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Celebração e Renovação

Capítulo I – Caraterização e qualificação jurídica do objeto de estudo

O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

3. O Contrato de prestação de serviços 1 Enquadramento Geral

3.2. Celebração e Renovação

A celebração e a renovação de um contrato de prestação de serviços para a prestação de trabalho em funções públicas está sujeita a diversas condições.

Quanto às condições de natureza substantiva, a celebração de contratos de prestação de serviços, nas modalidades de contratos de tarefa e de avença, apenas pode ter lugar quando, cumulativamente:

a) Se trate da execução de trabalho não subordinado, para a qual se revele inconveniente o recurso a qualquer modalidade de vínculo de emprego público;

b) Seja observado o regime legal de aquisição de serviços;

c) Seja comprovada pelo prestador do serviço a regularidade da sua situação fiscal e perante a segurança social (cfr. art.º 32.º, n.º 1, da LGTFP).

Como condições de natureza adjectiva, temos a obrigatoriedade de afixação no órgão ou serviço e inserção em página eletrónica, por extrato, da celebração e da renovação dos contratos de prestação de serviços, com menção da função da desempenhar e respectiva retribuição e prazo e, ainda, a referência à concessão do visto ou à emissão da declaração de conformidade ou, sendo o caso, à sua dispensabilidade [cfr. art.º 5.º, n.º 1, alínea c), n.os 2 e 3, da Lei n.º 35/2014, de 20 de Junho].

Quanto à primeira das referidas condições substantivas, o contrato de prestação de serviços deve ter por objecto uma prestação de trabalho não subordinado [cfr. art.º 32.º, n.º 1, alínea a), primeira parte, da LGTFP].

No entanto, não é suficiente esta falta de subordinação jurídica para vir a celebrar um contrato de prestação de serviços, sendo ainda necessário demonstrar que se revelou inconveniente o recurso a uma qualquer modalidade de vínculo de emprego público [cfr. art.º 32.º, n.º 1, alínea a), segunda parte, da LGTFP].

A verificação desta condição é condicionada à emissão de prévio parecer favorável dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e da Administração Pública, encontrando-se os termos e tramitação desse parecer regulados por Portaria dos referidos membros do Governo.

Actualmente, os termos e a tramitação do parecer prévio vinculativo está regulamentado na Portaria n.º 194/2016, de 19 de Julho.

De acordo com este último diploma, a emissão de parecer prévio vinculativo deve ser pedido pelo dirigente máximo do órgão, do serviço ou da entidade ao membro do Governo

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responsável pela área das finanças e da Administração Pública, antes da decisão de contratar ou de renovar (cfr. art.º 4.º, n.º 1, da Portaria n.º 194/2016, de 19 de Julho).

O pedido deve ser instruído com os seguintes elementos: descrição, objecto e valor do contrato; demonstração de que o contrato não constitui trabalho subordinado; demonstração da inconveniência do recurso a modalidade de vínculo de emprego público; demonstração de inexistência de pessoal em situação de requalificação apto para o desempenho das funções subjacentes à contratação em causa; declaração de confirmação de cabimento orçamental emitida pelo órgão, serviço ou entidade; indicação e fundamentação da escolha do procedimento de formação do contrato; e identificação da contraparte (cfr. art.º 4.º, n.º 2, da Portaria n.º 194/2016, de 19 de Julho).

Os membros do Governo a que se refere o número anterior podem, excepcionalmente, autorizar a celebração de um número máximo de contratos de prestação de serviços, nos termos do art.º 5.º da Portaria n.º 194/2016, de 19 de Julho, desde que, a par do cumprimento do disposto no n.º 1 do art.º 32.º da LGTFP, não sejam excedidos os prazos contratuais inicialmente previstos e os encargos financeiros globais anuais, que devam suportar os referidos contratos, estejam inscritos na respetiva rubrica do orçamento do órgão ou do serviço.

Acresce que, por força do disposto no art.º 265.º da LGTFP, não pode ser celebrado ou renovado qualquer contrato de prestação de serviços se a entidade gestora do sistema de requalificação comunicar que há pessoal em situação de requalificação adequado a prestar o trabalho que justificava o recurso ao vínculo de prestação de serviços.

Demonstrada a existência de prestação de trabalho não subordinado, a qual pode ser definida como aquele que é realizado sem sujeição à respectiva disciplina e direcção por parte do órgão ou serviço, nem horário de trabalho (cfr. art.º 10.º, n.º 1, da LGTFP), é então necessário observar o regime legal de aquisição de serviços [cfr. art.º 32.º, n.º 1, alínea b), da LGTFP].

Esta condição é definida por remissão para as regras da contratação pública previstas no CCP.

