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Formação de relações de vinculação alternativas de forma sequencial

No documento Vinculação e adopção (páginas 136-140)

de 22 de Agosto, na sequência da enorme visibilidade pública que a adopção tem

II. O comportamento de vinculação

2. Figuras de vinculação alternativas

2.2. Formação de relações de vinculação alternativas de forma sequencial

A partir dos 12,13 meses, as crianças que contactam com figuras alternativas de vinculação têm já, pelo menos, um modelo interno dinâmico da vinculação. A história relacional em que se constituem as vinculações sequenciais, bem como o contexto desenvolvimental são diferentes do da primeira relação de vinculação; a criança tem mais capacidades cognitivas e sociais e tem já a experiência de uma

relação de vinculação com outro prestador de cuidados. É o caso das relações de vinculação que as crianças constituem nas creches com os prestadores de cuidados ou com os pais adoptivos. Alguns estudos examinaram estas situações. Reikes (1993), usando o q-sort com crianças em creches, verificou que a segurança das crianças aumenta com o tempo que as crianças passam com os prestadores de cuidados. Barnas e Cummings (1997) compararam os comportamentos de vinculação das crianças, em creches, para com os prestadores de cuidados de longo prazo (mais de 3 meses no centro) com os de curto prazo e concluiu que as crianças dirigiam mais comportamentos de vinculação para com os prestadores de cuidados de longo prazo e que estes eram mais bem sucedidos a acalmar a angústia da criança do que os prestadores de cuidados de curto prazo.

Assim, a formação das relações de vinculação no contexto de uma creche parece ser um processo semelhante ao da vinculação criança/mãe; no início do acolhimento, as crianças dirigem os comportamentos de vinculação para os prestadores de cuidados; com o tempo, as experiências de interacção com os prestadores de cuidados tornam-se mais organizadas e as crianças respondem de forma diferente aos prestadores de cuidados que estão presentes por maiores períodos de tempo e, por isso, são mais previsíveis. Esta organização da vinculação pode ser observada com os instrumentos habitualmente usados.

São poucos ainda os estudos com professores do primeiro ciclo; contudo, parece haver consistência em termos de qualidade, com os professores da creche, jardim-de-infância e escola (Howes, C. 1999).

Outro caso é o da formação de relações de vinculação em crianças com uma história relacional problemática. Os estudos, relativamente escassos, que existem mostram que crianças com relações maladaptativas prévias podem formar vinculações seguras com novos prestadores de cuidados. Estudos clássicos com crianças adoptadas mostram que crianças adoptadas após o início da formação de relações de vinculação (6-8 meses) têm dificuldade em constituir relações positivas, de confiança com os seus pais adoptivos (Tizard & Rees, 1975; Yarrow, Goodwin, Manheimer & Milowe, 1973). Não obstante, nestes estudos a vinculação não foi directamente avaliada. Estudos posteriores examinaram mais directamente a

formação da vinculação nas crianças adoptadas. Os estudos de Singer, Brodzinsky, Ramsay, Steir e Waters (1985) observaram a formação da vinculação em crianças adoptadas antes ou durante o período do desenvolvimento da vinculação e não encontraram diferenças entre estes dois grupos, em termos da segurança da vinculação, bem como entre o grupo de adoptados e o grupo de controlo de não adoptados. E, ainda, para as crianças adoptadas precocemente, o número de acolhimentos prévios à adopção não estava relacionado com a segurança da vinculação. Num estudo (Marcovitch et al., 1997) com crianças adoptadas da Roménia não foram encontradas diferenças na vinculação com as mães adoptivas entre as crianças que passaram menos de 6 meses no orfanato e as que passaram mais de 6 meses. Um outro estudo (Dontas, Maratos, Fafoutis e Karangelis, 1985) observou a formação da vinculação em órfãos que passaram os seus primeiros meses de vida em orfanatos, com vários prestadores de cuidados; cada criança (7-9 meses) foi observada numa situação modificada da Situação Estranha com o seu prestador de cuidados favorito do orfanato, imediatamente antes da adopção, e, 2 semanas após a adopção, com as suas mães adoptivas, ao que se concluiu que as crianças dirigiam o seu comportamento de vinculação preferencialmente para as mães adoptivas.

De acordo com Howes (1999) estes estudos sugerem “that attachment formation in infants adopted prior to or during the optimal developmental period for this process is similar to attachment formation between infants and their biological mothers” (p. 687).

No caso das crianças adoptadas nem sempre se verifica que tenham tido relações maladaptativas com os seus primeiros prestadores de cuidados, ao contrário do que se passa com as crianças negligenciadas e/ou abusadas que têm, provavelmente, vinculações inseguras com os pais (Carlson et al., 1989).

Num estudo (Howes & Segal, 1993) em que se observaram, através do

Attachment Q-Sort, crianças retiradas aos pais por maus-tratos e colocadas em

centros de acolhimento de boa qualidade, verificou-se que após 2 meses de estadia no centro, 47% das crianças tinham desenvolvido relações seguras com os prestadores de cuidados e ainda que as crianças que permaneceram mais tempo eram mais seguras que as que tiveram curtas estadias.

Uma investigação (Howes & Ritchie, 2000) sobre a organização da vinculação de crianças, com 3, 4 anos (crianças retiradas do pré-escolar comunitário por perturbações graves de comportamento), com as educadoras num pré-escolar terapêutico (ambiente organizado para proporcionar uma relação segura através de prestadores de cuidados previsíveis e sensitivos), observadas aos 2 e aos 6 meses após terem entrado no programa terapêutico, concluiu que os níveis de segurança (no AQS) aumentavam através do tempo, sugerindo que as crianças estavam a reorganizar as suas vinculações com as educadoras através das interacções positivas repetidas.

Podemos concluir que o processo de vinculação com prestadores de cuidados alternativos é semelhante ao processo de vinculação criança/mãe. Apesar do contexto de desenvolvimento ser diferente dos bebés ou das crianças com 2, 3 ou 4 anos, as crianças constroem as suas relações de vinculação com base nas experiências repetidas com os prestadores de cuidados e mesmo crianças com vinculações prévias difíceis são capazes, ou de reorganizar as suas representações da vinculação, se encontrarem prestadores de cuidados especialmente sensíveis, ou de construir relações independentes baseadas nas experiências com o novo prestador de cuidados (Howes, 1999).

No documento Vinculação e adopção (páginas 136-140)