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ALIMENTOS PARA LACTENTES E CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA: UMA AVALIAÇÃO DA ROTULAGEM.

Vasconcelos, Alcione Cardoso; Mattos, Débora Bahia de; Nascimento, Renata Lima; Almeida, Deusdélia Teixeira de; Nunes, Itaciara Larroza.

Universidade Federal da Bahia, Escola de Nutrição. Rua Araújo Pinho, 32. CEP 40110- 150, Salvador, Bahia. E-mail: alcvasconcelos@hotmail.com.

RESUMO

A rotulagem de alimentos permite o controle fiscal, auxilia o consumidor e é utilizada como estratégia de marketing. O objetivo deste estudo foi avaliar a adequação da rotulagem de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, quanto às normas de rotulagem geral e específicas vigentes no Brasil. Foram avaliados 80 rótulos de fórmulas infantis e de seguimento para lactentes; leites em geral; alimentos de transição e à base de cereais, quanto à legislação de rotulagem geral e especifica. Apenas produtos do grupo dos leites apresentaram irregularidades com relação à rotulagem geral, referentes à identificação da origem do fabricante (18,5% dos rótulos sem CEP), lote e prazo de validade (deléveis em 3,7% e 16,7% rótulos). Em relação à rotulagem específica a principal irregularidade foi referente à forma de apresentação das frases obrigatórias, destacando-se os grupos dos leites, fórmulas infantis e fórmulas infantis de seguimento com 87,0%, 63,4% e 57,1% dos rótulos em desacordo, respectivamente. Os fabricantes com maior número de produtos avaliados apresentaram mais irregularidades na rotulagem dos mesmos. Os resultados denotam maior atenção das indústrias, quanto às normas de rotulagem geral do que com as específicas, destacando-se a ineficiência dos órgãos de fiscalização que devem intensificar as ações de monitoramento.

Palavras-chave: alimentos; crianças de primeira infância; lactentes; NBCAL; rotulagem. INTRODUÇÃO

Os rótulos dos alimentos embalados geralmente contemplam as características dos produtos expostos à venda, devendo informar de forma clara e adequada sobre as especificações corretas de quantidade, características, composição, qualidade, bem como os riscos que os produtos possam vir a apresentar. Os rótulos de todos os produtos que podem interferir no aleitamento materno devem ser elaborados com o objetivo de proporcionar a informação necessária sobre o uso apropriado e não desencorajar a amamentação.

Desde que o Brasil editou a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Criança de Primeira Infância e assinou o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno, ocorreram mudanças quanto ao

marketing usado pelas empresas voltado diretamente para os pais. A maioria dos rótulos

perdeu as imagens de bebês e neles foram incluídas advertências específicas estimulando o aleitamento materno1.

Apesar dessas mudanças, as irregularidades na rotulagem ainda persistem e o

marketing não ético, ainda praticado pelas indústrias de alimentos infantis pode interferir

de forma negativa nas práticas relacionadas à alimentação de lactentes e crianças de primeira infância, evidenciando a necessidade de monitoramento e exigibilidade da aplicação dos dispositivos legais.

Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar a adequação da rotulagem de produtos destinados a lactentes e crianças de primeira infância, em relação às normas de rotulagem geral e específicas vigentes no Brasil.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, quantitativo de caráter exploratório. A partir do cadastro de supermercados (n=22) disponibilizado pela Vigilância Sanitária do Município de Camaçari - BA, foram sorteados 7 estabelecimentos, considerando-se um nível de 95% de confiança, com poder de 80%.

Foram analisados 80 rótulos de alimentos indicados para lactentes e crianças de primeira infância, sendo: 11 fórmulas infantis para lactentes; 07 fórmulas infantis de seguimento para lactentes; 54 leites em geral, 03 alimentos de transição e 05 alimentos à base de cereais.

A avaliação foi realizada por meio de uma ficha de avaliação de rotulagem elaborada de acordo com a legislação brasileira: RDC 259/02 - Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados (itens 5 e 6 referentes às informações obrigatórias como denominação de venda do alimento, lista de ingredientes, conteúdo líquido, identificação da origem e do lote, prazo de validade, e instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário)2; RDC 359/2003 - Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional (item 3, medida caseira e a porção correspondente em g ou ml)3; RDC 360/2003 - Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados (itens 3.1 nutrientes obrigatórios, 3.4 apresentação da rotulagem nutricional e 3.5 tolerância admitida com relação aos valores de nutrientes declarados no rótulo)4; itens 4.3, 4.5, 4.6 4.8, 4.9, 4.10, 4.12, 4.13 da RDC 222/02 (Regulamento Técnico para promoção comercial dos alimentos para lactentes e crianças de primeira infância)5 e artigos 10, 11, 12, 13 e 14 da Lei 11.265/06 que Regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e produtos de puericultura correlatos6; Portarias 34/98, 36/98 e 31/98 referentes à Rotulagem de alimentos de transição (item 9.2)7, à Rotulagem de alimentos à base de cereais (item 9.6)8, e à Rotulagem de alimentos enriquecidos (itens 10.2 e 10.3.1.1)9.

