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Sobrestamento das deliberações de proposições na Ordem do Dia

No documento Processo legislativo estadual (páginas 187-191)

ESTADO N° DE DEP M ABSOLUTA M SIMPLES 3/5 2/

7.9 Sobrestamento das deliberações de proposições na Ordem do Dia

Frise-se, mais uma vez, que a Constituição Federal anterior erigia o processo legislativo federal como um dos princípios de observância obrigatória pelos Estados- membros (art. 13, III). Exsurgia daí a compulsoriedade da previsão dos seguintes dispositivos nas Constituições Estaduais de 1967/69, como na Constituição paulista, por exemplo:

“Artigo 24 – O Governador poderá enviar à Assembléia projetos de lei

sobre qualquer matéria, os quais, se o solicitar, deverão ser apreciados dentro de 90 dias a contar do seu recebimento.

§ 1º - Se o Governador julgar urgente a medida, poderá solicitar que a apreciação do projeto se faça em 40 dias.

..

§ 3º - Na falta de deliberação dentro dos prazos estabelecidos neste artigo e nos parágrafos anteriores, cada projeto será incluído automaticamente na ordem do dia, em regime de urgência, nas 10 sessões subseqüentes em dias sucessivos; se, ao final dessas, não for apreciado, considerar-se-á definitivamente aprovado.”

“Artigo 26 –

§ 3º - A apreciação do veto pelo Plenário deverá ser feita dentro de 45 dias de seu recebimento, em uma só discussão, considerando-se aprovada a matéria vetada se obtiver o voto favorável de 2/3 (dois terços) dos membros da Assembléia.

..

§ 5º - Se o veto não for apreciado no prazo do § 3º, considerar-se- á acolhido pelo Assembléia.”

Assim estatuído, o decurso de prazo, de observância obrigatória pelos Estados-membros, ex vi do disposto no artigo 13, inciso III, da Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 1, de 1969, fazia tabula rasa do voto parlamentar.

A atual Constituição Federal, ensaiando um modelo federativo com maior autonomia para os Estados-membros, não enunciou expressamente para os Estados federados um rol de princípios de observância obrigatória, como, por exemplo, o do processo legislativo; além do que, aboliu o decurso de prazo, num forte indicativo em ordem a resgatar função primacial do colegiado parlamentar, a deliberativa. E deliberar mediante resultado dos votos efetivamente enunciados pelos membros do Poder Legislativo, não mais de forma ficta, por presunção, em decorrência da ausência dos votos; votos que lá se pressupunham proferidos, caso houvesse transcorrido in albis o prazo para apreciação dos projetos de lei em regime de urgência solicitado pelo Executivo, ou o prazo para deliberação dos projetos de lei vetados.

Os constituintes estaduais de 1988-9 buscaram elaborar as respectivas Constituições Estaduais observando os princípios da Constituição Federal, por expresso comando desta, sendo um deles o da efetiva deliberação, pelos membros do Poder Legislativo, das matérias submetidas ao crivo parlamentar. Princípio da efetiva deliberação, pois conformador de função essencial da representação política, a deliberativa.

Como resultado decorrente deste princípio constitucional, tem-se a inexistência do decurso de prazo no processo legislativo estadual. Contudo, ao disporem sobre a exigência de expressa deliberação, as Constituições Estaduais deram conseqüências diversas para uma idêntica situação, no caso dos projetos de iniciativa do Governador, com solicitação de urgência, e com prazo de deliberação esgotado.

Nessas hipóteses, “se a Assembléia Legislativa não deliberar em até

quarenta e cinco dias, o projeto será incluído na Ordem do Dia até que se ultime sua

votação”, é o que determinam as Constituições Estaduais do Acre (art. 54, § 5º), Goiás (art. 22, § 1º), Pernambuco (art. 21, § 1º), Rio Grande do Sul (art. 62, § 2º, após transcorridos 30 dias), Roraima (art. 42, § 1º) e São Paulo (art. 26, parágrafo único).

Já as Constituições de Alagoas (art. 88, § 1º), Amapá (art. 106, § 1º),

Maranhão (art. 46, § 1º), Mato Grosso (art. 41, § 1º), Mato Grosso do Sul (art. 69, §

1º), Minas Gerais (art. 69, § 1º), Pará (art. 107, § 1º), Paraná (art. 66, § 2º), Paraíba (art. 64, § 2º), Piauí (art. 76, parágrafo único), Rio de Janeiro (art. 114, § 1º), Rio

Grande do Norte (art. 47, § 2º), Rondônia (art. 41, § 1º), Santa Catarina (art. 53, §

1º), Sergipe (art. 63, “caput”) e Tocantins (art. 28, § 1º) estabeleceram que, transcorridos quarenta e cinco dias sem deliberação, o projeto será incluído em Ordem do Dia para que se ultime sua votação.

Não é de pouca monta a conseqüência do disciplinamento constitucional dessa matéria, notadamente quando daí decorre a aplicação de normas regimentais que fixavam, ou fixam, em doze (art. 194, da XII CRI-SP), seis (art. 194, parágrafo único, da XIII CRI-SP), três (art. 131 do RI-GO) ou duas horas (art. 237 do RI-SC) o prazo para encerramento da discussão. A repercussão no procedimento legislativo pode envolver, dependendo do entendimento que se der aos comandos constitucionais (para que se ultime a votação / até que se ultime a votação), a supressão da própria fase de discussão do projeto, caso ela não se efetue no prazo dos quarenta e cinco dias iniciais.

