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Minha luminosa escuridãoMinha luminosa escuridão

No documento Huberto Rohden - Deus.pdf (páginas 36-46)

Minha luminosa escuridão

Exultei de júbilo ao descobrir esta grande realidade. A luz é tão bela, tão ardente, tão pura... A luz é fonte de vida e alegria – e tu, meu Deus, eras para mim a claridade imensa que iluminava as noites da minha existência.

De tão encantado da tua luz, cantei a apoteose da tua grandeza, ó excelsa Divindade...

Hoje... és para mim a grande escuridão...

A escuridão?... Não, não és a escuridão – és a síntese e quintessência de todas as trevas do universo e de todas as noites de minha vida...

A escuridão duma noite terrestre é luz em comparação com o profundo negror da tua natureza, minha gigantesca Noite Metafísica...2

2.Não se esqueça o leitor, em face dessa estranha afirmação, de que a jornada ascensional da alma rumo à luz definitiva vai através de luzes e trevas intermitentes. Lembre-se da “noite tenebrosa da alma” de São João da Cruz, e de todos místicos.

A noite do nosso planeta acaba sempre em crepúsculo, em aurora, em luz meridiana – a tua noite, porém, se estabilizou no nadir da sua mais profunda e imutável escuridão. O relógio da tua natureza marca sempre meia-noite. Toda vez que ergo os olhos, encontro-me com os teus ponteiros em rigorosa vertical, como o fiel duma balança em repouso, abraçando-se eternamente sobre o “doze” da meia-noite. O teu tempo é eternidade... A tua balança não oscila... Os teus ponteiros não se movem...

A princípio, pensava eu que essa treva metafísica fosse privilégio da tua divina essência; que só no centro do teu Eu divino é que reinava essa grande escuridão. Mais tarde, porém, verifiquei, com indizível assombro, quase com desespero, que tenebroso é tudo que te circunda e sai das tuas mãos. De todos os círculos concêntricos que rodeiam o teu sólio eterno irradiam trevas, até da extrema periferia do cosmos material e espiritual...

Treva é a tua natureza... Treva a tua providência... Treva a tua revelação... Treva a tua filosofia...

Treva a tua justiça... Treva a tua sabedoria... Treva é o teu mundo todo...

Treva o reino que entre os homens fundaste...

Treva é até a mais intensa luz do teu amor para conosco...

... Naqueles tempos, quando a tua eterna divindade me parecia luz intensa, eras tu para mim delícia suprema. Pensar em ti me era doce... Proferir o teu nome era um encanto... Adorar-te era um paraíso...

Hoje, és para mim o maior de todos os tormentos.

Tu, meu Deus, és para minh’alma a mais acerba de todas as dores...

O mais amargo de todos os sofrimentos... O mais dilacerante de todos os ais...

A mais inquieta de todas as minhas inquietudes... O mais profundo de todos os abismos do meu ser...

A mais ardente de todas as flamas que abrasam a minha vida... O mais enigmático de quantos enigmas angustiam o meu espírito...

A mais vasta solidão de todos os desertos que se alargam em derredor e dentro de mim...

Isto és para mim, ó Deus, depois de tantos decênios que ando à tua procura, leal e sinceramente...

Entretanto, minha grande Escuridão e minha Dor imensa, não te escandalizes com esta rude fraqueza de minh’alma, que parece uma blasfêmia nos meus lábios, mas é um grande ato de amor no meu coração...

Mais do que nunca eu te quero, amo, adoro... E no dia em que me fores ainda mil vezes mais obscuro e doloroso, mil vezes mais te hei de querer, amar, adorar...

Desconfio dum “deus” que não seja assim como tu és... um “deus” não misterioso nem doloroso me encheria de desconfiança de ser um pseudo- deus, um não-deus...

Na vida presente, quero-te noturno, doloroso, enigmático – um “deus desconhecido”...

Quero-te assim como és, infinitamente amargo. Esse amargor – não sei por que estranhas leis de contraste ou polaridade – tem para mim maior doçura que todas as doçuras do universo...

Amo essa tua escuridão, meu Deus, não por ser escuridão – mas por ser “tua” escuridão.

