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Análise e deliberação nas Comissões

No documento Processo legislativo estadual (páginas 143-146)

CAP 7 FASES PROCEDIMENTAIS

7.3 Análise e deliberação nas Comissões

A Constituição de 1988 estabelece como reserva de Regimento Interno as atribuições das Comissões parlamentares, no que foi acompanhada por todas as Constituições Estaduais. Constituem atribuições das comissões permanentes, dentre as quais, ex vi de norma constitucional, as seguintes: a) discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; b) realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil; c) convocar Secretários de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a suas atribuições; d) receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas; e) solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão; f) apreciar programas de obras, planos de desenvolvimento e sobre eles emitir parecer. O rol de competências das comissões que os Regimentos Internos devem observar ao fixar-lhes as atribuições é considerável, quase resvalando em oportuno comentário feito por Manoel Gonçalves Ferreira Filho à Constituição Federal anterior, no qual indicara o surgimento de um “direito constitucional regimental”222, tantas as determinações impostas ao legislador regimental pelo constituinte.

Não se afigura despropositado o registro, nessa quadra, de que a Constituição italiana (art. 72) inspirou a disciplina do artigo 58, § 2°, I, da Constituição brasileira de 1988, e este, os dispositivos das Constituições Estaduais, delineando o

sistema de comissões nas Casas Legislativas da Federação brasileira, onde se confere às

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STF – pleno – MS-AgR 24.667/DF. Rel. Min. Carlos Velloso. Julgamento: 04/12/2003.

comissões permanentes a competência para discutir e votar projetos de lei, na forma definida pelo Regimento Interno da respectiva Casa Legislativa e onde se concede às comissões técnicas permanentes a atribuição de exarar pareceres técnicos e de mérito sobre proposições.

Por mandamento constitucional, pois, às Comissões permanentes atribui-se, na forma do que dispuser o Regimento Interno, competência para, em sede deliberante, discutir e votar projetos de lei. Discutem e votam conclusivamente projetos de lei,

jamais, e.g., proposta de emenda constitucional, veto ou projeto de lei complementar já assinalados constitucionalmente com a reserva de Plenário,

insuscetíveis, por conseguinte, de deliberação por qualquer outro quorum, senão aquele qualificado por maioria absoluta ou por 3/5 dos membros da Assembléia Legislativa.

Em havendo e na forma em que houver a previsão regimental, comissões técnicas permanentes podem substituir o Plenário do Poder Legislativo223, ou exercer

delegação224 do exercício da função legislativa plena, mediante deliberação conclusiva, ou terminativa, sobre determinados projetos de lei.

Na disciplina das matérias sobre quais Comissões têm competência para deliberar conclusivamente, os Regimentos Internos das Assembléias Legislativas que normatizaram a matéria procuraram ser parcimoniosos, não se outorgando às Comissões todo e qualquer assunto. O Regimento Interno da Assembléia Legislativa de São Paulo dispõe, em numerus clausus, sobre os projetos de lei que podem ser objeto de discussão e votação conclusiva por uma Comissão de mérito; são os que disponham sobre declaração de utilidade pública de associações civis; denominação de estabelecimentos ou próprios públicos; instituição de data comemorativa, ou oficialização de eventos festivos, assim como sua inclusão no calendário turístico do Estado (art. 33, II). Já o Regimento da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte não enumera taxativamente as matérias sujeitas à decisão terminativa das Comissões permanentes, preferindo indicar que projeto de lei complementar, projeto de lei de iniciativa popular, projeto de lei em regime de urgência não se submetem a esse procedimento legislativo abreviado. Adverte, ainda, que quando houver manifestações divergentes das Comissões sobre a mesma proposição, sempre ao Plenário caberá deliberar (art. 124, II). Nesse sentido também, o Regimento da Assembléia Legislativa

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SILVA, José Afonso da. Processo constitucional de formação das leis. 2. ed., p.106.

do Rio Grande do Sul, que concede às comissões técnicas permanentes, na respectiva área de atuação, competência para discutir e votar projetos de lei e decretos legislativos, excetos os de leis orçamentárias, de iniciativa popular, de lei complementar, de código, de iniciativa de Comissão, em regime de urgência ou com parecer contrário da Comissão de Constituição e Justiça (art. 57, VI).

A decisão de mérito da Comissão competente, aprovando ou rejeitando determinada proposição, somente será final se não houver requerimento de um décimo dos membros da Assembléia para que o Plenário profira a decisão definitiva. Caso haja recurso de um décimo dos membros da Casa Legislativa, competirá ao Plenário a deliberação final.

O legislador regimental das Assembléias do Acre, Pará, Pernambuco, Sergipe e Tocantins ainda não dispuseram sobre essa competência deliberativa das suas comissões permanentes, mas já prevista nas respectivas Constituições Estaduais.

Contudo, no âmbito das Comissões, as proposições, salvo exceções constitucionais (veto e urgência constitucional com prazo para inclusão em Ordem do Dia), e em observância a preceitos regimentais, recebem, outrossim, pareceres

opinativos acerca da sua legalidade, juridicidade e constitucionalidade; bem como os

pareceres exarados também consideram o mérito das proposições. Efetiva-se, assim, o

princípio do exame prévio do projeto por comissões parlamentares.

Constatam-se dois sistemas de exame prévio da constitucionalidade, juridicidade e legalidade de projetos pela comissão de Constituição e Justiça. O primeiro confere ao parecer votado pela comissão natureza meramente opinativa (Regimento paulista, e.g,). O segundo dá caráter conclusivo à votação de projeto rejeitado por maioria absoluta de votos na Comissão de Constituição e Justiça (art. 72, § 1º, do Regimento gaúcho; art. 143, caput, do Regimento catarinense, e.g.). Na primeira hipótese, remete-se automaticamente o projeto à discussão e votação prévia do Plenário para confirmar, ou não, a constitucionalidade do projeto; na segunda, deve haver, em prazo fixado, recurso ao Plenário subscrito por parlamentares interessados, caso não haja, ou, havendo, sendo o recurso improvido, será o projeto arquivado (art. 72, §§ 2º e 3º, do Regimento gaúcho; art. 143, §§ 1º a 3º do Regimento catarinense).

Da mesma forma, há dois sistemas acerca da adequação orçamentária da proposição pela Comissão de Finanças e Orçamento; um com parecer tão-somente opinativo, e o outro terminativo. No primeiro caso, quando a proposição for incluída

em Ordem do Dia, constará da sua ementa indicação ao Plenário de que o parecer da comissão, quanto ao mérito financeiro-orçamentário, é contrário. No segundo, haverá prazo para recurso ao Plenário, que poderá provê-lo; inexistindo recurso, restará arquivado o projeto em virtude de sua inadequação financeiro-orçamentária (art. 143, §§ 1º a 3º do Regimento catarinense).

No documento Processo legislativo estadual (páginas 143-146)