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Aline Carlezo Moreira

INTRODUÇÃO: Vivemos em um mundo sonoro e nos comunicamos a partir dos sons que ouvimos e emitimos. A exposição continua a níveis acima de 80 dB já pode prejudicar as pessoas, a literatura afirma que exposição crônica ao ruído ou sons de intensidades elevadas pode causar efeitos auditivos, como perda auditiva, zumbido e intolerância a sons fortes; e extra-auditivos, como perturbações do sono, irritabilidade, cansaço e dificuldades de compreensão, enjôos, vômitos, mudança de humor, stress, entre outros. No dia-a-dia todos estão expostos a diversos ruídos acima deste nível, como barulho do transito, aparelhos eletrodomésticos, e principalmente música em forte intensidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10% da população mundial sofre de problemas auditivos. E Acredita-se que um dos fatores que podem levar ao comprometimento auditivo é a falta de informação a respeito da importância da audição e dos cuidados que se pode ter com ela. E uma das formas de intervenção é a triagem auditiva que consiste em um processo de aplicar em um número de indivíduos determinadas medidas rápidas e simples que identificarão alta probabilidade de doenças na função testada (LOPES FILHO, 1996). A triagem auditiva tem o objetivo não de diagnosticar a perda auditiva, mas sim examinar um grande número de indivíduos, sem sintomas aparentes, no sentido de identificar aqueles que tenham a perda auditiva, para com isto encaminhá-los a realizar procedimentos mais elaborados, a fim de alcançar diagnósticos precisos e tentar sanar ou minimizar os efeitos que a perda auditiva pode acarretar. A perda auditiva induzida por ruído representa um grande problema de saúde pública, devido ao aumento de sua incidência e por poder acometer qualquer individuo, independente de sua atividade profissional (FIONRINI, 2001). O teste de Emissões Otoacústicas, devido a suas características e propriedades é bastante promissor no sentido de detectar perdas

auditivas, além de propiciar uma apurada identificação de mínimas alterações funcionais do sistema auditivo periférico. Este teste contribui muito para ações preventivas e favorece iniciativas de controle de perdas auditivas. As emissões otoacústicas são sinais que podem ser detectados no conduto auditivo externo; são provenientes de vibrações produzidas em vários locais da cóclea, retornando pela cadeia ossicular, membrana timpânica e conduto auditivo externo para serem captadas. A sua presença pode confirmar a integridade da cóclea, determinando se a atividade otoacústica está dentro dos limites de normalidade. E por sua rapidez, seu caráter não invasivo e sua fidedignidade, torna-se um teste com o perfil ideal para programas de triagem auditiva (GATTAZ, 2001). Sabe-se que uma das descobertas mais fascinantes da audiologia nos últimos anos foi a dos mecanismos ativos da cóclea, ou seja, das emissões otoacústicas. DURANTE (2004) coloca que as emissões otoacústicas refletem o funcionamento das células ciliadas externas e a captação das emissões otoacústicas transientes (EOAT) é uma das formas de obter esse mecanismo, o teste de EOAT ocorre quando a orelha é estimulada por estímulo breve de banda larga (clique). É um procedimento não invasivo, rápido, aplicável em locais sem tratamento acústico, objetivo (não depende da resposta do indivíduo), e sensível a perdas de grau leve a profundo, uni ou bilateriais. A presença das EOA indica que o mecanismo receptor coclear pré-neural e também a orelha média é capaz

de responder ao som de um modo normal. E devido a estas características, o exame de emissões otoacústicas transientes é o mais indicado para uma triagem auditiva em locais onde não há tratamento acústico.

OBJETIVO: Fazer levantamento dos resultados da triagem auditiva realizada, a fim de detectar alterações que possam prejudicar a saúde auditiva.

