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Ana Paula Santana UTP Ana Cristina Guarinello UTP

A linguagem, como objeto de pesquisa, vem sendo do interesse de muitas áreas: lingüística, psicologia, neurociências, medicina, fonoaudiologia. Cada área toma um posto de observação diferenciado. Na fonoaudiologia analisamos, principalmente, as possibilidades de significação nas várias modalidades de linguagem, assim como as dificuldades no seu processos de aquisição e funcionamento. Docentes e discentes vinculados à Linha de Pesquisa Fonoaudiologia e os Processos de Linguagem, do Programa de Pós Graduação em Distúrbios da Comunicação da UTP, vêm desenvolvendo estudos que visam a sistematização de teorias e de práticas fonoaudiológicas voltadas à avaliação e terapia dos distúrbios da linguagem oral e escrita, bem como à promoção de tais modalidades de linguagem em contextos vinculados às Instituições de Saúde e Educação. As pesquisas contemplam interesse interdisciplinar e envolvem, assim, discussões sobre a linguagem e os processos afeitos a ela. Quanto ao aspecto metodológico, grande parte das pesquisas tem caráter qualitativo e/ou qualitativo/ quantitativo. Dentre os pressupostos norteadores de tais estudos ressaltamos a concepção de linguagem como constitutiva dos sujeitos em suas diferentes dimensões, bem como das relações sociais e, portanto, das formas de organização social. Consideramos que o desenvolvimento e uso das linguagens orais e escritas estão atrelados às condições de apropriação das mesmas que são historicamente constituídas, ou seja, estão atreladas às condições de vida materiais e subjetivas. Determinando tais condições, enfatizamos as formas pelas quais as práticas de linguagem escrita e oral são mediadas socialmente, especialmente nos contextos familiares e educacionais. Partimos do pressuposto de que os valores, os usos e as funções atribuídos à oralidade e à escrita, nas práticas cotidianas, por pais, familiares e professores são determinantes das possibilidades e dos limites enfrentados pelos sujeitos em seus processos de apropriação e uso dessas modalidades de linguagem. A partir de tais pressupostos, desenvolvidos em Núcleos de Trabalho que, além de contar com a participação de docentes, discentes e egressos do Mestrado e Doutorado, contam com a contribuição de docentes e discentes da Graduação

e de pesquisadores da comunidade, os projetos, atualmente, em andamento estão organizados a partir das seguintes temáticas: 1. Família, Subjetividade, Linguagem e Abordagens Grupais: - Estudo com grupo de pais de crianças com comprometimentos significativos de oralidade, usuárias da prancha de comunicação alternativa na escola, com objetivo de apreender aspectos favoráveis e desfavoráveis ao uso de tal recurso no contexto familiar; - Estudo com pais de crianças portadoras de fissura lábial e ou palatina acerca de suas representações quanto ao impacto de tal problemática no desenvolvimento global da criança e, em especial, nos processos de apropriação das linguagens oral e escrita; - Estudo com familiares e ou cuidadores de sujeitos afásicos, buscando analisar a visão de tais sujeitos em relação à abordagem grupal que estão vivenciando. 2. Linguagens Oral e Escrita, Formação de professores, Fonoaudiologia e Educação: - Estudos quanto à visão de grupo de professores acerca de seus conhecimentos em torno do conceito de letramento e das implicações de tais conhecimentos nas práticas pedagógicas; - Estudo acerca da visão de professores quanto às suas condições de letramento; - Análise de uma proposta de intervenção fonoaudiológica no contexto educacional; - Estudo dos processos de avaliação de leitura e de escrita no contexto fonoaudiológico e educacional; - Estudo das condições de letramento dos pais e de sujeitos diagnosticados como limítrofes; - Estudo dos aspectos

metodológicos de grupo de afásicos. 3. Linguagem e Envelhecimento: - Análise das condições de letramento no contexto da gerontologia; - Estudo do papel de práticas de leitura e de escrita no processo de envelhecimento; - Análise da influência de práticas orais nesse processo; - Análise da relevância do trabalho em grupo junto a pessoas que estão envelhecendo; - Análise dos sentidos atribuídos ao envelhecimento pela mídia escrita. 4. Linguagem, Surdez e Educação: - Análise dos discursos de pais de crianças surdas; - Estudo do papel do grupo de familiares de surdos e os discursos produzidos nesse grupo; - Análise da surdez no contexto educacional: formação de professores. Como resultado das nossas pesquisas podemos levantar alguns aspectos gerais: a) a importância de discussões e do implemento de estudos envolvendo os familiares dos sujeitos com alterações de linguagem. Isso se dá a partir do momento em que as pesquisa apontam que o modo com a família concebe o sujeito, a linguagem e os sintomas de linguagem tem implicações na forma como o sujeito se coloca como autor de seus discursos, bem como, com os processos de apropriação da linguagem. Parte-se, assim, do pressuposto de que a subjetividade é construída socialmente, a partir das interações sociais e dos discursos produzidos nessas interações. Dado que a família proporciona a primeira situação interativa que a criança participa, assim como consiste num espaço primordial de construção de discursos, compreender as práticas de oralidade e