Tempo houve em que eu era muito mais “sábio” do que hoje – e até mais “religioso”, como dizem os homens. Naquele tempo sabia eu provar com impecáveis silogismos a tua existência e os teus atributos. Quase uma dúzia de “argumentos”, todos eles infalíveis, estavam nitidamente exarados nos meus alentados cadernos apologéticos. Naquele tempo sabia eu expor aos meus semelhantes todos os secretos desígnios da tua providência. Arvorava-me afoitamente em advogado e defensor do teu governo e julgava de meu dever justificar cada uma das tuas obras. Provava, com precisão quase eletrônica, que tudo quanto acontecia tinha de acontecer justamente assim, sem um milímetro de diferença para a direita nem para a esquerda – e que era tolo quem isto não compreendesse...

Como vês, meu Deus, eu era nesse tempo ótimo advogado da tua providência e funcionário ideal do teu reino.

Hoje, creio mais na minha ignorância do que na minha sapiência...

Hoje, convencem-me mais os teus mistérios e paradoxos do que as tuas claridades meridianas...

Sei que existes – mas sei também que o teu existir não é assim como eu penso e creio. A idéia que faço do teu existir e do teu agir é, a bem dizer, a minha própria existência e atividade projetadas ao infinito. Conheço-te, não assim como és – mas assim como eu sou. Vejo-te através dos óculos coloridos da minha individualidade e do meu caráter pessoal. Tu és assim como eu compreendo que possas ser, ou como desejaria que fosses.

És inteligente – para minha sede intelectual... És amoroso – para meu coração faminto de amor... És poderoso – para minha vida tão frágil...

És belo – para meu sentimento estético a buscar o seu ideal... És eterno – para meus anseios de imortalidade...

Tudo isto penso eu de ti, e tudo isto és tu na verdade – mas não o és assim como eu penso e imagino. O conceito que de ti formo não é idéia adequada,

senão apenas análoga. Concebo-te como o melhor e mais perfeito dos seres do mundo, elevo-te à potência infinita – e digo que isto és tu.

O teu modo de ser é completamente diverso do nosso, mesmo quando superpotencializado e multiplicado por todos os infinitos...

Desde que compreendi o oceano da minha ignorância e a gotinha do meu saber; desde que compreendi que nem esta gotinha é um saber certo e garantido, ocultei-me na sombra duma grande humildade, porque humildade é verdade. E é por isto mesmo que a “ver dade nos liberta”, porque nos emancipa da escravidão do orgulho, que é ilusão.

Desde então me tornei mais prudente e cauteloso nas minhas afirmações e nas minhas negações. Trato com caridade e indulgência os que pensam de modo diferente.

Abri mão do monopólio da verdade que eu julgava possuir, no tempo da minha extrema ignorância – quando essa ignorância andava de mãos dadas com a minha arrogância...

A escuridão que me cerca obriga-me a andar devagar, passo a passo, tateando ao longo das paredes desse túnel do teu mundo caliginoso... Pensam os homens que me falta a coragem para fazer desassombrada profissão de fé; vêem nesta hesitação um sinal de covardia da minha parte... Mas como se pode correr vertiginosamente no meio das trevas enum caminho pontilhado de obstáculos?...

Sei, minha luminosa Escuridão, que, assim mesmo, chegarei aonde estás, porque tu, que não apagas a mecha fumegante nem quebras a cana fendida, me levarás nas palmas das tuas mãos...

Sei que tu julgas o homem, não pelo que ele faz e de fato realiza – mas sim pelo que quer e sinceramente desejaria realizar.

Tu sabes que o homem não é o que ele é historicamente – mas sim o que ele é no mundo longínquo dos seus ideais...

O mundo da minha realidade histórica não depende de mim, em grande parte, não obedece ao meu querer ou não-querer, é filho da fortuna ou do infortúnio, resultado da boa sorte ou do mau azar; eu não sou mais que uma série de fatores que me colhem em suas malhas prepotentes, fatores alheios ao meu verdadeiro e íntimo Eu...

