• Nenhum resultado encontrado

CAROTENÓIDES E VITAMINAS EM LICHIA (LITCHI CHINENSIS) CULTIVADA NO BRASIL

CABRAL, Thalita Azevedo a; SILVA, Letícia Linhares da b; CARDOSO, Leandro de Morais b; PINHEIRO-SANT’ANA, Helena Maria b

a

Laboratório de Análise de Vitaminas, Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa. Av. Peter Henry Rolfs s/n - Campus Universitário - CEP: 36570 000 - Viçosa – MG - e-mail: leticia.linhares@ufv.br

b

Depto de Nutrição e Saúde-Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG RESUMO

A lichia (Litchi chinensis) é um fruto originário da China que recentemente tem sido cultivado em todo o Brasil. Devido ao limitado conhecimento sobre sua composição, o presente estudo avaliou as características químicas, carotenoides e vitaminas na polpa in

natura de lichia. Os frutos adquiridos no município de Ubá, Minas Gerais, foram

selecionados, higienizados e despolpados manualmente. Posteriormente, foram determinadas a acidez titulável (AT), pH e sólidos solúveis (SS), umidade, fibra alimentar total (FAT), cinzas, lipídios e proteínas.. Os carotenoides e vitamina C foram determinados por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), equipado com detector de arranjo de diodos, e vitamina E por CLAE com detecção por fluorescência. A polpa da lichia apresentou elevado teor de SS (17,1 ºBrix) e reduzida AT (0,54 g de ácido cítrico 100g-1) e pH (4,2). Em 100 g do fruto encontrou-se 80,7 g de umidade; 2,2 g de FAT; 0,7 g de lipídios; 0,8g de proteínas; 0,4 g de cinzas; 15,3 g de carboidratos e 70,2 kcal. Não foi observada a presença de carotenóides. Os conteúdos de vitamina C e E foram 34,7 mg 100g-1 e 117,0 µg 100g-1, respectivamente. A lichia mostrou-se excelente fonte de vitamina C podendo suprir, em 100 g de polpa, 138,8%; 38,6% e 46,3% das recomendações para crianças, homens adultos e gestantes, respectivamente. Assim, a lichia destaca-se como fruto de baixo valor calórico e excelente fonte de vitamina C.

Palavras chave: vitamina C; vitamina E; carotenóides; valor nutricional 1. INTRODUÇÃO

A lichia (Litchi chinensis Sonn.) é uma fruta tropical e subtropical de alto valor comercial pela sua cor vermelha atraente, arilo branco, translúcido e muito apreciado por seu sabor doce (1, 2). A polpa de lichia possui alto teor de açúcar, minerais (potássio, magnésio, fósforo entre outros) e vitaminas como riboflavina, niacina e tiamina. Na gastronomia é utilizada fresca, enlatada, desidratada ou processada em sucos, vinhos, picles, compotas, sorvetes e iogurtes (3).

Muito popular na China e no Sudeste da Ásia, mas ainda pouco conhecida na África, Europa e América, a lichia tem sua comercialização lenta devido ao pouco conhecimento do modo de cultivo, bem como o curto tempo de vida das sementes e vida de prateleira do fruto (4).

O objetivo do presente estudo foi avaliar a composição química e a ocorrência de carotenoides e vitaminas C e E em polpa de lichia cultivada no Brasil.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Frutos da lichia (Litchi chinensis) foram adquiridos, em época de safra (dezembro a janeiro), em três propriedades destinadas ao cultivo comercial do fruto, localizadas no município de Ubá, Minas Gerais. Os frutos de cada propriedade constituíram uma repetição. No laboratório, os frutos morfologicamente perfeitos e com maturação completa (cor da casca 100% vermelha) foram lavados em água corrente, secos em papel toalha e

2 despolpados manualmente. Posteriormente, a polpa in natura foi homogeneizada, acondicionada em sacos de polietileno e armazenada por, no máximo, 5 dias, a -18 ± 1 °C.

As análises químicas da polpa de lichia in natura foram realizadas, em triplicata, no Laboratório de Análise de Alimentos do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (DNS/UFV). Foram determinadas a acidez titulável, pH e sólidos solúveis (5), umidade, fibra alimentar total, cinzas, lipídios e proteínas (6). Os carboidratos foram calculados por diferença, utilizando a equação: 100 - % de umidade - % de lipídios - % de proteínas - % de fibra alimentar total - % de cinzas. O valor energético foi estimado considerando os fatores de conversão de 4 kcal g-1 de proteína ou carboidrato e 9 kcal g-1 de lipídios (7).

As análises de carotenoides e vitaminas foram realizadas, em triplicata, no Laboratório de Análise de Vitaminas do DNS/UFV. A ocorrência e conteúdo de carotenoides (-caroteno, β-caroteno, licopeno e β-criptoxantina), vitamina E (-, -, γ- e δ-tocoferóis e -, -, γ- e δ-tocotrienóis) e vitamina C (ácido ascórbico-AA e ácido desidroascórbico-ADA) foram avaliados na polpa de lichia. A extração desses compostos foi realizada de acordo com Rodriguez-Amaya (8), Pinheiro-Sant’Ana (9), Campos et al. (10), respectivamente.

