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Paôla Luma Cruz Faculdade Evangélica do Paraná

INTRODUÇÃO: O processo pedagógico deve possibilitar aos educandos, por meio do processo da abstração, a compreensão da essência dos conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da prática social e histórica. Este é o caminho por meio do qual os educandos passam do conhecimento empírico ao conhecimento teórico-científico, desvelando os elementos essenciais da prática imediata do conteúdo situando-o no contexto da totalidade social (VASCONCELOS, 1993). Na perceptiva da educação dialógica, a prática educativa, visa o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos indivíduos no cuidado com a saúde. A diferença, com relação ao modelo tradicional, reside no fato de que o estudante participa do processo de compreensão da sua situação de saúde, num processo que visa ser emancipatório. A estratégia adotada é a comunicação dialógica, que busca a construção de um saber sobre o processo saúde-doença-cuidado que capacite os indivíduos a decidirem quais as estratégias mais apropriadas para promover, manter e recuperar sua saúde (ALVES, 2005). Diante da complexidade dos problemas de saúde, a interdisciplinaridade se apresenta, principalmente no campo da saúde pública, como uma necessidade primordial. Da mesma forma a educação em saúde só torno eficaz quando contempla a interdisciplinaridade. Segundo Japiassú (1976) apud Alves; Brasileiro e Brito (2004), a interdisciplinaridade promove a intercomunicação entre as disciplinas, resultando em uma modificação entre elas, por meio do diálogo compreensível. Rosenfield apud Perini et al. (2001) caracteriza a interdisciplinaridade como a possibilidade do trabalho conjunto na busca de soluções, respeitando-se as bases disciplinares específicas. Assim, como afirma Japiassu (1976) apud GOMES e DESLANDES (1994), a interdisciplinaridade pode ser vista como uma necessidade interna da ciência, a fim de resgatar a unidade de seu objeto e os vínculos de significação humana. E coloca-se também como uma necessidade imposta pelos complexos problemas que são colocados para a ciência e que não são respondidos por um enfoque unidisciplinar ou pela justaposição de várias disciplinas. Diante disso, o presente trabalho tem como proposta promover a saúde em meio escolar de forma interdisciplinar.

ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: O projeto foi desenvolvido por residentes de Saúde da Família da Faculdade Evangélica do Paraná junto a uma turma de terceira série de uma escola municipal de ensino fundamental, localizada na área adscrita de uma unidade de saúde no município de Curitiba-PR. O trabalho teve caráter interdisciplinar, envolvendo a fisioterapia, a nutrição e a enfermagem. Foram realizados, durante o segundo semestre de 2008, cinco encontros com aproximadamente duas horas de duração. O método escolhido foi a metodologia histórico-crítica, cuja problematização é um dos eixos fundamentais. As ações educativas tiveram sua temática baseada no processo saúde doença e nas perspectivas de saúde e doença dos sujeitos participantes. Buscou- se desenvolver as atividades de forma lúdica e interacionista. Foram realizadas colagens, jogos, construção de cartazes e dinâmicas corporais.

RESULTADOS : O primeiro do encontro teve como principais objetivos criar vínculo, perceber as concepções de saúde e doença das crianças e posteriormente avaliar e organizar os pontos importantes a serem trabalhados. Inicialmente, foi dialogado com as crianças sobre o trabalho da enfermagem, fisioterapia e nutrição. Posteriormente, durante a atividade procurou-se conhecer os alunos e suas visões sobre processo-saúde doença, principalmente a aqueles relacionados aos determinantes. Percebeu-se que os escolares relacionaram fortemente a saúde ao bem