Eu sou o que sou livre e espontaneamente e o que desejo ser, ainda que de fato não o consiga ser – isto sou eu na verdade. Sei que entre o meu “querer ” e o meu “poder” medeia distância quase infinita, mas não é essa distância a bitola do meu verdadeiro ser; o que vale e decide é o meu sincero querer, e

não o meu impotente poder. Sei que os meus ideais são montanhas longínquas, cumes excelsos imersos em luz divinal – e sei também que as minhas realidades são prosaicas e cinzentas planícies, areais monótonos, que talvez nunca atinjam sequer o sopé dos meus longínquos Tabores...

Mas tu sabes, meu Deus, que eu não sou este esfarrapado e exausto viajor que se arrasta pela prosaica planície da sua humana fraqueza – eu sou aquele saudoso peregrino do Infinito que, em pleno areal desta terra finita, crava os olhos famintos nosluminosos cumes dos seus grandes ideais...

E é por isto mesmo que não desmaio na longa jornada... O único que tenho de meu é meu sincero querer – e é por este querer que tu me julgas, e não pelo poder ou não-poder, como os homens insensatos.

Por isto, minha luminosa Escuridão, eu me julgo mais perto de ti no meio das minhas trevas de hoje do que na minha claridade de ontem...

O sofrimento por ti me aproximou de ti, distanciando-me de mim... Distanciando-me de mim?...

Assim pensava eu, por muito tempo. Tinha a impressão de que o sofrimento me afastava do Eu, à medida que me aproximava de Deus; deslocava-me do centro humano em direção à periferia divina...

Vejo hoje que não é bem assim... De fato, o sofrimento por ti me aproxima de ti e, em certo sentido, me distancia de mim, do meu ego estreito – mas não me distancia do meu verdadeiro e autêntico Eu, desse Eu largo e livre, desse Eu eterno que está oculto sob a grossa camada com que o meu ego efêmero e profano encobriu aquele verdadeiro e eterno Eu.

Fiz esta grande descoberta: que o único caminho certo para o verdadeiro Eu é via Deus. Quem não vai via Deus encontra sempre um pseudo-eu, e ficará eternamente alheio ao verdadeiro Eu do seu ser...

Foi necessário desegoficar-me, divinizando-me em ti, a fim de me encontrar integralmente em mim...

É esta a estranha matemática, filosofia e astronomia do teu reino, ó minha luminosa Escuridão...

E é por isto que eu quero, amo e adoro essa tua luminosa Escuridão, ó Deus eterno...

Superpersonal

Superpersonal

No dia, Senhor, em que os homens inventaram que eras “pessoa” – começou a grande decadência...

Decadência não tua, porque tu és eternamente forte, juvenil, indefectível; mas a grande decadência da tua divindade no conceito dos homens.

Entretanto, foi necessário que os homens te “personalizassem”, por alguns milênios, a fim de tirar-te da vasta penumbra do mundo inconsciente em que muitos te imaginavam. Fizeram-te “pessoa” porque queriam fazer-te “consciente” – e, só vendo em derredor de si seres pessoais conscientes, acharam necessário dar-te personalidade. Para dizer de ti que não és um ser incônscio, dormente, sonâmbulo ou semiconsciente, como os seres do mundo vegetal e sensitivo, disseram de ti que és “pessoa”.

Quando te chamaram “pessoa”, deram-te os homens uma grande perfeição, reconhecendo a tua pura e cristalina consciência – mas ao mesmo tempo te atribuíram a imperfeição inerente a todo o ser personal: cercaram-te (pelo menos verbalmente) duma barreira que não existe em tua infinita Divindade. Pessoa faz lembrar limitação – e tu és ilimitado.

Pessoa recorda uma como onda individualizada no meio do vasto oceano cósmico – e, no entanto, tu és um oceano sem praias nem fundo, tu és um cosmos de absoluta e universal infinitude.

Assim, chamando-te “pessoa”, prestaram-te os homens um favor, tirando-te do anonimato amorfo da natureza incônscia – e ao mesmo tempo te irrogaram uma injúria, fazendo crer que sejas algo parecido com o que entre nós, seres limitados, se chama “pessoa” ou “personalidade”...

