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Vários relatos históricos mostram a contaminação das águas subterrâneas e poços de abastecimentos públicos por necrochorume. Os cemitérios são fontes causadoras de impactos ambientais, muitas vezes com localização irregular, ou seja, situada perto de mananciais. A proliferação dos microrganismos dos corpos em decomposição se dá através do solo, contaminando o lençol freático e posteriormente contaminará o homem. O objetivo geral deste trabalho foi analisar os tipos de impactos ocasionados pelo cemitério Água Verde em Curitiba-PR e pelo cemitério Córrego Fundo em São José dos Pinhais-PR, tendo como objetivos específicos verificar a existência de poços de monitoramento do nível hidrostático, avaliar potenciais de poluição de origem microbiológica e metais pesados no aquífero freático e propor soluções ambientais corretas para os impactos. O Cemitério Municipal Água Verde no município de Curitiba foi fundado em 1888. Possui uma área de 97.827 m2 contando com aproximadamente 92 mil sepultados até a data das coletas 11 e 13 de maio de 2009 pela manhã, onde foram coletadas amostras de água dos 8 poços de monitoramento com profundidade variando entre 4,23-10,22 m. O Cemitério Municipal Córrego Fundo no município de São José dos Pinhais foi fundado em 1940. Possui uma área de 22.620 m2 e aproximadamente 12 mil sepultados, onde foram coletadas amostras de água de 2 poços artesianos no entorno com profundidade variando de 6-13 m, já que no cemitério não há poços de monitoramento. No dia 4 de maio de 2009 pela manhã, o poço mais profundo é utilizado para construção civil no local, sendo que o segundo com profundidade menor é utilizado para consumo por uma família vizinha ao cemitério, ambas no estado do Paraná. As amostras foram coletadas com auxílio de amostradores do tipo bayler, mesmo tipo utilizado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) em análises de monitoramento. As análises foram realizadas utilizando-se a metodologia do Standard Methods for the examination of Water and Wastewater, 21ª Edition, da American Public Health Association- APHA (2005) nos laboratórios da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)

onde foram feitas análises microbiológicas. No TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná) setor de química ambiental, foi feita análise em triplicata para alumínio, antimônio, arsênico, cádmio, cálcio, chumbo, cobre, cromo, estanho, ferro, magnésio, manganês, mercúrio, níquel, selênio e zinco por espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado com configuração axial. Os parâmetros foram baseados na legislação brasileiras CONAMA 357/05 e também para comparação com a lei vigente no Brasil foram utilizadas as leis italianas e canadenses para a potabilidade da água. De acordo com os resultados, os padrões de qualidade de água, adotados para comparação, são os valores máximos permitidos (VMP) especificados na Resolução CONAMA 357/05, aplicada para classificar águas superficiais, adotando-se os valores para classe 2, destinadas ao consumo humano, após tratamento convencional.Para comparação internacional usou-se os parâmetros da lei italiana DPR 05/88 del Ministerio della Sanità (ITÁLIA, 1988) e da lei canadense Comité FPT sur l’eau potable au Canada, Santé Canada. Os valores de metais pesados foram baseados na resolução CONAMA 357/05. Para o Cemitério Córrego Fundo, os poços foram chamados de PA (ponto alto) e PB (ponto baixo). Para o Cemitério Água Verde foram apenas enumerados os poços de acordo com a localização, e o poço de monitoramento n° 4 foi desativado. No cemitério Água Verde encontrou-se resultados elevados para alumínio,

chumbo, ferro e manganês. Fazendo uma média entre os 8 poços para o alumínio obteve-se 2,9 mg/L sendo que a resolução CONAMA 357/05 indica no máximo 0,1 mg/L, o teor elevado desse metal na água acarreta danos ao sistema nervoso central, perda de memória, tremores, dores musculares e surdez e a sua ocorrência nessas águas pode ser atribuído aos adornos nos caixões, às jóias postas em corpos o qual é percolado pela chuva através das rachaduras em túmulos. A presença de ferro e manganês pode ser resultado tanto de processos naturais, isto é, da solubilização de minerais ferro-manesianos, como na solubilização e lixiviação das partes metálicas dos caixões, a concentração máxima permitida para ferro segundo o CONAMA 357/05 é de 0,3 mg/L o qual foi excedido em 60% das amostras no cemitério Água Verde variando entre 0,15 mg/L até 40 mg/L, o excesso de ferro tem como consequência a hemocromatose e o manganês causa grandes efeitos neurotóxicos no homem e problemas respiratórios. O chumbo foi outro metal pesado identificado, o valor recomendado pelo CONAMA 357/05 é de 0,01 mg/L, porém em 3 poços de monitoramento foram encontrados valores superiores, entre 0,005 mg/L a 0,11 mg/L, como o chumbo é um metal bioacumulável ele age diretamente no sistema nervoso, medula óssea e rins. Comparando esses valores com as leis italianas e canadenses verifica- se a contaminação, mesmo que o parâmetro para chumbo na legislação italiana seja um pouco mais

