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coragem

e liderança

Ritamaria Aguiar*

lbertina sempre foi e é: ícone e fênix, ao mesmo tempo. Mas, ultrapassa todas as denominações conhecidas em nossa língua pátria e as outras que conhecemos: dinâmica, generosa, altruísta e empreendedora.

Nem isolada e nem distraída, atenta e aglutinadora. Observadora atenta...

Caminha devagar, mas célere, com segurança; em alternâncias de cadências, mas sempre em frente, olhando o chão e visualizando as estrelas e as nuvens...

Com a arte, levou e proporcionou que muitas pessoas tivessem deslocamentos sensíveis que permeavam a andança pelo mundo.

Em alguns momentos, era o exercício participativo e compartilhado unindo relações dialéticas entre meta e metodologia; forma e função; teoria e experiência. Em outros momentos, percebia, em cada olhar, novas figuras, volumes cores e luzes, oportunizando sempre espaços para que cada artista demonstrasse a sua capacidade e competência, com respeito e ética.

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Sempre indagávamos a ela de onde vinha tanta força e entusiasmo. A resposta era sempre a mesma: “minha força é ancorada pela verdadeira fé e por acreditar que podemos realizar coisas boas”.

Em sua formação acadêmica, lecionou em diversas universidades; fundadora da Faculdade de Serviço Social de Sergipe; criou o Centro de Cultura e Arte entre outras diversas associações. Idealizou e dirigiu os Festivais de Arte de São Cristóvão (SE). Presidiu a Aliança Francesa do estado de Sergipe e foi vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura Mineira, mas cidadã do mundo...

Como Madre Superiora, aceitava sem esboçar nenhum antagonismo as questões religiosas diferentes da sua.

Bem, partimos das esferas intelectiva, científica e acadêmica e entramos no campo da emoção, único pelo qual podemos falar com o coração. A proposta de vida de Albertina foi sempre essa: a de falar através da emoção e do coração.

Certa vez, Edithinha (o anjo tutelar em vida de Albertina), preocupada com a longa viagem que ela realizaria, externou a preocupação do cansaço, e Berta respondeu: – Querida Edithinha, tenho vivido muito e continuarei vivendo; o cansaço não faz parte do meu currículo.

Quando conheci Albertina? Através de quem? Alegro-me em responder: Em 1984, estiveram no Brasil Joanne Grady (diretora do Very Special Arts Internacional) e Earl Copus (Presidente de Melwood Traininng) e Laurie Larhrop, antropóloga, que vieram a convite das professoras Olívia Pereira e Sara Couto César, através do Partners of América.

Companheiros das Américas (Partners of América) é uma grande associação que realiza intercâmbios entre Brasil e Estados Unidos. Nessa ocasião, eu respondia pela Diretoria Executiva. Assim, nos endereçaram, para avaliações de intercâmbio, duas propostas:

Projeto Centro de Vida Independente – idealizado por Rosângela Berman – e o Projeto Artes para pessoas com visão reduzida, apresentado por Albertina Brasil Santos. As duas propostas foram aceitas pelo conteúdo significativo e necessário. Realizou-se o intercâmbio e, na volta, Albertina e um grupo de idealistas conscientes da responsabilidade, montaram a Associação Very Special Arts/Arte Sem Barreiras com o apoio da Funarte, em parceira com dezenas de instituições de, para e com pessoas com deficiência, secretarias de cultura, universidades, entre outras associações. Reuniões e mais reuniões foram realizadas e, finalmente, em 1990, foi oficialmente fundada a Associação Very Special Arts/Arte Sem Barreiras/Funarte.

Taiwan, Sobradinho, Bruxelas, Ouro Preto, Paris, Januária, pelo mundo afora... Em todos os locais em que representava a Associação Very Special Arts/Arte Sem Barreiras /Funarte, Albertina os transformava em espaços de divulgação da arte estética realizada pelas pessoas com deficiência.

Sua conduta e postura fortaleciam a aproximação e interação entre os povos, levando a imagem do Brasil de forma positiva e qualificada.

Albertina, como bem enfatiza Luiza Câmara, “transformou em magia o palco das representações para milhares de pessoas”.

Em cada oportunidade de realizações de festivais, mostras de arte, seminários e congressos, as pessoas iam mudando seus conceitos e “pré-conceitos”.

A Mestra Albertina, sempre flexível em direção às mudanças, quando em determinada época, em reunião com Otoniel Serra e Paulo Cesar Soares, levei a nova filosofia de inclusão como um novo vetor de interação e mostrei que essa filosofia deveria nortear as nossas futuras ações, Albertina imediatamente acatou a idéia e, assim, reconstruímos estradas de inclusão.

Refletindo...

E juntaram-se a nós os amigos e profissionais interessados e comprometidos: Bráulio, Késia, Zezé Gonzaga, Rosita Gonzalez, Maria do Carmo, Ruth, Tereza, Luiza, Otoniel, Maria Lúcia Godoy, Paulo César, Fernando e tantos outros...

O Brasil começou a mudar...

Com um trabalho intenso, ultrapassou os limites que a vida tentou lhe impor e cada dia mais forte, deixava a marca de sua trajetória.

A arte, até então para poucos, começou a ocupar um lugar de destaque; os artistas com deficiência começaram a mostrar sua performance e estética.

Mas, o tempo foi pouco para tantas realizações e, quando pensávamos que Albertina seria eterna, da perspectiva renascentista em beleza e harmonia, ela fez a viagem no tempo...

Renascer é o verbo...

Os observadores sensíveis e atentos podem perceber a profundidade dessas variáveis sempre harmônicas: o ícone da arte em linguagem universal, sem barreiras espaço-temporais, e sua história de inclusão.

Renascer é o verbo... Obrigada, Albertina!

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com imensa honra e respeito que, por meio desta homenagem, tentarei expressar o sentimento de gratidão e saudade que invadiu, nesses últimos dias, os corações de tantos arte-educadores que conheceram Marco Antonio Camarotti Rosa.

Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Ph.D em teatro, escritor, ator, dramaturgo, encenador, enfim, Camarotti dedicou toda a sua vida a questões relativas aos campos da arte e da educação. Lutou, junto a muitos dos arte-educadores aqui presentes, por espaços ativos para o trabalho em arte-educação dentro das instituições de ensino e colaborou com valiosas pesquisas sobre teatro infantil, teatro folclórico, dentre tantas outras.

No entanto, não é apenas deste homem de grande importância acadêmica que quero falar, mas também do brilhante ser humano que tive o privilégio de encontrar, para além do espaço acadêmico. Posso dizer que conheci um dos homens mais belos que já vi. Homem cuja beleza se expressava através da interminável crença na vida, na fé do encontro indiscriminado com o outro, no respeito às diferenças e ao tempo de cada um. Beleza presente na coragem de se entregar por

Homenagem