• Nenhum resultado encontrado

RELAÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

Polliana Henrique Martins Horsth1, Stela Tannure Leal1, Luana Reis da Silva

Francisco2 e Marina de Almeida Freitas2

1 Mestre, Docente do Curso de Direito do UNIFAA.

2 Discente do Curso de Direito do UNIFAA.

INTRODUÇÃO

Com o advento da globalização e as decorrentes modificações sofridas no mundo do trabalho, cada vez mais trabalhadores passaram a realizar muitas atividades laborais em contextos que vão além da abrangência das

organizações – o que sugere a possibilidade de consequentes impactos na saúde

mental destes trabalhadores. Sabe-se que as relações de trabalho são regidas pelo poder diretivo do empregador. No entanto, esse “poder” encontra limite exatamente no ponto em que se torna desvantajoso/desgastante para o trabalhador, ou seja, o Direito do Trabalho não só visa proteger o trabalhador, mas, também, assegurar que o poder diretivo não seja superior as suas normas, impedindo o abuso de direito e garantindo a dignidade da pessoa humana.

OBJETIVOS

Este trabalho pretende apresentar uma reflexão crítica sobre fatos que ocorrem nas relações de trabalho, como a jornada de trabalho excessiva, assédio moral, abuso do poder empregatício, enquanto geradores de impacto negativo à saúde mental dos empregados. Como objetivos específicos, este artigo visa ressaltar a importância da preservação da dignidade da pessoa humana do trabalhador, através da limitação da jornada de trabalho, fiscalização por parte dos órgãos competentes e medidas administrativas e judiciais para casos de assédio moral e abuso do poder diretivo e tutela administrativa e jurisdicional do empregado. Isso porque as relações de trabalho podem se tornar uma fonte propícia ao surgimento de sofrimento psíquico e doenças psicossomáticas.

Revista Saber Digital, Edição Especial - Anais da VII SemIC, p. 1 - 450, 2019. 66

MATERIAL E MÉTODOS

Para este estudo, como método, será feita uma pesquisa qualitativa, sendo levantados dados junto ao Instituto Nacional do Seguro Social que dizem respeito ao número de afastamentos em razão de doenças de trabalho no período de 2007 a 2017. Será também realizada pesquisa bibliográfica e jurisprudencial de caráter exploratório, a fim de evidenciar como os Tribunais têm entendido essa questão.

RESULTADOS PARCIAIS

Ante análise de pesquisas jurisprudenciais, é possível verificar na prática a incidência de doenças decorrentes do trabalho em razão, por exemplo, da sobrecarga de trabalho, bem como, pressões e cobranças por parte do empregador; 1 motivo este que leva ao trabalhador buscar tutela jurisdicional. Dessa forma, sendo certo que existem variadas causas às doenças ocupacionais, tem-se aludido como exemplo o julgado abaixo colacionado.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. 1. DOENÇA OCUPACIONAL RESPONSABILIDADE CIVIL. NEXO CAUSAL E CONCAUSAL. DANOS MORAIS. 2. DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO.

A indenização por dano moral e material resultante de acidente do trabalho e/ou doença profissional ou ocupacional supõe a presença de três requisitos:

a) ocorrência do fato deflagrador do dano ou do próprio dano, que se constata pelo fato da doença ou do acidente, os quais, por si sós, agridem o patrimônio moral e emocional da pessoa trabalhadora (nesse sentido, o dano moral, em tais casos, verifica-se pela própria circunstância da ocorrência do malefício físico ou psíquico);

b) nexo causal, que se evidencia pela circunstância de o malefício ter ocorrido em face das circunstâncias laborativas;

c) culpa empresarial, a qual se presume em face das circunstâncias ambientais adversas que deram origem ao malefício. Embora não se possa presumir a culpa em diversos casos de dano moral - em que a culpa tem de ser provada pelo autor da ação -, tratando-se de doença ocupacional, profissional ou de acidente do trabalho, essa

