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Modalidades de Contratos de Prestação de Serviços

Capítulo I – Caraterização e qualificação jurídica do objeto de estudo

O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

3. O Contrato de prestação de serviços 1 Enquadramento Geral

3.3. Modalidades de Contratos de Prestação de Serviços

O contrato de prestação de serviço para o exercício de funções públicas pode revestir as seguintes modalidades:

(i) Contrato de tarefa; e, (ii) Contrato de avença.

Na modalidade de contrato de tarefa, o objecto do contrato consiste na execução de trabalhos específicos, de natureza excepcional, não podendo exceder o termo do prazo contratual inicialmente estabelecido [cfr. art.º 10.º, n.º 2, alínea a), da LGTFP].

A doutrina que defende que o contrato de prestação de serviços não pode ser utilizado para suprir as necessidades próprias e permanentes de entes públicos, afirmam ainda que “O

contrato de tarefa pressupõe que o concreto e específico trabalho que se destina a realizar não se integre no âmbito das actividades que, normal ou transitoriamente, o órgão ou serviço tem de prosseguir para acautelar o interesse público que lhe compete tutelar. Deste modo, por princípio, não será uma necessidade permanente ou transitória que poderá ser satisfeita através de um contrato de tarefa, mas, pelo contrário, deverá ser antes uma necessidade esporádica e excepcional, que foge ao que é normalmente expectável ser realizado por parte de um só e concreto trabalho”16.

Estes autores admitem que a fronteira entre o que é (ou não) um trabalho específico e excepcional apresenta uma natureza ténue e é de difícil precisão, assumindo que só casuisticamente se poderá e deverá aferir se o recurso à modalidade de prestação de serviço de tarefa é lícito ou ilícito. Também admitem que a satisfação de necessidades próprias, de natureza permanente ou transitória, dos serviços não inviabiliza obrigatoriamente o recurso à celebração de um contrato de tarefa. E admitem-no mesmo que no serviço haja pessoal com vínculo de emprego público com competência habilitacional para executar tal trabalho.

15 Idem, op. cit., pág. 125. 16 Ibidem, op. cit., pág. 118.

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Afirmam-no sob a condição de que se cumpra a obrigação de justificar as vantagens do recurso ao trabalho autónomo ou as desvantagens do trabalho subordinado, para a execução daquele concreto e específico trabalho.

Concluem estes autores que “diremos que o objecto por excelência do contrato de tarefa é a

satisfação de necessidades excepcionais e não previsíveis dos serviços, que não se integram no âmbito das atribuições que normalmente lhes compete prosseguir, pelo que sempre que tal suceda será admissível e deverá presumir-se lícita a celebração de tal contrato, excepto se se comprovar que a execução do trabalho em causa envolveu subordinação jurídica. Porém, nas situações em que em causa esteja a satisfação de necessidades decorrentes de atribuições que o serviço não pode deixar de prosseguir, isto é, quando o concreto e específico trabalho se destine à satisfação de necessidades próprias dos serviços, o contrato de tarefa só será admissível se o trabalho em causa puder ser levado a efeito de forma autónoma e desde que haja uma justificação das vantagens do recurso a um trabalho não subordinado, pelo que se deverá presumir ilícito o recruso à celebração de tal contrato de tarefa, excepto se se provar que o trabalho podia ser executado sem subordinação jurídica e se se comprovar que era vantajoso para o interesse público ser executado com autonomia”17.

O contrato de tarefa é um contrato de prazo certo, não pode o mesmo exceder a duração inicialmente estipulado, pressupondo que tal prazo seja fixado no próprio contrato. Não pode limitar-se a clausular que o vínculo perdurará pelo tempo que durar a execução do trabalho que justifica a sua celebração. A estipulação inicial deste prazo não significa que ele não possa cessar antecipadamente, com fundamento em incumprimento contratual ou na conclusão antecipada do trabalho.

O contrato de avença tem por objecto a execução de prestações sucessivas no exercício de profissão liberal, com retribuição certa mensal, podendo ser feito cessar, a todo o tempo, por qualquer das partes, mesmo quando celebrado com cláusula de prorrogação tácita, com aviso prévio de 60 dias e sem obrigação de indemnizar [cfr. art.º 10.º, n.º 2, alínea b), da LGTFP].

O conceito de profissão liberal não deve ser confundido com o conceito de trabalho independente, uma vez que aquele é mais restrito do que este. A profissão liberal pressupõe a execução de uma “... actividade autónoma e independente ‘por conta própria’, de carácter

científico, artístico ou técnico, no âmbito de profissões cujo exercício pressupõe uma habilitação específica”18. Paulo Veiga e Moura e Cátia Arrimar entendem ainda que “tal actividade terá necessariamente de ser executada por profissionais integrados numa determinada ordem sócio-profissional (no sentido de que a profissão liberal tem uma regulamentação e controlo próprios, v. COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, Vol. I, 1998, pág. 95)”19.

