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A pré-adopção

No documento Vinculação e adopção (páginas 72-76)

de 22 de Agosto, na sequência da enorme visibilidade pública que a adopção tem

5. As famílias adoptantes

5.3. A pré-adopção

O período de pré-adopção, segundo a legislação em vigor, deverá ter uma duração de 6 meses, durante o qual deverá haver um acompanhamento da equipa de adopções.

A fase da pré-adopção é uma fase importante e determinante para o sucesso da nova relação que se estabelece, ou seja, da adopção; daí a importância do acompanhamento desta fase e do papel das equipas de adopção.

Logo que é sinalizada ao Serviço de Adopções uma criança em situação de adoptabilidade, cabe à equipa o estudo dessa situação para a decisão de qual, de entre os candidatos já avaliados e seleccionados, melhor se adequa àquela criança em particular, ou seja, qual a família que melhor poderá responder às necessidades emocionais, sociais e educativas, de saúde e de desenvolvimento dessa criança, tendo em conta as suas características específicas. Seguem-se então três etapas: a apresentação aos candidatos, os primeiros contactos com a criança e, finalmente, a integração da criança na família adoptante (Salvaterra, F., 2005a).

Compete à equipa de adopções avaliar a capacidade da família adoptante em ajustar o seu projecto de adopção à situação concreta e real da criança em questão para tomar a decisão sobre o prosseguimento do processo de adopção.

O tipo de questões que a família adoptante coloca, as dúvidas que apresenta, os medos relativos às origens da criança e às suas características, a aceitação ou não das suas origens, a capacidade de lidar e aceitar os antecedentes familiares da criança, a aceitação ou não das características da criança, a aceitação de possíveis dificuldades de adaptação da criança à nova situação, à nova família, e ainda o interesse demonstrado para avançar com o processo e conhecer a criança permitem aos profissionais avaliar a capacidade dos adoptantes de lidar com a ansiedade normal que o acesso à parentalidade desejada lhes trás.

Os primeiros contactos com a criança visam observar o potencial de aceitação/rejeição da criança à família e vice-versa, ou seja o potencial de vinculação através da observação atenta e cuidada da relação estabelecida nestes primeiros encontros (McIntyre, Freire, Machado & Pereira, 2004).

Os intervenientes nesta fase do processo são, para além dos adoptantes e da criança e dos técnicos da equipa de adopções, os técnicos da instituição onde a criança está que intervêm e têm um papel preponderante. São eles quem conhece melhor os hábitos da criança, os seus gostos e preferências, rotinas, sono, alimentação, comportamento, escola ou jardim-de-infância.

Se a opinião e a reacção da criança, da família e dos técnicos forem favoráveis, o processo de adopção vai prosseguir.

Nesta fase pode haver uma rejeição, motivada pelo confronto entre a situação idealizada e a criança real, desentendimentos entre o casal, pressões familiares ou os casos em que os profissionais considerem que a atitude dos adoptantes não foi a mais adequada nem a mais favorável ao exercício da parentalidade, devido a falta de flexibilidade e/ou compreensão das necessidades da criança, ou por dificuldade em estabelecer relação com a criança, em se aproximar dela, interagir e brincar ou devido a uma aproximação exagerada e demasiado intrusiva ou ainda por se verificarem dificuldades ou rejeição por parte da criança (Salvaterra, F., 2005a).

Os encontros serão tantos quantos os necessários para o desenvolvimento do processo relacional, início do processo de vinculação.

Este processo de transição tem duração variável, desde alguns dias a algumas semanas até ser tomada a decisão da ida definitiva da criança para casa dos adoptantes.

Esta decisão deve ser baseada no desejo da criança e no desejo dos adoptantes.

A criança tem de os desejar como pais, de adoptar os novos pais como figuras de referência, que lhes transmitem um sentimento de amor e segurança, com as quais

estabelecerá uma relação preferencial, passando a ser figuras de referência estáveis e duradoiras.

Por outro lado, os adoptantes devem desejar assumir a parentalidade daquela criança, desejando-o como filho/a, amá-lo e educá-lo, ajustando toda a sua vida para a receber (casa, quarto, horário de trabalho, licença de adopção). Este ajustamento é fundamental para o sucesso da adopção.

O processo de vinculação só agora se está a iniciar.

É com a integração da criança no seio da família que se inicia o período de pré-adopção propriamente dito. Nesta fase, compete aos profissionais ajudar e avaliar o ajustamento da nova família à sua nova função parental e a constituição de laços próprios de uma verdadeira relação de filiação.

É um período complexo, pois passada a primeira fase do enamoramento vão surgir naturalmente dificuldades, dificuldades da família em se adaptar à nova função de pais e no que isso altera as suas rotinas diárias, às vezes de largos anos, e da criança que se vê numa situação inteiramente nova para ela, onde surgem muitas vezes os receios de ser de novo abandonada, de aqueles pais poderem deixar de gostar dela.

Ambas as partes trazem para a nova relação familiar uma história, que não é comum, têm recordações, desejos, idealizações.

Esta é a fase do aprofundar dos laços afectivos e do estabelecer de uma verdadeira relação de vinculação, que se pretende segura, promovendo o desenvolvimento e a autonomia da criança.

É fundamental o apoio e o acompanhamento dos profissionais, mas este apoio deve ser feito de uma forma discreta, não intrusiva, respeitando o espaço da família (Salvaterra, F., 2005a).

Deve dar-se especial atenção à adaptação pais/criança, à adaptação da criança aos novos contextos, às atitudes educativas dos adoptantes, às atitudes face às

dificuldades e sintomas da criança, à comunicação na família e à vivência do processo de adopção.

Há necessidades por parte das famílias adoptivas, necessidades de ajuda, de aconselhamento, de apoio, às quais os profissionais devem dar resposta mas respeitando sempre o funcionamento, os ritmos e as regras da família, não sendo intrusivos.

Esse acompanhamento deve ser feito de forma sistemática, embora adaptado às necessidades e às realidades de cada nova família.

Após alguns meses, quando se considere verificadas as condições para ser requerida a adopção (a nova lei prevê no máximo 6 meses), a equipa de adopções deve ter os elementos necessários para a elaboração do relatório a que alude o nº 2 do artº1973 do CC, que, juntamente com a petição elaborada pela família, é enviado ao tribunal para requerer a adopção plena.

O período de pré-adopção permite-nos avaliar a conveniência da constituição do vínculo de adopção para a criança (Nº2 do art. 1974º do CC).

Após sentença judicial de adopção plena o processo é arquivado no serviço de adopções, terminando o período de pré-adopção.

A nova família constituída tem agora todos os direitos e deveres das famílias biológicas. Contudo, mesmo depois de decretada a adopção plena, não está tudo resolvido, apresentando a fase pós-adopção algumas particularidades.

Embora o que está implícito na adopção é que os laços, os vínculos que se estabelecem são semelhantes aos que resultam da filiação biológica e que as famílias adoptivas não se distinguem das famílias biológicas, naquilo que é a função da família, não podemos negar que a família adoptiva enfrenta situações que à família biológica não sucedem, situações inerentes à parentalidade adoptiva.

No documento Vinculação e adopção (páginas 72-76)