METODOLOGIA: Foram submetidos à triagem auditiva 67 sujeitos que aceitaram participar da Semana de Promoção Humana da Universidade Tuiuti do Paraná, realizada nas dependências de um Shopping Center na cidade de Curitiba. Foram triados 21 homens e 46 mulheres, com idade entre 1 e 61 anos. A triagem auditiva foi constituída pelo exame de Emissões Otoacústicas Transientes. Este teste foi realizado com equipamento de triagem de Emissões Otoacusticas Transientes da marca Audx-plus Biologic, colocando- se uma sonda contendo um gerador de estímulos e um microfone na entrada do conduto auditivo, tanto do lado direito como do lado esquerdo. Nas Emissões Otoacústicas Transientes, o estímulo sonoro, com amplo espectro de frequência (click), percorre a orelha média e a cóclea, e estando esta com suas junções preservadas emitirá “eco” em sentido retrógado, o qual será captado pelo microfone no conduto auditivo. As emissões otoacústicas evocadas transientes (EOAT) representam uma subclasse das emissões otoacústicas evocadas e ocorrem em resposta a um estímulo sonoro muito breve, geralmente o clique, que é muito

estimulante para a membrana basilar, porém desprovido de seletividade de freqüência. Por se tratar de um sinal de banda larga, provoca excitação das células ciliadas localizadas desde a espira basal até a espira apical da cóclea. Assim, a resposta também é composta por diferentes freqüências. As EOAT são registráveis em cerca de 90 a 100% das orelhas com limiares auditivos normais. E em indivíduos jovens, normo-ouvintes e sem passado otológico, a presença de EOAET é de 98% (SPERI e PATRESI, 2004) As pessoas que passaram na triagem apresentaram emissões otoacústicas transientes presentes e as pessoas que falharam apresentaram ausência de respostas neste teste. Como a triagem tem o objetivo apenas de detectar as pessoas com sintomas ou não de perda auditiva, ela não foi feita em cabine acústica, tendo sido realizada em ambiente aberto do shopping, no local específico das ações da semana de promoção humana.

RESULTADOS: Dos 67 sujeitos participantes, 59 (88%) pessoas passaram na triagem e oito pessoas (22%) não passaram. Sendo cinco pessoas do sexo feminino (quatro bilateral e uma somente à direita) e três do sexo masculino (dois bilateral e um somente a direita). Estas pessoas que falharam na triagem foram encaminhadas para exame completo de audição na Universidade Tuiuti do Paraná. Muitos sujeitos participantes relataram não ter conhecimento a respeito dos cuidados com a audição nem de informações a respeito da relação da exposição ao ruído intenso do dia a dia com a perda de audição.

CONCLUSÃO: A exposição crônica ao ruído ou a sons de intensidade elevada além da perda de audição pode causar também sintomas extra-auditivos como cansaço, dificuldade de concentração e estresse. RUSSO (1999) coloca ainda as seguintes alterações extra-auditivas causadas pelo ruído: ações no aparelho circulatório, digestivo e muscular, no metabolismo, sistema nervoso, interferência no sono, diminui rendimento no trabalho, distúrbios no equilíbrio, problemas psicológicos, dores de cabeça, mudanças de humor e ansiedade. E isso tem grandes repercussões sobre a vida e o trabalho. O Ministério da Saúde, ao instituir Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, considera o êxito na intervenção por meio de ações de promoção e prevenção. E uma das formas de intervenção é a triagem auditiva (QUAINO, 2007). Com a triagem auditiva é possível detectar as pessoas com predisposição e desenvolver uma perda auditiva. Sobre esta perspectiva, a triagem auditiva é de fundamental importância, pois seus resultados possibilitam o estabelecimento de condutas adequadas que podem minimizar consequências de uma alteração auditiva no desenvolvimento psicossocial humano, propiciando uma melhor qualidade de vida. Apesar se não muito elevado o número de pessoas que não passou na triagem, os resultados desta triagem indicam que as pessoas expostas ou não ao barulho intenso não tem conhecimento da importância dos cuidados com a audição. A população em geral necessita de mais orientações e respeito dos cuidados com a

