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ADVOCACIA PÚBLICA MUNICIPAL E ‘’ESPAÇOS DE CONSENSO’’: UMA ANÁLISE DE DADOS EMPÍRICOS

Cláudia Cristina Pereira Andrade Delfino1, Mariana Ávila Barbosa1 e

Stela Tannure Leal2

1 Discente do Curso de Direito do UNIFAA.

2Doutoranda e Mestre (2016) em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal

Fluminense. Docente do Curso de Direito da UNIFAA. Advogada.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa pretende analisar a capilaridade das

práticas autocompositivas na atuação de Advogados Públicos Municipais, observando se existem diferenciações institucionais ou culturais que tornem os processos de adoção destas práticas distintos daqueles relacionados com a advocacia privada, já relatados em literatura científica.

OBJETIVOS

O projeto tem como objetivo a realização de análise qualitativa sobre dados já coletados em entrevistas com Advogados Públicos Municipais sobre a adoção de posturas consensuais por parte destes profissionais em suas rotinas de trabalho. Diante disso, a discussão desta pesquisa se dá em torno de três questões que causam a baixa utilização dos meios consensuais de conflito da advocacia

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pública municipal, quais sejam: cultura institucional, questões estruturais, e os níveis de profissionalização da carreira de Advogado Público Municipal.

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa se utilizou de dados coletados pela docente em entrevistas em formato qualitativo (devidamente autorizadas em Comitê de Ética em Pesquisa), em associação com técnicas de pesquisa bibliográfica.

Desta forma, codificam-se os dados a partir das categorias apresentadas pela literatura sobre o tema, assim como identificam-se pontos no quais a literatura empregada não explica padrões encontrados nos dados coletados em campo.

RESULTADOS PARCIAIS

Entre algumas discussões, conclui-se que há um equívoco entre o objetivo pretendido para a adoção dos meios consensuais num plano teórico e os motivos pelos quais são incorporados à legislação e às práticas dos profissionais do Direito no Brasil – o que também ocorre com os Advogados Públicos Municipais. Isso ocorre porque tais meios possuiriam o objetivo de promover autonomia entre as partes, fazendo com que elas sejam autoras de suas escolhas, permitindo liberdade e reflexão a respeito dos conflitos nos quais se envolvem, de maneira a tratar a questão apresentada e prevenir questões futuras.

No entanto, são vistas pelos seus aplicadores como um meio de desafogo judicial, em que menos demandas seriam levadas ao Poder Judiciário, caso fossem solucionadas através dos meios autocompositivos.

Através da análise articulada das entrevistas com o material

bibliográfico selecionado, chega-se ao entendimento de que os meios adequados de solução de conflitos representam uma possibilidade de prevenção da litigância massiva na qual as Fazendas Públicas Municipais se encontram envolvidas hodiernamente, em especial, em situações processuais em que não há possibilidade de enfrentamento argumentativo de questões apresentadas pelos administrados – ou seja, quando há mero enfrentamento formal sobre a demanda por parte da Advocacia

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Pública. Não há, portanto, no momento da coleta de dados, viabilidade para a atuação criativa do advogado público municipal observação de necessidades de consenso nas demandas em que presenta o Município, contrariando o que recomendam Ana Karenina Andrade e Cássio Andrade:

Essa avaliação, no caso concreto, cabe ao advogado público, a partir de diretrizes dadas por normativos baixados pelos órgãos centrais das Advocacias-Gerais, com caráter de generalidade, a partir, quase sempre,

do histórico de recorrentes insucessos judiciais, mas também

do reconhecimento de legítimas posições jurídicas dos administrados (ANDRADE, ANDRADE, 2018, p. 42)

Ademais, nota-se que a cultura institucional da Advocacia Pública Municipal é moldada pela habitualidade da litigância em que se envolve. Isso se verifica, no caso em estudo, em especial, na ausência de dados ou estudos internos para a reflexão sobre suas próprias práticas4, o que harmoniza com as considerações de

Marc Galanter:

Tipicamente, o JH[jogador habitual] é uma unidade maior e suas apostas em qualquer caso são menores (com relação ao valor total). PEs[participantes eventuais] são normalmente unidades menores e as apostas, representadas por um resultado tangível do caso, podem ser altas em relação ao valor total, como no caso da vítima de acidente ou do acusado criminalmente. Ou o PE pode sofrer do problema oposto: suas demandas podem ser tão pequenas e inadministráveis que o custo de cobrá-las excede a qualquer expectativa de benefício (como ocorre com o consumidor ludibriado ou o detentor de direitos autorais)”

.

4 Um dos entrevistados corrobora essa representação: “Eu acho que essas questões

são muito conturbadas. Porque, muitas vezes, a gente tem uma visão muito empírica das coisas, sabe? Então, eu acho que faltam dados...Para se chegar a essa conclusão. Se você poderia resolver de uma forma administrativa, qual seria o impacto disso? Qual é a consequência disso? O que são medidas de sucesso neste campo? Eu acho que faltam dados para gente poder construir esse consenso...(...) A princípio, eu, que não estou em nenhuma comissão para analisar isso – e desconheço algum trabalho nesse sentido – eu não tenho dados para poder te falar se há consenso, ou onde ele estaria...o meu consenso acontece no dia a dia, dentro daquilo que me é permitido trabalhar.”

Há diversas ferramentas consensuais aplicáveis à litigância de

interesse público, autorizadas genericamente pelo Código de Processo Civil e pela Lei de Mediação. Contudo, a falta de leis específicas, associadas à interpretação

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estreita sobre a obediência ao princípio da legalidade, dificulta a incorporação destas ferramentas às suas rotinas de trabalho.

Palavras-chave: Advocacia pública, práticas consensuais, pesquisa qualitativa por entrevistas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Ana Karenina Silva Ramalho; ANDRADE, Cássio Cavalcante.

“A participação da Fazenda Pública na audiência do art. 334 do NCPC”. Mediação e arbitragem na administração pública. Humberto Dalla Bernardina de

Pinho, Roberto de Aragão Ribeiro Rodrigues (orgs.). Curitiba: CRV, 2018. FACCI, Lucio Picanço. Meios Adequados de Resolução de

Conflitos Administrativos: a experiência da Câmara de Conciliação e

Arbitragem da Administração Federal. Tese de doutorado defendida perante a Universidade Federal Fluminense. Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais. Niterói, 2018.

GALANTER, Marc. Por que “Quem Tem” Sai na Frente: especulações sobre

os limites da transformação no Direito. Ana Carolina Chasin (trad.). São Paulo: FGV, 2018.

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ABUSO DO PROCESSO: ANÁLISE JURISPRUDENCIAL NOS

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