escrita vivenciadas no contexto familiar e a visão da família sobre os usos de linguagem por parte de seus diferentes membros é fundamental para a elaboração de práticas clínicas e/ou institucionais. Dito de outra forma, entender, analisar e ressignificar discursos produzidos no contexto familiar podem trazer modificações tanto para o familiar, quanto para o sujeito e sua relação com seu sintoma. b) Sobre os atendimentos grupais no contexo das práticas fonoaudiológicas nossos estudos apontam que o grupo é um espaço social no qual os sujeitos podem colocar- se discursivamente. O grupo, além de potencializar situações interpessoais que ampliam as possibilidades de troca e de práticas de linguagem significativas, é também o promotor das interações sociais que têm implicações diretas na (re)construção da subjetividade. Desta forma, a intervenção grupal favorece situações e práticas discursivas próximas às práticas sociais cotidianas, o que propicia a formação de esquemas interativos que ultrapassam a díade paciente-terapeuta, promovendo um diferencial nas possibilidades de práticas com a linguagem, na constituição do sujeito e nos processos de inserção social. c) Os estudos na área de envelhecimento evidenciam que o trabalho com e pela linguagem escrita possibilita a promoção de um envelhecimento ativo, digno e bem-sucedido. Contudo, a nossa pesquisa indica que é necessário tanto ressignificar a história de relação dos sujeitos idosos com a leitura e a escrita, quanto possibilidades de

práticas de letramento, pois um grupo significativos de idosos não se perceberem nem se colocam como leitores e escritores de diversos gêneros discursivos que compõem a sociedade vigente. d) as pesquisas que abordam a formação de professores evidenciam a necessidade de discussões em torno das práticas de oralidade e de letramento. Nessa direção, os resultados dos estudos em andamento evidenciam que embora os professores sejam leitores e escritores, suas condições de letramento, muitas vezes, não permitem uma posição de autoria protagonista na relação que estabelecem com textos acadêmicos, literários, enfim, com gêneros discursivos secundários. Decorrente desse fato, podemos apreender: - que os professores tem conhecimento restrito sobre os processos de apropriação das linguagens oral e escrita, bem como, em relação aos determinantes sociais,culturais,ideológicos e lingüísticos envolvidos em tais processos; - que as práticas de leitura e escrita, predominante, vivenciadas por professores dizem respeito a textos produzidos e veiculados em esferas privadas e, portanto, fazem parte dos denominados gêneros primários. Além disso, a relação com textos acadêmicos, em geral, ocorre para cumprimento de atividades obrigatórias em seus contextos de trabalho; - que embora a instituição escolar seja agência privilegiada de letramento, as mediações vivenciadas pelos alunos em relação aos discursos orais e escritos não tem permitido que os mesmos façam uso significativo de tais modalidades

de linguagem; - as intervenções fonoaudiológicas desenvolvidas no contexto escolar devem contribuir para que a escola cumpra seu papel social,ou seja, a democratização dos conhecimentos acadêmicos historicamente constituídos. Portanto, tais intervenções devem promover a apreensão de conhecimentos teórico-práticos que permita aos professores o desenvolvimento de práticas de oralidade, leitura e escrita que resultem na promoção da linguagem, ou seja, na apreensão por parte dos alunos das diferentes funções, usos, e valores sociais envolvidos com as diferentes práticas de linguagem. Além disso, tais intervenções devem promover a apropriação por parte dos alunos dos aspectos estruturais e semânticos envolvidos com a oralidade e escrita de forma que os mesmos possam se constituir como sujeitos/autores capazes de produzir sentidos ao interpretarem e elaborarem discursos. Para finalizar, concluímos que os avanços teórico-práticos obtidos a partir dos estudos desenvolvidos em nossa Linha de Pesquisa, tornaram-

se possíveis porque tendo em vista os pressupostos teóricos que norteiam esses projetos, ou seja, a concepção sócio-histórica de linguagem, uma vez que permite abordá-la como dialogia, como trabalho cultural, como construção conjunta de sentidos e que se manifesta por meio dos vários mecanismos de significação (oralidade, escrita, gestos, desenhos). Só a partir dessas premissas é que podemos avançar na elaboração de intervenções terapêuticas e/ou institucionais que devem dar conta das multifacetas da linguagem: o biológico, o interativo, o subjetivo e o social. Em suma, as pesquisas com a linguagem devem ultrapassar sua análise formal, strictu sensu e considerar lugares sociais, a relação linguagem/sujeito/sintoma, as práticas discursivas, as histórias pessoais. Só a partir desse olhar é que podemos, de fato, avançar no entendimento dos processos de linguagem.

Palavras-chaves: linguagem oral; linguagem escrita; fonoaudiologia.

INFLUÊNCIA DA HIDROCINESIOTERAPIA NO EQUILÍBRIO DE INDIVÍDUOS