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Diferenças individuais na segurança da vinculação

No documento Vinculação e adopção (páginas 159-163)

de 22 de Agosto, na sequência da enorme visibilidade pública que a adopção tem

VI. Padrões de vinculação

1. Diferenças individuais na segurança da vinculação

Bowlby (1969/1982, 1973), para explicar as diferenças individuais na vinculação, propôs duas hipóteses, uma centrada nos antecedentes da relação de vinculação e a outra centrada na consequência que a relação de vinculação tem para o desenvolvimento da personalidade

A primeira hipótese, de que as diferenças individuais nas relações de vinculação são devidas às diferentes experiências e consequentemente às diferentes expectativas sobre a disponibilidade da mãe, foi estudada por Ainsworth, que foi a primeira a fazer uma discrição formal das diferenças individuais relativamente à segurança na vinculação. Tendo por base o referencial teórico de Bowlby e as suas próprias observações das práticas parentais e do comportamento das crianças no Uganda, caracterizou as qualidades dos prestadores de cuidados desta forma: sensitividade aos sinais do bebé, cooperação/interferência, aceitação/rejeição e disponibilidade/indisponibilidade (Ainsworth, 1967). Antes de ter estabelecido o seu procedimento de avaliação da segurança da vinculação em laboratório (Situação Estranha), ela observou o comportamento de vinculação da criança em casa e a sensitividade materna para os validar.

Ainsworth e colaboradores (1978) observaram que as crianças que foram classificadas na Situação Estranha, com uma vinculação ansiosa (quer evitante, quer

resistente) com as suas mães, mostravam mais abertamente a zanga e a não condescendência em casa e choravam mais do que as crianças classificadas como seguras. As mães das crianças com uma vinculação ansiosa eram menos sensitivas nas interacções, interferiam mais com o comportamento da criança e eram menos acessíveis aos pedidos das crianças do que as mães das crianças classificadas como seguras. Mães de crianças classificadas como evitantes expressavam aversão ao contacto físico, quando as crianças o solicitavam e expressavam poucas emoções durante as interacções com elas.

Vaughn e Waters (1990) observaram que as crianças que eram classificadas como seguras com as suas mães na situação estranha tinham níveis de segurança mais elevados no Q-Sort da vinculação, quando era feito por observadores.

Muitos outros investigadores replicaram estes estudos e confirmaram a relação entre a insensitividade materna e a relação de vinculação ansiosa (Bates, Maslin, & Frankel, 1985; Grossmann, Grossmann, Spangler, Suess, & Unzer, 1985; Isabella, 1993; Kiser, Bates, Maslin, & Bayles, 1986; National Institute of Child Health and Human Development (NICHD) Early ChildCare Research Network, 1997). Egeland & Faber (1984, in Weinfield, Nancy S., Soufre, Alan L., Egeland, Byron & Carlson, Elizabeth, A., 1999) concluíram na sua pesquisa que as mães das crianças classificadas mais tarde como seguras eram mais sensitivas e expressivas durante uma situação de alimentação do que as mães de crianças classificadas como evitantes ou resistentes; as mães de crianças evitantes eram insensíveis aos sinais dos seus filhos e pareciam não gostar do contacto físico com eles.

No entanto, alguns estudos não encontraram essa relação entre a sensitividade materna e a segurança na vinculação, pensa-se que sobretudo por dificuldades em utilizar uma boa medida da sensitividade materna e devido ao número de horas de observação.

Uma meta-análise de 66 estudos realizada por DeWolff e van Ijzendoorn (1997) concluiu haver de facto uma relação entre a sensitividade do prestador de cuidados e a segurança na vinculação. Juntam-se a estes dados, o estudo da NICHD (1997) que chegou aos mesmos resultados.

A segunda hipótese de Bowlby leva às consequências para o desenvolvimento da qualidade da vinculação. As diferenças individuais são vistas em termos de trajectórias individuais distintas, que requerem suporte para a sua manutenção e permanecem abertas à mudança, podendo assim sofrer as influências do meio.