estar, a alimentação saudável, a medicamentos e a profissionais da saúde. A doença foi relacionada ao sofrimento, a doenças em destaque na mídia - como dengue e estresse - a hospital, a poluição e a vícios. A partir das falas e demais resultados da atividade anterior, procurou-se no segundo encontro traduzir o que os alunos trouxeram como elementos de saúde e elementos de doença buscando elaborar um esquema, que relaciona a saúde aos determinantes ambientais, sociais, biológicos e culturais. Coletivamente, finalizou- se a atividade montando um mural que ficou exposto no interior da sala durante o período de realização do trabalho. Como um dos principais temas levantados pelas crianças foi a alimentação, optou-se, dessa forma, por no terceiro encontro abordar essa questão. A atividade consistiu em dois momentos, o primeiro teve por objetivo conhecer o padrão alimentar das crianças, por meio de uma dinâmica em que foi solicitado que os escolares desenhassem uma refeição habitual em um prato de papelão. No segundo momento, por meio de uma dinâmica com recortes de figuras de alimentos abordou-se e discutiram-se os grupos alimentares (construtores, energéticos, reguladores e eventuais) e suas funções. Além disso, foi trabalhada a composição do prato saudável. Pode-se observar a partir da primeira dinâmica que é habitual a ingestão de mais de um alimento fonte de carboidrato nas refeições, normalmente arroz e macarrão. As verduras e legumes apareceram na maioria dos pratos, no entanto numa

proporção inferior aos demais alimentos. A composição dos pratos foi, em sua maioria, composta por uma verdura, uma leguminosa, um cereal, uma massa e uma fonte protéica, normalmente ovo ou carne. Houve também a presença de embutido em substituição à fonte protéica. Já na segunda atividade, inicialmente, as crianças tiveram algumas dificuldades, mas no decorrer da dinâmica demonstraram ter compreendido os alimentos que compõe cada grupo pela suas funções. No quarto encontro foi explorada a relação da criança com o corpo, como ela entende seu processo de crescimento e o que é necessário para desenvolver-se saudável. Para tanto foi utilizada a dinâmica “espelho mental”, seguida de aprofundamento. O principal objetivo foi auxiliar a criança a perceber sua imagem e seu próprio corpo, refletindo sobre os cuidados com ele e como ele se desenvolve. A dinâmica constitui- se em experimentar e observar o próprio corpo em diferentes circunstâncias, como na posição sentada e andando, entre outras. Posteriormente, foi solicitado que cada escolar desenhasse a sua própria imagem atual, como ele imagina que fosse quando era um

bebê e como se vê no futuro. Em grupo, discutiram- se questões como desenvolvimento do corpo, hábitos saudáveis e autocuidado. Pôde-se perceber por meio dessa dinâmica, a grande influência da mídia e da comunidade na visão dos escolares a respeito do seu próprio corpo, assim como uma visão distorcida do presente, colocando-se com corpos de adolescentes. Seus desenhos sobre o futuro mostraram desejos e ambições, como por exemplo, eles próprios ao lado de carros e animais de estimação. No último encontro foi realizada a avaliação do processo educativo, bem como confraternização. Para a avaliação, optou- se pela utilização de jogos com temas trabalhados anteriormente, que permitiu perceber que a metodologia utilizada foi adequada, gerando reflexões construtivas a cerca dos temas abordados. Durante todas as atividades as crianças estiveram participativas e por muitas vezes correlacionaram diversas situações vividas no seu dia-a-dia familiar e comunitário às temáticas. Desta forma, verificou-se que é possível criar condições para uma aprendizagem ativa e construtiva em saúde, contemplando a interdisciplinaridade.

REFERÊNCIAS

ALVES, V. S. A health education model for the Family Health Program: towards comprehensive health care and model reorientation, Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.9, n.16, p.39-52, set.2004/fev.2005.

JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago. 1976.In GOMES R. E DESLANDES, S. F. Interdisciplinaridade na saúde pública: um campo em construção. Rev. Latino-am. enfermagem – Ribeirão Preto – v. 2 – n. 2 – p. 103-114 – julho 1994.

JAPIASSÚ, H.. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. In: Alves, R. F.; Brasileiro, M. C. E.; Brito, S. M. O. A interdisciplinaridade: um conceito em construção. Episteme, Porto Alegre, n. 19, p. 139-148, jul./ dez. 2004.

ROSENFIELD, P.L. The potential of transdisciplinary research for sustaining and extending linkages between the health and social sciences. Soc. Science Med., v.35, n.11, p.1343-1357, 1992. In:PERINI, E. et al. , El individuo y lo colectivo - algunos desafíos de la Epidemiología y de la Medicina Social. Interface _ Comunic, Saúde, Educ, v.5, n.8, p.101-18, 2001. VASCONCELOS, C. S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo: Cadernos Pedagógicos do Libertad, 1993.

ESTUDO DAS MODALIDADES TERAPÊUTICAS EM PACIENTES COM CÂNCER