O conceito de personalidade “revela-te” e “vela-te” ao mesmo tempo; manifesta o que és, mas encobre também o que és plenamente.

Modelaram-te os homens à sua imagem e semelhança, personalizando-te. Chegaram mesmo ao ponto de atribuir-te personalidade tríplice – e com isto correram enorme cortina de fumaça por diante da tua divina natureza.

Tu não és “pessoa” no sentido comum desta palavra, nem mesmo por simples analogia. Se “pessoa” é um ser vivo, consciente, dotado de inteligência e

vontade, talvez possas ser assim apelidado – mas, neste caso, o teu ser- pessoa é tão diferente do nosso ser-pessoa como o fogo real diverge do fogo pintado, como a luz solar se distingue das lanternas fosfóreas dum vaga-lume, como a vida dum serafim é diferente da vida dum molusco ou protozoário... Tu és um ser consciente, pleniconsciente, superconsciente, oniconsciente, infinitoconsciente...

Tu és inteligência sem limites. Tu és vontade sem barreiras. Tu és poder irrestrito... Tu és saber imenso... Tu és amor universal...

Tu és bondade panorâmica e absoluta...

Nenhum desses atributos existe em ti em forma de gota, parcela, fragmento, como em nós. E, por isto mesmo, tu não és individualizado como nós.

Tu és essencialmente superpersonal, infinitopersonal – se é que esse “personal” não é a negação do “infinito”... Não seria uma pessoa infinita uma não-pessoa?... Não seria um indivíduo ilimitado um não-indivíduo?...

Chamar-te-ei, pois, “pessoa” só no caso em que esta qualificação não restrinja a tua infinitude...

Aqui no mundo, o que encontramos de mais perfeito em si mesmo é a pessoa – esse algo amorfo que se cristalizou num Eu definido e preciso. E, como costumamos conceber-te, ó Deus, como uma tal ou qual superpotencialização do nosso Eu, ou antes esse próprio Eu projetado ao infinito, dizemos que tu, ó Ser infinito e infinitamente consciente, és uma “pessoa” de ilimitada perfeição. Tu, que nos conheces, perdoarás benignamente a imperfeição do nosso poder em face da perfeição do nosso querer, e nos creditarás a força da intenção em vez de nos debitares a fraqueza da compreensão.

Tu não existes – tu “és”...

Não existes aqui nem acolá, não exististes nem existirás, tu és simplesmente... És no passado, és no presente, és no futuro... És antes o paralelo a todos os tempos e espaços, com absoluta onipresença e universalidade.

Disseram-me, um dia, que tuas leis regiam o universo. Entretanto, não são propriamente tuas leis, és tu mesmo. Tu mesmo és o universo, porque és tudo que é real. Por mais estranho que pareça, tu és também a matéria, enquanto

ela é algo real, mas não a és enquanto ela diz imperfeição. Se a matéria tem 1 grau de realidade, tu és esse grau 1.

Tu és também o universo espiritual, enquanto ele é realidade e enquanto é espírito, mas não o és enquanto é finito e limitado. Se o mundo espiritual possui 10 graus de perfeição, tu és esses 10 graus.

Tu és o que o universo é ontologicamente, mas és infinitamente mais do que tudo o que existe fora de ti.

Eu sou um ser racional, mas nem por isto deixo de ser um ente mineral, vegetal, animal, uma vez que tudo isto é real dentro da minha racionalidade. De modo análogo, meu Deus, tu és o universo, embora sejas infinitamente mais do que essa tua manifestação visível ou imaginável.

O teu SER está em cada existir – mas ultrapassa todos os “existires”.

A equação não é, pois: Universo = Deus, mas sim: Universo < Deus, ou: Deus > Universo. Mas, pelo fato de ser o Universo menor que tu, não deixa ele de ser parcialmente tu mesmo, numa como que fração infinitesimal, na razão direta da sua realidade ontológica.