Atendendo ao facto de os actos próprios de um profissional liberal são actos praticados com autonomia, os autores que defendem a inexistência, em regra, de um contrato de prestação

17 Ibidem, op. cit., pág. 120.

18 Cfr. córdão do Tribunal de Contas n.º 8/95.

19 Paulo Veiga e Moura e Cátia Arrimar, op. cit., pág. 120.

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de serviços para a satisfação de necessidades próprias e permanentes de entes públicos afirmam que, nesta modalidade de contrato de prestação de serviços por avença, “quer se

esteja no domínio de necessidades próprias do serviço ou perante necessidades excepcionais e não previsíveis, será sempre admissível o recurso à celebração de um contrato de avença com um profissional liberal para assegurar a prática sucessiva dos actos próprios daquela profissão que sejam adequados à satisfação daquelas mesmas necessidades”20. Concluem, assim, que “mesmo que se esteja perante uma necessidade própria do serviço e ainda que no mapa de pessoal haja trabalhadores com competência habilitacional para praticar legalmente os actos próprios de uma profissão liberal, não fica o serviço em causa impedido de recorrer à celebração de um contrato de avença para assegurar a prática daqueles actos, sem prejuízo de termos de reconhecer que, quando no serviço exista pessoal apto a praticar tais actos, os princípios da prossecução do interesse público e da proibição de ‘esbanjamento’ de dinheiros públicos impõem que haja uma justificação das vantagens do recurso à contratação ‘out of the house’” 21.

O contrato de prestação de serviços, na modalidade de avença não tem de ter um prazo máximo de duração, podendo (ou não) as partes sujeitar o contrato a um termo resolutivo, com ou sem possibilidade de prorrogação. O seu termo não tem necessariamente de ser determinado, podendo ser determinável e cessando o contrato assim que uma das partes manifeste essa vontade (nos 60 dias seguintes ao da notificação dessa vontade).

4. Conclusões

Analisados o regime jurídico aplicável ao contrato de prestação de serviços para a prestação de trabalho em funções públicas, restam algumas notas.

A primeira é que se acompanha a doutrina que tem vindo a criticar a inserção deste tipo contratual na LGTFP. Parece que as regras especiais previstas nesta lei poderiam ter sido contempladas no CCP, onde tradicionalmente se encontra estabelecido o normativo aplicável à aquisição de serviços através de contratação pública e beneficiando da consolidação legislativa existente em torno daquele diploma legal.

Ainda que assim não se entenda e, por isso, se pugne pela manutenção do contrato de prestação de serviços na LGTFP, outra nota vai para algumas incongruências do seu regime jurídico, que parece merecerem rectificação, nomeadamente, o facto de, depois de o dirigente máximo do serviço ajuizar da inconveniência do recurso a um vínculo de emprego público para satisfazer a necessidade em questão e, em consequência, decidir pela celebração de um contrato de prestação de serviços, a entidade gestora do sistema de requalificação poder comunicar que há pessoal em situação de requalificação adequado a prestar o trabalho autónomo que justificava o recurso ao vínculo de prestação de serviços. Neste tipo de situações, quem formula o juízo sobre o interesse público e a melhor forma de um serviço prosseguir as suas atribuições não é o próprio serviço, mas uma entidade externa (a entidade

20 Idem, op. cit., pág. 121. 21 Ibidem, op. cit., pág. 121.

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gestora do sistema de requalificação). Merece questionar-se a razoabilidade desta previsão legal e se ela se adequa ou é conforme.

Por outro lado, paradoxalmente, faz-se um movimento de aproximação ao disposto no direito privado, no que respeita aos direitos e garantias dos trabalhadores, mas não se acautelou de proteger uma das situações de injustiça social mais recorrentes, a dos falsos prestadores de serviços. Enquanto no direito privado, há lugar a uma conversão do contrato de prestação de serviços em um contrato de trabalho, na LGTFP, o contrato de prestação de serviços é nulo e não pode constituir um vínculo de emprego público. Não se compreende, por isso, esta incongruência do legislador.

5. Bibliografia

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10. Notas sumárias sobre o regime regra de constituição do vínculo de emprego público: o contrato de trabalho em funções públicas à luz da LGTF e do novo paradigma de emprego público

NOTAS SUMÁRIAS SOBRE O REGIME REGRA DE CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO DE

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