Análise estatística: aplicou-se o teste de correlação de Sperman’s (software

Statistical Package for the Social Sciences - SPSS, v. 13.0.) para avaliar o grau de

associação entre o número de produtos comercializados pelas empresas que tiveram mais rótulos analisados, e o número de não conformidades observadas quanto à rotulagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O grupo com maior disponibilidade nos supermercados foi o dos leites em geral com 54 produtos (67,5%), dos quais 13 (24%) são enriquecidos mais comumente com vitaminas A, C, D e minerais como ferro, cálcio e zinco. O grupo de alimentos de transição apresentou o menor número de produtos disponíveis, sendo que todos eram produzidos pelo mesmo fabricante. Silva, Dias e Ferreira (2008)10 analisaram 86 rótulos de produtos para lactentes e crianças de primeira infância e também verificaram maior variedade no grupo dos leites (n=52), enquanto todos os produtos de transição (n=7) eram produzidos por um mesmo fabricante, semelhante ao observado no presente estudo.

Quanto à rotulagem geral foram observadas não conformidades apenas nos rótulos do grupo dos leites em geral, onde 22 % (n=12) dos produtos desse grupo infringiram os itens 6.4.1, 6.5.1 e 6.6.1 da RDC 259/02, referentes à identificação da origem do fabricante por não apresentaram o CEP (10 rótulos), impressão de lote e prazo de validade de forma delével (2 e 9 rótulos, respectivamente). Resultado semelhante foi encontrado por Abrantes (2007)11 em 7 rótulos de leite com identificação incompleta da origem e 3 rótulos de leite

com número de lote delével. Em uma escala hierárquica de risco, essas não conformidades podem não apresentar gravidade, mas dificultam a rastreabilidade dos produtos envolvidos. Com relação à Lei 11.265/2006 e à RDC 222/02 (Figura 1), destacam-se irregularidades quanto à forma de apresentação de frases obrigatórias em 58 (72%) dos rótulos avaliados, sendo mais frequentes no grupo dos leites, especialmente nos produtos dos fabricantes R (Figura 2). Verificou-se exibição de frases obrigatórias fora do painel principal, em posição vertical, com erros de ortografia, letras menores que a designação de venda do produto e de forma ilegível. Semelhante aos resultados de Abrantes (2007)11merece destaque a presença de figuras de mamadeira nos rótulos de todas as fórmulas avaliadas, principalmente nos produtos dos fabricantes R e X (Figura 2).

O teste de correlação de Sperman’s apontou correlação positiva (r=0,65) entre os fabricantes com maior número de rótulos avaliados e o número de irregularidades na rotulagem dos seus produtos.

CONCLUSÕES

Os resultados do presente estudo denotam de modo geral, maior atenção das indústrias de alimentos destinados a lactentes e crianças de primeira infância, quanto aos requisitos exigidos pelas normas de rotulagem geral do que com relação às legislações específicas. Apesar de a NBCAL encontrar-se em vigor há alguns anos, muitos produtos infantis, ainda apresentam-se no mercado com falhas na rotulagem, especialmente quanto à forma de apresentação das frases de advertência e a presença de recursos visuais não permitidos.

FIGURA 1: Distribuição dos rótulos em desacordo com a Lei 11.265/2006 e RDC 222/02 em cada grupo de alimentos para lactentes e criança de primeira infância.

FIGURA 2 – Distribuição dos rótulos em desacordo com a Lei 11.265/2006 e RDC 222/02 por fabricante de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância.

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. A legislação e o marketing de produtos que interferem na

amamentação: um guia para o profissional de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 114 p.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002 [resolução na internet]. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília - DF, 21 agosto 2002a. [Acesso em: 20 outubro 2010]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003. Aprova Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional [regulamento na internet]. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília - DF, 24 de dezembro de 2003a. [Acesso em: 07 maio 2010]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br>.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Aprova Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional [regulamento na internet]. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília - DF, 24 de dezembro de 2003b. [Acesso em: 07 maio. 2010]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br>.

5. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC no 222, de 5 de agosto de 2002 [resolução na internet]. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília - DF, 6 agosto 2002b. [Acesso em: 20 outubro 2010]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>.

6. Brasil. Lei Nº. 11.265, de 3 de janeiro de 2006. Regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura correlatos. Poder Executivo, Brasília - DF, 4 jan. 2006.

7. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº. 34, de 13 de janeiro de 1998, Aprova o Regulamento Técnico referente para fixação de identidade e qualidade de alimentos de transição para lactentes e crianças de primeira infância. [regulamento na internet]. Brasília, 1998a.[Acesso em: 20 de outubro 2010] Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e- legis/>.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº. 36, de 13 de janeiro de 1998, Aprova o Regulamento Técnico referente a Alimentos à Base de Cereais para Alimentação Infantil. : D.O.U. - Diário Oficial da União; [regulamento na internet]. Poder Executivo, 16 de janeiro de 1998. Brasília, 1998b. [Acesso em: 20 outubro 2010]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>.

9. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº. 31, de 13 de janeiro de 1998, Aprova o Regulamento Técnico para fixação de identidade e qualidade de alimentos adicionados de nutrientes essenciais. [regulamento na internet]. Poder Executivo, 16 de janeiro de 1998. Brasília, 1998c. [Acesso em: 20 outubro 2010]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>.

10. Silva SA, Dias MRM, Ferreira TAPC. Rotulagem de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância. Rev. Nutr., 2008, 21(2), 185-194.

11. Abrantes VRS. Rotulagem de Alimentos: Análise em Fórmulas Infantis, Leites em pó e Alimentos em Pó à Base de Soja, Comercializados no Varejo do Município do Rio de Janeiro/RJ. Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) - Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

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