Revista Saber Digital, Edição Especial - Anais da VII SemIC, p. 1 - 450, 2019. 67

culpa é presumida, em virtude de o empregador ter o controle e a direção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação do estabelecimento em que ocorreu o malefício. Registre-se que tanto a higidez física como a mental, inclusive emocional, do ser humano são bens fundamentais de sua vida, privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação social e, nesta medida, também de sua honra. São bens, portanto, inquestionavelmente tutelados, regra geral, pela Constituição (art. 5º, V e X). Assim, agredidos em face de circunstâncias laborativas, passam a merecer tutela ainda mais forte e específica da Constituição da República, que se agrega à genérica anterior (art. 7º, XXVIII, CF/88). Registre-se que é do empregador, evidentemente, a responsabilidade pelas indenizações por dano moral, material ou estético decorrentes de lesões vinculadas à infortunística do trabalho. Na hipótese , o Tribunal Regional consignou que o trabalho da Autora atuou como concausa para o desenvolvimento da sua patologia ortopédica (distúrbios em coluna lombo-sacra e cervical) . Nesse sentido, consta do acórdão do TRT que os postos de trabalho utilizados eram equipados com mobiliários inadequados, apontando a presença de riscos ergonômicos na atividade laboral. Além disso, há menção à existência de distúrbio psiquiátrico da Autora , o qual também decorreu da atividade laboral, segundo consta da decisão do TRT. Nesse sentido, vale frisar que ficou provada a submissão da trabalhadora a pressões e cobranças frequentes para a obtenção de resultados, a sobrecarga de trabalho, a carência de pessoal de apoio para as suas atribuições gerenciais e a prática habitual de horas extras em atividade que demandava esforço repetitivo, tudo culminando na eclosão de enfermidades físicas e mentais. Claros estão os requisitos "dano" e "nexo causal". Quanto ao elemento culpa, o Tribunal Regional assentou que esta emergiu da conduta negligente do Reclamado em relação ao dever de cuidado à saúde, higiene, segurança e integridade física do trabalhador (art. 6º e 7º, XXII, da CF, 186 do CC/02), deveres anexos ao contrato de trabalho, pois o Reclamado não

adotou providencias efetivas para evitar o adoecimento da empregada. A partir das premissas fáticas lançadas na decisão recorrida, se as condições de trabalho a que se submetia o trabalhador, embora não tenham sido a causa única, contribuíram diretamente para a redução ou perda da sua capacidade laborativa, ou produziram lesão que exija atenção médica para a sua recuperação, deve-lhe ser assegurada a indenização pelos danos sofridos. Presentes o dano, o nexo

Revista Saber Digital, Edição Especial - Anais da VII SemIC, p. 1 - 450, 2019. 68

causal e concausal e a culpa, há o dever de indenizar. Agravo de

instrumento desprovido" (Tribunal Superior do Trabalho, AIRR-1077-

60.2012.5.10.0021, 3ª Turma, Relator Ministro Mauricio Godinho Delgado, DEJT 02/09/2016). (grifo nosso)

Outrossim, em que pese o levantamento de dados quantitativos, o foco foi em três doenças que constam nos indicadores do Instituto Nacional do Seguro Social, sendo: F32 - Episódios Depressivos, F41 - Outros Transtornos Ansiosos e F43 - Reações ao Stress Grave e Transtornos de Adaptação. Conforme se pode observar com a tabela a seguir exposta houve aumento do número de afastamentos por auxílio-doença acidentário junto ao INSS a partir de 2008, mantendo certa estabilidade até 2014 e com redução nos anos de 2015 e 2017.

CONSIDERAÇÕES

O aumento nos números de trabalhadores que, em razão de transtornos mentais, se afastam de seus respectivos trabalhos traduz-se como um problema de ordem pública, sendo preocupante. Excesso de jornada de trabalho, assédio moral, abuso do poder diretivo, são alguns dos gatilhos que propiciam o desenvolvimento de doenças psicossomáticas. É importante ressaltar a necessidade da atuação conjunta da legislação trabalhista e de seus operadores, bem como órgãos fiscalizadores competentes, em busca de um meio ambiente de trabalho saudável e produtivo, a fim de incentivar o desenvolvimento profissional do trabalhador uma vez que se trata de direito fundamental deste.

Palavras-chave: Relações de trabalho, saúde mental do trabalhador, doença do trabalho.

Revista Saber Digital, Edição Especial - Anais da VII SemIC, p. 1 - 450, 2019. 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUXÍLIOS-DOENÇA acidentários e previdenciários concedidos segundo os códigos da classificação internacional de doenças – cid-10. Brasil - Ministério da Economia: Secretaria de Previdência. Disponível em

http://www.previdencia.gov.br/dados abertos/estatsticas/tabelas-cid-10/>. Acesso em: 29 ago. 2019.

PEREIRA, André Sousa. O nexo epidemiológico entre os transtornos mentais e os riscos psicossociais relacionados ao trabalho. LTr., v. 81, n. 3, p. 309 – 318, mar. 2017.

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos

fundamentais na Constituição Federal de 1988. 2. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002.

TESTAMENTO VITAL: AS DISPOSIÇÕES ANTECIPADAS DE

Outline

Documentos relacionados