• Nenhum resultado encontrado

A admissibilidade da extensão da eficácia subjectiva dos acordos colectivos de trabalho De tudo o que foi dito, resultam alguns argumentos no sentido de que a ruptura com o

O ÂMBITO PESSOAL DE APLICAÇÃO DOS ACORDOS COLECTIVOS DE TRABALHO EM FUNÇÕES PÚBLICAS: A SUPERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FILIAÇÃO

5. A admissibilidade da extensão da eficácia subjectiva dos acordos colectivos de trabalho De tudo o que foi dito, resultam alguns argumentos no sentido de que a ruptura com o

princípio da filiação constitui um obstáculo à autonomia colectiva, enfraquecendo a dimensão colectiva da relação de trabalho e a liberdade sindical. No entanto, ponderando o carácter multifuncional da contratação colectiva e da própria liberdade sindical, pode concluir-se que a consagração na LTFP do mecanismo de extensão do âmbito subjectivo de aplicação dos acordos colectivos de trabalho é não só constitucionalmente admissível como pode

60 Embora se possa questionar se não existe justificação para a desigualdade de tratamento em resultado da opção pela não filiação ou, no caso dos trabalhadores filiados em sindicatos não outorgantes, em resultado da não celebração de ACT.

61 XAVIER, Bernardo Lobo – As fontes específicas…, p. 135. 62 Idem, p. 137.

63 Ibidem, p. 123 (n.r. 45)

64 XAVIER, Bernardo Lobo – As fontes específicas…, p. 138. Numa tentativa de superar este inconveniente, Bernardo Lobo Xavier apresenta uma solução capaz de garantir a uniformização de regras do seio da mesma organização: “tentaremos uma interpretação objectiva, definida por alguns sentidos incontestáveis do CT: 1.º atribuição de força normativa aos usos (o que só é constitucionalmente possível quanto a alguns, dentro do quadro da contratação colectiva); 2.º eficácia normativa geral das CCT’s, o que só é possível pela superação do princípio da filiação, substituído pelo uso. Destes dois sentidos decorre que é possível dar eficácia geral às CCT’s e força normativa aos usos se, relativamente a uma CCT, se estabelecer uma prática geral, pacífica e uniforme de aplicar na empresa (ou mesmo no sector) o clausulado das respectivas CCT’s” (idem, p. 153).

69

DIREITO DAS RELAÇÕES LABORAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.O âmbito pessoal de aplicação dos acordos colectivos de trabalho em funções públicas: a superação do princípio da filiação

consubstanciar um instrumento virtuoso na regulação das relações laborais na Administração Pública.

O primeiro dos argumentos que aponta neste sentido é o de que a Constituição remete para a lei ordinária não só a garantia do exercício do direito à contratação colectiva por parte das associações sindicais (artigo 56.º, n.º 3) e a definição das regras de legitimidade para esse exercício (artigo 56.º, n.º 4, primeira parte), mas também – sendo esta a dimensão particularmente relevante para a questão aqui em análise – a eficácia das normas convencionais (artigo 56.º, n.º 4, segunda parte), incluindo a eficácia subjectiva. Desta forma, a Constituição deixa em aberto, ou pelo menos não contraria expressamente, a possibilidade de extensão do âmbito subjectivo de aplicação dos ACT.

Em segundo lugar, as relações laborais são (ainda) relações assimétricas de poder, que se manifestam em desiguais possibilidades de determinação das cláusulas contratuais e de exigência do seu cumprimento. Por esse motivo, mantém-se a justificação para uma acção do Estado que, mediante legislação laboral, promova a igualdade material entre os sujeitos da relação laboral, protegendo o contraente débil e compensando a assimetria típica dessa relação. Nesse sentido os mecanismos de extensão do âmbito subjectivo dos ACT constituem instrumentos de promoção da igualdade entre trabalhadores filiados e não filiados da mesma carreira ou do mesmo empregador que, além do mais, são condição da desejável uniformização de regras do seio da mesma organização. A extensão de eficácia mediante mera previsão legal, consagrada da LTFP, corresponde ao que Bernardo Lobo Xavier considera ser a indispensabilidade de superação do princípio da filiação de modo a “encontrar os meios jurídicos necessários para considerar de eficácia geral as CCT’s que possuam carácter de regulação organizativa do conjunto”65.

Como terceiro e último aspecto, salienta-se que o mecanismo de extensão da aplicação subjectiva dos ACT consagrado na LTFP está construído de modo a respeitar a autonomia colectiva. Por um lado porque estabelece critérios particulares de representatividade do sindicato outorgante do ACT. Por outro – sendo esta a vertente decisiva – porque, ao consagrar o direito de oposição à extensão, a LTFP respeita plenamente a liberdade sindical, nas suas vertentes positiva e negativa. De facto, nas palavras de Pedro Madeira de Brito, o “direito de oposição é uma decorrência do reconhecimento da liberdade sindical”66, na medida em que respeita e salvaguarda simultaneamente a liberdade de não associação sindical e a liberdade de não ser abrangido pela eficácia do IRCT. É, assim, na possibilidade de oposição por parte do trabalhador não sindicalizado ou do sindicato não outorgante que, em grande medida, assenta a admissibilidade da extensão e a sua conformidade constitucional.