audição e informações sobre a perda auditiva induzida por ruído. A deficiência auditiva tem sido alvo de vários estudos epidemiológicos com o objetivo de identificar seus fatores de risco e suas implicações, a fim de elaborar ações de saúde e assistência adequadas (TIENSOLLI, 2007). Muitas pessoas ignoram a importância de testes auditivos, pois desconhecem os malefícios que as perdas na audição podem causar. Com isso, a nossa ação no shopping pretendeu divulgar às pessoas que estavam a passeio naquele local, a importância de um teste auditivo, e também a conscientizar as pessoas que um diagnóstico antecipado pode auxiliar nos tratamento de diversos tipos de perdas auditivas. Pois uma vez que se descobre uma alteração, por menor que seja, a pessoa já pode procurar um tratamento e um meio de

evitar que esta alteração venha a prejudicar sua vida pessoal, profissional e social. Muitos estudos ainda podem ser feitos na população geral, quanto mais pessoas atingirmos com nossas ações, mais conscientes elas estarão da importância de ter uma audição dentro dos padrões de normalidade. Não somente com a triagem auditiva com os exames de audiometria ou emissões otoacusticas, mas também com questionários e entrevistas, que são muito valiosos numa pesquisa, em especial quando estamos levantando os sintomas auditivos e extra-auditivos de pessoas que a princípio não possuem queixa de perda de audição.

Palavras-chave: triagem auditiva; emissões otoacústicas transientes; Shopping Center.

REFERÊNCIAS

GATTAZ, G. Contribuição do registro das emissões otoacústicas evocadas no diagnostico das perdas auditivas induzidas por ruído. IN: NUDELMANN,A.A. et al. Perda auditiva induzida por ruído. v2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.

FIORINI, A.C. O uso de registros de Emissões Otoacústicas como instrumento de vigilância epidemiológica de alterações auditivas em trabalhadores expostos a ruído. Tese de doutorado. USP. São Paulo, 2001.

LOPES FILHO, O.; CARLOS, R.; REDONDO, M.C. Produtos de distorção das emissões otoacusticas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v3. n.5. set/1996.

LOPES FILHO, O. et al. Emissões otoacusticas transitórias e produtos de distorção na avaliação em recém-nascidos com poucas horas de vida. Revista brasileira de Otorrinolaringologia. v.62. n.3. 1996.

DURANTE,A.S. et al. A implementação de programa de triagem auditiva neonatal universal em um hospital universitário brasileiro. Rev. Pediatria. v.26. n.2. São Paulo, 2004. Disponivel em: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1058. pdf. Acessado em: 26/09/2009.

RIBEIRO, F.G. e MITRE, E.I. Avaliacao do conhecimento sobre triagem auditiva neonatal de pacientes no pós-parto imediato. Revista Cefac, v.6. n.3. São Paulo, jul-set/2004. Disponível em: http://www.cefac.br/revista/revista63/Artigo%20 11.pdf. Acessado em: 25/09/2009.

QUAINO, V. Triagem auditiva em profissionais que atuam na unidade de Neonatologia/CAISM. São Paulo: Unicamp: PIBIC/CNPq, Faculdade de Ciências Médicas, 2007. Disponível em: http://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/ xvcongresso/cdrom/pdfN/762.pdf Acessado em 25/09/2009.

TIENSOLI, L.O. et al Triagem auditiva em hospital público de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: deficiência auditiva e seus fatores de risco em neonatos e lactentes. Cad. Saúde Pública, vol.23, n.6. [online]. 2007. Disponivel em: http://www. scielo.com.br Acessado em: 23/09/2009.

SPERI, MRB; PATRESI,R. Emissões otoacústicas transientes e espontâneas em recém-nascidos a termo. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, 16(1): 9-16, abril, 2004

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