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Autonomia dos Estados-membros no modelo federativo da Constituição de 1967, com redação dada pela EC n 1/

No documento Processo legislativo estadual (páginas 39-42)

2.3.3 Assembléias Legislativas estaduais na Federação

2.3.3.6 Autonomia dos Estados-membros no modelo federativo da Constituição de 1967, com redação dada pela EC n 1/

O Comando Supremo da Revolução de 31 de março de 1964, assim auto- intitulado, ao editar o Ato Institucional no 1, em 9 de abril de 1964, explicava à Nação, em sua exposição de motivos: “a revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma

mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa,

como Poder Constituinte, se legitima por si mesma”. Embora reafirmada pelos militares signatários do Ato como sendo a revolução a forma mais radical do poder constituinte,

paradoxalmente concediam: “para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter a Constituição de 1946”. Vigorava ainda uma Constituição, mantida pelos militares vitoriosos, que não deixaram de infligir à Nação o infausto esclarecimento de que “sem as limitações previstas na Constituição, os Comandantes-em-Chefe, que editam o presente Ato, poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de 10 (dez) anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos”.

O Ato Institucional no 2, de 27 de outubro de 1965, decretou em seu artigo 18: “Ficam extintos os atuais Partidos Políticos e cancelados os respectivos registros.” Em 7 de dezembro de 1966, foi editado o Ato Institucional no 4, convocando o Congresso Nacional para se reunir extraordinariamente em exíguo período, de 12 de

dezembro de 1966 a 24 de janeiro de 1967, com a finalidade de discutir, votar e

promulgar uma nova Constituição, cujo projeto era, então, apresentado pelo Presidente da República. Obedecido o comando constitucional, no dia determinado

foi promulgada a Constituição pelo Congresso.

Em 13 de dezembro de 1968 foi editado mais um ato de exceção, este agora escandalosamente antidemocrático, o Ato Institucional n. 5 (AI-5). Por ele o Presidente da República podia decretar o recesso do Legislativo, só retornando ao funcionamento quando convocado novamente pelo Presidente da República. Decretado o recesso parlamentar, ficava o Poder Executivo correspondente autorizado a legislar sobre todas as matérias (art. 2° do AI-5). Com fundamento nesse ato de exceção, a Junta Militar, no exercício do Poder Executivo, fechou o Congresso e editou a Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, dando nova redação à Constituição de 1967. No âmbito do Poder Constituinte Estadual, o preâmbulo da Constituição do Estado de São Paulo merece ser transcrito para o fiel entendimento daquele imbróglio jurídico-constitucional estabelecido, se é que pode ser assim denominado sem apoucamento ao termo italiano:

“O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO, no uso de suas atribuições, e considerando que, pela Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, foram introduzidas modificações em dispositivos da Constituição da República que, assim, passa a vigorar com nova redação a partir de 30 de outubro de 1969; CONSIDERANDO que o novo texto constitucional, em seu artigo 200, determina que as disposições dele constantes ficam incorporadas, no que couber, ao direito constitucional legislado dos Estados; CONSIDERANDO que a

adaptação das disposições da Constituição do Estado de São Paulo, atingidas pelas normas constitucionais federais impõe necessariamente a alteração de outros dispositivos, para harmonizá-los com o sistema e os princípios da Constituição da República; CONSIDERANDO a conveniência de se proceder desde logo a essa adaptação, não só para facilitar o conhecimento e aplicação das novas normas constitucionais estaduais, como para permitir que elas tenham vigência simultânea com as da Constituição da República; CONSIDERANDO que a Assembléia

Legislativa, por força do Ato Complementar n. 47, de 7 de fevereiro de 1969, se acha em recesso, durante o qual, na conformidade do § 1° do artigo 2° do Ato Institucional n. 5, de 13 de dezembro de 1968, o Governador está autorizado a legislar em todas as matérias; CONSIDERANDO que, no processo legislativo, se inclui a elaboração de emendas à Constituição, como se vê do artigo 49, inciso I, da Constituição da República, de 24 de janeiro de 1967, correspondente ao artigo 46, inciso I, da mesma Constituição emendada, e reproduzido no artigo 18, inciso I, da Constituição do Estado de São Paulo; CONSIDERANDO, finalmente, que, feitas as modificações mencionadas, todas em caráter de emenda, a Constituição poderá ser editada de acordo com o texto que adiante se publica; PROMULGA a seguinte Emenda n. 2, à Constituição do Estado de São Paulo, de 13 de maio de 1967:”

A Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 1/69, enumerou, à semelhança da fórmula utilizada pela Constituição de 1946, princípios de observância obrigatória pelos Estados-membros que, se descumpridos, poderiam ensejar intervenção federal nos Estados (art. 10, VII, alíneas ‘a’ a ‘g’) e, a esses princípios, dentre outros ainda (art. 13, caput), adicionou, expressamente, outros tantos que também deveriam ser observados (art. 13, incisos I a IX) na elaboração de suas Constituições.

Acerca da questão dos princípios a serem observados pelo Poder Constituinte Decorrente, Anna Cândida da Cunha Ferraz enfatiza: “A enumeração dos princípios que circunscrevem a ação do Poder Constituinte Decorrente não obedece a critérios técnicos, o que dificulta muitíssimo a compreensão dos princípios a serem respeitados pelo Constituinte Estadual. Não é de espantar, pois (observe-se a latere) que o Constituinte Estadual praticamente ‘copia’ a Constituição Federal, induzido, talvez, pelo temor de ‘esquecer preceitos’ ou quem sabe, pela dificuldade de distinguir quais os preceitos que devem ser copiados, dos que devem ser assimilados ou

adaptados e quais os preceitos da Constituição Federal que não precisam ser necessariamente adotados pelos Estados”.70

Sublinhe-se que, dentre outros princípios estabelecidos na Constituição Federal, os Estados-membros deveriam observar o do processo legislativo federal (art. 13, III). Como se sabe, o processo legislativo federal fundamentava-se sobre as bases de um Legislativo bicameral e não havia, no preceito constitucional, qualquer menção à cláusula de adaptação, “onde couber”, para a observância do processo legislativo estadual unicameral ao federal, carecendo de rigor esta determinação da Constituição Federal.

Aos Estados-membros determinou-se, ainda, que as disposições constantes na Constituição Federal ficavam incorporadas, no que coubesse, ao Direito Constitucional legislado dos Estados, proibindo-os de adotarem os decreto-leis e facultando-se-lhes a adoção do regime de leis delegadas (art. 200). Sobre o decreto-lei, Oswaldo Trigueiro, após imputar-lhe o condão de destoar do princípio da separação de poderes, afirma que é o que “mais contribui para degradar o Poder Legislativo, em um quadro de instituições nominalmente democráticas. Dessa capitis diminutio, entretanto, foram inexplicavelmente poupadas as Assembléias estaduais”71. Exceto Acre, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo, as Constituições dos demais Estados-membros previram a possibilidade de adoção do regime de leis delegadas.

2.3.4 Estrutura, composição e funcionamento das atuais Assembléias

No documento Processo legislativo estadual (páginas 39-42)