elevado que a brasileira e canadense, quanto ao ferro os valores estipulados para o Canadá e a Itália estão abaixo do permitido no Brasil. No cemitério Córrego Fundo foram detectados metais como alumínio, ferro e manganês nas amostras do PA, no que se refere ao PB, todo as amostras estavam no padrão não apresentando valores superiores ao proposto pela resolução CONAMA 357/05. Por tratar-se de um poço que fica aberto, as contaminações por tais metais podem ter sido antrópicas, pois segundo o morador, esse poço é utilizado para fazer argamassa, com essaS atividades por vezes derrubava-se e esquecia-se materiais de construção dentro do mesmo. Com relação aos teores de Cálcio e Magnésio, na legislação não há um padrão. A ocorrência de Ca2+ é devida provavelmente à lixiviação do cimento aplicado nas sepulturas e em menor quantidade na lixiviação óssea. Já o Magnésio pode estar presente em adornos fúnebres e ele é o principal cátion dos tecidos humanos, estando a sua origem, provavelmente, relacionada à decomposição cadavérica. O excesso de cálcio no organismo pode acarretar doenças como anorexia, depressão, fraqueza muscular, irritabilidade, pedra nos rins, já o excesso de magnésio tem como conseqüência a hipotensão, náuseas, boca seca e sede crônica. Em relação aos resultados microbiológicos, o meio Muller Hinton foi utilizado para verificação de Pseudomonas sp, pois se houver presença desta bactéria, ela torna o meio esverdeado. As placas utilizadas foram EMB,

MacConkey, Mueller Hinton, Salmonella Shigella e TCBS respectivamente.Pela análise microbiológica pode-se observar a presença de microrganismos entéricos gram-negativos com exceção da pseudomas sp e aermonas sp que não são entéricos, estes microrganismos estão presentes na flora normal do intestino humano e animal. A presença destes microrganismos indica decomposição cadavérica nas proximidades e/ou fezes. No cemitério Água Verde foi encontrado todos os microrganismos analisados, sendo que a Salmonella sp, Serratia marcescens e Proteus morgani foram encontrados em todos os poços analisados. Esses microrganismos são grandes causadores de doenças como febre tifóide, pneumonia, septcemia. Outro microrganismo com alta taxa de infecção são as Pseudomonas sp pois causam graves infecções hospitalares. No cemitério Córrego fundo, houve uma contaminação maior no PA, mas essa contaminação pode ser advinda de fezes animais, uma vez que este poço permanece aberto ao lado do cemitério, já no PB encontramos microrganismos como Enterobacter aerogenes, Escherichia coli e Serratia marcescens . Esse é um poço de utilização familiar o qual possui uma bomba, a contaminação pode ter advindo na falta de higiene com a bomba, já que eles mesmos fazem a manutenção deste equipamento. Na Conclusão do trabalho, as análises indicaram que há um comprometimento da água no Aquífero Freático do cemitério Água Verde devido à infiltração de

líquidos produzidos na decomposição cadavérica. Através do cultivo microbiológico verificou-se que há um grande número de bactérias entéricas poluindo as águas do aqüífero. Quanto ao cemitério Córrego Fundo, as análises indicam que a contaminação pode ser antrópica uma vez que o poço artesiano analisado fica aberto, e o outro é manipulado diariamente por moradores. Para a realização deste trabalho houve diversos empecilhos, sendo que o maior deles foi o burocrático, uma vez que as prefeituras não disponibilizam de forma rápida os laudos de análises laboratoriais feitas nos cemitérios, há uma grande demora para se obter autorizações permitindo coletas de água no local, isso quando o cemitério está regularizado na questão poços de monitoramento, pois se não os houver como em São José dos Pinhais, a prefeitura simplesmente nega o pedido, não dando acesso ao cemitério. A análise em São José dos Pinhais só foi possível pela colaboração da família vizinha ao cemitério que cedeu gentilmente amostras de seus poços artesianos. É importante ressaltar que durante

o processo de decomposição dos cadáveres há uma proliferação de microorganismos que podem contaminar solos e os aquíferos. Os cemitérios fazem parte do planejamento ambiental urbano dos municípios, pois representam uma atividade impactante para o ambiente. A melhor forma de evitar contaminação por necrochorume seria a cremação, porém por questões religiosas e culturais, no Brasil em sua maioria permanecem as práticas do sepultamento. É necessário um trabalho de reparação dos túmulos, pois em sua grande maioria estão rachados e abandonados, com a presença de árvores com enraizamentos profundos ao redor dos cemitérios, danificando os mesmos. A importância da realização periódica de análises dos parâmetros microbiológicos e de metais pesados que contribuem para a contaminação do ambiente, não é uma preocupação somente ambiental mais também de saúde pública.

Palavras-chave: cemitério; necrochorume; poluição ambiental.