No que se refere ao procedimento a adoptar para a celebração de um contrato de prestação de serviços, importa atender às regras previstas nos art.os 16.º a 33.º do CCP. Quando à execução do próprio contrato, aplicam-se as regras estabelecidas nos art.os 450.º a 454.º do CCP.

A última condição consiste na comprovação pelo prestador do serviço da regularidade da sua situação fiscal e perante a Segurança Social [cfr. art.º 32.º, n.º 1, alínea c), da LGTFP].

A previsão desta condição poderia ser considerada desnecessária atendendo ao disposto nas alíneas d) e e) do n.º 1 do art.º 55.º do CCP, as quais já impediam a participação de qualquer entidade em procedimentos tendentes à celebração de um contrato submetido às regras da contratação pública. No entanto, reveste-se de utilidade já que impõe esta exigência mesmo relativamente a contratos que possam estar excluídos do cumprimento das regras da

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contratação pública previstas no CCP. Acresce que esta necessidade de demonstrar documentalmente a ausência de dívidas para a celebração do contrato de prestação de serviços aplica-se aos contratos outorgados por entidades integradas no âmbito de aplicação da LGTFP, o qual é menos amplo do que o do CCP. As regras do CCP valem para qualquer tipo de contrato incluído no seu âmbito de aplicação (cfr. art.os 1.º a 6.º do CCP), independentemente da entidade contratante, bem como aos contratos de prestação de serviços celebrados por entidades que, apesar de incluídos pelo CCP, estão excluídos do âmbito de aplicação da LGTFP.

Além das condições acima expostas, importa ainda ter em consideração que a LGTFP condiciona a celebração de contratos de prestação de serviços à inexistência de pessoal em situação de requalificação com perfil adequado para prestar o serviço de que careça um determinado organismo público (cfr. art.º 265.º, n.º 1, da LGTFP).

Como acima referido, o incumprimento da condição relativa à ausência de subordinação jurídica determina a nulidade do contrato de prestação de serviço para o exercício de funções públicas, não podendo o mesmo dar origem à constituição de um vínculo de emprego público (cfr. art.º 10.º, n.º 3, da LGTFP).

Alguma doutrina tem reservas sobre a bondade e a constitucionalidade da regra de que faz acompanhar a nulidade do contrato de prestação de serviços com a proibição de constituir um vínculo de emprego público com o trabalhador ou falso prestador de serviços14.

A nulidade do contrato de prestação de serviços não prejudica a produção plena dos seus efeitos durante o tempo em que tenham estado em execução, sem prejuízo da responsabilidade civil, financeira e disciplinar em que incorre o seu responsável (cfr. art.º 10.º, n.º 4, da LGTFP).

A declaração de nulidade só produz efeitos ex nunc, o que significa que produz efeitos como se fosse válido durante todo o tempo em que tenha estado a ser executado, não havendo, como tal, uma destruição dos efeitos produzidos até à data em que seja efectuada a declaração de nulidade. Até essa declaração, mantêm-se os direitos e as obrigações decorrentes do contrato, pelo que cada parte contratante está vinculada a cumprir as suas obrigações e a reclamar os direitos que lhe assistem até àquela declaração, não havendo, por exemplo, lugar à restituição de quaisquer valores que tenham sido pagos ao prestador do serviço.

No que se refere à ausência do parecer prévio, importa atender ao disposto no art.º 35.º, n.º 18, da Lei n.º 7-A/2016, de 30 de Março, que aprovou o Orçamento do Estado para 2016, de acordo com a qual são nulos os contratos de aquisição de serviços celebrados ou renovados em violação às regras previstas naquele preceito legal, nomeadamente, a obtenção de parecer prévio vinculativo.

14 A este propósito, ver Paulo Veiga e Moura e Cátia Arrimar, op. cit., pág. 126.

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9.O contrato de prestação de serviços

Existem autores que defendem que, ao restringir a nulidade aos contratos de prestação de serviços que envolvem a subordinação jurídica, o legislador parece apontar no sentido de o contrato que não tenha sido precedido do parecer do art.º 32.º, n.º 2, da LGTFP não é nulo, o que estaria em conformidade com a regra geral prevista no Código de Procedimento Administrativo e com a circunstância de esse parecer ser “um acto de trâmite que não integra

o núcleo essencial de um contrato de prestação de serviços” 15.

Segundo esta doutrina não é o nulo o contrato de prestação de serviços que tenha sido celebrado sem antes se ter averiguado se havia pessoas em situação de requalificação, com perfil adequado para executar as funções em causa, aplicando-se, neste tipo de situações, o regime da anulabilidade.

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