Foi o que se deu na Assembléia Legislativa de São Paulo quando, em resposta a Questão de Ordem suscitada sobre essa matéria, o Presidente submeteu a votos, sem discussão, projeto que tramitara por mais de quarenta e cinco dias, em regime de urgência.272 Por sua direta relação com o tema desenvolvido, reproduzem-se, abaixo, excertos do conteúdo da Questão de Ordem:

“PRESIDENTE – DEP. VAZ DE LIMA – (...) Sabe-se que num processo, e também no processo legislativo evidentemente, há encadeamento de atos para se atingir determinado fim, trata-se de ação para “ir adiante”, apontando sempre para um “caminho à frente”, jamais estagnação, como a que se pode constatar mediante simples análise da atual Ordem do Dia [com 342 proposições]. A Assembléia Legislativa não pode subtrair, dela própria, como órgão colegiado que é, função finalística primordial preconizada pela Constituição: votar. Esta é, parece-me, a exegese dos dispositivos constitucionais citados. E é isto que devemos buscar, para o bem desta própria instituição parlamentar.

O legislador constituinte fixa prazo de 45 e de 30 dias para se obter a votação de cada proposição em regime de urgência (art. 26) e dos vetos (art. 28), respectivamente. Após o prazo fixado (45 e 30

272 Projeto de Lei n. 633/2006, de autoria do Executivo, com solicitação de urgência constitucional.

Incluído na Ordem do Dia em 14-11-06, foi, sem discussão, aprovado em 10-04-07. Transformou-se na lei n. 12.584, de 23-04-07: Autoriza a Fazenda do Estado a alienar, por doação, ao Município de Cruzeiro, imóvel com benfeitorias, que abriga o Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes, devendo o Município manter a atual destinação do bem e promover a sua conservação.

dias), determina que a proposição permaneça na Ordem do Dia para

votação; não admitindo aprovação ou rejeição ficta de qualquer

proposição, em clara indicação em ordem a valorizar o mandato representativo e o próprio Parlamento.

Essas razões sedimentam convicção de que, ao interpretar esses dispositivos constitucionais como impulsionadores do processo legislativo, esta Presidência estará indo ao encontro, igualmente, da intenção do legislador constituinte federal.

Desta forma, vencida a oportunidade de discussão e votação nos primeiros 30 dias (§ 5º do art. 28 - veto) e nos primeiros 45 dias (parágrafo único do art. 26 – projetos de lei), passa-se adiante no processo, passa-se à fase da votação.

Acolhendo, pois, a questão de ordem da nobre Dep. Maria Lúcia Amary, decido, como orientação normativa, que, a partir da próxima sessão deliberativa desta Assembléia Legislativa, na organização da Ordem do Dia, os projetos de lei com urgência constitucional e os vetados, cujos prazos já ultrapassaram, respectivamente, 45 e 30 dias de tramitação pela Assembléia, deverão figurar na Ordem do Dia em fase de votação, e não mais em fase de discussão e votação.”273

Na hipótese de projetos de lei vetados, no entanto, há uniformidade nos comandos constitucionais. Todos determinam que, esgotado o prazo de trinta dias, sem deliberação, o veto deve ser incluído na Ordem do Dia da sessão imediata, sobrestando- se as demais proposições, até sua votação final: Acre (art. 58, § 8º), Alagoas (art. 89, § 7º), Amapá (art. 107, § 6º), Amazonas (art. 36, § 4º), Bahia (art. 80, § 5º), Ceará (art. 65, § 6º), Espírito Santo (art. 66, § 6º), Goiás (art. 23, § 5º), Maranhão (art. 47, § 5º), Mato Grosso (art. 42, § 7º), Mato Grosso do Sul (art. 70, § 6º), Minas Gerais (art. 70, § 7º), Pará (art. 108, § 6º), Paraná (art. 71, § 6º), Paraíba (art. 65, § 6º),

Piauí (art. 78, § 6º), Pernambuco (art. 23, § 7º), Rio de Janeiro (art. 115, § 6º), Rio Grande do Norte (art. 49, § 5º), Rio Grande do Sul (art. 66, § 6º), Rondônia (art. 42,

§ 6º), Roraima (art. 43, § 6º), Santa Catarina (art. 54, § 6º), São Paulo (art. 28, § 6º),

Sergipe (art. 64, § 6º) e Tocantins (art. 29, § 6º). Ressalve-se, no entanto, que nem na

Constituição do Estado de São Paulo e tampouco na de Roraima há alusão à figura do sobrestamento das demais proposições para deliberação das matérias vetadas.

273

Questão de Ordem n. 237, respondida na 14ª sessão ordinária, 4-4-2007. Diário Oficial do Estado de São Paulo – Poder Legislativo, edição de 19-04-2007, p. 29-30.

CAP. 8 SANÇÃO, VETO, PROMULGAÇÃO E PUBLICAÇÃO NO PROCESSO

No documento Processo legislativo estadual (páginas 187-191)