O que é que são variações significativas na vinculação bebé-mãe?

Bowlby descreveu dois tipos de variação na vinculação: presença/ausência de uma relação de vinculação e diferenças individuais na organização do comportamento de base segura na díade bebé/mãe.

Apesar de a ausência de vinculação afectar a própria sobrevivência, o mesmo não se passa, de acordo com Bowlby, com a segurança na vinculação. Alguns autores (Belsky, 1999) consideram que os padrões vinculação evitante e resistente são uma forma de adaptação em determinadas circunstâncias.

As diferenças individuais na segurança da vinculação, devido ao seu impacto na regulação das emoções e na exploração, são vistas como importantes para o desenvolvimento da personalidade e na psicopatologia.

Existem quatro explicações possíveis para o facto de as relações de vinculação precoces influenciarem o desenvolvimento posterior (Weinfield, Nancy S., Soufre, Alan L., Egeland, Byron & Carlson, Elizabeth A, 1999) que não são mutuamente exclusivas e que explicam, em parte, cada uma delas, a influência contínua da vinculação.

A primeira diz respeito à possibilidade de as experiências nas relações de vinculação precoces influenciarem o cérebro em desenvolvimento, resultando em influências a nível neuronal (Schore, 1994).

A segunda (Isabella, 1993, Cassidy, 1994 e Sroufe, 1979, 1996) diz que a relação de vinculação seria a base para a aprendizagem da regulação das emoções; as respostas da mãe à angústia do bebé são uma fonte externa de regulação das emoções, antes da criança aprender a auto-regular-se. Assim a relação de vinculação precoce pode afectar a criança, quer pelas acções da mãe, quer através dos padrões internalizados da relação.

A terceira explicação para a vinculação influenciar o desenvolvimento posterior é através da regulação do comportamento e da sincronia comportamental; é através da observação e da interacção com uma figura de vinculação que a criança aprende como se comportar numa relação (Elicker, Englund & Sroufe, 1992; Gianino & Tronick, 1988; Pastor, 1981). As crianças seguras desenvolvem capacidades de auto-controle e de reciprocidade do comportamento, que resultam em interacções mais eficazes do que, as das crianças ansiosas. Estas competências interactivas podem ser aplicadas a novas situações e novas relações, que resultam em diferenças que são fortalecidas ao longo do desenvolvimento.

A quarta explicação é que essa influência se faz através das representações; de acordo com Bowlby (1969/1982) desde a primeira relação de vinculação a criança começa a representar o que esperar do mundo e dos outros, bem como, a forma como ela pode esperar ser tratada pelos outros; estas crenças, expectativas ou modelos dinâmicos internos, começam na relação com a mãe logo que a criança começa a antecipar o comportamento do prestador de cuidados em resposta aos seus sinais. Uma criança que é tratada consistentemente de forma sensitiva, cresce vendo o mundo como bom e responsivo e a si própria como merecedora desse tratamento; uma criança que é tratada severamente e de forma errática, cresce a ver o mundo como imprevisível e insensitivo e a si própria como não sendo merecedora de melhor. Estes modelos dinâmicos internos são então levados para novas relações e novas situações e guiam quer as expectativas quer o comportamento da criança.

A perspectiva de Bowlby (1969/1982) é que as diferenças precoces na relação de vinculação não causam directamente diferentes funcionamentos mais tarde, mas sim que essas diferenças iniciam percursos que estão provavelmente relacionados com certos resultados posteriormente. Qualquer resultado é sempre o produto da história precoce e das circunstâncias actuais; assim, alterações do padrão adaptativo são sempre possíveis, contudo, essa mudança é tanto mais difícil quanto mais tarde se der.

A adaptação, segundo Bowlby (1969/1982) é o resultado da experiência precoce, das experiências subsequentes e circunstâncias actuais.

No documento Vinculação e adopção (páginas 159-163)