Minha alma está toda e inteira no meu corpo, e toda e inteira também em cada uma das suas partes. Em cada uma dessas bilhões de células que compõem o meu organismo existe, vive e palpita minh’alma integralmente. Nenhuma das células do meu corpo é minh’alma, mas a alma está toda e inteira dentro de cada célula. Não são as leis da alma que regem a célula e o corpo, é a própria alma que os rege, porque está presente com toda a sua realidade e atividade. De modo análogo, meu Deus, não é tua lei que rege o mundo – és tu mesmo, tu, Deus transcendente, que és um Deus imanente.

* * *

Quando os homens houveram por bem definir-te como “pessoa”, sentiram-se obrigados a mandar-te para longe. Separaram-te do Universo e designaram-te um trono excelso para além das nuvens, para além de todas as vias-lácteas e nebulosas do cosmos, para além das últimas praias de todas as galáxias que, por ventura, existem na vastidão do mundo sideral. Crearam para ti um céu, especialmente para ti. Fizeram de ti um Deus transcendente, longínquo, sobrenatural – quando tu és o mais natural de todos os seres, o mais propínquo e o mais imanente de tudo quanto exista ou possa existir...

E depois de te exilarem e isolarem assim, nesse castelo de gelo da tua longínqua intangibilidade transcendente, inventaram mil meios e modos para se comunicarem contigo – porque o homem não pode viver sem ti.

Abriram canais através do vasto deserto...

Montaram telescópios no alto dos seus observatórios...

Os seus holofotes rasgaram as trevas noturnas de que te cercaram...

Inventaram mil estampidos e ruídos para quebrar o pavoroso silêncio que, como entendem, se alarga em derredor de ti...

Tudo isto fizeram os homens – e por que, meu Deus?

Porque te fizeram “pessoa”, porque te exilaram da típica imanência em todas as coisas para a gélida transcendência do universo...

Construíram-te um palácio de gelo na extrema periferia do cosmos, para lá te mandaram, e lá te deixaram – nesse solitário ostracismo... Deram-te na mão o cetro do universo, para que o governasses, lá das eternas e inacessíveis montanhas da tua transcendência...

Muito a custo chegam a esse teu deserto metafísico uns esvaídos ecos dos nossos brados de angústia, e as vastas torrentes das nossas lágrimas se somem e perdem no imenso areal desse Saara que te circunda de todos os lados...

Assim te fizeram os homens – tão humano, por demais humano...

Esqueceram-se das palavras de teu Messias: “O reino de Deus está dentro de vós...” Não compreendem os homens que tu não habitas para além das nuvens, mas que estás dentro de cada um de nós; que, se és transcendente, és também imanente...

O homem periférico só te suspeita na periferia – o homem central te encontra no centro.

Poucos te encontram, ó Deus imanente, porque poucos conseguem romper essa gigantesca floresta tropical das camadas periféricas do ego quotidiano e atingir o seu silencioso Eu central. Quem não descobre o seu próprio centro não descobre a Deus. Por mais transcendente que tu sejas, meu Deus, só é possível encontrar-te via imanência...

Só quando te descobri em mim mesmo é que se me tornou verdadeiramente amiga, querida e tépida a tua Natureza, meu Deus, tornei-me amigo de todos os seres do teu mundo. Cada um desses seres, pequenos ou grandes, é uma teofania, uma sarça ardente que te revela no meio de chamas, ardendo sem se consumir... Assim como qualquer fragmento de espelho reflete o semblante inteiro de quem nele se mira, assim estás também tu em cada parcela do teu mundo, nos mundos sidéreos de estupenda grandeza, e no mundo atômico de indizível pequenez...

Vivendo assim com a tua Natureza, eu vivo contigo e em ti, meu Deus oni- manente. Não há infelicidade para o homem que te vive no teu mundo. Mesmo no mais profundo infortúnio se sente ele calmo e sereno, porque vive contigo e em ti.

O homem que te vive nos seres do teu mundo não tem mister refugiar-se ao silêncio do ermo e à solidão da floresta para estar contigo, porque tu estás sempre com ele nos seres que o circundam.

Conhecer-te pela ciência é bom... Ver-te pela fé é consolador...

No documento Huberto Rohden - Deus.pdf (páginas 36-46)