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O processo de Adopção

No documento Vinculação e adopção (páginas 52-55)

de 22 de Agosto, na sequência da enorme visibilidade pública que a adopção tem

2. O processo de Adopção

O processo de adopção exige um sistema de grande colaboração interdisciplinar e interinstitucional, coordenada e dialogante, entre os organismos de segurança social, os tribunais, as instituições particulares ou oficiais que tenham a seu cargo crianças em risco, e ainda entre todos os cidadãos, famílias e quaisquer organismos que tenham conhecimento de crianças desprovidas de um meio familiar normal.

A acção correcta dos organismos de segurança social tem, em Portugal, um papel fulcral em todo o processo de adopção desenvolvendo uma intensa comunicação entre as famílias, as instituições e o Ministério Público dos tribunais de Família e Menores.

Assim, a sua actividade está definida por lei (Decreto-lei 185/93, de 22 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Deceto-Lei121/98 de 8 de Maio e pela Lei 31/2003 de 22 de Agosto) conferindo-lhe um conjunto de competências que se podem resumir essencialmente em “acções de detecção, diagnóstico, elaboração e execução de um projecto de mudança das condições de vida da criança” (Rodrigues, A., 1997).

Em termos de atribuições e competências podemos distinguir as seguintes: ƒ Receber as comunicações de quaisquer organismos ou instituições ou

ainda de quem tiver a criança a cargo sobre situações de crianças que se encontrem em qualquer dos casos previstos no artigo 1978º do CC, isto é quando não existam ou se encontrem seriamente comprometidos os

vínculos afectivos próprios da filiação, devendo a segurança social proceder ao estudo dessas situações (artigo 3º Lei nº 31/2003);

ƒ Receber as comunicações dos Tribunais sobre a prestação do consentimento prévio para adopção (artigo 12º Lei nº 31/2003), das decisões proferidas no âmbito dos processos de confiança judicial e dos processos de promoção e protecção;

ƒ Proceder ao estudo da situação da criança que deverá incidir sobre a saúde, desenvolvimento e situação sócio-familiar e jurídica, com a maior brevidade possível e tendo em conta o interesse da criança (artigo 4º, Lei nº 31/2003);

ƒ Proceder ao estudo da pretensão de adoptar, no prazo máximo de seis meses, estudo esse que incide sobre a personalidade, a saúde, a situação familiar e económica e a idoneidade dos candidatos a adoptantes e ainda as razões determinantes do pedido de adopção, do qual deverá proferir decisão e comunicá-la aos candidatos (artigo 6º, Lei nº 31/2003);

ƒ Decidir sobre a Confiança administrativa que entrega a criança ao candidato a adoptante ou confirme a permanência do menor a seu cargo, nos casos em que há consentimento prévio dos pais biológicos ou, quando, após audição do representante legal e de quem tiver a guarda de direito e de facto do menor e, ainda da criança com idade superior a 12 anos, resultar, inequivocamente que estes não se opõem a tal decisão; ƒ Proceder à entrega da criança ao candidato a adoptante, após decisão do

Tribunal, de confiança judicial ou de confiança a pessoa idónea seleccionada para adopção;

ƒ “…após a verificação do início do processo de vinculação observada, o organismo de segurança social” (artigo 9º da Lei n.º31/03) deve proceder ao acompanhamento da nova família constituída, no período de pré adopção, e elaborar o relatório a que se refere o n.º 2 do artigo 1973º do CC, que deverá incidir sobre a “personalidade e a saúde do adoptante e do

adoptado, a idoneidade do adoptante para criar e educar o adoptando, a situação familiar e económica do adoptante e as razões determinantes do pedido de adopção”;

ƒ Deve providenciar no sentido de o apoio às situações de adopção ser assegurado por equipas pluridisciplinares dimensionadas e qualificadas em termos de recursos humanos, integrando as valências da Psicologia, do Serviço Social, do Direito e da Educação (artigo 11º da Lei n.º 31/03). Em síntese, podemos dizer que as competências da segurança social se inscrevem no âmbito da detecção, avaliação e intervenção nas condições de vida da criança, delineando um novo projecto de vida, tendo como princípios orientadores o seu bem-estar físico e psicológico, indo de encontro aos seus superiores interesses, respeitando a própria criança, mas também a sua família biológica, a família adoptiva e as instituições envolvidas.

Na definição do projecto de vida da criança é essencial o estudo aprofundado da família biológica e da qualidade das relações afectivas existentes entre ela e a criança. Se for viável a permanência da criança na sua família, isto é se existem vínculos afectivos fortes e se a família, embora disfuncional, der mostras de que com apoio tem capacidade de reassumir a sua função parental em tempo útil para a criança, então é com a sua família biológica que a criança deve permanecer. Se, por outro lado, os vínculos são pobres ou inexistentes, ou, muito embora exista afecto, a família não tem condições, não é capaz ou não deseja reorganizar-se para assumir a sua função, então deve dar-se a oportunidade à criança de ter uma nova família que lhe permita um desenvolvimento harmonioso e a ruptura de um ciclo de abandono/rejeição/incapacidade, para constituição de vínculos afectivos estáveis e duradoiros.

Quando se conclui que o projecto de vida é a adopção, a segurança social em articulação com o tribunal deve intervir, decidindo a confiança administrativa ou judicial ou a confiança a pessoa idónea seleccionada para adopção. Os serviços de adopção devem então decidir qual, de entre as famílias candidatas à adopção, a que poderá dar melhor resposta à criança em termos emocionais, educativos e de desenvolvimento social. Após esta decisão, segue-se a apresentação da situação da

criança aos candidatos que deverão decidir se a aceitam ou não. No caso de a decisão ser a de prosseguir com o processo de adopção, inicia-se um período de transição, que se destina ao conhecimento mútuo e ao estabelecimento dos primeiros laços afectivos entre a criança e os candidatos, com acompanhamento dos técnicos, cujo objectivo é a observação do início do processo de vinculação. Após este período, que tem uma duração variável, consoante as características da criança (idade, estádio de desenvolvimento, características de personalidade, entre outras) e dos candidatos, procede-se à entrega formal da criança à sua nova família. Proceder-se-á ao acompanhamento da nova família durante o período de pré-adopção a que se seguirá o processo judicial de adopção que termina com a sentença de adopção plena que é comunicada à conservatória do registo civil, permitindo o novo registo da criança com o nome da sua nova família (Salvaterra, 2005a).

No documento Vinculação e adopção (páginas 52-55)