Os carotenoides foram extraídos em acetona e transferidos para éter de petróleo. Para análise foram utilizadas as condições cromatográficas propostas por Pinheiro- Sant’Ana (11), as quais incluíram: sistema CLAE, modelo Shimadzu, detector de arranjos de diodos, coluna cromatográfica RP-18 C18 Phenomenex, 250 × 4,6 mm; fase móvel composta de metanol:acetato de etila:acetonitrila (70:20:10 v/v/v) e fluxo de fase móvel de 2,0 mL min-1. Os cromatogramas foram obtidos a 450 nm.

Os tocoferóis e tocotrienóis foram extraídos utilizando mistura extratora composta de hexano: acetato de etila (85:15 v/v), isopropanol, água ultrapura, hexano contendo 0,05% de BHT e de sulfato de sódio anidro. As condições cromatográficas utilizadas para análise de vitamina E incluíram sistema CLAE, modelo Shimadzu, detecção por fluorescência (290 nm de excitação e 330), coluna cromatográfica LiChrosorb Si60, 5 µm, 250 x 4 mm; fase móvel composta de hexano: isopropanol: ácido acético (98,9:0,6:0,5, v/v/v) e fluxo da fase móvel de 1 mL min-1 (9)

Os ácidos ascórbico (AA) e desidroascórbico (ADA) foram extraídos em solução tampão (3% ácido metafosfórico, 8% ácido acético, ácido sulfúrico 0,3 N e 1 mM EDTA), realizando-se a conversão do ADA a AA conforme metodologia proposta por Campos et al. (10). As condições de análise utilizadas foram: sistema CLAE, modelo Shimadzu, detector de arranjos de diodos, varredura a 245 nm, coluna cromatográfica RP-18 Lichrospher 100, 250 mm x 4 mm, 5 μm, fase móvel composta de água ultrapura contendo 1 mM de fosfato monobásico de sódio, 1mM de EDTA e pH ajustado para 3,0 com ácido fosfórico e fluxo da fase móvel de 1,0 mL min-1 (10).

Os compostos foram identificados através da comparação dos tempos de retenção obtidos para os padrões e para as amostras, analisados sob as mesmas condições, por co- cromatografia (tocoferóis e tocotrienóis) e comparação dos espectros de absorção do padrão e dos picos de interesse nas amostras, utilizando-se o detector de arranjos de diodos (carotenóides e vitamina C). Para a quantificação foram utilizadas curvas de padronização externas construídas a partir da injeção, em duplicata, de seis concentrações crescentes de soluções de padrões.

A polpa da lichia apresentou elevado teor de sólidos solúveis (17,1 ± 1,0 ºBrix) e reduzida acidez titulável (0,54 ± 0,02 g de ácido cítrico 100g-1) e pH (4,2 ± 0,1). Os valores observados para esses parâmetros corroboram com o sabor adocicado e pouco ácido característico da polpa de lichia.

3 Observou-se na polpa elevada umidade (80,7 ± 0,5 g 100g-1) e reduzido conteúdo de fibra alimentar total (2,2 ± 0,2 g 100g-1), lipídios (0,7 ± 0,1 g 100g-1), proteínas (0,8 ± 0,1 g 100g-1), cinzas (0,4 ± 0,0 g 100g-1), carboidratos (15,3 ± 0,4 g 100g-1) e valor energético total (70,2 ± 3,3 kcal 100g-1).

Informações sobre o conteúdo de carotenoides e vitamina C na polpa de lichia cultivada no Brasil não estão disponíveis na literatura.

Não foi observada na polpa a presença dos carotenoides pesquisados (Tabela 1). A polpa de lichia apresentou conteúdo de vitamina C superior ao observado em 100 g de polpa de alimentos fonte desse composto, como por exemplo, o maracujá (20,0 mg), a pitanga (24,9 mg ) e a mexerica (21,8 mg) e similar ao observado na laranja (38,2 mg) e no limão (31,0 mg)(12).

Dados sobre o conteúdo de vitamina E em polpa de frutas em geral são escassos na literatura especializada, não sendo observadas informações sobre a presença e o conteúdo dessa vitamina em polpa de lichia. A polpa analisada apresentou conteúdo reduzido de vitamina E, o qual foi inferior ao observado em diversos frutos tais como banana (150,00 µg 100g-1) pêssego (790,00 µg 100g-1) e uva (540,0 µg 100g-1) e superior ao morango (410,00 µg 100g-1) e a pêra (420,00 µg 100g-1) (13).

Os alimentos podem ser classificados como “fontes" de um nutriente quando suprem de 5 a 10% das Dietary Reference Intake (DRI), como "boas fontes" quando suprem de 10 a 20% da DRI e como "fontes excelentes", quando atendem mais de 20% da DRI (14). Considerando a recomendação de vitamina C para crianças com idade entre 4 e 8 anos, homens adultos com idade entre 19 e 30 anos e gestantes (15, 16) verificou-se que a lichia é uma excelente fonte de vitamina C.

