seu modelo, incluindo um sexto factor que pode ter influência no abandono dos estudantes: falha em negociar os ritos de passagem. Segundo o autor, os estudantes permaneceriam na instituição se fossem capazes de se separar da sua família e dos amigos do ensino secundário e de se empenharem em processos com os quais se identificassem e assimilassem os valores dos outros estudantes e da instituição de ensino, comprometendo-se a si próprios a perseguir esses valores e comportamentos.

Para além disso, tomou também consciência de que o seu modelo estava muito focado nos alunos do primeiro ano e que poderia precisar de adaptações para incluir alunos de outros anos. Concluiu, assim, que a permanência a longo termo, para além do primeiro ano, devia concentrar-se em três aspectos: dificuldades académicas, incapacidade de os indivíduos resolverem os seus objectivos educacionais e ocupacionais, e inaptidão em tornar-se ou permanecer incorporado na vida intelectual e social da instituição.

Segundo Terenzini e Pascarella (1980), que efectuaram vários estudos para avaliar a validade de construto do modelo de Tinto, este modelo fornece uma moldura conceptualmente útil para analisar o fenómeno do abandono académico, quer para os investigadores que pretendam desenvolver estudos futuros, quer para os administradores, que a partir dele podem accionar mecanismos para o combate ao abandono.

23

1.2.3. Modelo Institucional de Pascarella

Pascarella reconheceu que a organização estrutural da instituição e o ambiente institucional também desempenham um papel no modelamento da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Ele integrou o conceito de envolvimento de Astin na sua variável “qualidade do esforço do estudante”. No seu modelo, o crescimento é definido como uma função do efeito directo e indirecto de cinco categorias de variáveis: 1) o passado do estudante ou traços pré-universidade; 2) a organização e estrutura da instituição; 3) ambientes institucionais; 4) interacções com agentes de socialização; 5) qualidade do esforço do estudante (Pascarella & Terenzini, 2005). As características prévias do estudante e a estrutura e organização da instituição interagem para produzir os ambientes institucionais e estas três variáveis interagem para influenciar, por sua vez, as interacções do estudante com os agentes de socialização. A qualidade do esforço é influenciada pelas características do estudante, ambiente institucional e interacção com os agentes de socialização. Este modelo usa o primeiro e segundo conjunto de variáveis como independentes, o terceiro, quarto e quinto como variáveis de processo e a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo como o resultado.

Em suma, os modelos desenvolvimentais possibilitam uma compreensão mais profunda das mudanças, a nível psicológico, social, cognitivo, em estruturas fundamentais e hierárquicas dos estudantes ao longo do seu percurso universitário, enquanto os modelos do impacto procuram identificar fontes dessas mudanças, sejam desenvolvimentais ou não, sobre as quais as instituições têm algum controlo (Terenzini, 1987). Quer seja implícita ou explicitamente, o propósito destes modelos é guiar a investigação no sentido de possibilitar aplicações a nível administrativo, para tornar o processo educativo mais eficaz.