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Luciana Lopes Costa UTP Kelly C A Silvério UTP

Jair Mendes Marques - UTP

INTRODUÇÃO: Entre as atividades desenvolvidas na Polícia Militar está a Banda Musical constituída de instrumentistas de sopro e de percussão, tendo o compromisso com a música enquanto arte e manutenção das tradições musicais militares. A prática árdua e dedicação intensa sobre a técnica musical demandam um esforço físico e mental imensurável aos musicistas, fazendo com que os mesmos exijam demasiadamente da sua estrutura física e mental. Todo este trabalho, partindo do desempenho de uma excelente técnica e execução, reflete ao corpo do instrumentista, possíveis e visíveis alterações posturais, encurtamentos e algias musculares devido a falta de consciência corporal. Além disso, os ângulos de atuação mecânica, ajustes finos de execução do instrumento e preocupações inconscientes de desempenho e aprimoramento da técnica prejudicam o ajuste ergonômico, por conseqüente ocasionando afecções musculoesqueléticas. Desta forma, fatores ambientais e organizacionais do trabalho têm sido considerados causadores de risco para o desenvolvimento de distúrbios musculoesqueléticos em músicos. Disfunções musculoesqueléticas relacionadas à prática instrumental atingem 70% desta população, tendo como principal fator de dor a postura adotada na profissão do militar. A postura militar é conhecida como um exemplo de boa postura, e se baseava numa disciplina corporal rigorosa, da qual fazia parte o alinhamento dos segmentos corporais. Os soldados eram até o século XVI selecionados pelas suas aptidões físicas, pelo seu porte e postura, mas a partir de do século XVIII passaram a serem desenvolvidas ações posturais corretivas. A postura ereta (em movimento ou parada) é obtida pelo equilíbrio das forças que direcionam o corpo anteriormente para o chão e a força dos músculos posteriores da coluna vertebral e membros inferiores que realizam força no sentido contrário. A ação integrada desses músculos posteriores que trabalham em grupo é de extrema importância e mantém o alinhamento corporal. Por outro lado, a postura adotada pelo militar músico, instrumentista de sopro ou percussão, pode evidenciar os desequilíbrios adquiridos e causar dores musculoesqueléticas: ombros assimétricos, lateralidade da pelve, desenvolvimento dos músculos das mãos e antebraço, desvios da coluna cervical, cabeça rodada para o lado oposto da movimentação do instrumento.

A postura é uma posição adotada pelo nosso corpo, independente de como ela se encontra - em movimento ou estático. Está estabilizada pelo equilíbrio muscular e esquelético, onde uma sobrecarga em diferentes estruturas do corpo é capaz de provocar um desequilíbrio muscular alterando a base de sustentação, o que caracteriza a má postura. Uma boa postura tem sido definida como uma situação em que o centro de gravidade de cada segmento é colocado verticalmente sobre o segmento seguinte. Desta forma, quando o centro de gravidade desvia da linha média aparecem as alterações posturais. Os testes de avaliação postural caracterizam a postura dos indivíduos utilizando um referencial de postura padrão. A referência utilizada internacionalmente como padrão normal de postura é considerada quando na vista lateral, a linha de prumo coincidir com a posição ligeiramente anterior ao maléolo lateral e ao eixo da articulação do joelho e posterior ao eixo do quadril. Esta mesma linha deverá passar pelas vértebras lombares, pela articulação do ombro, corpo das vértebras cervicais, lóbulo da orelha. Na vista posterior a linha de prumo será eqüidistante das faces médias dos calcanhares, membros inferiores e escápulas, coincidindo, portanto, com a linha mediana do tronco e cabeça. Na vista anterior e posterior, o alinhamento do corpo é analisado observando a simetria entre as metades direita e esquerda no plano sagital. A cabeça apresenta uma posição ideal quando esta se encontra equilibrada, não estando inclinada nem

rodada. Neste alinhamento, o peso está distribuído, as curvaturas normais e pelve em posição neutra. Uma postura está em equilíbrio quando o eixo vertical traçado a partir de um centro de gravidade cai na base de sustentação eqüidistante aos dois pés. Posteriormente, a linha da gravidade deve acompanhar a linha reta formada pelos processos espinhosos, passar pela linha glútea e chegar a meia distância dos calcanhares. A avaliação da postura quantitativa realizada somente pela observação tem pouca reprodutividade. Assim, um grande número de instrumentos de diagnósticos têm sido utilizados, como a posturografia computadorizada que é uma forma de análise da avaliação postural. Estes instrumentos são vistos atualmente como a forma mais objetiva de avaliar o sujeito. A posturografia dinâmica é um método de avaliação que analisa a postura com ambiente externo. Já a posturografia estática avalia a postura sem perturbação externa. Esta forma de análise fotográfica tem sido muito utilizada, pois permite a comparação de resultados de todas as alterações posturais, possibilitando o conhecimento da expressão corporal do sujeito.

OBJETIVO: Avaliar a postura em instrumentistas de sopro da Banda da Polícia Militar do Paraná.

