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Cláudia Giglio de O Gonçalves UTP Adriana Lacerda – UTP

Entre os riscos ocupacionais à saúde, o ruído é o agente físico mais comum nos ambientes de trabalho e as clínicas, os consultórios e os laboratórios odontológicos também apresentam elevados Níveis de Pressão Sonora (NPS) que podem comprometer a saúde dos profissionais expostos. Nos consultórios odontológicos, as fontes ruidosas dos são: micromotores, compressores de ar, sugadores, turbinas de alta rotação, etc. Desde 1959, há preocupação com os elevados níveis de pressão sonora produzida pelos equipamentos odontológicos, ano em que o Conselho de Saúde Dental (EUA) sugeriu a investigação auditiva pela exposição ao ruído na prática dentária. Em 1974, estudos de Peyton, (apud BERRO e NEMR, 2004), analisou turbinas de alta-rotação, encontrando intensidades que variavam de 75 dB a 100 dB à freqüência de 9.000Hz. Lehto, (1990), que encontrou na alta rotação, 65 a 78,6 dB (NA), no amalgador, 65,8 a 68 dB (NA), no sugador de alta potência, 68,8 a 72 dB (NA), no ultra-som para limpeza dos dentes 75,8 a 88 dB (NA) e motor de baixa rotação 69,8 a 72 dB (NA). Souza (1998) avaliou o NPS da turbina de alta rotação e encontrou valores de 74,4 a 95,7 dB(A) em duas diferentes marcas. Lacerda, Melo, Mezzadri e Zonta (2002) avaliaram o ruído das peças de mão - micromotor de baixa rotação e encontraram 78 dB(A) para da marca Kavo e 73 dB(A) para a marca Dabi. Outros equipamentos também são enquadrados no grupo de risco à audição: sugador normal, sugador bomba a vácuo, seringa tríplice e jato de bicarbonato. A exposição ao ruído intenso é preocupante, pois pode acarretar alterações auditivas, dependendo da intensidade sonora e do tempo de exposição (MELNICK, 1985). Entre os sintomas auditivos relacionados à exposição ao ruído ocupacional, há referências às sensações como algiacusia, sensação de plenitude aural e dificuldade em localização da fonte sonora, assim como as dificuldades de compreensão de fala e do zumbido (JERGER e JERGER, 1989). Costa (1989) observaram diminuição da concentração e da produtividade em 60% dos dentistas expostos aos ruídos estudados. Mota (2005) analisou a audição de 85 dentistas de Cascavel – PR e encontrou 43,5% deles com alterações auditivas por ruído associadas ao tempo de trabalho.

OBJETIVO: Analisar os efeitos da exposição ao ruído intenso na atividade de odontólogos.

MÉTODO: Elaborou-se um questionário que vem sendo aplicado com odontólogos associados da Associação Brasileira de Odontologia – seção Curitiba e um questionário aplicado a estudantes de odontologia. Através

dos questionários, podem ser identificadas as possíveis conseqüências da exposição ao ruído e o conhecimento dos odontólogos e estudantes sobre como preveni- las. Avaliaram-se os NPS, por avaliação instantânea e por dosimetria, tanto em relação ao ambiente como aos equipamentos específicos de clínicas particulares. Realizou-se audiometria tonal e emissões otoacústicas produto de distorção. Os limiares auditivos são expressos como média de cada freqüência e respectivo desvio padrão e comparados com uma população não exposta a ruído. A audição dos dentistas é avaliada por audiometria tonal e, recentemente, também através de emissões otoacústicas produto de distorção. A audiometria tonal possibilita a identificação dos limiares tonais de 250 a 8000Hz, identificando possíveis alterações auditivas (limiares auditivos superiores a 25 dBNA). Assim, é possível a classificação dos audiogramas, de acordo com o Anexo 1 da NR 7, como limiares dentro dos padrões aceitáveis (audiograma com limiares auditivos até 25 dBNA), sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Ruído ( limiares auditivos tanto por via aérea como por via óssea maiores que 25 dBNA, com características neurossensoriais, nas freqüências 3000, 4000 e/ou 6000Hz) e perda auditiva não ocupacional (outras configurações audiométricas que não sugestivas de PAIR) (Gorga et al, 1993). RESULTADOS: Analisou-se uma população de 198 odontólogos do Paraná, encontraram-se 26,76% (53 sujeitos) com perdas auditivas neurossensorias

com configuração de entalhe acústico, sugestivas de induzidas por ruído e 17,67% (35) com alterações auditivas com outras configurações, provavelmente por causas que não ocupacionais. A idade dos odontólogos variou de 19 a 77 anos, com tempo de atuação como odontólogo variando de 1 a 53 anos. Predominou o sexo feminino com 53,44% dos participantes. Observou-se que a maioria dos odontólogos (64,14%) conhecia os efeitos nocivos do ruído na saúde e 52,52% conhecia maneiras de se proteger desses efeitos, porém apenas 2,53% utilizavam proteção contra o ruído no trabalho e 68,68% não se preocupavam em verificar o nível de pressão sonora gerado pelos equipamentos que compra. A metade dos odontólogos (49,5%) sabia que o ruído ocupacional poderia causar perdas auditivas e, em menor proporção, conhecia outros efeitos adversos para a saúde. A principal queixa relatada foi a irritabilidade (43,93%) seguida da cefaléia (31,31%). Foram analisados, por leitura instantânea, os níveis de pressão sonora de alguns equipamentos em três consultórios odontológicos, encontrando-se níveis entre 71 e 86 dB (A). Segundo a legislação trabalhista (norma Regulamentadora n. 15) o tempo máximo permitido para exposição a ruído para 8 horas de trabalho é de 85 dBA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dos odontólogos e estudantes perceberem o seu ambiente de trabalho como de risco devido ao ruído, há pouca ação com relação à prevenção e proteção da perda auditiva,

indicando a necessidade de uma melhor conscientização sobre tais questões, no sentido de orientar sobre as medidas preventivas possíveis, como a utilização de protetores auriculares, a manutenção dos equipamentos e aquisição daqueles com níveis de ruído reduzidos. Recomenda-se a implementação de Programas de Preservação Auditiva nesta categoria profissional, bem como a incorporação de informações sobre os efeitos

do ruído e de como se proteger deles nas disciplinas da grade curricular, durante a formação acadêmica dos mesmos. O monitoramento auditivo periódico para estes profissionais é fortemente recomendado por trabalharem expostos aos níveis de pressão sonora elevados. Palavras-chave: saúde do trabalhador; audição; efeitos do ruído.

REFERÊNCIAS

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GONÇALVES, C.G.O. Saúde do trabalhador da estruturação à avaliação de programas de preservação auditiva. São Paulo: Ed Roca, 2009.

GORGA, M.P.; NEELY, S.T.; Bergman, B.; Beauchaine, K.L.; Kaminski, J.R. et al. Otoacustic emissions from normal-hearing and hearing-impaired subjects: distortion product responses. J Acoustic Soc Am 93, 1993:2050-60

HUNGRIA, H. Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.

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PERCEPÇÃO DISCENTE E DOCENTE ACERCA DO ENSINO SUPERIOR E DAS