65 XAVIER, Bernardo Lobo – As fontes específicas…, p. 141.

66 BRITO, Pedro Madeira de - A superação do princípio da filiação…, p. 225.

70

DIREITO DAS RELAÇÕES LABORAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.O âmbito pessoal de aplicação dos acordos colectivos de trabalho em funções públicas: a superação do princípio da filiação

Bibliografia

AMADO, João Leal – Tratamento mais favorável e art. 4.º, n.º 1, do Código do Trabalho: o fim de um princípio? in A Reforma do Código do Trabalho, CEJ/IGT, Coimbra: Coimbra Editora, 2004. ISBN 9789723212907. p. 111-121.

BRITO, Pedro Madeira de – O reconhecimento legal do direito à contratação colectiva dos trabalhadores da Administração Pública: da negação à consolidação. Questões Laborais. Coimbra. ISBN 9770872826459. N.º 45 (Jul/Dez. 2014), p. 327-347.

BRITO, Pedro Madeira de – A superação do princípio da filiação na contratação coletiva especial do setor público. Direito e Justiça. Lisboa. ISBN 9789725404607. Vol. especial n.º 3 (2015): Estudos dedicados ao Professor Doutor Bernardo da Gama Lobo Xavier, p. 213-226.

CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital – Constituição da República Portuguesa Anotada. Volume I. 4.ª edição revista. Coimbra: Coimbra Editora, 2007. ISBN 978-972-32-1462-8.

CARVALHO, António Nunes de – Regulamentação de Trabalho por Portarias de Extensão.

Revista de Direito e de Estudos Sociais. Lisboa. ISSN 0870-3965. 2.ª série, n.º 4 (1988), Lisboa:

Editorial Verbo. p. 437-467.

FERNANDES, António Monteiro – Direito do Trabalho. 13.ª edição. Coimbra: Almedina, 2006. ISBN 972-40-2737-6.

FERNANDES, António Monteiro – A convenção colectiva segundo o Código do Trabalho. In FERNANDES, António Monteiro (coord.), Estudos de Direito do Trabalho em Homenagem ao

Prof. Manuel Alonso Olea. Coimbra: Almedina, 2004. ISBN 9789724021621. p. 205-239.

FONSECA, Guilherme – Parecer. Os acordos colectivos de trabalho na administração pública e o princípio da autonomia colectiva. Disponível em:

http://www.smav.pt/documentos/pareceres/251010actpub.pdf [Consult. 30 Dez. 2016].

GOMES, Júlio Manuel Vieira – O Código do Trabalho de 2009 e a Promoção da Desfiliação Sindical. In Novos Estudos de Direito do Trabalho. Coimbra: Coimbra Editora, 2010. ISBN 9789723217889. p. 161-195.

LEITE, Jorge – Código do Trabalho - algumas questões de (in)constitucionalidade. Questões

Laborais. Coimbra. ISSN 0872-8267. Ano X, n.º 22 (2003), p. 245-278.

MEDEIROS, Rui; FONTOURA, João Lamy da – Contratação colectiva e universidades públicas.

Direito e Justiça. Lisboa. ISBN 9789725403884. Vol. especial n.º 2 (2013): Estudos dedicados ao Professor Doutor Nuno Espinosa Gomes da Silva, p. 447-472.

DIREITO DAS RELAÇÕES LABORAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.O âmbito pessoal de aplicação dos acordos colectivos de trabalho em funções públicas: a superação do princípio da filiação

MOURA, José Barros – A convenção colectiva entre as fontes de direito do Trabalho: contributo

para a teoria da convenção colectiva de trabalho no direito português. Coimbra: Almedina,

1984. ISBN 9789724000978.

MOURA, Paulo Veiga; ARRIMAR, Cátia – Comentários à Lei Geral do Trabalho em Funções

Públicas. 1.º Volume. Coimbra: Coimbra Editora, 2014. ISBN 9789723222913.

NEVES, Ana Fernanda – O Direito da Função Pública. In OTERO, Paulo; GONÇALVES, Pedro (coord.) – Tratado de Direito Administrativo Especial. Vol. IV. Coimbra: Almedina, 2010. ISBN 9789724043135. p. 359-556.

PIRES, Miguel Lucas – Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas Anotada e Comentada. 2.ª edição. Coimbra: Almedina, 2016. ISBN 978-972-40-6602-8.

RAMALHO, Maria do Rosário Palma – Direito do Trabalho. Parte I. Dogmática Geral. Coimbra: Almedina, 2005. ISBN 972-40-2530-6.

REIS, João – A caducidade e a uniformização das convenções colectivas, a arbitragem obrigatória e a Constituição. Questões Laborais. Coimbra. ISSN 0872-8267. Ano X, n.º 22 (2003), p. 155-211.

SOUSA, Nuno J. Vasconcelos Albuquerque – A Reforma do Emprego Público em Portugal.

Questões Laborais. Coimbra. ISBN 9770872826459. N.º 45 (Jul/Dez. 2014), p. 213-246.

XAVIER, Bernardo da Gama Lobo – Curso de Direito do Trabalho. Lisboa: Editorial Verbo, 1992. ISBN 972-22-1149-8.

XAVIER, Bernardo Lobo – As fontes específicas de Direito do Trabalho e a superação do princípio da filiação. Revista de Direito e de Estudos Sociais. Lisboa. ISSN 0870-3965. Ano XLVI, XIX, 2.ª série, n.ºs 2-4 (Abr/Dez. 2005), p. 117-153.

DIREITO DAS RELAÇÕES LABORAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4. Fontes de Regulação de Emprego Público

Outline

Documentos relacionados