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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA

4. Amostra

Em investigação denomina-se população ao conjunto de todos os elementos que constituem um dado grupo que se pretende estudar. Uma vez que as populações, em psicologia, tendem a ser muito grandes, o que impossibilita o estudo de todos os elementos, é prática habitual recorrer-se a amostras, ou seja, a grupos de elementos que são retirados da população de interesse e que se espera que partilhem das mesmas características (Coolican, 2004). A selecção da amostra pode ser feita por vários processos, podendo orientar-se por princípios probabilísticos ou não probabilísticos.

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Embora as amostragens probabilísticas sejam mais desejáveis, pois todos os elementos da população têm uma probabilidade conhecida de integrar a amostra, a amostragem não probabilística parece ser o processo mais utilizado em Psicologia (Gravetter & Forzano, 2009).

4.1. Plano de amostragem

No caso do presente estudo, a população seria composta por todos os estudantes de formação inicial (licenciatura) do ensino superior em Portugal. Uma vez que não era exequível passar os instrumentos a todos eles, seleccionou-se uma amostra da Universidade de Aveiro, não probabilística, mais concretamente, uma amostra por conveniência. Este tipo de amostragem consiste na selecção de unidades da amostra que são acessíveis ao investigador (Lewis-Beck, Bryman, & Liao, 2004).

O processo de recolha da amostra coincidiu com uma fase de transição dos planos de estudo pré-Bolonha para os planos de Bolonha, o que implicou alterações significativas nos currículos e na estrutura dos vários ciclos de ensino. Enquanto nos planos pré-Bolonha as licenciaturas tinham habitualmente a duração de 4 ou 5 anos, segundo Bolonha, depois do 3º ano os alunos já se encontram muitas vezes no 2º ciclo, ou seja, em mestrado. Esse 2º ciclo acarreta aspectos diferentes do 1º ciclo, quer a nível de características académicas da sua formação, quer a nível de mobilidade, pois os alunos podem optar por frequentar o 2º ciclo numa instituição diferente daquela onde realizaram a sua formação inicial. Assim, frequentar o 4º ano de um plano pré-Bolonha é diferente de frequentar o 1º ano do 2º ciclo de Bolonha.

Consequentemente, em busca de maior homogeneidade, optou-se por excluir os alunos do 2º ciclo de Bolonha, bem como os alunos do 4º e 5º ano de licenciaturas de planos pré-Bolonha, cingindo a amostra a alunos do 1º ao 3º ano, independentemente de frequentarem um plano de estudos pré ou Bolonha. Ainda assim, acredita-se que a amostra permitirá abarcar uma grande diversidade de experiências, possibilitando a análise e comparação de alunos em plena fase de transição e adaptação à universidade (do 1º ano), com alunos do 2º ano, que se encontram em plena vida universitária e alunos do 3º que estarão à porta de uma transição para um nível de estudos mais avançado.

Apostou-se na diversidade em termos de cursos, à semelhança da população da Universidade de Aveiro, integrando na investigação estudantes de variadas áreas do

141 ensino, tanto universitário como politécnico, desta universidade. Para além disso, pretendia-se também alcançar um leque diversificado de idades e de anos frequentados. Os critérios que conduziram a selecção da amostra foram: a) frequentar o 1º, o 2º ou o 3º ano de licenciatura pré-Bolonha ou de formação inicial de Bolonha na Universidade de Aveiro; b) desejo de participar voluntariamente na investigação.

4.2. Recolha e refinamento

Foram recolhidos dados de 767 sujeitos no total, mas nem todos estes sujeitos foram analisados. Com efeito, foram considerados inválidos 101 pelos seguintes motivos: 49 não correspondiam a alunos do 1º, 2º ou 3º ano (embora os dados tenham sido recolhidos em aulas daqueles anos, havia alunos com disciplinas em atraso que também preencheram questionários); 9 não identificaram o ano que frequentavam; 43 apresentavam um ou mais itens por preencher nos questionários.

4.3. Caracterização

A amostra ficou constituída por 666 alunos da Universidade de Aveiro, dos quais 306 (45.9%) são do sexo masculino e 360 (54.1%) do sexo feminino. As idades variaram entre os 18 e os 48 anos, situando-se a média em 20.34 anos (DP=2.80). Como se pode verificar na Tabela 5, a maioria dos alunos frequentava o ensino universitário (75.8%) e apenas 24.2% dos alunos frequentavam as escolas politécnicas, neste caso a Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA). Os alunos distribuíram-se por 4 grandes áreas de estudos: as Engenharias (40.2%), a Saúde (24.2%), as Ciências Sociais e Humanas (22.8%) e as Ciências e Tecnologias (12.8%).

