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Amplitude das tuas revelaçõesAmplitude das tuas revelações

No documento Huberto Rohden - Deus.pdf (páginas 78-82)

Amplitude das tuas revelações

As tuas palavras, Senhor, não são como as nossas, que têm princípio e fim, que são como pequenas linhas destacadas, finitas, limitadas à esquerda e à direita, embaixo e em cima.

Não, as tuas palavras são essencialmente infinitas, linhas sem princípio nem fim, ilimitadas na horizontal e na vertical, em todos os sentidos.

Por isto, nunca poderá homem algum exaurir o sentido total das tuas revelações. Por mais que as aprofunde, estará sempre no início da sua profundeza...

Nunca poderá o nosso finito beber o teu Infinito em toda a sua plenitude... Também, como caberia o ilimitado do teu oceano divino nessas conchas de molusco que jazem esparsas pelas praias da humana sapiência?...

Nesse mar imenso das tuas revelações cada homem submerge segundo a medida da sua capacidade, uns mais, outros menos profundamente... Alguns colhem apenas as gotinhas que saltam à praia...Outros apanham quantidades maiores das tuas águas divinas... Mas quem teria a presunção de afirmar: eu colhi na minha inteligência toda a vastidão do oceano! não ficou fora do meu amplexo mental uma só onda, uma gotinha sequer da revelação de Deus!?...

Tolo quem assim pensasse!...

O que de ti colhemos, Senhor, são gotinhas minúsculas – o que de ti perdemos são oceanos imensos...

O principiante na escola da espiritualidade entenderá as tuas palavras no sentido “literal”.

Outro, mais provecto no caminho do espírito, descobrirá o sentido “simbólico” da tua revelação.

Outro ainda, iniciado nas altas academias do mundo espiritual, perceberá nas profundezas do teu Verbo a significação “mística”, a verdade suprema e última que palpita em tuas palavras.

A nossa compreensão assemelha-se a uma espécie de crivo ou filtro. Se são muito largos os interstícios das malhas, só retemos os elementos mais grosseiros, enquanto o resto nos foge imperceptivelmente. Quanto mais denso,

fino e sutil for o nosso tecido espiritual, tanto mais reterá a imponderável substância das tuas revelações, tanto mais profunda e intensamente compreenderá as tuas palavras.

Todos esses compreendedores – do sentido literal, simbólico e místico – estão com uma parcela da verdade – mas em graus diversos. Desde a meia-noite até o meio-dia, através de todas as graduações crepusculares de trevas e de luz, se lança o caminho dos teus compreendedores, Senhor.

Compreende-te cada compreendedor conforme a capacidade da sua compreensão, segundo a bitola do seu poder receptivo, consoante a largueza ou estreiteza da sua potência individual, da potência ou impotência do seu espírito.

Pode cada um desses recipientes estar “cheio”, pleno da compreensão da tua palavra – mas vai enorme diferença entre a “plenitude” compreensiva deste e daquele compreendedor.

Cheio está o dedal quando a água lhe atinge a borda superior. Cheio está um vaso de litro quando nada mais cabe no seu âmbito.

Cheio está um reservatório de milhões de litros ou toneladas quando repleta a última parcela da sua capacidade receptiva.

E, no entanto, que semelhança há entre esta última plenitude e a primeira? É certo que é verdadeira plenitude, a plenitude de um dedal – mas a sua plenitude parece vacuidade em face duma plenitude de mil toneladas.

Afere-se a plenitude dum ser não pelo volume do conteúdo – mas pela capacidade do continente.

Não compreendemos Deus assim como ele é – mas assim como nós somos. O Deus compreendido pelos homens será sempre mais humano que divino. Tanto mais divino será quanto menos humana for a sua capacidade compreendedora.

Modesto compreendedor do sentido literal das divinas revelações, sê, antes de tudo, grande cultor da humildade – porque humildade é verdade. Não penses que a tua compreensão seja a única, a última, a maior e melhor de todas! Tens direito a ser ignorante – mas não tens o direito de ignorar a tua própria ignorância! Cultiva, quanto puderes, a interpretação literal das palavras de Deus – mas conserva sempre abertas todas as portas e janelas do teu espírito para a eventualidade duma compreensão superior... Talvez que o teu pequeno “dedal” de hoje venha a transformar -se paulatinamente num recipiente maior para receber maior plenitude do Além...

Abstém-te de discutir sobre o sentido simbólico e místico enquanto o teu receptáculo não alargar os seus limites, porque inútil e prejudicial seria semelhante discussão. Todas as águas divinas que excederem a capacidade do teu dedal ou da tua concha de molusco correrão por cima de ti, como se não existissem. Só existe para ti o que cabe no teu recipiente individual.

Nem penses que seja apenas questão de “quantidade” – pois é antes questão de “qualidade”.

As coisas divinas são por ti percebidas na razão direta da tua “divindade”. Só o divino pode perceber o divino.

Também, como poderia um receptor de ondas longas apanhar do espaço ondas curtas?...

Como poderia uma corda afinada por vibrações aéreas de pouca intensidade reagir a ondas eletrônicas?...

Como poderia um raio luminoso de baixa frequência produzir luz violeta ou ultravioleta, como o de alta frequência?...

Compreende cada qual conforme a sua capacidade compreensiva.

Por isto, ó Deus, ninguém te compreende cabalmente assim como tu és – mas antes assim como ele é. Quem te compreendesse cabalmente assim como tu és, seria igual a ti – seria Deus.

Todo homem tira das tuas revelações o que seu espírito apreende e de que ele tem mister. O conteúdo das tuas palavras é infinito, mas o homem absorve só a parcela finita que é por ele absorvível. Da infinitude do teu oceano haure cada um as gotas possíveis e necessárias ao seu Eu individual.

Bebe cada homem de ti na medida da sua sede – e está satisfeito. Satisfeito? oh, não!...

Quanto mais se bebe de ti, Senhor, mais se quer beber! ... É este o delicioso tormento dos que começaram a beber de ti por meio duma parcela de compreensão. Não comece a beber-te e compreender-te quem não te quiser sofrer! É assim que tu te “vingas” do homem que teve a audácia de começar a procurar-te: obrigando-o a “procurar -te” cada vez mais... E a mística desse “procurar -te” vai numa progressão infinita: quanto mais te encontra, mais tem de procurar-te. É que cada encontro contigo gera a possibilidade para novos encontros cada vez maiores e mais intensos. Cada grau de compreensão produz no compreendedor nova capacidade compreensiva.

Quem uma vez abriu os olhos em direção aos teus horizontes Infinitos, já não pode dormir tranquilo nas praias do finito...

Quem começou a compreender algo das tuas palavras descobre-lhes sentido cada vez mais profundo, e vai no encalço desse sentido sem nunca parar – porque cada uma das tuas palavras é um caminho para o Infinito... Depois de percorrer, ao longo desse “fio de Ariadne”, todos os labirintos da terra, toda a vastidão do cosmos, todos os domínios do universo material e espiritual; depois de deixar após si tudo quanto tenha existido, exista ou venha a existir em todos os planos da realidade – ainda não atingiu o humano viajor o termo final das tuas palavras. E por mais que esse arrojado bandeirante prosseguisse a devassar selvas e desertos, a cortar continentes e mares, a descobrir mundos ignotos e universos sem fim, nunca poderia armar a sua tenda em algum ponto e dizer: aqui é o fim! aqui terminou o sentido das palavras de Deus!...

Sem limite, Senhor, é a amplitude das tuas revelações... Infinita a tua palavra...

No documento Huberto Rohden - Deus.pdf (páginas 78-82)