METODOLOGIA: Participaram deste estudo 66 sujeitos do sexo masculino, com idades entre 26 e 45 anos (média = 36,4), funcionários da Polícia Militar do Estado do Paraná. Os sujeitos foram subdivididos em 2 grupos: Grupo Experimental (GE) com 36

sujeitos, instrumentistas da banda musical e Grupo Controle (GC) com 30 sujeitos não instrumentistas da banda, policiais da Tropa de Choque da Polícia militar. Após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (CEP/UTP 00014/2008), todos os sujeitos responderam a um questionário e realizaram avaliação postural. O questionário continha questões abertas e fechadas e foi baseado no Nordic Questionnaire, traduzido e validado para sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho para a população brasileira. O questionário tratou de aspectos como dados pessoais e sintomatologia - ocorrência de dores ou desconforto relacionados ao trabalho e sua freqüência em dez regiões corporais. A avaliação postural foi realizada por fotogrametria com utilização do software SAPO. O software SAPO é baseado em um protocolo de avaliação postural do sujeito por quatro vistas fotográficas diferentes: anterior, posterior, lateral direita e lateral esquerda. Para cada uma dessas vistas o software propõe um protocolo de pontos anatômicos específicos a serem avaliados. Optou-se pela análise da vista frontal – posição da cabeça no eixo rotacional e altura entre os acrômios e vista lateral – observação da pelve no eixo axial. Na posição sagital, mensurou- se o centro de gravidade (CG) por meio de cálculo matemático pré-estabelecido pelo programa SAPO. Este cálculo utiliza pontos selecionados do protocolo sobre a base de sustentação do sujeito o qual fornece o grau de deslocamento do mesmo sobre o seu

eixo de gravidade. Este deslocamento pode estar na direção ântero-esquerda, ântero-direita, póstero-direita, póstero-esquerda ou na linha média. Utilizaram-se bolas de isopor acopladas ao corpo do sujeito com fita crepe sobre os pontos anatômicos para a realização da fotografia, utilizando-se câmera digital Casio 7.2 MP e tripé VIOLA PV 64CG e um fio de prumo que foi colocado na parede para delimitação do espaço a ser fotografado para calibração da imagem. Houve uma distância de 2,40 metros entre a câmera fotográfica e o sujeito. A altura da câmera foi de

cerca da metade da estatura do sujeito. Para acompanhar as diferentes vistas posturais do sujeito para o mesmo permanecer sempre na mesma base de sustentação foi solicitado ao sujeito que mantivesse uma postura habitual. As imagens foram armazenadas em computador HP Pavilion Entertainment PC para realizar a análise com uso do software SAPO. As imagens foram inseridas no programa SAPO e foram analisadas com demarcação com mouse nos pontos anatômicos já estabelecidos. Esta marcação permitiu que o programa mensurasse os ângulos das estruturas demarcadas, sendo possível avaliar a postura dos sujeitos nas vistas propostas. Os dados foram compilados e tratados estatisticamente para comparação dos grupos Experimental e Controle quanto aos dados do questionário (Teste de diferença de proporções – nível de significância 0,05) e quanto aos dados da avaliação postural por fotogrametria (teste Qui-quadrado – nível de significância 0,05).

RESULTADOS: Não houve diferença entre os grupos estudados quanto a presença de dor musculoesquelética: 75% do GE e 86,6% do GC relataram dor musculoesquelética freqüente. As regiões mais relatadas pelo GE foram: pescoço (52,77%), punho, mãos e dedos (50%), ombros (50%), região dorsal (47,22%), lombar (47,22%) e quadril (44,44%). As regiões de dor mais relatadas pelo GC foram: região lombar (70%), ombros (53,33%), pescoço (40%) e quadril (33,33%). Quanto a avaliação postural, os testes estatísticos também não evidenciaram diferença significativa em todas as vistas analisadas. Entretanto, na vista frontal observou-se que ambos os grupos apresentaram alterações na posição de cabeça no eixo rotacional: 55,55% do GE e 56,66% do GC apresentaram rotação de cabeça à esquerda. Quanto à altura dos acrômios, observou-se que 61,11% do GE e 40% do GC apresentaram o acrômio esquerdo

elevado, sendo que apenas 5,55% do GE apresentaram normalidade nesta avaliação. Na vista lateral, observou- se que 100% dos sujeitos do GE e do GC apresentaram cabeça posteriorizada e a maioria apresentou quadril anteriorizado (63,88% do GE e 56,66% do GC). Quanto ao centro gravitacional, observou-se que em ambos os grupos, a maioria dos sujeitos apresentou deslocamento anteriormente e para a esquerda (88,88% do GE e 86,66% do GC).

CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir que os instrumentistas de sopro e os policiais militares não instrumentistas possuem dores musculoesqueléticas e alterações posturais decorrentes pela atividade ergonômica que exercem, com grande sintomatologia nas regiões mais utilizadas, decorrentes do uso do instrumento e dos acessórios utilizados pelo policial militar.