Mais de metade dos estudantes são deslocados, ou seja, saíram de casa para frequentar o ensino superior (59.2%). No que concerne ao estado civil, a esmagadora maioria dos alunos é solteira (97.4%), sendo 1.1% casada e os restantes 1.5% em união de facto, separados, divorciados ou com outro estado civil. Quanto ao estatuto, 95% afirmaram serem estudantes ordinários, enquanto apenas 5% afirmaram ser trabalhadores-estudantes. Quando questionados sobre a frequência, naquele momento, de algum tipo de apoio psicológico, fosse ele aconselhamento ou psicoterapia, apenas

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2.3% responderam afirmativamente, contra 97.4% que responderam negativamente e 0.3% que não forneceram este dado.

Tabela 5 Características sociodemográficas e académicas da amostra

Sexo Total Masculino Feminino n= 306 (45.9%) n= 360 (54.1%) n= 666 N (%) N (%) N (%) Idade 18-25 294 (96.4%) 341 (95%) 635 (95.6%) >25 11 (3.6%) 18 (5%) 29 (4.4%) Ano 1º 83 (27.1%) 174 (48.3%) 257 (38.6%) 2º 155 (50.7%) 103 (28.6%) 258 38.7%) 3º 68 (22.2%) 83 (23.1%) 151 (22.7%) Tipo de ensino Universitário 275 (89%) 230 (63.9%) 505 (75.8%) Politécnico 31 (10.1%) 130 (36.1%) 161 (242%) Área de estudo Engenharias 236 (77.1%) 32 (8.9%) 268 (40.2%) Ciências e Tecnologias 33 (10.8%) 52 (14.1%) 85 (12.8%) C. Sociais e Humanas 6 (2%) 146 (40.6%) 152 (22.8%) Saúde 31 (10.1%) 130 (36.1%) 161 (24.2%) Situação de residência Deslocado 191 (62.8%) 201 (56.1%) 392 (59.2%) Não deslocado 113 (37.2%) 157 (43.9%) 270 (40.8%) Estatuto de Estudante Ordinário 285 (94.7%) 339 (95.2%) 624 (95%) Trabalhador-estudante 16 (5.3%) 17 (4.8%) 33 (5%) Estatuto Socioeconómico Baixo 60 (20.7%) 104 (29.8%) 164 (25.7%) Médio 119 (41.0%) 159 (45.6%) 278 (43.5%) Elevado 111 (38.3%) 86 (24.6%) 197 (30.8%) Estado Civil Solteiro 295 (96.4%) 354 (98.3%) 649 (97.4%) Casado 5 (1.6%) 2 (0.6%) 7 (1.1%) União de facto 1 (0.3%) 3 (0.8%) 4 (0.6%) Divorciado ou separado Outro 1 4 (0.3%) (1.3%) 1 0 (0.3%) (0%) 2 4 (0.3%) (0.6%) Nota: As percentagens apresentadas são as percentagens válidas.

143 É preciso ter em conta dois aspectos nas amostras utilizadas nas investigações: 1) a sua significância, que diz respeito ao seu tamanho; 2) a representatividade, que tem a ver com a sua qualidade, ou seja, até que ponto a população se encontra reflectida na amostra, em termos de características.

Como afirmam Almeida e Freire (2007, p. 121) “não é fácil nas Ciências Sociais e Humanas definir quantos sujeitos deve possuir uma amostra para que a mesma seja significativa”. Alguns aspectos que devem ser atendidos são o tamanho da população, os objectivos do estudo, o número de variáveis analisadas e o tipo de análises estatísticas que se pretende efectuar. De um modo geral, recomendam-se valores acima de 300 participantes, havendo autores que consideram que, no âmbito da análise multivariada, amostras com 500 sujeitos são muito boas. A amostra deste estudo, ao ter 666 estudantes, parece satisfazer os critérios de significância.

Em termos de representatividade, houve a preocupação em que a amostra deste estudo preservasse algumas características sociodemográficas da população. Assim, por exemplo, apostou-se na diversidade de cursos, estando representados vários departamentos e escolas diferentes da Universidade de Aveiro. Para além disso, no que diz respeito ao género, dados do Eurostudent relativos ao período 2005-2008 apontam para cerca 55.3% de mulheres no ensino superior em Portugal, o que se aproxima muito da percentagem na presente amostra (54.1%). Noutros indicadores, contudo, houve maior desfasamento, como na média de idades para o 1º ciclo, que os dados apontam para 22.3 e neste caso foi 20.3, bem como na percentagem de solteiros, que foi maior na presente amostra (97%) do que os dados indicam para a população (93%) (Eurostudent, 2008). Estas diferenças poderão ter a ver com o facto de a amostra ter sido recolhida em sala de aula, pelo que alguns estudantes nomeadamente os trabalhadores-estudantes que frequentem menos as aulas, poderão estar sub-representados.