O consumo de 100 g de polpa pode suprir 138,8%; 38,6% e 46,3% das recomendações de vitamina C para crianças, homens adultos e gestantes, respectivamente. Verificou-se que o consumo de 100g de polpa pode suprir uma pequena fração das recomendações de vitamina E para os três grupos (0,2; 0,1 and 0,1%, respectivamente). 4. CONCLUSÃO

A polpa de lichia apresentou elevado teor de umidade e sólidos solúveis e baixo valor calórico. Verificou-se a presença de compostos bioativos (- e γ-tocoferóis e (- e γ- tocotrienóis; ácido ascórbico e ácido desidroascórbico). A polpa mostrou-se excelente fonte de vitamina C para todas as faixas etárias.

Tabela 1: Conteúdo de carotenoides e vitaminas em polpa de lichia (Litchi chinensis) cultivada no município de Ubá, Minas Gerais, Brasil.

Compostos a Média b ± DP c %

Carotenoides (mg 100g-1) Não detectado - Vitamina C total (mg 100g-1) 34,7 ± 7,8 100,0 AA (mg 100g-1) 26,9 ± 1,3 77,5 ADA (mg 100g-1) 7,8 ± 0,8 22,5 Vitamina E total (μg 100g-1) 117,0 ± 2,7 100,0 -tocoferol (μg 100g-1 ) 12,8 ± 0,3 11,0 -tocotrienol (μg 100g-1 ) 12,6 ± 1,5 10,8 γ-tocoferol (μg 100g-1 ) 84,7 ± 1,2 72,4 γ-tocotrienol (μg 100g-1 ) 6,8 ± 0,6 5,9

4

a valores expressos em matéria fresca; b média de 3 repetições; c desvio padrão

5. REFERÊNCIAS

1. Zhang Z, Pang X, Ji Z, Jiang Y. Role of anthocyanin degradation in litchi pericarp browning. Food Chemistry. 2001;75(2):217-21.

2. Zhang Z, Xuequn P, Yang C, Ji Z, Jiang Y. Purification and structural analysis of anthocyanins from litchi pericarp. Food Chemistry. 2004;84(4):601-4.

3. Wei B, Huang L, Teng J, Jia M, editors. Chemical compositional characterization of ten litchi cultivars. New Technology of Agricultural Engineering (ICAE), 2011 International Conference on; 2011 27-29 May 2011.

4. Martins ABG. Lichia. Revista Brasileira de Fruticultura. 2005;27:0-.

5. IAL- Instituto Adolfo Lutz. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo: Instituto; 2005.

6. AOAC - Association of Official Analytical Chemists. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemists. 16 ed. Washington, D.C.1998. 1170 p. 7. FRARY CD, JOHNSON RK. Energia. In: MAHAN LK, ESCOTT-STUMP S, editors. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. São Paulo: Rocca; 2005. p. 20-34.

8. Rodriguez-Amaya DB. Latin American food sources of carotenoids. Archivos Latinoamericanos de Nutricion. 1999;49:74-84.

9. PINHEIRO-SAT`ANA, H, M.; GUINAZI, M.; OLIVEIRA, D. S. et al. Method for simultaneous analysis of eight vitamin E isomers in various foods by high performance liquid chromatography and luorescence detection. Journal of Chromatography A, 2011, 1218: 8496– 8502.

10. Campos FM, Ribeiro SMR, Della Lucia CM, Pinheiro-Sant'Ana HM, Stringheta PC. Optimization of methodology to analyze ascorbic and dehydroascorbic acid in vegetables. Química Nova. 2009;32:87-91.

11. Pinheiro Sant'Ana HM, Stringheta PC, Brandão SCC, Azeredo RMC. Carotenoid retention and vitamin A value in carrot (Daucus carota L.) prepared by food service. Food Chemistry. 1998;61(1-2):145-51.

12. Núcleo de estudos e pesquisa em alimentação Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. 2 ed. Campinas, SP: NEPA-UNICAMP; 2006.

13. Chun J, Lee J, Ye L, Exler J, Eitenmiller RR. Tocopherol and tocotrienol contents of raw and processed fruits and vegetables in the United States diet. Journal of Food Composition and Analysis. 2009;19(2-3):196-204.

14. Philippi ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri: Manole; 2008.

15. U. S Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes (DRIs): Vitamin A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Cromium, Copper, Iodine, Iron, Manganese, Molybdenium, Nickel, Silicon, Vanadium and Zinc. Washington, D.C.: National Academy Press; 2001.

16. U. S. Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes for Vitamin C, Vitamin E, Selenium, and Carotenoids. Washington, D.C.: National Academy Press; 2000.

INFLUÊNCIA DA PASTEURIZAÇÃO E BRANQUEAMENTO NAS

Outline

Documentos relacionados